Olá amigos... Muitos de vocês devem se perguntar porque tenho certa fixação pela série Astro City de Kurt Busiek. A verdade é que... Tenho mesmo. No começo, devo admitir que muito de minha atração se restringia às incríveis capas de Alex Ross. Mas mesmo essa atração fazia parte de algo mais profundo. Em minha opinião as capas conseguiam captar um ideal superheróico que se perdeu, com algumas exceções, em meio à profusão de lançamentos nas últimas décadas. Daí eu pensava: "Se o conteúdo de Astro City conseguir sintetizar o mito e a alegoria do mundo dos super-heróis tal qual as capas, então realmente a obra será incrível!". Bem... Após ler a primeira história publicada pela PANINI em nosso país no 1º semestre de 2015 (Astro City - Vol. 01: Vida na Cidade Grande) percebi que a obra vendia sim o que prometia através das capas!!! Depois de praticamente 07 meses a PANINI lança o vol. 2 "Confissão", uma história que agora expande ainda mais o universo criado por Busiek, merecendo novamente menção honrosa aqui no Blog.
Kurt Busiek´s Astro City Vol. II - Nº 4 |
O volume da PANINI compila as histórias presentes em Kurt Busiek´s Astro City Vol. II de 4 à 9, lançadas originalmente entre 1996 e 1997. Com um prefácio fantástico de ninguém menos que Neil Gaiman, o volume traz a história do Confessor, um vigilante que, à semelhança de Batman, vive nas sombras combatendo o crime. No entanto, este vigilante esconde mais do que se pode imaginar. O arco traz também o encontro entre o Confessor e aquele que, durante um tempo, se tornaria seu parceiro, o Coroinha. Mas porque o universo de Astro City é tão importante e ao mesmo tempo fantástico!?
Kurt Busiek´s Astro City Vol. II - Nº 5 |
O universo dos super-heróis sempre significou muito mais do que parece significar, e quem nunca percebeu isso talvez nunca tenha aproveitado de fato os mistérios da 9ª Arte. A verdade é que esses deuses fantasiados surgiram há muito tempo e de certa forma acabaram por espelhar os acontecimentos do mundo real. Nos anos 50 e 60, com a Era de Prata despontando, vimos aparecer histórias non-sense que traduziam muito bem a censura do Authority Code e mais, a despreocupação de toda uma geração que queria, em sua maioria, mais pensar em "curtir a vida". Nos anos 70 os quadrinhos de super-heróis voltaram-se para a desilusão do "sonho americano". Estávamos diante da Era de Bronze dos Quadrinhos. Uma Era formada por personagens um pouco mais voltados para a violência, para questões sociais e corriqueiras. Mas foi nos anos 80 que o mito do super-herói foi dissecado e desconstruído ao extremo. Abria-se com Alan Moore, Frank Miller e Neil Gaiman uma Era Moderna em que o herói retirava todas as suas camadas e seu âmago era exposto da forma visceral possível.
Kurt Busiek´s Astro City Vol. II - Nº 6 |
Mas o que teria acontecido se aqueles heróis simples e coloridos da Era de Ouro dos Quadrinhos (Década de 30 e 40) não tivessem seguido o rumo dos acontecimentos do Mundo Real? O que teria acontecido se esses heróis tivessem trilhado seu próprio caminho não mais influenciados pelos pensamentos, vicissitudes e mazelas de nosso Mundo? Bem... Se os personagens tivessem tomado seu próprio rumo eles teriam evoluído, muito provavelmente, para ASTRO CITY. É por esse motivo que entrar em contato com esse universo é entrar em contato com o mito do super-herói ainda fresco, ainda potencialmente novo para trilhar o que quiser!!
Kurt Busiek´s Astro City Vol. II - Nº 7 |
Muitos pensam que Busiek tentou criar um universo com personagens genéricos daqueles existentes há muito tempo na cultura pop. Claro... Se você quiser pensar assim talvez para você tudo pareça uma imitação do Batman, do Quarteto Fantástico, do Capitão América e por aí vai. Mas na verdade isso está longe de ser verdade. Busiek não constrói uma história com personagens parecidos com os tradicionais para tentar "reinventar a roda". Na verdade ele os cria propositadamente "parecidos" para poder leva-los a um lugar que os originais não foram!! E esse é o grande brilhantismo da série, ou seja, levar nossos amados ícones para um lugar diferente daquele para o qual seguiram.
Kurt Busiek´s Astro City Vol. II - Nº 8 |
Nesse processo a essência dos heróis acaba sendo mantida e não mais desconstruída como na realidade foi. Qualquer amante de quadrinhos na sua essência, verificará que todos os aspectos iniciais estão ali: o caráter heroico (por vezes simplista), a vilania pura, o mistério, a magia, o encanto e o desencanto... Tudo ali retratado da forma mais colorida e plena, tal como Jerry Siegel e Joe Shuster fariam hoje.
Kurt Busiek´s Astro City Vol. II - Nº 9 |
Hoje entendo porque Alex Ross desenhou essas capas e porque elas chamam tanto a atenção do fã antigo de quadrinhos. Provavelmente seja porque elas concentram a quintessência do mito destes deuses modernos.
Bom amigos... É isso aí! Vida longa à Astro City no Brasil!