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domingo, 29 de agosto de 2021

Pílula Gráfica #7: O Colecionador (2021)


Sérgio Toppi foi um artista conhecido tardiamente no Brasil pelo público em geral, muito embora já  seja celebrado há muito tempo no meio dos fãs de quadrinhos mais bem informados e antenados com lançamentos estrangeiros. Mas para o público aficionado e com pouco acesso à HQs de fora do Brasil, ele figurava quiçá como apenas um nome a ser um dia conhecido se fosse possível (esse infelizmente era o meu caso). Com a chegada de Sharaz-de: Conto de As Mil e Uma Noites Vol. 01 (2016) e Vol. 02 (2017) pela Editora Figura, o caminho para outras obras do autor aportarem no Brasil estava pavimentado. Aproveitando isso a Ed. Figura (novamente) trouxe outra obra-prima do autor: O Colecionador. Lançado originalmente no início dos anos 80, as histórias do Colecionador evocam (nas palavras usadas na introdução da obra) um "naturalismo antropológico". Único personagem fixo de Toppi, o Colecionador do título é uma mistura de texano aristocrático (na forma de se vestir e na aparência) com um obscuro feiticeiro. A expressão "naturalismo antropológico" cai como uma "luva" porque realmente a obra é repleta de referências culturais e étnicas específicas em cada uma das histórias. Toppi se utiliza de aspectos específicos de culturas milenares para explorar a trama. O leitor vê descortinar diante de si um obscuro, mas fascinante painel cultural e mítico de povos distantes e que, apesar dos esforços genocidas de diversos impérios, ainda continuam entre nós. A edição da Ed. Figura nos presenteia com a obra completa envolvendo o personagem. São  as histórias: O Calumet de Pedra Vermelha; O Obelisco da Terra de Punt; A Lágrima de Timur Leng; O Cetro de Muiredeagh; e O Colar de Padmasumbawa, sendo esta última lançada já em 2006, com duas décadas de distância entre as primeiras histórias. Para além da fascinante e mística abordagem das tramas, a arte de Toppi precisa ser comentada como elemento central para o dimensionamento e grandeza dos enredos. A forma hachurada do artista desenhar certos elementos dá robustez e densidade aos cenários, contribuindo para a aspereza de certas cenas. Além da  minha surpresa pela obra em si, tive a felicidade de ter tido outra surpresa. Ano passado li a obra-prima de outro célebre artista italiano, Gianfranco Manfredi, chamada FACE OCULTA. Em Face Oculta temos como pano de fundo a Guerra entre a imperialista Itália e a Etiópia no final do século 19. Pois é exatamente esta Guerra que é também abordada em O Obelisco da Terra de Punt. Nela O Colecionador conversa com personagens históricos que também estão presentes em Face Oculta. O tipo de coincidência que enche de alegria qualquer leitor. O Colecionador foi financiado pela plataforma Catarse (que aliás tem mudado a "cena" nacional com uma avalanche de lançamentos antes impensáveis pelas editoras tradicionais), e traz alguns interessantes brindes que todo leitor inveterado gosta: cards com desenhos de Toppi e marca-páginas. O Colecionador estará sem dúvida nenhuma entre as melhores obras lançadas em 2021!

Arte de Capa para O Calumet de Pedra Vermelha

Arte de Capa para O Obelisco da Terra de Punt

Arte de Capa para A Lágrima de Timur Leng

Arte de Capa para O Cetro de Muiredeagh

Arte de Capa para O Colar de Padmasumbawa

Arte de Capa para O Colar de Padmasumbawa - Edição Francesa






sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Joe Golem - Detetive do Oculto (Melhor de 2021)!


Às vezes somos lembrados do motivo que nos fazem tão fãs de quadrinhos. Em meio à tantos lançamentos, uma simples HQ pode parecer irrelevante diante de tantas opções. Joe Golem me chamou atenção já pela capa ao evocar quase que em 100% o espírito dos antigos PULPs. Mesmo assim estava receoso de comprar porque conheço pouca coisa do Mike Mignola, apesar de sua grande fama com Hellboy. Mas na segunda ou terceira página a obra já tinha me fisgado completamente. A história até tem clichês das tradicionais histórias de sobrenatural, mas o que impacta é 1) a forma como é contada, 2) a ambientação e 3) a arte. Mignola criou um universo fantástico no qual Nova Iorque foi engolida pelo mar em função de um cataclismo no início do século 20. Boa parte da cidade e da ilha de Manhattan ficaram submersos, passando a lembrar muito Veneza, só que com toda a decadência usual das obras "Noir". O nome do personagem já parece dar pistas de sua origem e, em paralelo à trama (ambientada na década de 60), é contado uma outra história que se passa na Eslovênia do Século 15. 

Capa de Dave Palumbo para Joe Golem - O Apanhador de Ratos Parte 1

As capas são do artista Dave Palumbo e conseguem resgatar todo vigor dos Pulps. A arte interna é de Christipher Golden e olha... É incrível! Golden possui um traço muito parecido com o de outro artista, o búlgaro Alex Maleev. O diferencial são as expressões e posições dadas aos personagens. Você é completamente imerso nas expressões faciais, sensações de movimento e "trejeitos" dos personagens. Mas outro diferencial é a paleta de cores desbotadas usadas pelo colorista Dave Stewart. Esse desbotamento auxilia em muito o clima onírico, mágico e alavanca a representação decadente dos cenários.

Capa de Dave Palumbo para Joe Golem - O Apanhador de Ratos Parte 2

A edição da Editora Mythos é em capa cartonada e traz duas histórias: O Apanhador de Ratos e Os Mortos Submersos. Para mim Joe Golem já figura entre as melhores HQs de 2021, se não a melhor. Parte deste meu entusiasmo é explicado pelas questões apresentadas acima, mas não posso deixar de dizer que o gênero é também meu preferido. Mas mesmo que o sobrenatural não seja sua primeira escolha nas livrarias e bancas, eu recomendaria fortemente você conhecer a obra. São poucas as HQs que conseguem sincronizar tão bem, ambientação, história, arte, diálogos, profundidade de personagens e temática interessante.

Capa de Dave Palumbo para Joe Golem - O Apanhador de Ratos Parte 3

Capa de Dave Palumbo para Joe Golem - Os Mortos Submersos Parte 1

Capa de Dave Palumbo para Joe Golem - O Apanhador de Ratos Parte 2

Sem dúvida nenhuma uma HQ que precisa ser conhecida e a Mythos precisa dar continuidade à sua publicação no Brasil! Abcs. à todos!
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