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domingo, 27 de janeiro de 2019

Miniatura DC Série Especial Nº 15 - Monstro do Pântano

Miniatura DC Série Especial Nº 15 - Monstro do Pântano

Quando entendi quem e o que era o Monstro do Pântano, minha cabeça explodiu!

Nâo há outra forma de expressar o que aconteceu comigo quando entendi a grandeza e a profundidade deste que é um dos personagens mais interessantes, atual e sintonizado com as demandas de nosso tempo. Criado por Len Wein e Berni Wrightson em 1971, o Monstro do Pântano tinha histórias muito boas voltadas para o mundo do sobrenatural. Com o passar do tempo, no entanto a tendência foi o personagem iniciar uma queda na direção das baixas vendas. Em 1984, Alan Moore assumiu o título e tudo caminhou na direção de transformar o personagem em uma gigantesca força motriz dramática, incrível e profundamente relevante. Falar a respeito do Monstro do Pântano é muito mais que discorrer sobre um personagem ficcional, é trazer à mesa as ideias (das quais compartilho) do Biólogo Naturalista Britânico Rupert Sheldrake, que em seu incrível livro A Presença do Passado, expõe suas teorias a respeito dos Campos Morfogenéticos. Alan Moore busca ali sua inspiração e coloca o Monstro do Pântano no epicentro destas ideias. Vamos hoje conhece-las e entender quem e o que é este que talvez seja Monstro apenas no nome. 

Miniatura DC Série Especial Nº 15 - Monstro do Pântano

A miniatura que representa este gigante das charnecas dentro da Coleção de Miniaturas de Metal da Eaglemoss é talvez uma das mais belas da coleção. Além de suas proporções serem maiores que o das peças da Coleção Regular, sua modelagem, cor e detalhes são impressionantes. A peça traz uma grande variedade de raízes que se espalham pelo corpo, unindo-se em poderosos caules maiores na região dos pés, mimetizando raízes robustas. Além destas raízes pelo corpo, há uma rugosidade ao longo de toda a peça que, associada à cor verde "musgo", produz uma sensação muito próxima de um emaranhado de plantas, musgos, líquens e raízes. É esta sensação que nos faz associar a peça à alguém que encarna a força da flora de nosso mundo. Na região superior das costas é possível identificar pequenas folhas e tubérculos que fazem parte da própria criatura. Estes detalhes também nos permite pensar que este ser talvez seja algo semelhante à simbiose entre o homem e uma planta. Confesso que quando vi esta peça à venda na Eaglemoss Britânica há alguns anos, não resisti e a importei, já que na época não sabia se a coleção iria vir em sua totalidade para o Brasil.

Miniatura DC Série Especial Nº 15 - Monstro do Pântano

O Monstro do Pântano nasceu em 1971 com uma origem que pouco se diferenciava de outras trágicas origens dos monstros da literatura. O casal de Botânicos Alec e Linda Holland pesquisavam uma fórmula "biorestauradora" que poderia potencializar incrivelmente o crescimento e a produção de alimentos no mundo. Um organização criminosa (O Conclave), infelizmente cobiçava a fórmula. Em um ataque ao laboratório secreto dos Hollands (localizado próximo aos Pântanos da Louisiana nos Estados Unidos), o local explode, matando Linda e deixando Alec em chamas que, em desespero, corre para o Pântano e lá se joga. Todos deram Alec como morto, no entanto ao redor de seu corpo embebido pela fórmula biorestauradora, forma-se uma estranha composição que por fim ressurge como um verdadeiro Monstro. A criatura guardava ecos e memórias de quem havia sido Alec Holland, inclusive com o tempo percebe-se como sendo o mesmo Alec, só que agora vivendo em uma nova realidade monstruosa. A primeira série de histórias do personagem, tendo Len Wein à frente, dava conta da vingança de Holland junto ao Conclave e seu encontro com pessoas e forças sobrenaturais que queriam captura-lo e estuda-lo. Nesta fase destaca-se aquele que viria a ser um dos seus mais perigosos inimigos, o feiticeiro Anton Arcane.

Miniatura DC Série Especial Nº 15 - Monstro do Pântano

Em 1984 era mais ou menos assim que a mitologia do personagem se encontrava. Até que o jovem Alan Moore assumiu o título. Mas do que se trata a Teoria dos Campos Morfognéticos de Ruppert Sheldrake? Segundo Sheldrake a totalidade das experiências aprendidas pelas espécies não apenas passam a fazer parte de seu patrimônio genético, tais experiências se estruturariam também em campos ao redor de nós (seja ao redor da vida vegetal ou animal), constituindo um cinturão pulsante de experiências, lembranças e sensações. Algo muito parecido com o "Mundo das Ideias" de Platão. Memórias, assim como características físicas herdadas de nossos antepassados, também poderiam ser passadas de geração em geração. Conceito aliás, muito usado hoje dentro das terapias de "Constelação Familiar". A ideia da existência deste campo permitiu a Moore que inserisse o Monstro do Pântano como aquele que encarna a coletividade da FLORA ou VERDE do Planeta Terra. Ele nada mais é do que a encarnação viva da consciência verde de nosso Planeta. A tradição literária tende a chamar seres assim de "Elementais", ou seja, um ser que encarna um dos elementos primordiais da vida, nesse caso a flora planetária.

Miniatura DC Série Especial Nº 15 - Monstro do Pântano

As primeiras histórias com Alan Moore à frente do Monstro do Pântano em 1984, ganharam prêmios prestigiosos na Indústria dos Quadrinhos, e narravam a descoberta pelo Monstro do Pântano de que na verdade ele não era Alec Holland. Que na verdade ele possuía apenas ecos das memórias do corpo que lhe serviu inicialmente como constituinte. Que na verdade ele era um Avatar da FLORA de nosso Planeta. Nas primeiras histórias acompanhamos o luto vivido pelo personagem ao perceber que o que ele chamava de humanidade dentro de si era apenas um eco, um resquício. As histórias de Moore vão então num crescendo, levando o personagem a descobrir todas as suas potencialidades, como por exemplo a capacidade de viajar dentro do Campo Morfogenético do Verde. Um local que ele podia acessar, por exemplo, usando qualquer vida vegetal que estivesse próxima. Assim, quando dentro do Campo Morfogenético, é como se ele pudesse estar em todo Planeta ao mesmo tempo, compartilhando da consciência coletiva de todos os vegetais existentes em nossa biosfera.

Miniatura DC Série Especial Nº 15 - Monstro do Pântano

Imagine, portanto um ser capaz de expandir sua consciência neste nível, capaz de perceber as nuances do coletivo verde planetário, e capaz de controla-lo. Nas histórias que se seguiram, o personagem fez uso algumas vezes de seu poder sobre o verde para conter ameaças, como por exemplo do Homem Florônico. Um ser que conseguiu atingir um certo nível de acesso ao mesmo campo ao qual o Monstro tem seus poderes ligados. As ocasiões em que o VERDE foi acessado pudemos ver o poder coletivo da flora de nosso mundo. Por vezes, aliás torcemos até para que este verde ensine ao homem algumas lições sobre o câncer da ganância, da falta de respeito pelo meio ambiente, da falta de senso coletivo ao se achar a espécie alfa em nosso planeta. Em tempos de desrespeito ambiental, de desrespeito à vida humana e aos ecossistemas, o Monstro do Pântano é mais do que relevante, é imprescindível enquanto metáfora para nosso aprendizado.

Miniatura DC Série Especial Nº 15 - Monstro do Pântano

Para o leitora da DC, é comum perceber nas histórias do Monstro do Pântano personagens místicos que foram ganhando expressão e hoje são tão incríveis quanto ele, por exemplo, John Constantine, Desafiador, Etrigan, Vingador, Espectro... Com o passar do tempo, outros conceitos foram expandidos a partir das ideias iniciais de Alan Moore, como por exemplo a existência do Parlamento das Árvores. Um local escondido dentro da Selva Amazônica Brasileira no qual estão enraizados Monstros do Pântano de outras Eras da Terra. Elementais do verde que já existiram e que, após seus anos de serviço, se dirigiram até esta região brasileira remota para se enraizar. O conjunto destes seres, e as decisões ali tomadas dirigem as ações do Elemental atual. O Parlamento das Árvores seria algo como o coração da flora de nosso planeta.

Miniatura DC Série Especial Nº 15 - Monstro do Pântano

Não posso deixar de expressar minha admiração pelo desenvolvimento dramático e ficcional que Alan Moore alcançou com o Monstro do Pântano. Mais... Não posso deixar de expressar a sensação que me acompanha desde criança quando morava em fazenda e escutava o coração da mata pulsar como se estivesse viva ao meu redor. Uma entidade viva com a qual o ser humano perdeu um contato mais íntimo (em função de algum erro que cometemos como espécie no passado quem sabe). Cresci imaginando se não haveria um jeito de nos reconectarmos com este campo que a tudo permeia durante nossa vida (tal qual vimos acontecer no filme AVATAR de James Cameron). Quando conheci o Monstro do Pântano de Alan Moore e as ideias de Ruppert Sheldrake, percebi então que talvez (quem sabe um dia) consigamos este acesso novamente!!

6 comentários:

  1. Como sempre um belo texto.
    Olavo de Carvalho destaca bastante a necessidade de contato com a natureza como forma de desalienação da vida urbana.
    Abraços

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    1. Olá amigo Kleiton!

      Agradeço a presença e comentário!!


      Concordo totalmente com Olavo de Carvalho!


      Forte abraço!

      Marcelo

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Conheci a história do monstro do pântano na saga o dia mais claro. Sensacional!

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