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domingo, 23 de maio de 2021

Pílulas Séricas #4: The Terror (2018)















Um mar transformado em gelo, uma imensidão desolada e dois navios exploradores polares presos com duas tripulações de homens. A série The Terror (Amazon Prime 2018) tenta recontar a história verídica de dois navios exploradores da Marinha Real do Reino Unido, o Erebus e o HMS Terror que se aventuraram e desapareceram na imensidão polar entre 1845-1848. A missão da expedição era a obtenção de dados magnéticos do Ártico Canadense e a navegação pela Passagem do Noroeste (passagem entre o oceano Atlântico e o oceano Pacífico), uma verdadeira obsessão do governo Britânico na época em função de suas pretensões imperialistas. Além do curioso contexto histórico envolvido, a série ganha contornos maiores quando o encalhe dos dois navios no meio do mar que se congela mostra a lenta e gradativa reação da tripulação frente à desolação e constatação progressiva de que um resgate estaria cada vez mais distante. Este dramático contexto se soma ao peso que vai recaindo sobre os ombros dos capitães de cada um dos navios, os Capitães John Franklin e Francis Crozier. Há também a estranheza que cresce em meio à todos quando a tripulação entra em contato com alguns nativos polares e suas estranhas crenças Xamânicas. O gelo, a imensidão polar e o inóspito ambiente se convertem em personagens centrais da história e conseguem dimensionar o drama humano que se desenrola. Não se pode deixar de comparar a série com o universo ficcional ancestral e imemorial do autor H.P. Lovecraft. Sobretudo a história de seu livro Nas Montanhas da Loucura, livro de 1937 que também trata de uma expedição fictícia (só que ao Polo Sul) e da constatação da pequenez da nossa espécie. Penso que Lovecraft é homenageado principalmente na figura da criatura encontrada pela tripulação do Terror em determinado momento da narrativa. The Terror mostra o hermético mundo militar masculino, e a reação humana frente à ameaças diárias e constantes à própria vida. A restrição de censura para 16 anos é correta. O diretor Ridley Scott (Alien - O 8º Passageiro, Blade Runner) é um dos produtores e é possível ver sinais aqui e ali da mesma experiência claustrofóbica vivida na nave USCSS Nostromo em Alien - O 8º Passageiro. A segunda temporada de The Terror já foi lançada, mas por ser uma Série de Antologias, não há relação entre a primeira e a segunda.







terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Pílulas Séricas #3: Cidade Invisível (2021)


Podemos  falar de folclore a partir de diversas abordagens, mas talvez as duas principais sejam: 1) a acadêmica e 2) aquela fruto de experiências pessoais. Esta segunda está ligada àqueles que de alguma forma já experimentaram algum tipo de interação com o místico dentro da natureza. Quando garoto morei por anos em uma fazenda do interior do Mato Groso do Sul. Cresci ouvindo histórias de sací. Ouvia sons distantes e curiosos na mata, e até mesmo as tranças nas crinas dos cavalos logo cedo na "Mangueira" na hora de tirar o leite. Nesse ambiente, o que mais me marcou foi a sensação contínua de que a mata possuía uma presença. Coisas desse tipo se desvanecem quando tentamos descreve-las. Elas estão na dimensão de uma outra comunicação, uma outra linguagem. Quando concluí a 1ª Temporada de Cidade Invisível percebi que os autores tentaram e conseguiram, em certa medida, retratar a dimensão escondida que se forma em torno de nossa credulidade. Infelizmente não posso opinar acerca da assertividade acadêmica da série, até porque não sou da área, no entanto, percebo que no computo geral a obra soube lidar com respeito e reverência ao abordar os ícones folclóricos brasileiros (pelo menos sob a perspectiva de um leigo e não acadêmico literato). Infelizmente, atualmente uma obra para ser celebrada precisa ser absolutamente o "máximo", absolutamente "incrível". Há pouco espaço hoje em dia para se deixar levar simplesmente. O entretenimento foi sendo solapado pela tentativa de se analisar as obras em suas minúcias. Mas se nos permitíssemos relaxar e deixar-nos levar pela narrativa, veríamos que as obras podem ser muito maiores do que as opiniões e resenhas infinitas e imediatas existentes no universo virtual. Não se permite o tempo necessário para decantação das ideias... Vale a opinião o mais imediata e instantânea possível. E dentro desta máquina de moer e criticar ideias vai-se perdendo a calma necessária para se descobrir uma obra. Não à toa, muitas gigantes do streaming passaram a liberar episódios semanais. Cidade Invisível pode ter erros aqui e acolá como já está sendo apontado por miríades de Blogs e canais no YouTube, mas a ideia central é muito bem trabalhada. Posso dizer que, como alguém que já sentiu os olhares esquivos dentro do verde, vale muito a pena!!






sábado, 18 de julho de 2020

Pílulas Séricas #2: Twilight Zone (2019)


Quando fiquei sabendo, em 2018, que a série The Twilight Zone seria revisitada pelo serviço de streaming da Amazon em parceria com a CBS, fiquei extremamente preocupado de que a memória e o legado de Rod Serling, o criador da série original que foi ao ar entre 1959 e 1964, fossem arranhados. Apenas no final de 2019, início de 2020, comecei a ficar mais confiante ao saber dos nomes envolvidos no projeto, Jordan Peele e Simon Kinberg. Não me equivoco em dizer que quase tudo que foi feito no cinema e TV envolvendo o "fantástico" em suas vertentes Sci-fi, terror e suspense nas últimas 6 décadas foi inspirado nos episódios escritos por Rod Serling. Em sua nova versão, Jordan Peele acerta ao não querer suplantar a série original com pura pirotecnia narrativa. Os episódios se mantém auto-contidos, não almejando nada além a não ser "manter o DNA" original impresso por Serling. Mas nem por isso temas espinhosos de cunho social, econômico, familiar, político, entre outros, deixam de ser abordados na perspectiva do "fantástico". Ambição (1º episódio), culpa (2º episódio), racismo (3º episódio), o poder da mentira (4º episódio), mídia irresponsável (5º episódio), instinto de sobrevivência (6º episódio), sexismo (7º episódio), refugiados / imigração (8º episódio), a sedução das armas de fogo (9º episódio), ... (10º episódio). Os produtores se concentraram no microverso dos personagens, e é isso que expande os temas. No famoso papel de anfitrião de Rod Serling, o próprio Jordan Peele aparece conjugando o carisma enigmático de Serling com os famosos textos cheios de armadilhas. Ao se distanciar de séries atuais de "antologias", tais como, Black Mirror e Eletric Dreams, The Twilight Zone consegue se manter onde sempre deve ficar, ou seja, na zona do crepúsculo de nossas almas.







domingo, 9 de fevereiro de 2020

Pílulas Séricas #1: Messiah (2020)


A 2ª Vinda de Jesus à Terra, também chamada de 2º Advento, vem sendo anunciada pela fé cristã há séculos. Este Advento é na maioria das vezes divulgado, sobretudo pelas Igrejas de origem Pentecostal e Neo-Pentecostal da 1ª metade do Século XX, como algo apoteótico e em escala planetária, baseando-se na interpretação de textos bíblicos que realmente parecem dar esta conotação à 2ª Vinda. Messiah (NetFlix 2020) traz uma releitura extremamente interessante para o 2º Advento, ou seja, apresenta-o de forma intimista, acontecendo em um microcosmo de pessoas e que (tal qual aconteceu na 1ª vinda), lentamente vai ganhando expressão mundial. A figura central, obviamente, suscita descrença e paixão ao mesmo tempo, e a ambiguidade da real origem e natureza de sua pessoa permeia toda a série. A obra traz, em minha opinião, um excelente exercício no sentido de se ver a figura do Messias para além das jurisdições religiosas, ou seja, todos querem capitanear em cima de sua figura, mas Ele parece não vir satisfazer instituições, mas sim pessoas. Esta perspectiva coloca o suposto Messias da série fora da "casinha" religiosa que cada Instituição colocou sobre ele, o que nos leva a uma reflexão extremante interessante. Apesar do que já li acerca da interpretação do ator Franco-Belga Mehdi Dehbi (o Messias do título), para mim ele está extremamente crível em seu papel. Dehbi entendeu, em minha opinião, perfeitamente o caráter divino e ao mesmo tempo humano que permeia uma figura como a que ele interpreta, e esta ambiguidade é traduzida em cada fala sua. Ao longo da série fui ficando com uma vontade cada vez maior de acreditar que ele é quem realmente diz ser. Para um cristão, como eu, a série vem trazer um olhar diferente, porém crível e ao mesmo tempo canônico para o 2º Advento, principalmente se pensarmos no objetivo do Messias da série, o estabelecimento do "Milênio", a Era de Paz que a escatologia bíblica moderna interpreta como o período sucessor da Grande Tribulação e que antecederá o Grande Julgamento Final do Trono Branco.





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