





E sua viagem literária em 2024? Qual foi? Deixe nos comentários.
E sua viagem literária em 2024? Qual foi? Deixe nos comentários.
Finais de ano são encerramentos de ciclos. Momentos para olharmos para trás, agradecermos e celebrarmos destaques e conquistas. Vamos viajar agora por entre minhas melhores leituras de HQs de 2024. O objetivo será exaltar as "leituras" e não os lançamentos, até porque para nos propormos a falar de lançamentos minha demanda de leitura seria enorme frente à tantas excelentes obras que chegaram ao Brasil em 2024. A ordem das obras aqui expostas obedecem minha ordem de leitura.
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Júlia - Aventuras de uma Criminóloga - Nº 01 |
2024 foi, definitivamente, meu ano de descoberta desta série sobre a qual há muito tempo me chegavam elogios, mas que pela demanda de outras leituras eu postergava conhece-la. Estou falando de Júlia Kendall - Aventuras de uma Criminóloga. Por puro preconceito, eu associava a série à alguma memória de séries para público juvenil, daí meu desinteresse. Para me convencer a dar uma chance foi preciso receber muitas informações e elogios sobre a série, e perceber que seu autor era o mesmo do grande e excepcional Ken Parker. Só lamento ter esperado tanto para ler Júlia Kendall. No Brasil temos uma publicação relativamente farta da personagem e não foi difícil conseguir os números. Fiquei realmente surpreso com a qualidade do material, com as referências e com todo o universo coeso e crível de Júlia. Não dá para separar uma edição específica, por isso meu destaque vai para todas que li esse ano.
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Júlia - Aventuras de uma Criminóloga - Nº 02 |
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Júlia - Aventuras de uma Criminóloga - Nº 03 |
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Júlia - Aventuras de uma Criminóloga - Nº 04 |
Coney Island foi um dos primeiros lançamentos do selo LoroBuono da Editora 85. Uma editora com um excelente trabalho de curadoria dentro do universo Bonelli. Nesse caso, mais um incrível trabalho de ninguém menos que Gianfranco Manfredi (Face Oculta, Adam Wild). Aqui novamente os anos 30 em foco, mais especificamente a atmosfera de alegria e estranhezas de um dos parques mais tradicionais de Nova York, o Coney Island parque, localizado na península de mesmo nome no distrito do Brooklyn. Um lugar palco de uma enormidade de experiências emocionais e destino de uma avalanche de pessoas em busca de escapismo e oportunidades. A obra gira em torno de i) um detetive particular, ii) uma trupe de artistas liderada por um homem verdadeiramente mediúnico, iii) um ex-herói de guerra e ninguém menos que iv) Al Capone. Com um eixo central e várias subtramas, Manfredi amarra todas as pontas soltas com maestria com seu costumeiro apuro historiográfico. Assim, o autor constrói todo um pano de fundo que garante um experiência imersiva ao leitor. Um grande gol da Editora 85!
Gus foi um lançamento de alguns anos atrás da Editora Sesi. Dividido em 4 volumes, trata-se de uma criativa e subversiva abordagem do velho oeste americano. O protagonista Gus faz parte de um trio de foras-da-lei, entretanto, o autor, Christophe Blain, subverte o gênero ao mostrar o costumeiro e hermético universo masculino dos filmes de Bang-Bang a partir de fragilidades afetivas que todo homem possui, ainda que disfarçadas por estereótipos brucutus. A proposta é um comédia de afetos não correspondidos e aventuras amorosas truncadas, recheadas de tiroteios, assaltos e brigas de saloon. O resultado é divertido e, para mim, foi um exercício de desconstrução muito interessante do gênero. Como é um lançamento de alguns anos, recomendo àqueles que forem garimpar HQs ou, quem sabe, solicitar a republicação por alguma editora.
Falar bem de Ken Parker é realmente uma redundância! O personagem vem sendo publicado em ordem cronológica em edições capa-dura dignas de colecionadores pela Editora Mythos. Felizmente temos a promessa de publicação de toda a saga pela editora, algo que foi feito apenas uma vez no Brasil pela Editora Cluq, entretanto de forma muito lenta e com tiragens baixíssimas. Muitos leitores falavam, em seus comentários nas redes, o quão bom era esse personagem criado por Giancarlo Berardi e ilustrado por Ivo Milazzo, baseado nisso eu tinha muita expectativa e, por isso mesmo, medo de me frustrar. Mas esse, definitivamente, não foi o caso de Ken Parker, um Western situado na primeira metade do século 19, antes da Guerra Civil norte americana. Neste número 4 temos o fechamento do primeiro grande arco do personagem. Muita ação, significado histórico e lealdade à época. Maravilhoso!
Em geral, tudo que sai do Motoqueiro Fantasma me interessa. Acho o conceito do personagem muito forte, principalmente pela ideia de representar um conceito. Quando tentaram explicar quem ele era a partir de uma perspectiva celestial/bíblica, achei que houve uma certa perda de sua estrutura dramática. Prefiro pensar nele como a encanação de um conceito, tal qual personagens como Sandman e Monstro do Pântano, ambos da DC. Trilha das Lágrimas é uma boa história. Trata-se de um voo criativo de Garth Ennis com objetivo de dar sentido diferente ao Cavaleiro Fantasma original da Marvel (teoricamente um primeiro hospedeiro para o Espírito da Vingança). A arte de Clayton Crain impressiona muito. No encaminhamento final da história tive e impressão de Ennis se perder um pouco na condução da trama, mesmo assim foi um destaque.
Tão empolgado que fiquei com o livro que acabara de ler que logo comprei outro título do catálogo da Editora Wish: Terror Depois de Ceia. Trata-se de uma antologia de contos de Jerome K. Jerome, escritor conhecido na virada do século XX por sua veia cômica e por vezes sarcástica. Meu interesse foi em me aprofundar na literatura desta época e a leitura foi uma grata surpresa por ser emoldurada por desenhos de um famoso ilustrador da época, Kenneth M. Skeaping. A ilustrações de Skeaping me transportaram diretamente para um universo imaginário, mágico e ao mesmo tempo assustador pelo qual naveguei quando era garoto e folheava antigos livros de contos com desenhos alegres e ao mesmo tempo macabros. Maravilhosa leitura.
Assim como a Editora Wish, outras duas editoras, a Clepsidra e a Ex-Machina, tem nos presenteado com obras clássicas. Minha primeira incursão pelo catálogo de ambas foi com o lançamento conjunto do livro Contos Clássicos de Fantasmas. A obra traz uma antologia fantástica de autores do período de tempo já supracitado (virada do século XIX para o XX). Só tenho elogios para a qualidade dos contos que me transportaram com toda força para temores e terrores primais de todos. Terrores que ainda espreitam a todos a despeito da falsa segurança das nossos dispositivos tecnológicos atuais. O livro conta com a maravilhosa introdução do Prof. Alexander Meireles da Silva (conhecido pelo canal Fantasticursos). Foi por meio de Contos Clássicos de Fantasmas que tive o prazer de conhecer um autor pelo qual fiquei totalmente admirado, Afonso Arinos. Isso me motivou a buscar outra obra deste autor e que aparecerá logo abaixo como grande destaque de 2022 para mim.
Norma Bengell sempre habitou meu imaginário assim como o fez com o imaginário de presidentes brasileiros, autoridades e a maioria dos homens das décadas de 70. Pouco conhecida do público em geral, mas com uma carreira de sucesso na Europa, sempre me perguntei de onde tinha saído esta estrela que brilhou de forma incandescente desde os anos 50 e foi prova viva das diversas mudanças políticas e culturais do Brasil. Finalmente esse ano de 2022 encontrei este livro da Editora nVersos que na verdade compila as memórias escritas pela própria Norma em seu diário pessoal. Fruto de um resgate hercúleo da produtora Christina Caneca, o livro é extremamente gostoso de ser lido. Norma escreve de si para si. Uma leitura que teria que ser obrigatória para todos que tem o mínimo interesse pela história cultural de nosso país, só que nesse caso vista pelas lentes honestas, singelas, indomáveis e femininas desta grande atriz. Maravilhoso esse livro.
Personalidade complexa, irascível e de difícil trato foi Steve Ditko, co-criador do Homem-Aranha. Um homem que em função de sua reclusão e fortes posições ideológicas suscitou mitos e até lendas ao redor de si. No livro O Incrível Steve Ditko, o jornalista Roberto Guedes volta a entregar um material que, assim como havia feito com Jack Kirby, traz a vida, as vicissitudes profissionais e a forma de pensar deste que foi um grande artista da 9ª Arte. Embora esteja muito associado à criação do Cabeça de Teia, Ditko criou diversos outros personagens que sintetizavam a filosofia da qual ele era adepto, o Objetivismo de Ayn Rand. Um livro ágil, honesto tanto com o gênio quanto com a personalidade difícil do quadrinista. Cheio de ilustrações que contextualizam a obra de Ditko o livro precisa figurar na estante de leitores e amantes dos quadrinhos.
Heróis Pulp foi uma obra da Editora Skript que aguardei ansiosamente. Um livro que traz os bastidores da criação e a descrição da essência de 11 dos maiores personagens da literatura Pulp (revistas precursoras das modernas HQs). Tarzan, John Carter, Zorro, Buck Rogers, Hugo Danner, O Sombra, Doc Savage, O Aranha, O Besouro Verde, Olga Mesmer e o O Morcego Negro são destrinchados de com a excelência acadêmica necessária e uma acessibilidade textual inclusiva. O leitor se maravilhará ao conhecer os pilares narrativos sobre os quais a arte sequencial se formou. Além dos personagens mencionados acima, o livro ainda traz outros 3 personagens que existiram tanto nos Pulps quanto no quadrinhos, caracterizando-se como "personagens de transição": O Fantasma, Flash Gordon e Mandrake. Um livro que também precisa figurar na estante dos leitores!
Mudando radicalmente o mote da leitura, li o livro O Filho do Homem do laureado pelo prêmio Nobel de literatura de 1952, François Mauriac. Embora cristão declarado, François não foi um homem que escreveu sobre Cristo do ponto de vista panfletário ou proselitista. De autores deste tipo eu quero distância. François te experiências tanto na 1ª quanto na 2ª Guerras Mundiais. Era um homem com um conhecimento muito claro da maldade humana. Portanto, sem a possibilidade de abordar sua fé a partir dos tradicionais chavões religiosos. O autor busca refletir aqui sobre as atitudes de Jesus e o que verdadeiramente o movia. Conheci o livro porque tenho tido muito interesse por esta Coleção da Editora Nova Fronteira (Coleção Clássicos de Ouro). Foi por meio dela que conheci um dos maiores e melhores livros que já li: O Deserto dos Tártaros. Portanto, os títulos aqui presentes sempre me chamam muito a atenção.
Meu grande achado de 2022 foi conhecer as obra de Afonso Arinos (1868-1916). O caminho que trilhei até me interessar pela obra do autor foi iniciado nas publicações da Editora Wish e Clepsidra (conforme mencionei mais acima). O livro Contos - Afonso Arinos é uma antologia estruturada pela Profa. Walnice Nogueira Galvão (Profa Emérita da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP). Arinos me maravilhou ao apresentar um Brasil original, cheio de histórias fantásticas. A capacidade descritiva do autor é excepcionalmente envolvente, proporcionando ao leitor uma imersão profunda em uma universo mágico e crível. Os contos aqui apresentados são de um teor literário excepcional. O livro me motivou a buscar mais autores desta época. Recomendo muito a leitura!!
Inspirado talvez pelo universo mágico, brutal e ao mesmo tempo hipnótico brasileiro, chamou-me a atenção o livro do brasileiro Marcos DeBrito, O Escravo de Capela. Surpreendi-me muito (positivamente) com o relato visceral da escravidão vivida em nosso país. A história se passa em uma fazenda de açúcar em 1792. DeBrito, baseado em registros históricos, conta a história de um homem trazido como escravo da África e que estaria marcado para protagonizar a origem de uma das nossas mais famosas lendas envolvendo um preto de uma perna só com seu tradicional capuz vermelho. A leitura é extremamente fluida e crua ao mostrar sem rodeios a brutalidade na fazenda. DeBrito prende a atenção do leitor e o aproxima muito dos cenários tradicionalmente brasileiros. O horror tem seu lugar na medida certa e a história possui um final que amarra todas as pontas da narrativa. Esta foi outra agradável descoberta de 2022!!!
Ainda hipnotizado pela literatura da virada século XIX para o século XX tirei da pilha de leitura a pequena pérola Pequenos Contos de Grande Mestres do Terror da Editora Skript. Uma antologia de contos de autores tradicionalmente lembrados em materiais assim, tais como Poe, Lovecraft, Shelley. Autores que sabemos que são satisfação garantida de leitura. Mas este livro vai além ao trazer contos de autores desconhecidos para mim que me tocaram tão ou mais profundamente que os supracitados. Vou citar um deles, a brasileira Julia Lopes, que com seu conto Os Porcos (1903) me proporcionou, em apenas 4 páginas, o relato mais profundo e visceral acerca da maravilhosa experiência de se dar a luz. Além da mais profunda experiência acerca do machismo, misoginia e violência contra a mulher. Uma verdadeira pérola literária tendo como protagonista a pequena gestante Umbelina. A introdução da obra é do competente e já citado aqui, Alexander Meireles da Silva.
Por fim, qual foi a sua viagem literária em 2022? Desejo a todos um excelente 2023!!
Quem acompanha o Blog já percebeu o quanto gosto da epopeia europeia Storm. Lançada de forma incompleta em 1989 pela Editora Abril, a obra voltou ao Brasil em 2021 com o lançamento de Storm Integral Vol. 01 pela estreante Editora Tundra. Só a soberba arte de Don Lawrence já seria atrativo suficiente para se ter o material. Porém, a história avança por terrenos literários como Space Opera, Distopia, Weird Fiction entre outros, e o faz de forma muito competente. Em 2022 tivemos o lançamento do vol. 02 e para 2023 já temos a campanha da Editora no Catarse para o vol. 03. Storm é uma obra que, sem o menor medo de errar, é uma das maiores HQs de todos os tempos em minha opinião.
Um dos grandes achados nos últimos anos para mim foi a Editora Bonelli. Ainda que a tenha conhecido tardiamente, eu cheguei com sorte ao ver diversos títulos serem lançados por uma grande variedade de editoras brasileiras. Um deles é Morgan Lost. Um título no qual o protagonista que dá nome à obra vive em um universo que claramente não é o nosso, muito embora as semelhanças sejam enormes. Morgan Lost vive em um universo distopico que muito lembra a estética Art Deco e Noir dos anos 30 e 40, ao mesmo tempo em que tecnologias atuais são mescladas a este ambiente retrô. Isso cria no leitor uma sensação de anacronismo misturado com uma forte estética dark. Morgan é um detetive que, ao melhor estilo Noir, enfrenta assassinos que parecem saídos diretamente do livro Laranja Mecânica de Anthony Burgess. Embora a Editora 85 já esteja no lançamento do 4º volume, apenas em 2022 pude ler o primeiro deles que figura acima.
Outro lançamento de 2021 que fui ler apenas em 2022 foi As Aventuras de Sherlock Holmes, um lançamento muito pouco comentado da Editora Mythos (infelizmente), mas que é excepcional. Trata-se da adaptação muito fiel dos primeiros contos originais de Sherlock Holmes. Esta adaptação, ao cargo de Giancarlo Berardi (criador de Ken Parker) e do desenhista Giorgio Trevisan, foi produzida na década de 80 por ocasião do centenário da criação máxima de Sir Arthur Conan Doyle. A fenomenal arte de Trevisan capturou totalmente a atmosfera Londrina da Era do Gaslight. Afora isso, a adaptação de Berardi mostra um lado menos infalível do maior detetive de Londres, e isso não vem dele, vem (pasmem) da própria concepção original de Doyle!
Acredito que eu não seja o único a desconhecer os trabalhos iniciais do grande desenhista Frank Frazetta. Conhecido por suas fenomenais artes relacionadas ao mundo da "Espada e Feitiçaria", Frazetta teve uma carreira de desenhista em uma arte sequencial mais tradicional, como é apresentado aqui nesse compilado completo de sua trajetória junto ao personagem Dran Brand. Para muitos a obra Dan Brand e Outras Histórias pode parecer se desviar para o roteiro mais simples, e talvez realmente seja assim, mas justamente por isso a obra cresce ao descortinar um entretenimento no qual a preocupação com uma história intrincada e profunda não existe. Existe apenas a vontade de se trazer uma aventura legítima e honesta. A edição da Editora Pipoca e Nanquim possui, como de costume, acabamento excelente e extras incríveis que transcendem o personagem Dan Brand. Temos peças publicitarias desenhadas por Frazetta de um inestimável valor histórico para 9ª Arte. Uma edição que o leitor, se souber aproveitar, se deliciará.
A Morte Viva é uma adaptação do livro homônimo de 1958 do autor francês de ficção científica Stefan Wul. A história é suficientemente obscura e hermética para se criar a atmosfera perfeita para o terror fantástico. A adaptação é de Olivier Vatine e a arte, simplesmente excepcional, é do português Alberto Varanda. Uma obra de excelente acabamento pelo selo Gold Edition da Editora Mythos. Questões como os limites da ciência, a dor de uma perda, o enfretamento do desconhecido estão fortemente presentes e em nada envelheceram desde a época em que a história foi publicada em livro. Fiquei muito curioso em conhecer outras obras de Wul.
Muito celebrada entre os fãs dos Vingadores, A Saga de Korvac envolve nomes de peso da indústria dos quadrinhos, dentre eles George Perez (falecido recentemente em maio de 2022), Sal Buscema, Bill Mantlo, David Michelinie entre outros. Esses artistas simplesmente ajudaram a moldar a Era de Bronze dos Quadrinhos e fizeram história. A Saga possui vários adjetivos positivos por fornecer excelente simbiose entre arte e roteiro. Nela os Vingadores em sua formação setentista se vê às voltas com um estranho vilão (Michael Korvac) que na verdade possui raízes mais misteriosas no futuro, e esse é o motivo do envolvimento da formação futurista e clássica dos Guardiões da Galáxia (Charlie-27, Martinex, Nikki, Yondu e Major Vance Astro, Geena Drake e Águia Estelar). Realmente um trabalho que nos faz lembrar como um quadrinho pode ser interessante e envolvente. Há diversos momentos emblemáticos na obra, e um deles mostra Thor entrando em uma igreja Cristã acompanhado dos Vingadores e emitindo sua opinião sobre o Deus ali representado. Clássico dos clássicos.
Com o lançamento da adaptação de Sandman na NetFlix em 2022, resolvi reler os primeiros arcos originais presentes nesse encadernado definitivo do Rei do Sonhar. Torna-se incontestável o fato de que a obra, apesar de seus 33 anos, ainda continua relevante, profunda, enigmática e incrível. O encadernado traz exatamente os arcos adaptados na primeira temporada do streaming. Reler Sandman torna sua citação obrigatória entre as melhores leituras de qualquer ano. O seriado entregou uma obra com algumas mudanças em relação ao original, que não chegaram e comprometer o DNA da obra (pelo menos em minha opinião). No entanto, fica muito claro para mim o quanto a versão original dos quadrinhos é realmente melhor. Nos quadrinhos temos determinados recursos narrativos impossíveis de serem adaptados, e isso é mais que motivo para dizer que o quadrinho continua melhor, ou seja, mais profundo, mais visceral, mais lírico, poético e dark.
5 Por Infinito foi um quadrinho lançado pela Editora Pipoca e Nanquim em 2018. Os elogios feitos a ela nas diversas mídias à época de seu lançamento, sobretudo pela arte de Esteban Maroto, não são exagerados. Maroto é realmente um gênio artístico ao fornecer densidade à desenhos usando poucas linhas e o uso racional do preto e branco. É incrível a solidez ou a fluidez que ele consegue fornecer à uma página. Por ter sido escrita ao longo de um espaço de tempo amplo, podemos ver a arte de Maroto evoluir ao longo do encadernado. Um volume único no mundo por trazer todas as histórias do grupo (sim, 5 por Infinito é um grupo de exploradores) e ainda a derradeira delas, que foi escrita anos depois fechando um longo ciclo exploratório espacial. Tudo muito bem amarrado. 5 Por Infinito mistura diversos gêneros da literatura fantástica tendo como linha principal a ficção científica e, dentro deste gênero, os designs concebidos por Maroto são simplesmente incríveis: naves, estações, laboratórios, roupas, mobília... Uma mistura de arte retrô com os lisérgicos e psicodélicos conceitos dos anos 70. Tudo maravilhoso.
Fechando o ano de 2022, gostaria de falar de O Perfeito Estranho. Quando vi esse material ser lançado pela Editora Veneta em 2017, logo pensei... "Esse material é quente!" (mesmo sem saber do que se tratava exatamente). Demorou um pouco para eu adquiri-lo, e mais um tempo ainda para eu lê-lo. Trata-se da obra quadrinística completa de um artista pouco conhecido, Bernie Krigstein. Alguém que eu também não conhecia mas que teve uma célebre passagem pelos quadrinhos da EC Comics nos anos 50. Bernie foi uma das vítima do Authority Code americano, que forçou os quadrinhos a se tornarem mais infantis naquela época. Com uma sólida formação acadêmica, Bernie era também pintor, e com isso trouxe para os comics toda sua bagagem artística diferenciada. O encadernado da Veneta traz uma introdução maravilhosa que nos mostra quem foi o artista e o quanto sua trajetória foi minada, contra sua vontade, até fazê-lo desistir da 9ª Arte. Um exemplo de alguém talentosíssimo e que surgiu em um momento completamente desfavorável para que seu talento fosse aproveitado nos quadrinhos. Uma pena... Sobrou sua profícua passagem pela EC que a Veneta fez o favor de nos presentear com esse volume.
É isso aí amigos... E você? Quais HQs leu e gostaria de elogiar?
Coloque aqui nos comentários. Forte abraço!