Passado o tempo necessário para que eu conseguisse ir ao cinema com a paz e o foco necessário, consegui ontem assistir à "Malévola". O Filme merece ser visto mais de uma vez para se conseguir extrair toda sutileza de suas cenas. São vários os seus méritos em minha opinião e espero falar um pouco deles nessa matéria, porém inicialmente posso destacar dois: a incrível interpretação de Angelina Jolie e o enfoque dado a já conhecida história de conto de fadas "A Bela Adormecida". A Disney surpreende ao mexer com um de seus ícones dando-lhe uma releitura ousada e diferente em que o foco recai sobre a complexidade do odiado vilão da história, no caso, Malévola!
O filme é, em sua essência, "Angelina Jolie". A atriz (em minha opinião) conseguiu destilar a quintessência do poder do feminino. Todos os aspectos da personalidade do gênero feminino podem ser vistos integralmente em sua interpretação: sedução; inteligência que vai além de sua mera definição e passa para o campo do sexto sentido; amor físico; amor maternal; solidão; resignação; força destrutiva e construtiva... Tudo concentrado em uma interpretação sutil que passa de uma dessas características descritas acima à outra rapidamente. Sem dúvida uma interpretação assim só é possível ser feita por uma atriz que possui, em certa medida, a consciência dessas diversas facetas que compõe o "ser mulher", algo que engloba seus diversos conceitos: a conciliação de uma mãe, a sedução da esposa, o companheirismo de uma irmã...
Entendo que uma obra pode ou não ser vista ou captada da mesma forma dependendo da pessoa, porém no meu caso ficou patente todos os aspectos que descrevi acima. A história possui duas fases distintas divididas por um evento que marca a vida da personagem (Malévola). Um acontecimento tão intenso que a partir dele até mesmo o visual da personagem muda, de maneira que, tal como uma monja em sua clausura, Malévola passa a esconder seus cabelos em sinal de recolhimento interior. É o duro ritual de passagem da inocência para a maturidade que a vilã tem que enfrentar. Tal qual uma religiosa sozinha e isolada, Malévola passa a ver o mundo com uma infeliz descrença no amor e na bondade. Embora seja possível ver adormecido em seu interior lampejos do que ela fora outrora.
Não há como não centrar a análise do filme em Angelina Jolie que, como disse acima, atingiu a sutileza necessária para hipnotizar o espectador. Além é claro de sua beleza polar e distante, digna de uma Greta Garbo moderna. É triste, no entanto observar algumas análises críticas do filme. Pude ler algumas coisas assim a respeito desta obra na imprensa escrita. Temo que às vezes é possível se confundir um pouco e acabar expressando opiniões pessoais e não técnicas sobre o filme. Vindo de pessoas como nós, simples editores de Blogs, não vejo problema nisso. O problema é quando a análise de profissionais (críticos de cinema) torna-se pessoal e não técnica. Isso pode acabar por injustiçar determinada obra, e já tivemos grandes exemplos de filmes, livros, entre várias outras formas de arte, que foram execradas em seu tempo e apenas muito depois é que foram, por fim, entendidas.
Outro ponto que gostaria de destacar é a inovadora, em se tratando da Disney, proposta de mexer com um ícone da empresa, tal qual é a história da "Bela Adormecida". Ao enfocar a vilã valoriza-se aquilo que deveria ser a regra, mas em geral não é, ou seja, o dom de não se julgar alguém pela aparência e atitudes. O ideal seria se déssemos o benefício da dúvida inicial àqueles que cruzam nosso caminho e tentássemos entender aquilo que motivou determinada atitude ou comportamento. Nos assustaríamos com o que encontraríamos, pois perceberíamos que há mais vítimas do que antes imaginávamos.
Efeitos especiais também estão presentes no filme. Não há como não contar uma história onírica como essa e não recorrer a recursos digitais. Isso pode deixar algumas cenas, em certa medida, artificiais, porém isso é inescapável. Embora tal crítica seja algo que advenha de nossa ânsia cada vez maior de sermos surpreendidos com efeitos realísticos, esquecemos algo muito importante: o fato de que, para que obras de ficção funcionem, é necessário que boa parte do que é mostrado seja complementado com nossa imaginação e nossa inclinação em assumir a fantasia como real.
"Malévola" foi para mim uma grande e grata surpresa. Um filme delicado que trata de coisas sutis e interiores. Uma obra triste, dramática, mas que acaba por valorizar as relações humanas e, em se tratando de nossos tempos, é disso que precisamos!
Um grande abraço à todos!