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sexta-feira, 24 de setembro de 2021

"STORM" de Don Lawrence finalmente de volta ao Brasil


A década de 80 foi extremamente pródiga em explodir nossas cabeças. Uma dessas explosões me atingiu em 1989 quando a Editora Abril lançou no Brasil a HQ Holandesa STORM. Uma história de ficção científica que rapidamente adquire tons do gênero Espada e Feitiçaria. A arte estupenda do inglês Don Lawrence capturou não apenas a imaginação de uma geração, mas conseguiu produzir em mim uma estranheza que até hoje me persegue. Lançada no Brasil em seus primeiros 10 capítulos, a saga do astronauta STORM ficou no limbo dos lançamentos brasileiros por mais de 30 anos, sendo sonhada por muitos fãs! Nesse ano, porém, vimos uma jovem editora assumir e concretizar esse sonho, a Editora Tundra. Atualmente em financiamento coletivo pela Plataforma CATARSE, a editora planeja lançar a Saga na íntegra em 6 volumes. Escrita a partir de 1977, a saga atravessou décadas até se encerrar em 2003 com o falecimento de Lawrence. O primeiro volume está em seus últimos dias de financiamento, ou seja, uma oportunidade única de termos uma das melhores obras dos quadrinhos de todos os tempos e que não pode ser perdida. Com cenários estranhos, obscuros, bizarros, oníricos e extremamente realistas, a Saga se inicia com a investigação da MANCHA VERMELHA de Júpiter pelo astronauta Storm. Pego em uma espécie de anomalia espacial (possivelmente gerada pela própria mancha) Storm é jogado em um local que se assemelha à Terra em seu passado (ou seria seu futuro?). O fato é que a estranheza da história reside no ancestral medo que assola todos nós ao percebermos que somos menos que grãos de areia ante a vastidão do tempo. A Editora Tundra lançará os volumes em um tamanho que será capaz de valorizar como nunca a arte de Lawrence, saindo do formato 21 x 28 cm (usado pela Editora Abril no passado) para os excelentes 24 x 32 cm. O tratamento das ilustrações de Lawrence parece impecável ao valorizar os diversos detalhes dos desenhos do artista (comparações abaixo). Se você não conhecia STORM, precisa conhecer. Um lançamento que merece o apoio de todo fã de quadrinhos de qualidade. Não perca a campanha de financiamento do VOLUME 1 que se encerrará no próximo dia 30/09/21!!





sexta-feira, 17 de setembro de 2021

Pílula Gráfica #9: A Música de Erich Zann (2021)


Se tentarmos vislumbrar certos lugares ou recantos com o "olhar de dentro", aquele que não é o simples ato de "enxergar", poderíamos sentir que certos locais escondem muito mais do que aparentam. H.P. Lovecraft parece ter escrito, em março de 1922, a pequena "obra-prima" A Música de Erich Zann a partir desta constatação. Por uma felicidade do destino, determinadas obras às vezes encontram uma artista perfeita para adapta-la. "Perfeita" porque consegue expandi-la sem contamina-la em nada, apenas amplificando suas características originais, oferecendo assim uma nova experiência ao leitor. Esse foi o caso da edição de A Música de Erich Zann lançada recentemente pela Editora Skript. A artista mineira Gio Guimarães adapta o conto de Lovecraft emoldurando-o com um estilo que nos remete muito ao Expressionismo Alemão. Estilo que parece contextualizar e aprofundar perfeitamente a obra. O resultado é uma experiência quase metafísica do leitor ao se deixar levar pelas palavras de Lovecraft em cada desenho. No conto, o idoso e solitário músico Erich Zann vive sozinho no último andar do último edifício da Rua D´Auseil. Ali, Zann toca sozinho até altas horas uma melodia estranha e ao mesmo inefável e obscura. O que ele não sabe é que a melodia vem sendo apreciada há algum tempo pelo vizinho e único habitante do quarto alugado no andar de baixo. A tentativa de amizade do morador de baixo com Zann desemboca em uma incrível e inquietante descoberta que coroa o conto. Como de costume, Lovecraft consegue coroar a narrativa com um clímax que faz jus à expectativa que cria. E para quem já teve a estranha sensação no mundo real de determinados lugares serem mais do que aparentam, o ápice de A Música de Erich Zann é quase que um "encontro com a verdade" que se esconde por trás de cada um dos estranhos recantos espalhados pelo mundo. A edição da Skript traz uma interessante introdução assinada por Douglas P. Freitas, editor da obra ao lado de Johnny C. Vargas. Na introdução Douglas comenta acerca da certa mística que existe ao redor da obra considerando o fato de Lovecraft nunca ter sinalizado qual é a cidade de língua francesa onde se passa a história (possivelmente Paris), nem o período (possivelmente final do século XIX). Outro mistério é onde ficaria a estranha Rua D´Auseil, nunca encontrada. Ao final da edição é possível se ler o conto na íntegra com tradução de Daniel Fontana. Por conta de todo o contexto gráfico e narrativo oferecido pela edição faz todo sentido tê-la, ainda que o conto esteja presente em muitas coletâneas de H.P. Lovecraft. Sem dúvida este é mais um lançamento que estará entre os melhores de 2021.






quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Pílula Gráfica #8: Viajante de Cinza (2021)


A segunda metade dos anos 2010 viu diversas editoras especializadas em quadrinhos emergirem no cenário editorial brasileiro. Talvez um dos motivos principais para esta efervescente cena, foi o fato de que muitas publicações de fora do país de altíssimo nível eram (há décadas) negligenciadas pelas editoras tradicionais. Aproveitando esse nicho, editoras como Pipoca e Nanquim, Skript, Editora 85, Graphite Editora, Editora Figura, Editora Tundra, entre outras, ganhassem seu espaço. Dentre elas a editora Comix Zone tem feito um ótimo trabalho de curadoria junto à autores latino-americanos. Infelizmente eu demorei muito para conhecer esses autores. Comecei de forma incipiente conhecendo o trabalho do Argentino Héctor Oesterheld e, após esta primeira experiência fui literalmente cooptado pelo estilo de narrativa. Dessa leva temos chegando no Brasil o metafórico, onírico e profundo Viajante de Cinza, do argentino Carlos Trillo (1943-2011) e do uruguaio Alberto Breccia (1919-1993). Publicada originalmente entre 1978 e 1980 é difícil de acreditar que já há tanto tempo (ainda quando as Graphic Novels engatinhavam) Trillo e Breccia tenham atingido o nível visto nesta obra. Um nível em que a arte (Breccia), narrativa, argumento (Trillo) e originalidade se entrelaçam de forma precisa. Viajante de Cinza narra a vida do preso Cornelius Dark, trancafiado em uma cela e passando por inúmeros períodos em "solitária". A opção de Trillo não revelar exatamente o motivo da prisão de Cornelius, e nem há quanto tempo ele está preso, produz um efeito no leitor de distorção da realidade, de desconexão e perda da dimensão espacial, que se fecha ao redor do leitor tanto quanto se fecha ao redor de Cornelius. Esse clima criado pela narrativa de Trillo e arte de Breccia faz com que tudo fora da cela de Cornelius diminua, enquanto seu interior cresce. Para escapar da insanidade, ou talvez (justamente) por entrar nela, Cornelius passa a experimentar viagens mentais em que vivencia e participa de momentos do passado de outras pessoas. Sejam situações históricas ou cotidianas. A atmosfera onírica, melancólica e reflexiva impacta o leitor de uma forma profunda e inescapável. A arte de Breccia é camaleônica e se transforma de traços duros e marmóreos (na prisão) para traços etéreos e efêmeros durante os devaneios de Cornelius. Não há como não vislumbrar uma grande influência do "expressionismo alemão" como se pode, por exemplo, ver na imagem abaixo na história "Arles 1888". A edição de Viajante de Cinza da Comix Zone compila as histórias do personagem e constituem uma "pérola" da 9ª Arte que me impactou profundamente. Novamente outro lançamento que estará entre os melhores de 2021.






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