Sérgio Toppi foi um artista conhecido tardiamente no Brasil pelo público em geral, muito embora já seja celebrado há muito tempo no meio dos fãs de quadrinhos mais bem informados e antenados com lançamentos estrangeiros. Mas para o público aficionado e com pouco acesso à HQs de fora do Brasil, ele figurava quiçá como apenas um nome a ser um dia conhecido se fosse possível (esse infelizmente era o meu caso). Com a chegada de
Sharaz-de: Conto de As Mil e Uma Noites Vol. 01 (2016) e
Vol. 02 (2017) pela
Editora Figura, o caminho para outras obras do autor aportarem no Brasil estava pavimentado. Aproveitando isso a
Ed. Figura (novamente) trouxe outra obra-prima do autor:
O Colecionador. Lançado originalmente no início dos anos 80, as histórias do Colecionador evocam (nas palavras usadas na introdução da obra) um "naturalismo antropológico". Único personagem fixo de
Toppi, o
Colecionador do título é uma mistura de texano aristocrático (na forma de se vestir e na aparência) com um obscuro feiticeiro. A expressão "naturalismo antropológico" cai como uma "luva" porque realmente a obra é repleta de referências culturais e étnicas específicas em cada uma das histórias.
Toppi se utiliza de aspectos específicos de culturas milenares para explorar a trama. O leitor vê descortinar diante de si um obscuro, mas fascinante painel cultural e mítico de povos distantes e que, apesar dos esforços genocidas de diversos impérios, ainda continuam entre nós. A edição da
Ed. Figura nos presenteia com a obra completa envolvendo o personagem. São as histórias:
O Calumet de Pedra Vermelha;
O Obelisco da Terra de Punt;
A Lágrima de Timur Leng;
O Cetro de Muiredeagh; e
O Colar de Padmasumbawa, sendo esta última lançada já em 2006, com duas décadas de distância entre as primeiras histórias. Para além da fascinante e mística abordagem das tramas, a arte de
Toppi precisa ser comentada como elemento central para o dimensionamento e grandeza dos enredos. A forma
hachurada do artista desenhar certos elementos dá robustez e densidade aos cenários, contribuindo para a aspereza de certas cenas. Além da minha surpresa pela obra em si, tive a felicidade de ter tido outra surpresa. Ano passado li a obra-prima de outro célebre artista italiano,
Gianfranco Manfredi, chamada
FACE OCULTA. Em
Face Oculta temos como pano de fundo a Guerra entre a imperialista Itália e a Etiópia no final do século 19. Pois é exatamente esta Guerra que é também abordada em
O Obelisco da Terra de Punt. Nela
O Colecionador conversa com personagens históricos que também estão presentes em
Face Oculta. O tipo de coincidência que enche de alegria qualquer leitor.
O Colecionador foi financiado pela plataforma Catarse (que aliás tem mudado a "cena" nacional com uma avalanche de lançamentos antes impensáveis pelas editoras tradicionais), e traz alguns interessantes brindes que todo leitor inveterado gosta: cards com desenhos de
Toppi e marca-páginas.
O Colecionador estará sem dúvida nenhuma entre as melhores obras lançadas em 2021!
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Arte de Capa para O Calumet de Pedra Vermelha |
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Arte de Capa para O Obelisco da Terra de Punt |
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Arte de Capa para A Lágrima de Timur Leng |
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Arte de Capa para O Cetro de Muiredeagh |
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Arte de Capa para O Colar de Padmasumbawa |
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Arte de Capa para O Colar de Padmasumbawa - Edição Francesa |
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