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sexta-feira, 17 de setembro de 2021

Pílula Gráfica #9: A Música de Erich Zann (2021)


Se tentarmos vislumbrar certos lugares ou recantos com o "olhar de dentro", aquele que não é o simples ato de "enxergar", poderíamos sentir que certos locais escondem muito mais do que aparentam. H.P. Lovecraft parece ter escrito, em março de 1922, a pequena "obra-prima" A Música de Erich Zann a partir desta constatação. Por uma felicidade do destino, determinadas obras às vezes encontram uma artista perfeita para adapta-la. "Perfeita" porque consegue expandi-la sem contamina-la em nada, apenas amplificando suas características originais, oferecendo assim uma nova experiência ao leitor. Esse foi o caso da edição de A Música de Erich Zann lançada recentemente pela Editora Skript. A artista mineira Gio Guimarães adapta o conto de Lovecraft emoldurando-o com um estilo que nos remete muito ao Expressionismo Alemão. Estilo que parece contextualizar e aprofundar perfeitamente a obra. O resultado é uma experiência quase metafísica do leitor ao se deixar levar pelas palavras de Lovecraft em cada desenho. No conto, o idoso e solitário músico Erich Zann vive sozinho no último andar do último edifício da Rua D´Auseil. Ali, Zann toca sozinho até altas horas uma melodia estranha e ao mesmo inefável e obscura. O que ele não sabe é que a melodia vem sendo apreciada há algum tempo pelo vizinho e único habitante do quarto alugado no andar de baixo. A tentativa de amizade do morador de baixo com Zann desemboca em uma incrível e inquietante descoberta que coroa o conto. Como de costume, Lovecraft consegue coroar a narrativa com um clímax que faz jus à expectativa que cria. E para quem já teve a estranha sensação no mundo real de determinados lugares serem mais do que aparentam, o ápice de A Música de Erich Zann é quase que um "encontro com a verdade" que se esconde por trás de cada um dos estranhos recantos espalhados pelo mundo. A edição da Skript traz uma interessante introdução assinada por Douglas P. Freitas, editor da obra ao lado de Johnny C. Vargas. Na introdução Douglas comenta acerca da certa mística que existe ao redor da obra considerando o fato de Lovecraft nunca ter sinalizado qual é a cidade de língua francesa onde se passa a história (possivelmente Paris), nem o período (possivelmente final do século XIX). Outro mistério é onde ficaria a estranha Rua D´Auseil, nunca encontrada. Ao final da edição é possível se ler o conto na íntegra com tradução de Daniel Fontana. Por conta de todo o contexto gráfico e narrativo oferecido pela edição faz todo sentido tê-la, ainda que o conto esteja presente em muitas coletâneas de H.P. Lovecraft. Sem dúvida este é mais um lançamento que estará entre os melhores de 2021.






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