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sábado, 30 de abril de 2022

Pílula Gráfica #19: As Aventuras de Sherlock Holmes - (2021)

Um lançamento de 2021 que passou despercebido por muitos foi As Aventuras de Sherlock Holmes da Editora Mythos. A HQ traz a adaptação dos primeiros contos de Sherlock Holmes retirados diretamente  da pena do criador Sir Arthur Conan Doyle. Lançada em 1987 por ocasião do centenário de criação do detetive mais famoso do mundo, a quadrinização dos contos ficou a cargo do experiente e lendário Giancarlo Berardi (criador de Ken Parker) e do desenhista Giorgio Trevisan. Com uma fidedignidade e respeito enormes à obra de Doyle, Berardi apresenta de forma absolutamente crível as aventuras de Holmes. Particularmente para mim, a mitologia do personagem nunca me chamou muita atenção, mas ao ler esta obra fiquei impressionado com uma questão interessante e dramaticamente excelente. A famosa infalibilidade de Holmes não está necessariamente presente na perspectiva de Doyle. Isso desmistifica muito o personagem e o aproxima da realidade. Apesar de ser retratado como um detetive incrivelmente inteligente e sagaz, ele não é infalível e, com isso, expande seu perfil dramático. Os desenhos de Trevisan são magníficos ao retratar a Londres do final do século 19, ao ponto de nos sentirmos totalmente imersos na atmosfera Vitoriana. Vestuário, mobília, utensílios, arquitetura... Tudo é magistralmente desenhado por Trevisan. Não a toa a introdução da edição ostenta a ousada frase "Como Doyle gostaria". O volume traz os seis contos adaptados por Berardi. Infelizmente o projeto perdeu força com a mudança do perfil dos leitores no final da década de 80 na Itália, fazendo com que Berardi não desse continuidade às adaptações, limitando-as a apenas este volume que chegou ao Brasil em 2021, e que merece ser muito mais conhecido.





sábado, 9 de abril de 2022

Pílula Gráfica #18: Morgan Lost - (2020...)


Duas coisas fazem de Morgan Lost (Editora 85) uma obra que precisa ser conferida. A primeira delas é a trama escrita por Claudio Chiaverotti, que é quase que 100% inspirada nos clássicos Noir das décadas de 30 e 40 do século XX. Um estilo em que na maioria das vezes personagens marginais, violentos e sem escrúpulos convivem com pessoas comuns. E nesse ambiente, mesmo os heróis são ambíguos e incapazes de verdadeiramente se redimirem ou escaparem da violência a que eles próprios são dependentes. Mas há uma segunda razão que, se você for amante do estilo ART DECO (tão presente nas décadas de 30 e 40), fará a obra se tornar imprescindível. Um estilo que sobreviveu em prédios, mobílias, objetos e painéis que podem ser vistos até hoje. Quem mora em São Paulo (capital) conhece muito bem, por exemplo, o Prédio do Banespa e sabe a que me refiro. Ou então se você é de Goiânia, conhece muito bem o estilo do Teatro Goiânia (100% Art Deco). O Mundo de Morgan Lost (o protagonista da obra) é uma mistura de estilo ART DECO com tecnologias muito a frente do tempo em que se passa a história, o ano de 1953. E isso tem uma explicação, Morgan vive em uma realidade paralela a nossa. Pequenas sutilezas são inseridas na narrativa que atestam isso, por exemplo o fato de Albert Einstein ser um escritor de ficção científica e não um cientista como em nossa realidade. Chiaverrotti pega, aliás, um recurso criado por Phillip K. Dick em seu distópico livro de 1962, O Homem do Castelo Alto. Da mesma forma que ocorre no livro de Dick, em Morgan Lost há um livro (escrito por Einstein) no qual ele fala a respeito de uma realidade (no caso a nossa) em que as coisas ocorreram de forma diferente. Diferentemente da nossa realidade, por exemplo, no mundo de Morgan, Hitler foi assassinado pela espiã Marlene Dietrich. Diversas outras ocorrências fazem do mundo de Morgan um local estranho, como um espelho invertido do nosso. O protagonista é um caçador de serial killers, e ganha a vida com isso. Mas logo no início da história ficamos sabendo que ele era um cara comum no passado. Dono de um daltonismo peculiar, Morgan vê o mundo em tons de cinza e vermelho, daí o fato da história ser desenhada nesses tons. Para o leitor mais atento, no entanto, parece que as coisas que Morgan enxerga como "vermelho" possuem, no fundo, certa simbologia que ainda não fica bem clara, mas que parece bem importante para a história. Por ser um quadrinho Bonellliano, a história carrega a tradicional qualidade a que estamos acostumados da editora. Se você gosta de um ótimo policial Noir, de distopia, realidades paralelas e acima de tudo, admira o estilo DECO, então não perca tempo. Conheça Morgan Lost!




Estátua à esquerda: Referência clara à Metrópolis de Fritz Lang.


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