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domingo, 23 de julho de 2023

Pílula Gráfica #30: A Floresta - (2022)

Difícil é exprimir em palavras algo que não foi concebido para ser comunicado por meio do veículo escrito ou falado, mas apenas pelo imagético. Nesses casos, a tentativa possivelmente resultará na corrupção da mensagem, ou então na sua transformação em outra coisa, geralmente de menor valor. Assim, minha tentativa de trazer aqui um pouco do que foi minha experiência com a A Floresta de Thomas Ott será apenas uma humilde tentativa. Famoso por seus quadrinhos mudos lá fora, o suíço Thomas Ott possui dois títulos seus publicados no Brasil, ambos pela DarkSide Books, Panopticum e A Floresta. Seria muita pretensão de minha parte comunicar a profundidade que Ott alcança em A Floresta ao tratar do tema "morte". Para quem possui uma relação um pouco mais profunda com a natureza, especificamente com a mata ou floresta, reconhecer esse espaço como veículo ancestral de sabedoria silenciosa é algo relativamente fácil. Ott usa o elemento silencioso do "verde", sua hermética beleza e fascínio "quase" místico, para contar uma história que, sem uso de palavras, desce aos porões da dor existencial da perda de um ente muito próximo. O vazio, a dificuldade em se reconhecer na nova realidade a partir da "ausência", a sensação da correnteza da vida de repente se estagnar e o tempo se contrair... lugar este já visitado por aqueles que experimentaram uma perda. A história, narrada por meio das imagens produzidas pelo autor, com suas nuances, concretudes e subjetividades de traço, catalisa a revisitação a este lugar de perda e ausência. Uma história que usa a floresta como metáfora (ou talvez não) para a descida ao lugar da dor interior. Acompanhamos um pequeno garoto que se embrenha na mata para fugir da intolerável ausência produzida pela morte. Nesta pequena pérola, Thomas Ott alcança a difícil tarefa de produzir no outro, o acesso às camadas profundas do afeto que aquece, mas ao mesmo tempo dói. Reconheço em A Floresta, imagens profundas deste lugar de dor, solidão e, ao mesmo tempo, redenção...

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