Translate

domingo, 23 de abril de 2023

Pílula Literária #11: Os Três Impostores



Por motivos que ainda me escapam (muito embora eu já tenha hipóteses para explicar este fenômeno literário brasileiro) diversas pequenas editoras nacionais têm surgido nos últimos anos catapultadas pelo sucesso das plataformas de financiamento coletivo. Wish, Clepsidra, Cartola, O Grifo, Ex Machina, Melusine Press, Skript... são editoras que entraram no mercado com uma ótima curadoria e com uma proposta de resgatar grandes obras inéditas ou lançadas no Brasil em um passado muito, muito distante. O livro Os Três Impostores é fruto desta bem vinda onda de lançamentos de tesouros perdidos. Escrito em 1895 por Arthur Machen é, nas palavras de Jorge Luís Borges uma obra-prima secreta: "A literatura tem pequenas obras-primas quase secretas. Os Três Impostores é uma delas". A obra foi comentada por outros gigantes também: "Após um estudo minucioso da técnica de Poe, sou forçado a dizer que seus contos foram superados pelos de Arthur Machen" - Robert E. Howard; "Os Três Impostores traz a histórias que talvez represente o ponto culminante da perícia de Machen como arquiteto do horror" - H.P. Lovecraft. O livro faz jus aos comentários. Com uma história que se passa na Londres da virada do século XIX para XX, a obra tangencia constantemente o estranho e a arqueologia pagã, mantendo o leitor o tempo todo sem saber se realmente estamos falando de invenções mágicas ou relatos verídicos. A narrativa traz dois amigos da aristocracia intelectual londrina (Dyson e Phillips) que se envolvem com os relatos de 3 outras respeitáveis pessoas (Davies, Helen e Richmond). Seriam as narrativas contadas por estas pessoas verídicas? Machen traz "histórias dentro de histórias" mantendo sempre o fio narrativo principal muito bem posto, o que auxilia o leitor como uma linha deixada na floresta para que não nos percamos. O terror e o horror estão presentes, entretanto, nas sombras, à espreita, e não de forma explícita (exceto pelo final do livro!). A edição traz uma Introdução escrita pelo próprio Machen comentando a repercussão que o livro teve à época e um artigo do autor publicado em 1934. Coroam também a edição da Editora Ex Machina dois textos que contextualizam de forma precisa a obra. O primeiro (o prefacio do livro) é assinado por James Machin, na verdade um texto originalmente publicado como ensaio para uma edição europeia do livro. O segundo de autoria de Guilherme da Silva Braga (tradutor da edição brasileira) que é Doutor e mestre em estudos de literatura pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O texto do Guilherme traz inferências incríveis que à principio passam despercebidas mesmo para os mais atentos leitores. Um texto que, quando terminei de ler, redimensionou incrivelmente a obra. Os Três Impostores precisa ser conhecido por amalgamar o cotidiano e o ordinário ao obscuro, àquilo que se esconde nas sombras.

Arthur Machen

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
Posts Relacionados