Quando recomendaram-me Gus (e isso aconteceu várias vezes), esperava encontrar uma história que, embora com um desenho caricato, traria uma história ao estilo Tex Willer, ou quem sabe uma história ao estilo Western Italiano. A verdade é que a obra não tinha nada a ver com nenhuma abordagem do velho oeste que eu já havia conhecido. Gus é, na verdade, o nome de um assaltante que, ao lado de outros dois companheiros, sobrevive de roubos a trens e bancos. Entretanto, não são as aventuras que ele vive ao lado dos amigos o ponto central da narrativa, mas sim a vida amorosa do pequeno bando. O autor, Christophe Blain, apresenta as carências masculinas pelo afeto feminino (na maioria das vezes reprimida) usando como pano de fundo uma ambientação das mais inesperadas, o hermético mundo masculino do oeste selvagem. Na obra de Blain, embora violentos, Gus e Cia. vivem às voltas com relações familiares, amores não correspondidos e, sobretudo com a busca de mulheres para conhecerem e se relacionarem. Para fãs (como eu) do tradicional Western, em que o anti-herói pistoleiro é quase sempre total ou parcialmente infalível, Gus traz uma leitura que me obrigou a refazer alguns pressupostos esperados e exigidos do gênero. E nesse processo, tive que abrir espaço para outras visões que possivelmente fizeram parte sim da época. Inicialmente confesso que torci o nariz, mas depois, a narrativa leve, descompromissada, engraçada e criativa de Blain me fez navegar cada vez mais à vontade. A obra possui início, meio e fim, e foi trazida ao Brasil pela editora Sesi-SP. Tive um pouco de trabalho para conseguir um dos volumes da série, que no Brasil contou com 4 volumes: Gus - Nathalie (2016); Gus - Belo Bandido (2017); Gus - Ernest (2017); Gus - Feliz Clem (2018). HQs que envolvem desenhos muito caricaturais raramente chamam minha atenção, o que confesso ser um defeito. Isso quase aconteceu com Gus, mas foram indicações que me chegavam continuadamente sobre a HQ, que aos poucos, foram minando meu certo distanciamento. Se você quer conhecer um aspecto interessante, diferente e inovador do velho oeste, Gus é uma excelente obra. Vale muito a pena!!
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domingo, 30 de abril de 2023
domingo, 23 de abril de 2023
Pílula Literária #11: Os Três Impostores
Arthur Machen |
sexta-feira, 21 de abril de 2023
Pílula Literária #10: Torto Arado
Muitas vezes, ou melhor, na maioria das vezes, as palavras (escrita ou falada) comportam-se de maneira a reduzir a profundidade e grandeza dos sentimentos. Entretanto, eventualmente alguém é capaz de, primeiramente doma-las e aquieta-las dentro do turbilhão da mente, para depois continuar a difícil lavra de as colocar na ordem precisa e correta para aproximar o texto ao que se sente. Mais difícil ainda é usa-las num contexto que signifique algo profundo para muita, muita gente. Itamar Vieira Júnior consegue isso no seu TORTO ARADO, livro de 2019 ganhador dos Prêmio Jabuti de Romance Literário, Prêmio Jabuti de Livro Brasileiro Publicado no Exterior, Prêmio Oceanos entre outros. Mas mais que prêmios, o livro lembra Érico Veríssimo no seu Tempo e o Vento, ao trazer as histórias e memórias das irmãs Bibiana e Belonísia. Guerreiras das batalhas escondidas no cotidiano do verdadeiro Brasil, o Brasil profundo... Crias de uma sociedade profundamente marcada por anseios e tragédias ancestrais... Vozes que ecoam dentro de qualquer habitante do continente sul-americano. Herdeiro desta estirpe, o Geógrafo, Doutor em Estudos Étnicos e Africanos pela UFBA, Itamar Vieira Junior é, com orgulho, um dos nossos melhores "domador de palavras" da atualidade.