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domingo, 26 de agosto de 2012

A Trilogia do Homem Sem Nome - Parte II


"Onde a vida não tinha valor, a morte, às vezes, tinha o seu preço."

Conforme prometi quando fiz a 1ª parte da Trilogia do Homem Sem Nome, trago até vocês agora o 2º filme dessa trilogia de Sergio Leone, e que faz parte parte dessa grande obra prima da 7ª arte. Por uns Dólares a Mais foi lançado em 1965 e filmado, à semelhança do 1º (Por um Punhado de Dólares) na região de Alméria, Espanha. Em função do grande sucesso do 1º longa, esse 2º filme possuía um orçamento muito maior, Clint Eastwood já era reconhecidamente um astro e as pessoas já ligavam seu rosto ao seu vilento e complexo personagem do 1º filme. Outra novidade seria a presença de um novo produtor, Alberto Grimaldi, famoso produtor de filmes de Fellini, Bertolucci e Pasolini. Sir Christopher John Frayling, biógrafo de Sergio Leone e posuidor de um gande acervo de imagens e raridades dos três filmes, nos lembra que na época em que foram lançados, o marketing envolvendo os filmes era bem diferente do que temos hoje. Artistas regionais faziam sua própria leitura dos filmes e produziam imagens que seriam então os cartazes em seus países. Isso era comum pois aproximava a obra à população local. Daí o fato de termos cartazes muitas vezes muito diferentes de um país para outro.

Cartaz Italiano de Por uns Dólares a Mais

No cartaz acima podemos ver a imagem de Eastwood em 1º plano admitindo sua presença como um grande chamariz para o público. Sergio Leone e Gian Maria Volonté já aparecem com seus nomes reais e não com pseudônimos, como havia ocorrido nos cartazes do 1º filme.

Cartaz Espanhol de Por uns Dólares a Mais

Nesse outro cartaz acima já vemos a imagem de Lee Van Cleef (que no filme interpreta o Coronel Douglas Mortimer). Eastwwod não era tão famoso na Espanha por isso a mudança de personagem no cartaz, que também traz outro nome para o filme: "A Morte tem Seu Preço".

Cartaz Francês de Por uns Dólares a Mais

Eu particularmente acho o roteriro desse filme mais elaborado. Vemos um Clint Eastwood verdadeiramente vestindo a pele de um Caçador de Recompensas. Gian Maria Volonté (ator que eu já falei que gosto muito) faz o vilão Indio. Volonté consegue fazer um vilão muito complexo. Alguém que sabe que está além de qualquer redenção, e a constatação de sua inevitável danação o torna insano, violento, reflexivo e às vezes melancólico. Assistir às cenas em que ele aparece é uma aula de interpretação. Dentre as centenas de mortes que Indio carrega, há uma em especial que o fez constatar seu inexorável caminho para o inferno. Um assassinato que tem tudo a ver com a participação do personagem de Van Cleef (Coronel Douglas Mortimer). Esse mistério, que faz com que os caminhos de Indio e de Mortimer se cruzem violentamente, é esclarecido só no fim do filme. Quando o espectador percebe essa relação entre Indio e Mortimer é invadido por uma dor, tristeza e raiva. Ao redor desse mistério há a enigmática presença ao longo do filme de um "Relógio de Bolso". A música que sempre toca no filme é a mesma música que o Relógio toca quando é aberto. Indio usa essa música para assassinar suas vítimas sempre que ela chega ao final. Essa é uma música de Ennio Morricone, e por ser fantástica fiz um video que com ela e postei logo abaixo. Ouvi-la é entrar dentro da atmosfera violenta e insana de Indio.

Relógio de Bolso - Importante peça de conexão entre Indio e Mortimer

O personagem de Clint Eastwood (O Homem Sem Nome) caça Indio e seu bando em função da vultuosa recompensa oferecida pela morte ou captura desse bandidos. É nesse processo que O Homem Sem Nome estabelece uma calculada amizade com o Coronel Mortimer. Como já falei na 1ª matéria sobre essa trilogia, o Homem Sem Nome possuía um nome sim, porém ele recebe nesse filme uma 2ª alcunha: em 2 momentos apenas do filme ele é chamado de "Manco". A origem desse nome no filme é desconhecida. Nesse longa, Leone já estava com seu talento amadurecido, pequenas falas e cenas que seriam rodadas sem nenhuma expressão por vários diretores aqui se transformam em cenas grandiosas, nas quais a inevitabilidade da morte que ronda os personagens faz com que haja uma constante sensação apocalíptica.


Indio abre o "Relógio de Bolso" - Início de uma música que sempre se encerra com a morte de alguém

O fim do filme é mostrado em um entardecer, ao meu ver uma metáfora para mostrar o fim de um dos 3 personagens principais. Além disso a cena enquadra os personagens dentro de um círculo formado por uma mureta de pedra, imagem circular que seria retomada no final do 3º filme da trilogia, lançado logo depois.

Cenas finais do filme - Triste, violento e grandioso entardecer

Não preciso dizer novamente que a Trilha Sonora de Ennio Morricone é algo palpável e que também "atua" no filme como se fosse um personagem. É difícil para quem não assistiu ao filme ou não ouviu a trilha entender o poder da música de Morricone. Sendo assim montei um video com algumas cenas do filme, tendo ao fundo a música principal que toca no Relógio de Indio (La resa dei conti). Assistam e entendam. Abc à todos!!

15 comentários:

  1. OLá! Eu me amarrei na música!! Esse comecinho dela é demais!! Curti demais!!!

    E sobre o filme, devia ser exibido em algum canal de TV, ainda que fosse pago. Há sempre os mesmos filmes sendo transmitidos de um canal para outro, deveriam prestar mais atenção e nos presentear com coias como esta aí, que parece valer a pena e poderia ter grande exibição. Tem até um canal específico em grandes clássicos em geral, que é o TCM... não dá pra entender porque não surgiu uma emissora com boa vontade em exibi-lo. Clint Eastwood é um referência forte no cinema. O que esse povo está esperando???

    Show de bola!

    Abraços. Fabiano Caldeira.

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    1. Oi Fabiano !! Legal que tenha gostado!!

      A música é tudo de bom mesmo! Não é!? Esse toque inicial que lembra uma caixinha de música traz a tona a atmosfera de insanidade que é peculiar ao personagem de Volonté (Índio). A entrada do som do órgão de "Tubo" que acontece logo em seguida traz ao mesmo tempo uma atmosfera "sacra" que tem tudo a ver com a seriedade dos conflitos da alma humana apresentados por Leone. Enfim!! O que quero dizer é que Ennio Morricone conseguiu capturar os sentimentos e sensacões que Leone gostaria que fossem sentidos pela platéia e os colocou em forma de trilha sonora. Não é fo#%£¥##!??!

      Eu sou suspeito de falar. Isso é prova que quando a obra é boa ela se perpetua pelo tempo!

      Conheço o TCM... Atualmente eu não tenho mais ele no meu pacote de assinatura da TV a cabo mas me lembro que era muito legal!! Concordo muito com vc... As novas gerações deveriam ser apresentadas a esses clássicos. Esses adolescentes acham que tudo que é bom vem dessa nova era digital. É uma grande engano e prepotência.

      Valeu aí Fabiano! Pelo comentário e pela visita!!!!

      Abc.

      Marcelo.

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  2. Marcelo querido!
    Parabéns pela postagem... Amei!
    Senti saudades dos dias que passastes aqui
    e assistimos esse filme. Muito bom!
    Estamos com muita saudade!
    Quando irão nos presentear com uma visita?
    Abraços e uma semana abençoada!

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  3. Oi !! Estamos com saudades de vcs também. Realmente assistir ao filme aí com vcs foi muito legal.

    Pois é... Estamos sem programação de ir praí tão já, pois o feriadão desse semestre é mais para novembro mesmo! Estamos programados para ir à Campo Grande no 07 de setembro.

    Gde. Abc. à todos daí!!

    Marcelo.

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  4. Filmasso mesmo, hein??

    isso é q era bang-bang de verdade... (não essas tentativas deprimentes q fazem hj em dia)!!!

    o 3º filme da série ainda é o melhor pra mim.... mas os 2 primeiros são melhores q quase todos os outros do gênero q assisti!!!

    e hj em dia com a internet, confesso q nem sinto tanta falta de um canal específico pra filmes.... tudo q eu preciso, sempre encontro no torrent (só as legendas é q nem sempre eu consigo, mas entendo bem qdo falam em italiano - me acostumei de tantos filmes italianos q assisto!!!

    Valeu, Marcelo...

    e fico no aguardo da 3º parte!!!

    Abs!!

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    1. Oi Leo!! Blz?

      Putz... Você acredita que ainda não sou tão familiar com esses sites de download de filmes! Ainda tenho alguns receios (vírus etc...). Mas pelo que já vi vc comentando me parece que é algo tranquilo não é?

      Ainda sou um pouco ligado em locadoras e filmes na TV. Agora com o NET Flix estou expandindo um pouco minhas opções de interfaces com os filmes.

      Bem... Se formos pensar em qual dos três é melhor fica difícil, mas acho que vc tem razão. O refinamento de Leone chega ao máximo no 3º da Trilogia (O Bom, O Mau e o Feio) e também no filme "Era Uma Vez no Oeste", que pretendo também abordar aqui.

      Beleza. Gde. Abc.!!

      Marcelo.

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  5. Olha, "tranquilo" não é...

    sempre existe o risco de se pegar um vírus em qq download q se faça na internet (mesmo uam simples música ou até um gibi)!!!

    mas é só manter um anti-vírus atualizado e pronto: o q eu uso elimina qq vírus automaticamente (só preciso mantê-lo atualizado ao menos 1 vez por ano)!!!

    e pra procurar filmes uso o "Torrent Search Engine".... é um site gratuito, e ele busca qq filme q eu digitar na barra de pesquisa (tbm de grça via torrent)!!!

    aí as legendas eu pego em blogs específicos (tipo o "legendas tv")!!!

    o bom é q assim, eu assisto exatamente aquiloq eu quero ver a qq hora... é quase como pensar num filme, estalar os dedos, e ele parecer na tua frente como num passe de mágica (é quase isso mesmo, rs)!!!

    Abs!!!

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    1. Valeu Leo!

      Acho que é uma questão de "know-how" mesmo. À medida que pegamos pratica ficamos mais seguros mesmo. Eu não tenho muita pratica nisso... Mas a grande questão é manter o anti-vírus bem atualizado e entrar em sites recomendados.

      Aos poucos vou me familiarizar. É como vc diz... Risco existe pra tudo mesmo.

      Abc!

      Marcelo.

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  6. "O que quero dizer é que Ennio Morricone conseguiu capturar os sentimentos e sensacões que Leone gostaria que fossem sentidos pela platéia e os colocou em forma de trilha sonora. Não é fo#%£¥##!??!"

    Eu teria que ver o filme pra concordar, mas pelo que você falou, trata-se de uma boa produção do tipo que deveria, sim, ser exibida na Tv no lugar de tanta porcaria. Sim, eu achei a música bem fhod* do começo ao fim. Gostei desse barulhinho e também gostei de quando entram os outros intrumentos. Ficou um capricho só. Isso é a diferença entre fazer música com qualidade e esses modismos por aí do Rio de Janeiro, por exemplo [eca]

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    1. É verdade Fabiano... E eu até acho que as pessoas acabam gostando de músicas ou filmes de baixa qualidade por falta de divulgação das grandes emissoras, gravadoras, rádio...

      Já tivemos provas no passado de que quando há divulgação de boas coisas a população reponde bem. Hoje as coisas estão mais complicadas... Lembro por exemplo que nos anos 80 mesmo as músicas em geral que eram veiculadas nas rádios eram de muito melhor qualidade. A média atual está muito baixa!

      Abc!

      Marcelo.

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  7. "Esses adolescentes acham que tudo que é bom vem dessa nova era digital. É uma grande engano e prepotência."


    Ah, a,h ah, ah.... eles acham, é??? Então o mundo vai acabar mesmo!!! Nunca vi uma época tão besta em termos de produções do que a que estamos vivendo. Espero que passe logo.

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    1. Então Fabiano... Os jovens ou muito jovens em geral tem uma visão muito restrita das coisas...

      Em geral sentem que são a "geração que sabe das coisas". Mas isso é normal, eu já fui adolescente também, e em geral achamos que sabemos de tudo (nossa música é a melhor, nossos filmes são melhores...) com o tempo a gente vai vendo que existiram antes da gente coisas tão boas ou melhores que as da nossa geração. Daí vemos que não somos tão "cereja do bolo". Com o tempo ficamos mais humildes e abertos às coisas do passado e vemos que eram muito boas.

      Um filme desses entra nesse quesito. Sem efeitos especiais, sem uma mega-produção como as de hoje, porém funciona muito bem.

      Valeu a Fabiano! Abção.

      Marcelo.

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  8. Eu vejo bastante cinema mas realmente o material que mais me interessa é o dos anos 60 e 70. Actualmente faz-se muito remake, reboot e mais sei lá o quê, o que quase não se faz é cinema inovador.

    --
    Pedro Pereira

    http://por-um-punhado-de-euros.blogspot.com
    http://destilo-odio.tumblr.com/

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    1. Oi Pedro!

      Concordo plenamenten com vc. O cinema atual se perdeu numa onda vazia de tecnologia e ainda não percebeu que um filme não se sustenta sem uma boa historia.

      Fiquei sabendo que o Tarantino fez um filme chamado "Django" no qual o verdadeiro (Franco Nero) fará um papel. Fiquei com um pé atrás quando ouvi essa noticia, pois fazer um remake de uma obra prima é sempre um terreno perigoso. Alias, ao que parece nem remake é... Parece que é um filme bem diferente. Muitos irão ao cinema no entanto, apenas por causa do nome "Django". Vamos ver!

      Valeu mesmo Pedro. Apareça mais vezes!

      Gde. Abc. Pra vc...

      Marcelo.

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  9. Gostei da explanação sobre a trilogia de Leone/Morricone/Nicoali/Alessandroni.
    Agora gostaria que conhecessem a trilogia de Sergio Sollima.
    A Trilogia de Sabata...enfim...muito bom trabalho Marcelo.
    www.bangbangitaliana.blogspot.com

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