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domingo, 14 de maio de 2023

Pílula Gráfica #26: Tex Graphic Novel #2 - Frontera! (2016)


A Coleção de Graphic Novel do Tex (Editora Mythos) possui a proposta de trazer abordagens diferenciadas do famoso ranger. À princípio havíamos pensado que a série tinha sido cancelada no número 11 no Brasil com a excelente história Snakeman de dezembro de 2021. Entretanto, vimos chegar às livrarias e comic shops do Brasil mais um volume, o de número 12, Águas Negras. Estou cada vez mais convencido que esta série é excelente em todos os sentidos. Digo isso pelos volumes que já li, a anteriormente mencionada Snakeman (Nº 11) e a de número 01, O Herói e a Lenda. Frontera! (Nº 02) tem todos os elementos de um excelente Western. Porém, vai além ao mostrar Tex em todos seus atributos, com destaque à sua engenhosidade ao lidar com situações aparentemente sem solução, sempre um passo à frente dos seus inimigos, sempre com um plano mais amplo e criativo. Elementos como esse fez do personagem quem ele é, ou seja, alguém que avançou do estereótipo comum dos heróis do Western. Nesta história temos um Tex que luta ao lado de uma mulher magnífica, irascível e indomável em uma luta por justiça e vingança pelo assassinato do pai. Questões periféricas, mas não menos importantes permeiam a história: a hipocrisia do homem branco, a violência das relações humanas, o orgulho indígena sempre tratado como lixo pelo homem branco... E em meio a tudo isso, alguém que busca justiça e igualdade, nesse caso Tex. Por se passar próximo à fronteira dos EUA com o México, é impossível não lembrar do Westerns Italianos sessentistas que tiveram este cenário como pano de fundo. A arte de Mario Alberti é de encher os olhos com seus planos intimistas e ao mesmo tempo grandiosos. O termo Graphic Novel vem sendo usado há muitos anos como sinônimo de um simples compilado de histórias sequenciais. Entretanto, a ideia não é essa. O que se espera desse tipo de publicação é uma visão diferenciada de um personagem ou grupo. O aspecto autoral é outro fator marcante nas Graphic Novels, trazendo uma visão distinta de um determinado autor acerca do universo do personagem (ns). Tex Graphic Novel atende a esses critérios, circunscreve o personagem e delimita muito bem o aspecto autoral. Se dependesse de mim a Editora Mythos deveria continuar avançando com esta série!!

segunda-feira, 1 de maio de 2023

Pílula Gráfica #25: Vampiros da Meia-Noite - (2022) - Pérola perdida do Cinema de Horror resgatada!


Um ator capaz de se metamorfosear em qualquer monstro ou personagem, um filme perdido de 1927 que viria a se tornar o Santo Graal de estudiosos e cinéfilos engajados em restaurar momentos-chave da 7ª arte... O ator seria Lon Channey, e o filme seria Vampiros da Meia-noite (London After Midnight - 1927). Dirigido pelo cultuado por uns, esquecidos por outros, Tod Browning (Drácula (1931) e Freaks (1932)), London After Midnight foi um filme do cinema mudo que se perdeu em um incêndio que destruiu parte dos Estúdios da MGM em 1967, queimando a única cópia conhecida. Embora este tenha sido o destino do filme, muitos alimentam esperanças de descobrir outra cópia esquecida em algum galpão ou estúdio. Em cima do mito e aura que tangenciam a obra, dois artistas, Enrique Alcatena (ilustrador) e Gonzalo Oyanedel (jornalista), se debruçaram sobre o roteiro original do filme, que era baseado no conto "The Hypnotist" do próprio Browning, e conseguiram transferi-lo para uma adaptação em quadrinhos. Assim, por iniciativa das Editoras Skript e Quadriculando, chegou ao Brasil, via financiamento coletivo, a obra em quadrinhos Vampiros da Meia-Noite (nome dado ao filme no Brasil). A HQ traz a história que envolve o assassinato de Roger Balfour, homem rico que deixa uma jovem e bela filha órfã, a frágil Lucille. Após 5 anos do crime, ainda sem solução, retorna à investigação o detetive Edward Burke da Scotland Yard, que passa a vivenciar experiências horripilantes junto aos vizinhos da Mansão Balfour (que acolheram a jovem órfã Lucille). A figura central destas experiências macabras é um homem de expressão enlouquecida, olhos vidrados, dentes pontiagudos, que veste terno, capa e cartola. Sucesso enorme de bilheteria à época, o filme recebeu avaliações ambíguas e mornas da crítica especializada. Entretanto, passaria para imortalidade ao concentrar a hipnotizante performance de Chaney (O Homem das Mil Faces), um enredo cheio de mistérios e reviravoltas, e sua destruição em 1967. A edição da Skript/Quadriculando é um presente para amantes do cinema, sobretudo do cinema de terror/horror. A começar pelo expediente das primeiras páginas da edição, complementadas pelas últimas, que trazem uma matéria escrita por Roberto Barreiro intitulada Vampiros da Meia-Noite - A História por Trás do Filme Perdido. Nela, Barreiro situa de forma envolvente e clara, acontecimentos que fizeram da película a relíquia perdida que se tornou. Embora não tenhamos mais como assistir ao filme, a HQ cumpre seu papel ao trazer ao leitor a atmosfera de mistério, horror, investigação e ambientação soturna. Um presente que tive a chance de apoiar no Catarse e que você precisa conhecer!





domingo, 30 de abril de 2023

Pílula Gráfica #24: Gus . Nathalie - (2016) - Uma abordagem criativa e afetivamente subversiva do velho oeste!



Quando recomendaram-me Gus (e isso aconteceu várias vezes), esperava encontrar uma história que, embora com um desenho caricato, traria uma história ao estilo Tex Willer, ou quem sabe uma história  ao estilo Western Italiano. A verdade é que a obra não tinha nada a ver com nenhuma abordagem do velho oeste que eu já havia conhecido. Gus é, na verdade, o nome de um assaltante que, ao lado de outros dois companheiros, sobrevive de roubos a trens e bancos. Entretanto, não são as aventuras que ele vive ao lado dos amigos o ponto central da narrativa, mas sim a vida amorosa do pequeno bando. O autor, Christophe Blain, apresenta as carências masculinas pelo afeto feminino (na maioria das vezes reprimida) usando como pano de fundo uma ambientação das mais inesperadas, o hermético mundo masculino do oeste selvagem. Na obra de Blain, embora violentos, Gus e Cia. vivem às voltas com relações familiares, amores não correspondidos e, sobretudo com a busca de mulheres para conhecerem e se relacionarem. Para fãs (como eu) do tradicional Western, em que o anti-herói pistoleiro é quase sempre total ou parcialmente infalível, Gus traz uma leitura que me obrigou a refazer alguns pressupostos esperados e exigidos do gênero. E nesse processo, tive que abrir espaço para outras visões que possivelmente fizeram parte sim da época. Inicialmente confesso que torci o nariz, mas depois, a narrativa leve, descompromissada, engraçada e criativa de Blain me fez navegar cada vez mais à vontade. A obra possui início, meio e fim, e foi trazida ao Brasil pela editora Sesi-SP. Tive um pouco de trabalho para conseguir um dos volumes da série, que no Brasil contou com 4 volumes: Gus - Nathalie (2016); Gus - Belo Bandido (2017); Gus - Ernest (2017); Gus - Feliz Clem (2018). HQs que envolvem desenhos muito caricaturais raramente chamam minha atenção, o que confesso ser um defeito. Isso quase aconteceu com Gus, mas foram indicações que me chegavam continuadamente sobre a HQ, que aos poucos, foram minando meu certo distanciamento. Se você quer conhecer um aspecto interessante, diferente e inovador do velho oeste, Gus é uma excelente obra. Vale muito a pena!!



domingo, 23 de abril de 2023

Pílula Literária #11: Os Três Impostores



Por motivos que ainda me escapam (muito embora eu já tenha hipóteses para explicar este fenômeno literário brasileiro) diversas pequenas editoras nacionais têm surgido nos últimos anos catapultadas pelo sucesso das plataformas de financiamento coletivo. Wish, Clepsidra, Cartola, O Grifo, Ex Machina, Melusine Press, Skript... são editoras que entraram no mercado com uma ótima curadoria e com uma proposta de resgatar grandes obras inéditas ou lançadas no Brasil em um passado muito, muito distante. O livro Os Três Impostores é fruto desta bem vinda onda de lançamentos de tesouros perdidos. Escrito em 1895 por Arthur Machen é, nas palavras de Jorge Luís Borges uma obra-prima secreta: "A literatura tem pequenas obras-primas quase secretas. Os Três Impostores é uma delas". A obra foi comentada por outros gigantes também: "Após um estudo minucioso da técnica de Poe, sou forçado a dizer que seus contos foram superados pelos de Arthur Machen" - Robert E. Howard; "Os Três Impostores traz a histórias que talvez represente o ponto culminante da perícia de Machen como arquiteto do horror" - H.P. Lovecraft. O livro faz jus aos comentários. Com uma história que se passa na Londres da virada do século XIX para XX, a obra tangencia constantemente o estranho e a arqueologia pagã, mantendo o leitor o tempo todo sem saber se realmente estamos falando de invenções mágicas ou relatos verídicos. A narrativa traz dois amigos da aristocracia intelectual londrina (Dyson e Phillips) que se envolvem com os relatos de 3 outras respeitáveis pessoas (Davies, Helen e Richmond). Seriam as narrativas contadas por estas pessoas verídicas? Machen traz "histórias dentro de histórias" mantendo sempre o fio narrativo principal muito bem posto, o que auxilia o leitor como uma linha deixada na floresta para que não nos percamos. O terror e o horror estão presentes, entretanto, nas sombras, à espreita, e não de forma explícita (exceto pelo final do livro!). A edição traz uma Introdução escrita pelo próprio Machen comentando a repercussão que o livro teve à época e um artigo do autor publicado em 1934. Coroam também a edição da Editora Ex Machina dois textos que contextualizam de forma precisa a obra. O primeiro (o prefacio do livro) é assinado por James Machin, na verdade um texto originalmente publicado como ensaio para uma edição europeia do livro. O segundo de autoria de Guilherme da Silva Braga (tradutor da edição brasileira) que é Doutor e mestre em estudos de literatura pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O texto do Guilherme traz inferências incríveis que à principio passam despercebidas mesmo para os mais atentos leitores. Um texto que, quando terminei de ler, redimensionou incrivelmente a obra. Os Três Impostores precisa ser conhecido por amalgamar o cotidiano e o ordinário ao obscuro, àquilo que se esconde nas sombras.

Arthur Machen

sexta-feira, 21 de abril de 2023

Pílula Literária #10: Torto Arado














Muitas vezes, ou melhor, na maioria das vezes, as palavras (escrita ou falada) comportam-se de maneira a reduzir a profundidade e grandeza dos sentimentos. Entretanto, eventualmente alguém é capaz de, primeiramente doma-las e aquieta-las dentro do turbilhão da mente, para depois continuar a difícil lavra de as colocar na ordem precisa e correta para aproximar o texto ao que se sente. Mais difícil ainda é usa-las num contexto que signifique algo profundo para muita, muita gente. Itamar Vieira Júnior consegue isso no seu TORTO ARADO, livro de 2019 ganhador dos Prêmio Jabuti de Romance Literário, Prêmio Jabuti de Livro Brasileiro Publicado no Exterior, Prêmio Oceanos entre outros. Mas mais que prêmios, o livro lembra Érico Veríssimo no seu Tempo e o Vento, ao trazer as histórias e memórias das irmãs Bibiana e Belonísia. Guerreiras das batalhas escondidas no cotidiano do verdadeiro Brasil, o Brasil profundo... Crias de uma sociedade profundamente marcada por anseios e tragédias ancestrais... Vozes que ecoam dentro de qualquer habitante do continente sul-americano. Herdeiro desta estirpe, o Geógrafo, Doutor em Estudos Étnicos e Africanos pela UFBA, Itamar Vieira Junior é, com orgulho, um dos nossos melhores "domador de palavras" da atualidade.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

Pílula Gráfica #23: O Procurador - (2022) - Mais um acerto de Gianfranco Manfredi!













Histórias de Westerns possuem narrativas muito bem estruturadas dentro de seu universo particular. O pistoleiro em busca de redenção, a prostituta que busca uma vida diferente, os típicos e provincianos personagens periféricos, o fora da lei, o proprietário de terras que deseja comprar tudo a sua volta à força... Alguns autores de HQs, entretanto, conseguem manejar esta narrativa trazendo o "realismo" (caso de Ken Parker de Giancarlo Berardi) o "insólito" (caso de Mágico Vento) e o "inusitado" (caso de O Procurador), esses dois últimos de Gianfranco Manfredi. Em O Procurador, Manfredi concretiza o "inusitado" na figura do Procurador que dá título à obra. Na verdade o inglês James Jennings, ou simplesmente JJ. Exímio atirador, JJ representa o escritório de advocacia Billows & Green e, embora cordato e educado, JJ não é um homem que se intimida com canos fumegantes, e é capaz de fazer de tudo para proteger a integridade de seus clientes. Nesse caso um boxeador miserável que herda uma herança. Assim, JJ precisa leva-lo até seu prêmio, iniciando uma trilha por uma complexa rede de interesses que passa por um pano de fundo real: a política, a revolução que se avizinha no México, o progresso na forma das locomotivas... Assim como em outras histórias de Manfredi, em O Procurador a narrativa se desenrola de maneira fluida e ao mesmo tempo crescente, com tudo muito crível e plausível. Não à toa que, para mim, o autor tem se tornado meu preferido. A edição da Pipoca e Nanquim traz a obra em um formato grande e ao mesmo tempo leve (possivelmente por conta do papel usado), o que torna o volume de fácil manuseio. O tamanho valoriza a arte do brasileiro Pedro Mauro (Trilogia Gatilho), artista da velha guarda que ganha o merecido reconhecimento nacional e internacional. JJ pode parecer um inglês "almofadinha", entretanto, por trás das camadas da fleuma inglesa se esconde um leão como vocês poderão ver. Mais um ótimo trabalho de Manfredi!

domingo, 12 de fevereiro de 2023

Pílula Gráfica #22: Coney Island - (2022) - Uma experiência Imersiva!


Depois de Face Oculta, tudo que chega ao Brasil de Gianfranco Manfredi cai no meu radar. E não foi diferente quando vi que a obra Coney Island chegava pelas "mãos" da Editora 85, mais especificamente pelo seu selo Lorobuono Fumetti. Manfredi é um autor italiano que chegou à um nível de escrita que permite a imersão completa do leitor ao universo que quer retratar. Foi assim em todas as obras que li dele e é assim com Coney Island. Se você já tocou o universo místico, estranho, bizarro, alegre e cheio de cores de um Parque de Diversões, você precisa saber que tudo isso teve um núcleo primordial que chegou ao seu ápice e Coney Island, parque tradicional de Nova York localizado na Península de Coney Island distrito de Brooklyn. Destino turístico de multidões no início do Século XX, o parque simbolizava de certa forma uma forma de muitos esquecerem suas vidas sofridas, violentas, miseráveis e sem horizontes. Sobretudo depois do Crash da bolsa de Nova York em 1929. Esse é o palco que Manfredi usa para trazer uma poderosa história de gangster com participação, inclusive, de personagens reais, caso de Al Capone, por exemplo. Embora lançada em dezembro de 2022 no Brasil, a HQ entrará sem dúvida nenhuma para a galeria de melhores HQs lidas por mim em 2023. Sem minimizar a violência característica da época, o autor mantém o equilíbrio exato com drama, realidade, ficção, misticismo e (ia escrever "romance" mas o correto é outra coisa) a necessidade de amor das pessoas. A história tem como personagens centrais o Detetive durão Jack Sloane, a "iludida" garçonete Brenda (que almejava mais que sua pacata vida do interior), o motociclista de acrobacias e ex-combatente da 1ª Guerra mundial Speedy e o místico e mágico Mister Frolic (um ilusionista que possui poderes extra-sensoriais verdadeiros). Mas além deles, há um incrível elenco de apoio que por vezes roubam a cena (os amigos e companheiros do parque, outros policiais do departamento de Jack...), dando carga e peso dramáticos incríveis. A edição compila a saga completa com os 3 capítulo, sempre com um texto interessantíssimo de Manfredi no início de cada um. Taí uma HQ que você precisa conhecer!

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