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sábado, 30 de dezembro de 2023

Destaques 2023 - Quadrinhos


Numa espiral positiva de lançamentos, os últimos anos têm sido recheados de grandes edições. Sobretudo no âmbito das pequenas editoras que, por meio de financiamento coletivo e concebidas de fã para fã, tais edições têm capturado centenas de leitores que há muito gostariam de ver determinadas obras no Brasil. Este recorte abaixo diz respeito ao que eu li em 2023, e não necessariamente ao que foi lançado em 2023. Preparem-se para viagem!


Galo de Briga é uma obra que quero comentar positivamente, entretanto já me lamentando pelo fato da Faro Editorial (Selo Poseidon) não ter ainda confirmado a continuidade da Saga no Brasil. Trata-se de um recorte muito preciso da década de 30, onde a inocência do pré II Guerra Mundial começava a ceder lugar à uma sombria realidade. Assim é também a história, que trata do ocaso de um grande herói, o Galo de Briga, que ao lado de outros heróis que o acompanhavam, começa a ver seu mundo "mais inocente" ruir. Com personagens cativantes, uma estética Art Deco, e um excelente retrato do "espírito do tempo" do pré-guerra, Galo de Briga cativou de primeira. Nos resta torcer para que a editora traga os demais volumes.

Coney Island foi um dos primeiros lançamentos do selo LoroBuono da Editora 85. Uma editora com um excelente trabalho de curadoria dentro do universo Bonelli. Nesse caso, mais um incrível trabalho de ninguém menos que Gianfranco Manfredi (Face Oculta, Adam Wild). Aqui novamente os anos 30 em foco, mais especificamente a atmosfera de alegria e estranhezas de um dos parques mais tradicionais de Nova York, o Coney Island parque, localizado na península de mesmo nome no distrito do Brooklyn. Um lugar palco de uma enormidade de experiências emocionais e destino de uma avalanche de pessoas em busca de escapismo e oportunidades. A obra gira em torno de i) um detetive particular, ii) uma trupe de artistas liderada por um homem verdadeiramente mediúnico, iii) um ex-herói de guerra e ninguém menos que iv) Al Capone. Com um eixo central e várias subtramas, Manfredi amarra todas as pontas soltas com maestria com seu costumeiro apuro historiográfico. Assim, o autor constrói todo um pano de fundo que garante um experiência imersiva ao leitor. Um grande gol  da Editora 85! 

Gus foi um lançamento de alguns anos atrás da Editora Sesi. Dividido em 4 volumes, trata-se de uma criativa e subversiva abordagem do velho oeste americano. O protagonista Gus faz parte de um trio de foras-da-lei, entretanto, o autor, Christophe Blain, subverte o gênero ao mostrar o costumeiro e hermético universo masculino dos filmes de Bang-Bang a partir de fragilidades afetivas que todo homem possui, ainda que disfarçadas por estereótipos brucutus. A proposta é um comédia de afetos não correspondidos e aventuras amorosas truncadas, recheadas de tiroteios, assaltos e brigas de saloon. O resultado é divertido e, para mim, foi um exercício de desconstrução muito interessante do gênero. Como é um lançamento de alguns anos, recomendo àqueles que forem garimpar HQs ou, quem sabe, solicitar a republicação por alguma editora.


O Procurador é outra publicação com a assinatura de Gianfranco Manfredi a receber destaque entre minhas leituras deste ano. Lançada com o primor e cuidados tradicionais da Editora Pipoca e Nanquim, a obra é um recorte da segunda metade do século 19 nos EUA, a época tradicional dos filmes de Faroeste. Entretanto, o protagonista aqui é outro, ou seja, o exímio atirador e o centro da trama não é o pistoleiro fora-da-lei, pelo contrário, na verdade é o aparente "almofadinha" empregado das tradicionais empresas da época. A história é leve, e não tão profunda em seus nuances históricos como em outros trabalhos de Manfredi. Mas é envolvente, violenta, com pontos precisos de humor e fidedignidade ao seu tempo. Ótima leitura. Excelente HQ.


Hellnoir é outro destaque Bonelliano de 2023. Um Noir diferente, ao mesmo tempo que possui todos os elementos característicos do gênero. A diferença é que se passa no pós vida, em uma cidade (Hellnoir) que, em tudo, se parece com um purgatório. Há castas vampíricas e demoníacas de seres espirituais, policiais demoníacos corruptos e, em meio a tudo isso, almas que chegam desorientadas e são presas fáceis para todo tipo de criminosos. O protagonista é o detetive Melvin Soul que consegue manter uma estranha relação com sua filha ainda viva e ainda possui um tênue senso de justiça. Uma interessante sacada é que coisas que temos em nosso mundo e que representam conceitos espirituais, tais como, velas, incenso, água benta, são itens extremamente perigosos para todos os seres espirituais de Hellnoir, e por isso quase inexistentes naquela realidade. Uma história de terror-noir ao melhor estilo Bonelli.


Impossível descrever o que o autor Marc-Antoine Mathieu faz na história de Julius Corentin Acquefacques, protagonista de O Prisioneiro dos Sonhos. História dividida em 3 volumes atualmente publicados pela Editora Comix Zone no Brasil. Mistura de epopeia Kafkiana com elementos profundamente oníricos e simbológicos. Mathieu usa de metalinguística, quebra da 4ª parede, estruturas gráficas e até mesmo da concretude do papel no qual está impresso a história para completa-la. O resultado é uma obra modelável, fluida e que brinca com o senso de realidade do leitor. Por algum motivo que me escapa, acabei iniciando a leitura pelo volume 2 (O Processo), e não pelo volume 1 (A Origem). Mas pelo que pude depreender, a narrativa da história é tão surreal, que não há perda em fazer esta inversão. O último volume (O Começo do Fim) já foi lançado em 2023 no Brasil. Uma obra que precisa ser analisada em suas camadas de significados, e debatida em círculos de leitores. Uma experiência transcendente com um caráter circular e sutilmente opressiva. Excelente!


Vampiros da Meia-Noite foi um lançamento e uma das minhas mais agradáveis leituras do ano. A obra, lançada pela Editora Skript em parceria com a Quadriculando, é um quadrinho que reconstrói o roteiro do filme perdido London After Midnight de 1927 (Vampiros da Meia-Noite no Brasil). O filme foi perdido em um incêndio em 1967, que destruiu parte dos estúdios da MGM, e se tornou um Santo Graal para cinéfilos e estudiosos em todo mundo. London After Midnight trazia o ator das mil faces Lon Channey e o diretor Tod Browning (Drácula (1931) e Freaks (1932)), e ao que tudo indica era realmente uma obra de arte, uma vez que a adaptação para a HQ, feita por Enrique Alcatena (ilustrador) e Gonzalo Oyanedel (jornalista), descortina um roteiro criativo e original. Um roteiro, aliás, baseado no conto "The Hypnotist" do próprio diretor Tod Browning. Ao ler a obra, o leitor experimenta uma estranha sensação metalinguística, pois analisando-se retroativamente temos uma HQ baseada num filme (que foi perdido) e que, por sua vez vinha de um roteiro baseado em um conto. Além desta sensação, percebemos se tratar de algo raro, perdido, longínquo, e que tenta nos alcançar após quase 100 anos. Fascinante!!


A Trilogia Gatilho em edição completa da Editora Pipoca e Nanquim, é um faroeste na melhor concepção do gênero. Desenhada por Pedro Mauro (brasileiro que vem recebendo justo e merecido reconhecimento), a obra propicia um mergulho no velho e bom bang-bang, ao mesmo tempo que traz a sutil lembrança de obras setentistas, época em que Mauro já estava em atividade. Uma excelente leitura do ano!

Falar bem de Ken Parker é realmente uma redundância! O personagem vem sendo publicado em ordem cronológica em edições capa-dura dignas de colecionadores pela Editora Mythos. Felizmente temos a promessa de publicação de toda a saga pela editora, algo que foi feito apenas uma vez no Brasil pela Editora Cluq, entretanto de forma muito lenta e com tiragens baixíssimas. Muitos leitores falavam, em seus comentários nas redes, o quão bom era esse personagem criado por Giancarlo Berardi e ilustrado por Ivo Milazzo, baseado nisso eu tinha muita expectativa e, por isso mesmo, medo de me frustrar. Mas esse, definitivamente, não foi o caso de Ken Parker, um Western situado na primeira metade do século 19, antes da Guerra Civil norte americana. Neste número 4 temos o fechamento do primeiro grande arco do personagem. Muita ação, significado histórico e lealdade à época. Maravilhoso!

Em geral, tudo que sai do Motoqueiro Fantasma me interessa. Acho o conceito do personagem muito forte, principalmente pela ideia de representar um conceito. Quando tentaram explicar quem ele era a partir de uma perspectiva celestial/bíblica, achei que houve uma certa perda de sua estrutura dramática. Prefiro pensar nele como a encanação de um conceito, tal qual personagens como Sandman e Monstro do Pântano, ambos da DC. Trilha das Lágrimas é uma boa história. Trata-se de um voo criativo de Garth Ennis com objetivo de dar sentido diferente ao Cavaleiro Fantasma original da Marvel (teoricamente um primeiro hospedeiro para o Espírito da Vingança). A arte de Clayton Crain impressiona muito. No encaminhamento final da história tive e impressão de Ennis se perder um pouco na condução da trama, mesmo assim foi um destaque.


Depois de muito relutar em conhecer o universo de Júlia de Giancarlo Berardi (sim, o mesmo de Ken Parker) cedi aos diversos comentários favoráveis de pessoas que respeito. Não poderia ter ficado mais satisfeito. Meu aparente desinteresse pela publicação por se tratar de um formato menor, preto e branco e com uma personagem com características delicadas e frágeis desaparece completamente à medida em que Berardi nos apresenta a brutal realidade por trás das mentes criminosas. Júlia Kendall, traz o contraste perfeito entre uma aparência frágil (inspirada na atriz Audrey Hepburn) e sua vontade de entender o modus operandi da "mente criminosa" e o universo dentro do qual tais mentes operam. Berardi fez uma viagem acadêmica profunda no universo da criminologia, estudando formalmente em ambientes acadêmicos. O que lemos pela boca da Profa. Júlia (ela também uma acadêmica) são informações concretas e reais acerca da área da criminologia. Minha estreia como leitor foi, por um acaso, em uma série que traz Júlia em sua época de estudante, trata-se portanto de um prelúdio à vida adulta da personagem. Recomendo muito mesmo à todo leitor inteligente e em busca de um universo adulto, crível e cheio de mistério e reviravoltas.


Outro universo que relutei muito em entrar foi o dos quadrinhos "mudos" (sem falas). Porém, acabei dando uma chance ao suíço natural de Zurique, Thomas Ott, que com sua robusta arte baseada em hachuras conseguiu capturar-me completamente. Ler, ou melhor, acompanhar a trama de A Floresta foi uma epifania. Senti a obra me tocar numa profundidade que há muito não experimentava. Em 2023 sentei-me numa poltrona em casa, coloquei ao fundo Chopin e abri A Floresta. Como se tivesse seguido os passos corretos para um ritual secreto, minha mente literalmente explodiu. Uma sequência de imagens que gritavam para escapar das páginas para entrar em nosso in/consciente profundo. Se você já vivenciou uma perda na família, ou possui esse sentimento de ausência dentro de si, a obra é para você, pois trata disso. Depois de A Floresta estou determinado a comprar todas as obras de Ott, que recentemente teve mais uma lançada no Brasil pela DarkSide Books, O Número 73304-23-4153-6-96-8.


O longa HQ Crime e Poesia foi um achado! Um achado que muitos deveriam encontrar. A triste, reveladora e transcendente história de Matt Rizzo, um sobrevivente dos violentos bairros ítalo-americanos dos anos 1930 que, após uma malfadada experiência criminosa perde a visão. Rizzo amargaria anos e anos na prisão onde, em um ambiente hostil e completamente na escuridão, encontraria a luz a partir de Dante Alighieri. Uma história real que possui como pano de fundo uma outra história criminosa real, porém mais hedionda, que foi o crime de Leopold & Loeb em 1924. A história é narrada pelo filho de Matt, Charlie Rizzo que, por sua vez, a contou ao autor de Crime e PoesiaDavid L. Carlson. Assim, como Maus, a história de Matt Rizzo não poderia ser contada por nenhuma outra mídia a não ser mesmo os quadrinhos. A arte visceral de Landis Blair combina com o ambiente violento e ao mesmo tempo transcendente dentro do qual Matt Rizzo viveu. Uma obra maravilhosa que pode trazer aquilo que você está procurando em sua vida.


Última obra do gigante Will Eisner, O Complô - A História Secreta dos Protocolos dos Sábios do Sião, trazem um trabalho denso, muito diferente de outros do autor. Eisner reconstrói a origem dos mentirosos Protocolos do título. Um conjunto de escritos que foram, e ainda o são, usados para fomentar o antissemitismo. Um documento que deu base para diversos expurgos de judeus pelo mundo. Com raízes num livro (O Diálogo no Inferno entre Maquiavel e Montesquieu) publicado na França em 1850 pelo ativista político Maurice Joly, Os Protocolos dos Sábios do Sião tiveram sua construção a partir da Rússia czarista e atingiu centenas de nações. Em O Complô, Eisner consegue de forma genial reconstruir a história deste odioso documento e lança luz nas sementes de ódio sempre prontas para eclodirem, bastando um documento, sendo ele falso ou não.


Não me canso de me surpreender com a Coleção Tex Gold da Editora Salvat. Aliás, a surpresa é maior com Tex, o ranger Bonelliano que infelizmente demorei demais para conhecer. Em O Vale do Terror (La Valle del Terrrore), edição Nº 26 da coleção, Cláudio Nizzi mostra que é realmente um dos grandes roteirista do personagem. A história é o último trabalho do desenhista, também italiano, Roberto Raviola (conhecido como Magnus). Envolvente e graficamente belo, a obra coloca Tex e seu parceiro Kit Carson em um microcosmo familiar cheio de drama e mágoas. Ótima leitura e com certeza destaque.


O ano se fecha novamente com ele, Gianfranco Manfredi, com seu personagem Adam Wild, mistura de explorador e libertador. Um personagem solidamente construído a partir de figuras reais, como o explorador David Livingstone, primeiro europeu a percorrer toda a África Negra. Com uma construção histórica sólida e fiel à realidade vivida pelas tribos africanas assoladas pelos caçadores e mercadores de escravos na segunda metade do século 19, Adam Wild é fascinante. É impossível não relacionar a obra à outra a pérola da literatura universal que é O Coração das Trevas, do polonês Joseph Conrad. Fruto das experiências vividas por Conrad no coração da selva africana, O Coração das Trevas é um atestado da crueldade, violência e loucura humanas, tendo sido adaptado por Francis Ford Coppola em 1979 em seu Apocalypse Now. Adam Wild é um exemplo de literatura Pulp da melhor qualidade com fortes raízes na realidade histórica. 

Estes foram meus destaques dentre minhas leituras de quadrinhos em 2023. Quais foram as suas? Se quiser deixe nos comentários!

terça-feira, 19 de dezembro de 2023

Pílula Gráfica #34: Adam Wild - Vol. 01 (2021)


Depois de Face Oculta, Gianfranco Manfredi tornou-se um dos meus roteiristas favoritos. Uma de suas marcas é a profundidade histórica e temporal com que localiza seus personagens. Embora ficcionais, as interações destes personagens com o meio é totalmente real. Vemos um desfile de chefes, presidentes, exploradores, empreendedores que realmente existiram. A partir de profunda pesquisa, Manfredi constrói dramas e aventuras que nos capturam profundamente. Quando vi a Editora Saicã trazer a série Adam Wild através de financiamento coletivo pelo Catarse, não me chamou muito atenção, até ver de quem era o roteiro. Adam é um aventureiro/explorador ao melhor estilo dos clássicos Pulps. Uma mistura entre um Jim das Selvas libertário com um aventureiro e apaixonado Errol Flynn. Ambas personas convivendo em um só personagem que odeia escravagistas até a última fibra do seu corpo. Escocês, Adam é membro da Royal Geographical Society e já teve várias explorações financiadas pela renomada associação. Indomável e amante da natureza, conseguiu fazer amizade com líderes tribais, inimizades com os grandes caçadores, vendedores e compradores de escravos. Passeando pela complexa teia de intrigas, violência, crueldade, política e comércio, Adam vive no fio da navalha. A Editora Saicã trouxe ao Brasil a série completa em 7 volumes, sendo o 6º e 7º financiados recentemente também pelo Catarse. Entretanto, todos podem ser adquiridos na Loja Virtual da Editora. Terminei o vol. 01 recentemente e o destaque vai para a personagem real que norteia toda história inicial, o explorador David Livingston, primeiro europeu a percorrer toda a extensão da África Negra. Um homem que não conseguiu acreditar na brutalidade, crueldade e racismo a que a humanidade pode chegar. Aliás, muito da narrativa de Manfredi tangencia outra personalidade real, a do polonês Joseph Conrad, que em 1899 nos presentearia com a pérola da literatura universal No Coração das Trevas. Livro que narra a experiência de Conrad no comércio de marfim na segunda metade do século XIX nas profundezas da selva Africana. A história de Adam Wild conjuga um manifesto contra a ferida aberta no continente africano e histórias típicas de aventura. Ambas se tocando e se reforçando mutuamente, mantendo assim a atenção do leitor. A edição da Saicã possui capa cartão e um preço bem acessível, além de manter os textos originais de Manfredi antes de cada capítulo. As informações que Manfredi traz re-significam totalmente a leitura, pois contextualizam a época e fornecem concretude às personagens. Uma excelente HQ com "H" maiúsculo. Ao melhor estilo de um dos maiores roteiristas italianos.

Adam Wild

Errol Flynn

sábado, 18 de novembro de 2023

Pílula Literária #16: Amityville - 1977


Escrito em 1977 pelo escritor e roteirista Jay Anson, o livro Amityville narra, dia a dia, as 4 semanas durante as quais a família Lutz morou no Nº 112 da Avenida Ocean Drive em Amityville, Long Island, EUA. O momento em que Anson decidiu escrever o livro ainda guardava muita proximidade dos acontecimentos vivenciados pelos Lutz no inverno de 1975. Mas para entendermos um pouco o que aconteceu realmente em Amityville temos que retornar para o ano de 1974, mais precisamente 13 de novembro de 1974. À época a casa era habitada por outra família, os DeFeo. Nesse fatídico dia, Ronald DeFeo, o filho mais velho da família, pegou um rifle de grosso calibre e matou seus dois irmãos mais novos, suas duas irmãs mais novas e seus pais. Todos chacinados enquanto dormiam. Condenado à prisão perpétua, Ronald disse várias vezes durante seu julgamento que fora fortemente influenciado por vozes que habitavam a casa para que executasse os assassinatos. Pouco mais de 01 anos depois, no dia 18 de dezembro de 1975, George Lee Lutz de 28 anos, um ex-fuzileiro naval, dono de uma empresa de agrimensura, mudou-se para o Nº 112 da Ocean Drive aproveitando a pechincha pela qual a casa estava sendo vendida. Embora George soubesse do terrível crime que a casa fora palco, sua personalidade pragmática não levou isso em conta. Assim, George, sua esposa Kathleen (Kathy) de 30 anos, e os filhos de Kathy (que George assumira como seus), Christopher de 7 anos, Daniel de 9 e Melissa (Missy) de 5 mudaram-se com grandes expectativas e planos. O livro de Jay Anson segue então os acontecimentos vivenciados pela família Lutz nos 28 dias que ali estiveram, quando em 14 de janeiro de 1976 foram obrigados a saírem correndo da casa apenas com a roupa do corpo, deixando todos seus pertences para trás, apenas carregando a ideia fixa de jamais pisarem o local. O caso Amityville (como passou a ser chamado) viria a ser alvo de filmes e derivados, sempre explorando o terror e o sobrenatural. Mas para saber o que realmente aconteceu lá, Anson baseou seu livro no extenso material gravado pelos Lutz no qual descreveram todas as experiências ali vividas. O relato da família foi corroborado por policiais que estiveram envolvidos tanto no caso dos DeFeo quanto no dos Lutz. Além dos policiais, o padre Frank Mancuso, sacerdote que abençoara a casa por ocasião da entrada da família no dia 18 de dezembro de 1975, não apenas atestou o relato da família como também sofreu terríveis experiências pessoais (descritas no livro) de natureza espiritual em retaliação ao seu envolvimento com "seja lá o que" habitava a casa. O número 112 da Ocean Drive ainda existe, muito embora os atuais habitantes tenham solicitado a mudança de número na tentativa de despistar os inúmeros curiosos que até hoje vão ao local. Inesperadamente como começara, a casa deixou de manifestar a presença que ali esteve à época dos DeFeo e dos Lutz. De forma muito curiosa, entretanto, todos os acontecimentos ali relatados coincidem em muito com aquilo que foi observado em outros locais do mundo, conforme descritos em interessantes livros como Assombrações do Recife Velho (1955) de Gilberto Freire, 1977 - Relatos Sobrenaturais - O Caso Enfield (1980) de Guy Lyon Playfair e Demonologistas (1980) de Ed & Lorraine Warren. Mergulhos em realidades estranhas e aterradoras.

A Família Lutz

quarta-feira, 15 de novembro de 2023

Pílula Gráfica #33: O Vale do Terror (2019)


Lançada de 2016 à 2020, A Coleção Tex GOLD da Editora Salvat não para de surpreender. Muito provavelmente porque para mim foi meu ponto de entrada no Universo Texiano. Em o Vale do Terror (La Valle del Terrrore), edição Nº 26 da coleção, Cláudio Nizzi coloca Tex Willer e seu amigo Kit Carson no rastro de uma seita de fanáticos que cometem assassinatos cruéis e violentos. Porém, esta narrativa cairia no lugar comum não fosse vários elementos da história. Além da costumeira sagacidade de Tex, a arte do saudoso Roberto Raviola (desenhista italiano mais conhecido como Magnus) salta aos olhos, sobretudo na concepção das paisagens, das cenas amplas, da arquitetura das construções e da ambientação interna. Não conhecia muito seu trabalho, mas a concepção artística de Magnus brilha a cada página. Considerando que este é um dos últimos trabalhos do artista, a história também serve como uma despedida. Mas há mais em O Vale do Terror. Um peculiar aventura em que TexKit se envolvem em uma investigação dentro de um núcleo familiar. Um microcosmo dentro do qual o ranger e seu amigo, acostumados com embates diretos com seus inimigos, têm agora que administrar uma investigação em um contexto de afetos, perdas, desilusões e brigas familiares. Um terreno minado e de difícil manobra. Cláudio Nizzi é mesmo um grande roteirista, pois constrói a narrativa fornecendo ao leitor um ambiente crível e passional. A concepção de uma das principais vilãs da história é incrível. A sensual, ardilosa, fiel e violenta chinesa May-Ling. Governanta da casa de Victor Sutter, antigo magnata do Vale do Rio Yuba e que agora amarga uma ruína financeira, May-Ling entende a dor e a raiva de seu patrão que foi levado à derrocada financeira por famílias que contribuíram para sua situação. Como governanta, ela compra a vingança de Sutter e se alia à misteriosa e cruel seita. Uma verdadeira teia de intrigas e dramas dentro da qual Willer e Carson se veem enredados. E tudo, como já mencionado, emoldurado pela excelente arte de Magnus. Concebida inicialmente em preto e branco, O Vale do Terror saiu colorizado para esta coleção. Algo que em minha opinião deu muito certo, muito embora para alguns isto possa deslegitimar a originalidade artística de Magnus. Embora este seja apenas mais um volume dentro da Coleção Tex Gold, eu poderia dizer que é um dos pontos altos de minhas leituras de 2023.




domingo, 12 de novembro de 2023

Pílula Gráfica #Especial 2: Dose Tripla


A pílula gráfica especial de hoje será voltada para três obras bem diversas entre si. Monolith publicada no Brasil em fevereiro de 2020 pela Panini, Sonhonauta e Vida nas Sombras, ambas publicadas pela Editora Conrad no ano de 2022. Meu comentários, entretanto, seguirão a minha ordem de leitura.


Sonhonauta é um quadrinho autoral do artista Shun Izumi. A obra traz Mendel, um cara comum que começa a sofrer da difícil situação de misturar seus sonhos com a realidade à sua volta. Em seu delírio, Mendel se lembra de um grande amor de um possível passado que foi assassinada brutalmente. Alternando realidade e fantasia, o protagonista tenta separar o que é ou não real e vai juntando as peças ao seu redor para tentar compor um cenário minimamente razoável. A arte é do próprio Izumi, que produz um traço diferente à cada capítulo, buscando com isso trazer estranhamento e dissociação ao leitor. Esta estratégia custou grande trabalho à Izumi, como ele mesmo descreve ao final da obra. A arte cumpre este papel, embora particularmente eu pouco aprecie a estilização extrema que por vezes ocorre ao longo da narrativa. O desfecho final traz a trama para realidade, ancorando-a à eventos do mundo real, embora eu buscasse algo mais transcendente. De qualquer forma Sonhonauta atende à uma ampla gama de leitores, tendo sido uma obra que chamou atenção à época de seu lançamento em 2020, época em que a pandemia pelo novo coronavírus estava em ascensão, algo que exerce influência de certa forma na narrativa do autor.


"Se a morte chegar mais cedo, jogue sujo!". Com esta frase Vida nas Sombras busca um retrato da finitude da vida tendo como epicentro a idosa e viúva Kumiko de 76 anos. Colocada no asilo pelas filhas que querem maior proteção, segurança e cuidados para a mãe, Kumiko não se adapta à vida do local. Esta pequena sinopse já ocorre na primeira e segunda páginas da história. A protagonista foge e invade um apartamento (essa parte não é bem explicada) e passa a morar ali sem avisar para ninguém, o que causa pânico nas filhas. A autora, Hiromi Goto, traz muito da sua experiência pessoal nesta obra que se concentra na luta de Kumiko contra sombras que começam a acua-la no dia a dia, uma metáfora para a aproximação da morte. A protagonista empreende então uma luta doméstica contra esta aproximação e, nesse interim, encontra novas pessoas do bairro e ao mesmo tempo acaba por recorrer à um antigo amor do passado. Torna-se muito claro na obra que o grande trunfo de Kumiko é permanecer fiel ao seu modo de ver e viver o mundo, mantendo sua rebeldia ativa até o fim. A construção narrativa busca levar o leitor à uma leitura suave e sem grande percalços. Vida nas Sombras, tal qual Sonhonauta, é uma menção honrosa dentro de minhas leituras de 2023, mas não as colocaria como melhores de 2023. Porém alerta: esta interpretação é minha e se associa ao meu histórico e expectativas como leitor.


Com desenhos esplendidos de Lorenzo LRNZ Ceccotti e Mauro Uzzeo, Monolith saiu originalmente pelo selo Sergio Bonelli Edittore na Itália. Originalmente concebida simultaneamente como HQ e roteiro para cinema, Monolith é um quadrinho que narra as decisões da inconsequente e jovem mãe Sandra, que em busca de espaço dentro do casamento com o marido Carl, se lança em uma viagem junto com seu filhinho David, dentro da última maravilha da tecnologia automobilística, o carro Monolith. Uma fortaleza inexpugnável sobre 4 rodas. Sandra, entretanto matem seu comportamento inconsequente, o que leva o carro a trancar-se com o pequeno David em seu interior sob o sol causticante em uma estrada deserta. O que se segue então é a desesperada tentativa da mãe em abrir o carro, tendo que enfrentar sua culpa, os perigos do deserto ao seu redor e a tecnologia do Monolith. O leitor é levado à extremos de ansiedade frente à luta de Sandra. O destaque vai para a arte e para os momentos nos quais Sandra alucina e delira frente aos eventos que lhe sucedem. O roteiro é do também italiano Roberto Recchione que concebe uma história já pronta e desenvolvida de uma vez só, como ele mesmo narra no prefácio. Uma história que lhe chegou como um bólido e logo se desenvolveu simultaneamente como HQ e filme, este último lançado em 2017 como uma produção italiana, dirigida por Ivan Silvestrini e estrelada por Katrina Bowden como Sandra. Com finais diferentes (não assisti ao filme, apenas li a HQ) o filme e o quadrinho parecem ser complementares. Monolith merece ser conhecido e apreciado na perspectiva do thriller que é.

sábado, 4 de novembro de 2023

Pílula Gráfica #32: O Complô - A História Secreta dos Protocolos dos Sábios do Sião (2005)


Em tempos de Guerra, a primeira vítima é mesmo a Verdade

Ao lado de uma história do Spirit em crossover com o herói O Escapista, a obra O Complô - A História Secreta dos Protocolos dos Sábios do Sião foi escrita e desenhada por Will Eisner em 2004, sendo estas suas duas derradeiras histórias. Original e atualíssimo, o O Complô se distancia dos tradicionais trabalhos de Eisner ao trazer um material denso, profundo e cheio de idas e vindas cronológicas. Uma colcha de retalhos políticos, bélicos e sociais que tentam traçar a origem de uma das maiores farsas já elaboradas na história, Os Protocolos dos Sábios do Sião. Uma peça política que se baseou num documento escrito por volta de 1850 por um ativista político francês chamado Maurice Joly. Em O Diálogo no Inferno entre Maquiavel e Montesquieu, Joly buscava atacar o então autodenominado Imperador da França, o Rei Luís Napoleão (sobrinho de Napoleão). Após Joly cometer suicídio em 1878, o livro circulou em diversos países e chamou atenção de dois políticos russos em 1894, Gorymikine e Rachkovsky. Gorymikine conhecia o livro de Joly, e viu nele a oportunidade de ouro para produzir um segundo livro que atacaria os judeus e os colocaria como conspiradores mundiais. O principal objetivo de Gorymikine era reduzir a influência do judeu Sergei Yulievich Witte sobre a visão de mundo do então Czar Nicolau II. Para esta tarefa de elaboração de um livro político secreto, crível, embora mentiroso, Gorymikine viajou à França para encontrar Mathieu Golovinski, jovem ambicioso  de ascendência russa que já produzira reportagens mentirosas em jornais voltados para russos na segunda metade do século 19 na França. Foi assim que o jovem e ambicioso escritor Golovinski escreveria em 1898 Os Protocolos dos Sábios do Sião baseando-se em O Diálogo no Inferno entre Maquiavel e Montesquieu de Maurice Joly. O livro de Golovinski (Os Protocolos dos Sábios do Sião) era envolvente, crível e sobretudo atendia às demandas de quaisquer governantes em busca de uma conspiração que justificasse sua permanência como guardião do status quo. A partir deste ponto, Eisner inicia saltos cronológicos no século 20 apresentando as diversas situações políticas nas quais o documento foi usado, sobretudo na Alemanha pré-nazista, como instrumento de insuflação. Diversos países passariam a imprimir clandestinamente Os Protocolos dos Sábios do Sião ao longo das décadas, inclusive o Brasil, ainda que Cortes ao redor do mundo tenham julgado e atestado a farsa por traz do que é narrado pelo livro de Golovinski.  Publicada pela Companhia das Letras no Brasil em 2005, a obra O Complô - A História Secreta dos Protocolos dos Sábios do Sião é uma obra que precisaria ser estudada e esmiuçada como manifesto de como a verdade pode ser manipulada em detrimento de grupos e facções. Teorias conspiratórias que podem levar povos inteiros à xenofobia e à intolerância. O Mestre Eisner, em seu crepúsculo de vida, deixou uma obra monumental, um atestado da importância de se construir pontes entre as pessoas, desativando as "bombas" narrativas mentirosas. Em tempos de Guerras precisaríamos ter cautela com discursos de ódio, com a disseminação de narrativas que ressaltam as diferenças e não as semelhanças entre os povos (que são muitas). O Complô - A História Secreta dos Protocolos dos Sábios do Sião está à altura da vida do Mestre e atesta os valores pelos quais ele viveu.

domingo, 29 de outubro de 2023

Pílula Literária #15: Zé do Caixão - Maldito



Durante toda minha vida o nome José Mojica Marins foi proscrito em função da minha herança cristã católica. Isto, no entanto, não evitou que o nome ficasse constantemente voltando e me assombrando em função da curiosidade que o próprio afastamento traz. Sempre achei que Mojica era simplesmente um homem metido com ocultismo e que, aproveitando sua macabra presença, havia surfado na onda cinematográfica. Pois eu não podia estar mais enganado. Mojica foi alguém muito mais interessante! Foi um gênio e também um adorável trambiqueiro. Apesar da ambiguidade que estes dois adjetivos possuem, a ponto de serem quase excludentes, Marins sintetizava os dois. Mas afinal... Quem foi José Mojica Marins? A resposta é, foi um cineasta brilhantemente intuitivo. Sem qualquer graduação formal na 7ª Arte, ele era um apaixonado pelo cinema e encontrou no gênero terror uma forma de expressar sua paixão. Longe de ser um ocultista (Marins tinha ascendência cristã), ele era apenas alguém que queria tirar de dentro de sua cabeça uma profusão de imagens e brilhantes elaborações artísticas com as quais não conseguia conviver sem dividi-las. Renegado por diversos nomes do cinema brasileiro das décadas de 1950 e 1960, foi reconhecido, no entanto, por cineastas do calibre de Glauber Rocha e Luis Sérgio Person. Mojica era aquele que exigia que você o odiasse ou o amasse. Não havia meio termo. A Biografia Zé do Caixão - Maldito dos jornalistas André Barcinski e Ivan Finotti foi uma das minhas mais agradáveis leituras de 2023. Esgotado já há algum tempo, infelizmente, o livro foi base para a minissérie homônima do Canal Space, com Matheus Nachtergaele no papel de Mojica. É impossível não ler o livro e não se identificar profundamente com o jeito brasileiro de Marins. Engraçado, simples, genial em sua sabedoria popular e nas suas técnicas para baratear custos, era fiel a si mesmo... Um sobrevivente que só conseguia estar bem se pudesse filmar algo. Um homem com inacreditáveis aventuras amorosas e que conseguia amar genuinamente a todas com quem se envolvia. O livro teve duas edições, sendo que a segunda veio atualizar uma das últimas empreitadas robustas de Mojica no cinema, o filme A Encarnação do Demônio, que fecha a trilogia iniciada em 1964 com À Meia-Noite Levarei sua Alma Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver de 1967. Aclamado internacionalmente pela sua obra, Mojica foi rejeitado pela elite cinematográfica brasileira nos anos 70, lhe restando apenas dirigir para um dos únicos segmentos capazes de gerar renda para diretores renegados, os filmes pornôs. Ele passaria a ser um proscrito, um pássaro negro de asas cortadas. Porém, algo que me chamou extrema atenção ao ler o livro, é a forma como ele enxergava a si próprio. Nunca demonstrou qualquer tipo de autocomiseração, de vitimização... Onde muitos se afundariam em um mar de auto piedade, Mojica continuava fazendo e buscando o que sempre quis, os palcos e as luzes. Ainda que muitos achem que Zé do Caixão e Mojica sejam a mesma pessoa, a verdade é que Zé do Caixão é um único personagem que saiu da sua cabeça. Mojica era muito maior que o Coffin Joe. E se as últimas gerações o viam apenas como um pícaro, em decorrência de suas aparições mais despojadas nas décadas de 80 e 90, na verdade estão redondamente enganadas! Minha admiração por ele só cresce e se fortalece, e um episódio que vivi há cerca de 3 semanas mostra bem o porque. Estava eu buscando os filmes de Mojica em um sebo na Rua Augusta em São Paulo quando perguntei ao dono do lugar se ele teria alguns filmes do Zé do Caixão. O dono, todo orgulhoso disse, "Tenho sim. Aliás, o Mojica sempre vinha aqui. Era meu amigo!". Depoimento genuíno, simples e direto sobre quem foi Marins, um homem simples, do povo... mas também um gênio!

domingo, 10 de setembro de 2023

Pílula Gráfica #31: Crime e Poesia - (2022)

















Redenção é um dos processos ou atos mais almejados pelo ser humano. Pelo menos por aqueles que guardam dentro de si uma centelha de indagação acerca do sentido de tudo. A história narrada em Crime e Poesia parece saída de um daqueles enredos inverossímeis que eventualmente encontramos. Ela trata de muitas coisas, mas para mim trata de redenção. Crimes, dentro de crimes que se somam e se somam e que, ainda que de forma impossível, encontram redenção em um processo difícil de auto aceitação, injustiça e abandono. A história do homem chamado Matt Rizzo que, através do filho, Charlie Rizzo, sobreviveu para ser contada e descoberta. Uma história com raízes no bárbaro crime cometido na primavera de 1924 pelos jovens aristocratas Nathan Freudenthal Leopold, Jr. e Richard Albert Loeb, mais conhecidos como Leopold & Loeb. Dupla que sequestrou e assassinou com requintes de crueldade um menino de 14 anos de idade (Bobby Franks) nos EUA. Um crime que ressoou por décadas no imaginário das pessoas e acabou por atingir de certa forma também Matt Rizzo. Crime e Poesia apresenta de forma muito clara e honesta o labirinto pelo qual andamos em nossa existência  e as escolhas que fazemos. Nesse labirinto podemos, entretanto, encontrar as migalhas deixadas por outras pessoas que já o trilharam e sabiam o quão difícil é aprender a ser feliz com o que se tem e com o simples. No caso de Matt Rizzo, Homero, Virgílio, Shakespeare, Milton, Whitman, Emerson... Matt aprendeu do jeito mais difícil a viver o simples e a se maravilhar com o comum.

"Destituído de todos os sinais vitais, ele ficou parado ao lado da Correnteza silenciosa, como um Navio encalhado, separado de todos os laços terrenos.

Enquanto estava suspenso, além da revogação do tumulto mortal da vida, uma mão esticada gesticulou para ele da outra margem e o impulsionou a avançar, pela Vontade Divina, e ele cruzou o Rio silencioso com os dois braços esticados para quem gesticulara; e um abraçou o outro com força;

a Morte emergiu levando o fardo dos espólios corporais; Scorto, despojado de sua carcaça mortal, emergiu belo e imaculado, com os mesmo traços, porém mais perfeito e mais jovem que qualquer obra de Arte ou Escultura poderia conceber.

Transfigurado, a nuvem de um homem sem pecados, a testa se deslocando para cima, Ele se elevou, alcançando os jubilosos prados do Paraíso eterno."

Dos Escritos de Matt Rizzo

sábado, 2 de setembro de 2023

Pílula Literária #14: Ed & Lorraine - Demonologistas


Difícil não se deixar envolver pelos relatos do casal Ed & Lorraine Warren. Embora a maioria das pessoas os conheçam por terem sido interpretados no cinema por Patrick Wilson e Vera Farmiga na franquia Invocação do Mal, Ed & Lorraine (ambos já falecidos) colecionaram experiências extremamente bizarras (para dizer o mínimo) ao longo do século passado desde meados dos anos 1940. Uma verdadeira mítica se formou ao redor do casal e por mais que existam relatos periféricos também um pouco estranhos acerca da vida conjugal do casal, o fato é que ambos presenciaram e foram participantes ativos em diversos casos singulares envolvendo fenômenos para os quais a ciência literalmente se esquivou por falta de ferramentas e abordagens capazes de trazer explicação para eles. A própria profissão que os dois possuíam, Demonologistas, é pouco ortodoxa. No caso dos Warren, entretanto, a própria estrutura oficial da Igreja Católica Romana (instituição conhecida pela seus protocolos administrativos e hierarquia sólidos) reconhecia oficialmente a função dos dois nesta área. Ed Warren era, por exemplo, o único demonologista não padre reconhecido pela instituição. Esta informação coloca as experiências do casal em outro nível em relação à muitas outras que, mesmo verdadeiras, poderiam trazer maiores contestações. O livro do jornalista Gerald Brittle, conhecido por seus relatos jornalísticos acerca do tema, é o primeiro de uma série de quatro lançados pela DarkSide Books sobre o inusitado casal. Em Ed & Lorraine - Demonologistas, Brittle se debruça sobre a dinâmica e dia a dia do demonologista. Com muito material de entrevistas, o autor transcreve respostas dadas pelo casal em palestras e em particular acerca de diversos casos vivenciados e acerca da natureza dos fenômenos, fazendo desde o início do livro uma distinção entre ocorrências fruto de "fantasmas" (espíritos humanos) e espíritos preternaturais (espíritos não-humanos, ou seja, demoníacos). O livro traz também o resumo de casos que foram, nos demais livros, abordados com mais detalhes. Mas neste volume, os resumos servem para ilustrar a dinâmica e modus operandi dos fenômenos. Alguns relatos são extremamente críveis, outros, desafiam nossa capacidade de aceitação em função da natureza quase que holywoodiana. Mas talvez o impacto maior não seja em função da excêntrica natureza das ocorrências, mas sim em função do desespero, agonia, angustia e total fragilidade que causam em pessoas comuns vítimas destes atos sobrenaturais. Ao ponto do próprio leitor do livro, desejar profundamente que os Warren sejam rapidamente acionados pelas vítimas para que consigam ter o mínimo de alívio. Ao imergirmos na angustia das pessoas, os Warren ganham uma dimensão quase que heroica aos nossos olhos uma vez que passam a ser os únicos, entre médicos, cientistas, psicólogos, homens da ciência em geral, a terem algo a oferecer de concreto para reduzir ou eliminar por completo aquilo que busca destroçar o núcleo familiar. Ed & Lorraine Warren - Demonologistas é um livro lançado pela primeira vez em 1980, época em que o casal, já maduro, possuía ampla e ativa participação nos fenômenos. Para aqueles que gostariam de um certo aprofundamento no tema, leitura obrigatória.

segunda-feira, 24 de julho de 2023

Plataforma de Lançamentos #3 - Clássicos Sci-Fi: Anos 50 Vol. 03 (2023) - Versátil Home Vídeo


Com uma curadoria incrível ao longo da última década a empresa Versátil Home Vídeo presenteou a cinefilia brasileira com verdadeiras pérolas da 7ª Arte. Com diversas coleções temáticas e a presença constante de extras que amplificam e dimensionam a obra de forma excepcional em seus lançamentos, desta vez foi a vez de desdobrarem a já tradicional Coleção Clássicos Sci-Fi, que passou a contar com este novo braço, a Coleção Sci-Fi Anos 50. Com lançamento previsto para agosto de 2023, o volume 3 desta série trará filmes com a assinatura de diretores como Jack Arnold e Roger Corman. Dona de uma inconografia única, a década de 50 amplificou medos e desejos da sociedade do pós 2ª Guerra Mundial. Futuros platinados, distópicos, catastróficos, ou situações da época sob o viés da ciência, eram abordados e traziam por vezes subtextos genuínos e interessantes. Por ser um gênero no qual os grandes estúdios ainda não apostavam muito, foi necessário a passagem dos anos 60 para que as majors apostassem um pouco mais nesse gênero que vinha se amadurecendo e se decantando, a ponto de vermos, em 1968, o lançamento de 2001 - Uma Odisseia no Espaço. A suspensão da descrença e a capacidade de maravilhamento tão usadas no passado pela minha geração em filmes de Ray Harryhausen por exemplo, tem sido produto em falta na atual geração que se preocupa mais com a qualidade do CGI do que com a incrível possibilidade de transposição que o cinema nos dá. Infelizmente Sommeliers de CGI abrem mão do contexto imaginativo e abraçam de forma contundente a tecnicidade cinematográfica. Para pessoas assim, Clássicos Sci-Fi Anos 50 tem muito pouco a acrescentar. Entretanto, caso você ainda consiga contextualizar os tempos, e se posicionar de forma genuína e sincera, ainda que por 1 hora e meia, dentro do contexto histórico de uma década, no caso os anos 50... bom, nesse caso você terá experiências extremamente interessantes, conseguindo inclusive retornar para os anos 2020 carregando elementos raros do passado. Elementos que lhe darão estofo para entender e re-significar o mundo atual. Experimente... faça essa viagem equipado com as ferramentas que dei acima e você poderá se surpreender.

domingo, 23 de julho de 2023

Pílula Gráfica #30: A Floresta - (2022)

Difícil é exprimir em palavras algo que não foi concebido para ser comunicado por meio do veículo escrito ou falado, mas apenas pelo imagético. Nesses casos, a tentativa possivelmente resultará na corrupção da mensagem, ou então na sua transformação em outra coisa, geralmente de menor valor. Assim, minha tentativa de trazer aqui um pouco do que foi minha experiência com a A Floresta de Thomas Ott será apenas uma humilde tentativa. Famoso por seus quadrinhos mudos lá fora, o suíço Thomas Ott possui dois títulos seus publicados no Brasil, ambos pela DarkSide Books, Panopticum e A Floresta. Seria muita pretensão de minha parte comunicar a profundidade que Ott alcança em A Floresta ao tratar do tema "morte". Para quem possui uma relação um pouco mais profunda com a natureza, especificamente com a mata ou floresta, reconhecer esse espaço como veículo ancestral de sabedoria silenciosa é algo relativamente fácil. Ott usa o elemento silencioso do "verde", sua hermética beleza e fascínio "quase" místico, para contar uma história que, sem uso de palavras, desce aos porões da dor existencial da perda de um ente muito próximo. O vazio, a dificuldade em se reconhecer na nova realidade a partir da "ausência", a sensação da correnteza da vida de repente se estagnar e o tempo se contrair... lugar este já visitado por aqueles que experimentaram uma perda. A história, narrada por meio das imagens produzidas pelo autor, com suas nuances, concretudes e subjetividades de traço, catalisa a revisitação a este lugar de perda e ausência. Uma história que usa a floresta como metáfora (ou talvez não) para a descida ao lugar da dor interior. Acompanhamos um pequeno garoto que se embrenha na mata para fugir da intolerável ausência produzida pela morte. Nesta pequena pérola, Thomas Ott alcança a difícil tarefa de produzir no outro, o acesso às camadas profundas do afeto que aquece, mas ao mesmo tempo dói. Reconheço em A Floresta, imagens profundas deste lugar de dor, solidão e, ao mesmo tempo, redenção...

quinta-feira, 20 de julho de 2023

Plataforma de Lançamentos #2 - História do Oeste (2023) - Editora Saicã


História do Oeste diz respeito à epopeia da família MacDonald ao longo de gerações. Escrita pelo grande roteirista italiano Gino D´Antonio, a obra teve duas passagens pelo Brasil. Primeiramente pela Editora EBAL entre os anos de 1970 à 1987 e, depois pela Editora Record entre os anos de 1991 à 1995. Este novo lançamento da Editora Saicã, entretanto, busca resgatar a série na íntegra, em cores e em capa dura, além de trazer um acréscimo de 200 páginas feito pelo autor entre as edições de números 1 a 3. A proposta da Saicã é, por meio de financiamento coletivo via Catarse, trazer a Saga inteira com seus 75 números com uma programação de publicação de 2 histórias por volume, totalizando, portanto cerca de 37 edições. A narrativa inicia-se nos primeiros anos do século 19 (por volta do ano de 1800) e tangencia importantes eventos históricos reais com a partição de personagens históricos tais como General Custer, Wild Bill Hickok, Buffalo Bill, Calamity Jane, Kit Carson, Jim Bridger, Billy the Kid, Geronimo e Cochise, entre outros. A arrojada proposta da Editora tem tudo para ser um sucesso considerando a riqueza do material. Os leitores mais antigos possivelmente leram algo da obra em sua passagem pela Ebal quando então era lançada sob o nome de Coleção Epopeia-TRI. Conforme explica o Editor da Coleção Neimar Nunes, o nome Epopeia-TRI foi dado em função dos volumes serem lançados trimestralmente à época e pelo fato do Brasil ter sido campeão em 1970 (ano do início do lançamento pela Ebal) na Copa do Mundo de Futebol no México. O lançamento busca atender não apenas o fiel público do gênero Western, mas também fazer conhecer para as novas gerações este excelente material que, para além da representação histórica legítima, é leitura de qualidade e imprescindível. A campanha de financiamento dos dois primeiros já ultrapassou a meta no momento em que escrevo esta matéria, mostrando a força do material. Um diferencial dos lançamentos de editoras como a Saicã, é o fato das pessoas envolvidas na publicação do material serem fãs e conhecedoras do assunto, o que confere à publicação um apuro e fidelidade acima da média do que é visto em outras editoras. Algo que, infelizmente, não ocorre em editoras brasileiras de grande porte que, acabam vendo o material apenas como um produto, o que, por conseguinte, o deixa 100% suscetível à fenômenos mercadológicos. Isso implica em cancelamentos ao menor sinal de oscilação em vendas e no lucro. Infelizmente o colecionador pôde ver isso acontecer em recente caso envolvendo o material do roteirista Jeff Lemire (Royal City Volume 1: Segredos em família) que foi descontinuado por uma grande editora. História do Oeste volta ao Brasil pela terceira vez, porém agora com um tratamento especial. Conheça e campanha!!

Link para o Projeto no Catarse!

segunda-feira, 17 de julho de 2023

Plataforma de Lançamentos #1 - Cisco Kid (2023) - UCHA Editora



O mercado nacional de quadrinhos vive uma cena talvez nunca vista. Resgates históricos, variedade de gêneros, títulos, autores, licenciadores... Um movimento que em algum momento terá que ser abordado com a devida paciência considerando suas múltiplas causas, dentre elas o aparecimento de inúmeras editoras catapultadas pelas plataformas de financiamento coletivo. Diante desta profusão de lançamentos, alguns merecem destaque, e este aqui é um deles. José Salinas, ilustrador argentino da primeira metade do século 20 foi um gigante e, finalmente recebe em nosso país o tratamento que merece. Um de seus personagens volta ao Brasil em edição caprichada pelo Selo Editorial Super-X da Editora UCHA. Atualmente em campanha na plataforma de financiamento coletivo CATARSE, o lançamento traz de volta Cisco Kid, um dos grandes personagens dos quadrinhos norte-americanos que teve, sob o magnífico traço de Salinas, sua encarnação mais fiel. O volume, com acabamento de luxo e formato horizontal para conseguir dimensionar as tiras de Salinas conforme foram originalmente concebidas, trará a três primeiras histórias do herói (Lucy, Flor Rubra e Belle) publicadas em 1951. Além do óbvio resgate histórico, a arte de Salinas nunca foi apresentada no Brasil com o grau e apuro aqui demonstradas. Fruto da restauração a que foi submetida por um dos maiores restauradores do mundo, Manuel Caldas que, infeilizmente só conheci agora. Entretanto, Caldas esteve por trás da restauração das pranchas de Hal Foster em Príncipe Valente além da restauração de histórias de Tarzan, Krazy Cat entre outros. A Editora UCHA tem por trás Francisco Ucha, nome envolvido com a recuperação de grandes clássicos nacionais, tendo já lançado obras como Uma Aventura na Independência, Tony Carson - O Chacal entre outras. Na página de financiamento coletivo dedicada ao lançamento de Cisco Kid é possível vislumbrar um aperitivo da arte de Salinas e seu Cisco Kid. Realmente magnífico. A partir de hoje ainda restam 32 dias restantes para se apoiar o projeto. Na página de apoio é possível adquirir outros lançamentos da editora, dentre os quais os dois que citei acima (que já tenho em minha coleção) e ainda outro incrível álbum com a arte de outro gigante, Rodolfo Zalla. Neste álbum, Zalla desenha Zorro em uma HQ que sobreviveu à destruição dos originais das outras aventuras do personagem, com roteiro de Primaggio Mantovani. Como promessa, a Editora espera trazer ainda este ano de 2023 outro clássico, as tiras de Jhonny Comet com arte de Frank Frazetta. Visite o Projeto e confira a por si mesmo a grandeza do mestre Salinas.

Link para o Projeto no CATARSE.


quinta-feira, 13 de julho de 2023

Pílula Gráfica #29: Júlia - Especial #1 - (2022)


Vencido pelo cansaço a partir da opinião da esmagadora maioria de pessoas pelas quais tenho profundo respeito, e movido pela curiosidade de conhecer um segundo personagem, além de Ken Parker, de autoria do italiano Giancarlo Berardi, finalmente me dobrei à ideia de ler algo da criminóloga Júlia Kendall. Uma personagem que à princípio, sempre esteve na total periferia de meu radar, exceto pelo seu rosto inspirado na atriz Audrey Hepburn. Após o sucesso de Berardi em Ken Parker (publicado originalmente na Itália entre 1977 e 1984) o autor buscou novos horizontes. Nessa busca, aprofundou-se no ambiente hermético e visceral da criminologia. Deste período emergiu Júlia Kendall. Júlia é formada em criminalística e possui como motivação máxima entender os desejos, motivações, impulsos e objetivos de homicidas. Em outras palavras, entender os caminhos obscuros que a mente humana pode tomar. De aparência enganadoramente frágil, a personagem é dotada de grande talento investigativo e trafega com desenvoltura por ambientes insalubres e psiquicamente instáveis. Com esta premissa Berardi fez de novo! Trouxe qualidade, inovação e dramaticidade ao formular com brilhantismo o universo de Júlia Kendall. Obra que efetivamente fascina, envolve e coloca em foco o perigoso mas atraente mundo da mente humana. Cheia de referências culturais, a série realmente precisaria ser mais conhecida. Minha (recente) porta de entrada foi o Nº 01 de Júlia Especial. A personagem é publicada no Brasil pela Editora Mythos atualmetne, e estrela 3 séries em nosso país (01 delas já concluída). A clássica Júlia - Aventuras de Uma Criminóloga (Formato Italiano), a primeira publicada na Itália a partir de 1998 que contou com 200 números. A continuação Júlia - Aventuras de Uma Criminóloga, e a já concluída Júlia - Especial (foto) que contou com 10 volumes. Todas estas séries passíveis de serem encontradas no site da Editora Mythos ou na loja física Mundo Mythos à Rua Augusta 1371 sobreloja 01 - São Paulo - SP. A série Júlia - Especial narra a juventude da personagem, ainda na faculdade, escolhendo seu caminho como investigadora criminal. Ao ler este Nº 01 pude vivenciar todo impacto da qualidade do material. A personagem possui múltiplas camadas e, merecidamente, uma legião fiel de fãs. Deveria ter mais projeção do que vemos e mais análises de seu material que, assim como Ken Parker, fura completamente a bolha mainstream das publicações mensais da 9ª Arte.


terça-feira, 11 de julho de 2023

Pílula Literária #13: O Coração das Trevas


Parece haver, escondido no espaço profundo do homem, um local obscuro capaz de ouvir chamados (audíveis ou não) advindos da natureza mais primitiva interna e/ou externa. Na sucessão de eventos aos quais somos submetidos, é possível caminharmos por territórios nos quais a "razão" é simplesmente obliterada. O polonês Joseph Conrad em 1890, então com 32 anos e empregado de uma empresa extratora de Marfim, embarca para o Congo. A viagem fazia parte da política expansionista da monarquia Belga tendo como objetivos o envio do progresso, cultura, paz e prosperidade para a região. Apenas mentiras para encobrir a espoliação do local, conduzida à força e às custas de sangue, escravidão, violência e crueldade. Após a viagem, Conrad deixa a empresa com profundas marcas que o levariam a escrever em 1899 O Coração das Trevas. Livro no qual narra a experiência do Capitão Marlow nas profundezas de floresta semelhante à que Conrad visitara. Mais que um relato de expedição, a obra aprofunda elementos da psique humana quando sujeitos à barbárie e à ambientes inóspitos. Além disso, a obra é verdadeiro manifesto acerca da brutalidade e futilidade dos valores que, em geral, movimentam a trajetória humana. O personagem principal do livro, Marlow, embrenha-se nas florestas em busca do homem chamado Kurtz, funcionário desaparecido, visionário da empresa e expoente da exploração de marfim. A trajetória de Marlow é tão espiritual/existencial quanto física, à medida em que se aprofunda mais e mais nos espaços obscuros da floresta com seu barco a vapor na companhia de escravos e funcionários da companhia. Adaptado para o cinema em 1979 por Francis Ford Coppola, o filme Apocalypse Now transpõe as selvas do Congo para as do Vietnã, ambientando a irracionalidade da exploração do Marfim para a da Guerra. O filme, que quase levou Coppola ao suicídio, que proporcionou um infarto do miocárdio ao ator protagonista (Martin Sheen) e quase enlouqueceu toda a equipe à época, foi sucesso de público e crítica. Entretanto trouxe uma experiência de loucura e desconexão com a realidade, muito parecida à de Conrad, à todos aqueles que viajaram para as florestas das Filipinas para as gravações. A edição que li, da LP&M Pocket, estava há muito tempo em minha pilha de leitura, muito embora exista edição com nova tradução pela DarkSide Books. O Coração das Trevas lança luz sobre os cantos escuros da alma humana e converte-se em um Clássico da Literatura por transformar um relato de expedição, na mais verdadeira e assustadora descrição do interior humano.

Joseph Conrad

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