"Onde a vida não tinha valor, a morte, às vezes, tinha o seu preço."
Conforme prometi quando fiz a 1ª parte da Trilogia do Homem Sem Nome, trago até vocês agora o 2º filme dessa trilogia de Sergio Leone, e que faz parte parte dessa grande obra prima da 7ª arte. Por uns Dólares a Mais foi lançado em 1965 e filmado, à semelhança do 1º (Por um Punhado de Dólares) na região de Alméria, Espanha. Em função do grande sucesso do 1º longa, esse 2º filme possuía um orçamento muito maior, Clint Eastwood já era reconhecidamente um astro e as pessoas já ligavam seu rosto ao seu vilento e complexo personagem do 1º filme. Outra novidade seria a presença de um novo produtor, Alberto Grimaldi, famoso produtor de filmes de Fellini, Bertolucci e Pasolini. Sir Christopher John Frayling, biógrafo de Sergio Leone e posuidor de um gande acervo de imagens e raridades dos três filmes, nos lembra que na época em que foram lançados, o marketing envolvendo os filmes era bem diferente do que temos hoje. Artistas regionais faziam sua própria leitura dos filmes e produziam imagens que seriam então os cartazes em seus países. Isso era comum pois aproximava a obra à população local. Daí o fato de termos cartazes muitas vezes muito diferentes de um país para outro.
Cartaz Italiano de Por uns Dólares a Mais |
No cartaz acima podemos ver a imagem de Eastwood em 1º plano admitindo sua presença como um grande chamariz para o público. Sergio Leone e Gian Maria Volonté já aparecem com seus nomes reais e não com pseudônimos, como havia ocorrido nos cartazes do 1º filme.
Cartaz Espanhol de Por uns Dólares a Mais |
Nesse outro cartaz acima já vemos a imagem de Lee Van Cleef (que no filme interpreta o Coronel Douglas Mortimer). Eastwwod não era tão famoso na Espanha por isso a mudança de personagem no cartaz, que também traz outro nome para o filme: "A Morte tem Seu Preço".
Cartaz Francês de Por uns Dólares a Mais |
Eu particularmente acho o roteriro desse filme mais elaborado. Vemos um Clint Eastwood verdadeiramente vestindo a pele de um Caçador de Recompensas. Gian Maria Volonté (ator que eu já falei que gosto muito) faz o vilão Indio. Volonté consegue fazer um vilão muito complexo. Alguém que sabe que está além de qualquer redenção, e a constatação de sua inevitável danação o torna insano, violento, reflexivo e às vezes melancólico. Assistir às cenas em que ele aparece é uma aula de interpretação. Dentre as centenas de mortes que Indio carrega, há uma em especial que o fez constatar seu inexorável caminho para o inferno. Um assassinato que tem tudo a ver com a participação do personagem de Van Cleef (Coronel Douglas Mortimer). Esse mistério, que faz com que os caminhos de Indio e de Mortimer se cruzem violentamente, é esclarecido só no fim do filme. Quando o espectador percebe essa relação entre Indio e Mortimer é invadido por uma dor, tristeza e raiva. Ao redor desse mistério há a enigmática presença ao longo do filme de um "Relógio de Bolso". A música que sempre toca no filme é a mesma música que o Relógio toca quando é aberto. Indio usa essa música para assassinar suas vítimas sempre que ela chega ao final. Essa é uma música de Ennio Morricone, e por ser fantástica fiz um video que com ela e postei logo abaixo. Ouvi-la é entrar dentro da atmosfera violenta e insana de Indio.
Relógio de Bolso - Importante peça de conexão entre Indio e Mortimer |
O personagem de Clint Eastwood (O Homem Sem Nome) caça Indio e seu bando em função da vultuosa recompensa oferecida pela morte ou captura desse bandidos. É nesse processo que O Homem Sem Nome estabelece uma calculada amizade com o Coronel Mortimer. Como já falei na 1ª matéria sobre essa trilogia, o Homem Sem Nome possuía um nome sim, porém ele recebe nesse filme uma 2ª alcunha: em 2 momentos apenas do filme ele é chamado de "Manco". A origem desse nome no filme é desconhecida. Nesse longa, Leone já estava com seu talento amadurecido, pequenas falas e cenas que seriam rodadas sem nenhuma expressão por vários diretores aqui se transformam em cenas grandiosas, nas quais a inevitabilidade da morte que ronda os personagens faz com que haja uma constante sensação apocalíptica.
Indio abre o "Relógio de Bolso" - Início de uma música que sempre se encerra com a morte de alguém |
O fim do filme é mostrado em um entardecer, ao meu ver uma metáfora para mostrar o fim de um dos 3 personagens principais. Além disso a cena enquadra os personagens dentro de um círculo formado por uma mureta de pedra, imagem circular que seria retomada no final do 3º filme da trilogia, lançado logo depois.
Não preciso dizer novamente que a Trilha Sonora de Ennio Morricone é algo palpável e que também "atua" no filme como se fosse um personagem. É difícil para quem não assistiu ao filme ou não ouviu a trilha entender o poder da música de Morricone. Sendo assim montei um video com algumas cenas do filme, tendo ao fundo a música principal que toca no Relógio de Indio (La resa dei conti). Assistam e entendam. Abc à todos!!