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domingo, 25 de abril de 2021

O Chamado de Cthulhu de H.P. Lovecraft - Ilustrado por Salvador Sanz

Eu conhecia o legado de H.P. Lovecraft para a literatura mundial já há muitos anos, especificamente para o subgênero Horror Cósmico. Mas somente ano passado pude entender perfeitamente como a hipnótica escrita de Lovecraft consegue nos levar para dimensões ancestrais de forma tão profunda. Este entendimento me chegou ao ler o Conto O TEMPLO presente na Antologia Das Estrelas ao Oceano da Editora Martin Claret e o livro Nas Montanhas de Loucura da Editora Hedra. Por isso não foi difícil logo migrar para aquele que é talvez seu conto mais emblemático, O Chamado de Cthulhu. Tive o prazer de lê-lo a partir desta primorosa edição da Editora Skript. Uma edição com vários atrativos que realmente a diferenciam e contribuem em muito para o aprofundamento da leitura. O primeiro deles é a presença do ilustrador argentino Salvador Sanz que, ao longo da edição produziu algumas ilustrações-chave para a obra. Ilustrações estas que conseguem dimensionar e apresentar magnanimamente as palavras e descrições fantásticas de Lovecraft. A arte de Sanz é obscura, épica, arqueológica, bíblica (!)... Adjetivos como esses explicam o poder que tais imagens produzem no leitor durante sua imersão na obra.













Outro ponto importante da edição é o "papel de impressão" usado. Robustas e de boa gramatura cada página possui uma moldura imitando folhas de cadernos antigos, além de uma peculiar imagem que se repete ao longo de todo o livro na extremidade lateral. Todo esse fabuloso projeto gráfico tem o mérito de Jhonny C. Vargas. Faço questão de citar seu nome porque há muitas edições em que os acessórios gráficos pouco servem para sustentar a narrativa, apenas embelezando o livro, mas ainda sim sem fornecer apoio para a experiência de leitura. O que não é o caso aqui, já que cada detalhe ajuda, sustenta e expande a narrativa. Por fim os outros dois grandes destaques são o prefácio de Nathalia Sorgon Scotuzzi (Mestra e doutoranda na obra de H.P. Lovecraft e editora da Diário Macabro) e o posfácio de Thiago de Barros Carneiro da página AfroNerd. No prefácio Nathalia faz um detalhado, porém sucinto e objetivo apanhado acerca da incrível contribuição de H.P. Lovecraft para a literatura mundial, além de contextualizar O Chamado de Cthulhu dentro de suas outras obras. O posfácio porém, guarda um tema que já havia despertado minha curiosidade, Lovecraft e Racismo. Eu já havia ouvido falar acerca do racismo do autor, algo entranhado em sua escrita. Mas Thiago consegue escrever sobre o tema equilibrando dois ponto difíceis de se conciliar: 1º) Não varrer o autor para o esquecimento em função de suas posições racistas e 2) ao mesmo não retirar-lhe o peso negativo e responsabilidade por suas crenças.















Não posso deixar de mencionar o pequeno mas muito elucidativo glossário que aparece ao final da obra, o que ajuda o leitor a entender a extensão da mitologia lovecraftiana. Sobre a história não posso entregar muito, a não ser que se trata de uma narrativa que vai num crescendo aproximando o leitor de um mito hediondo, ancestral, adormecido em uma cidadela submersa no oceano pacífico. Um pesadelo que dorme aguardando um colossal ciclo estelar se concluir a partir do alinhamento de diversas constelações, permitindo a liberação de seres primordiais malignos. O que embasa tal premissa é toda uma investigação conduzida por um antropólogo que reluta em crer na existência de um culto presente em diversas partes do mundo. Um culto sutil, marginal e horrível, mas que sustenta e prepara o retorno deste mal personificado pelo ser chamado simplesmente de Cthulhu, um nome impronunciável da forma correta pelos seres humanos, por não dispormos dos elementos fonéticos adequados para pronuncia-lo. Embora preso e submerso em sua cidadela adormecida no Pacífico Sul (coordenadas 47 9´ S, 126 43´´ W) chamada de R´lyeh, Cthulhu estaria acordado e capaz de influenciar sonhos de pessoas sensitivas ao redor da Terra, além de dar sustentação psíquica para a manutenção de seu culto em diversas comunidades ao redor do planeta.















Apesar de ser derivado de éons ancestrais, o leitor presenciará nas páginas do livro um encontro entre uma tripulação e o próprio Cthulhu, o que permitirá a revelação das suas características físicas específicas. O leitor terminará o livro com a amedrontadora curiosidade de conhecer mais o universo elaborado por Lovecraft. Não apenas pelo seu caráter mítico e fantástico que sempre nos aguça, mas também em função da construção crível de todo um universo mitológico. Embora este conto seja encontrado dentro de muitas coletâneas, eu recomendaria fortemente sua leitura nesta edição específica da Editora Skript. À semelhança desta edição de O Chamado de Cthulhu, outro conto de Lovecraft foi editado neste mesmo formato com ilustrações de Salvador Sanz, O Habitante das Trevas. Uma edição que também foi financiada pela Plataforma de Financiamento Coletivo Catarse.















A Editora Skript tem crescido e se desenvolvido dentro de uma proposta mais voltada para o terror, espero em breve comentar aqui sobre outro lançamento, o livro O Melhor do Terror dos Anos 80. Um livro-resenhas que traz 80 filmes de terror lançados na década de 80 comentados por estudiosos.

Grande abraço à todos.

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