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domingo, 10 de setembro de 2023

Pílula Gráfica #31: Crime e Poesia - (2022)

















Redenção é um dos processos ou atos mais almejados pelo ser humano. Pelo menos por aqueles que guardam dentro de si uma centelha de indagação acerca do sentido de tudo. A história narrada em Crime e Poesia parece saída de um daqueles enredos inverossímeis que eventualmente encontramos. Ela trata de muitas coisas, mas para mim trata de redenção. Crimes, dentro de crimes que se somam e se somam e que, ainda que de forma impossível, encontram redenção em um processo difícil de auto aceitação, injustiça e abandono. A história do homem chamado Matt Rizzo que, através do filho, Charlie Rizzo, sobreviveu para ser contada e descoberta. Uma história com raízes no bárbaro crime cometido na primavera de 1924 pelos jovens aristocratas Nathan Freudenthal Leopold, Jr. e Richard Albert Loeb, mais conhecidos como Leopold & Loeb. Dupla que sequestrou e assassinou com requintes de crueldade um menino de 14 anos de idade (Bobby Franks) nos EUA. Um crime que ressoou por décadas no imaginário das pessoas e acabou por atingir de certa forma também Matt Rizzo. Crime e Poesia apresenta de forma muito clara e honesta o labirinto pelo qual andamos em nossa existência  e as escolhas que fazemos. Nesse labirinto podemos, entretanto, encontrar as migalhas deixadas por outras pessoas que já o trilharam e sabiam o quão difícil é aprender a ser feliz com o que se tem e com o simples. No caso de Matt Rizzo, Homero, Virgílio, Shakespeare, Milton, Whitman, Emerson... Matt aprendeu do jeito mais difícil a viver o simples e a se maravilhar com o comum.

"Destituído de todos os sinais vitais, ele ficou parado ao lado da Correnteza silenciosa, como um Navio encalhado, separado de todos os laços terrenos.

Enquanto estava suspenso, além da revogação do tumulto mortal da vida, uma mão esticada gesticulou para ele da outra margem e o impulsionou a avançar, pela Vontade Divina, e ele cruzou o Rio silencioso com os dois braços esticados para quem gesticulara; e um abraçou o outro com força;

a Morte emergiu levando o fardo dos espólios corporais; Scorto, despojado de sua carcaça mortal, emergiu belo e imaculado, com os mesmo traços, porém mais perfeito e mais jovem que qualquer obra de Arte ou Escultura poderia conceber.

Transfigurado, a nuvem de um homem sem pecados, a testa se deslocando para cima, Ele se elevou, alcançando os jubilosos prados do Paraíso eterno."

Dos Escritos de Matt Rizzo

sábado, 2 de setembro de 2023

Pílula Literária #14: Ed & Lorraine - Demonologistas


Difícil não se deixar envolver pelos relatos do casal Ed & Lorraine Warren. Embora a maioria das pessoas os conheçam por terem sido interpretados no cinema por Patrick Wilson e Vera Farmiga na franquia Invocação do Mal, Ed & Lorraine (ambos já falecidos) colecionaram experiências extremamente bizarras (para dizer o mínimo) ao longo do século passado desde meados dos anos 1940. Uma verdadeira mítica se formou ao redor do casal e por mais que existam relatos periféricos também um pouco estranhos acerca da vida conjugal do casal, o fato é que ambos presenciaram e foram participantes ativos em diversos casos singulares envolvendo fenômenos para os quais a ciência literalmente se esquivou por falta de ferramentas e abordagens capazes de trazer explicação para eles. A própria profissão que os dois possuíam, Demonologistas, é pouco ortodoxa. No caso dos Warren, entretanto, a própria estrutura oficial da Igreja Católica Romana (instituição conhecida pela seus protocolos administrativos e hierarquia sólidos) reconhecia oficialmente a função dos dois nesta área. Ed Warren era, por exemplo, o único demonologista não padre reconhecido pela instituição. Esta informação coloca as experiências do casal em outro nível em relação à muitas outras que, mesmo verdadeiras, poderiam trazer maiores contestações. O livro do jornalista Gerald Brittle, conhecido por seus relatos jornalísticos acerca do tema, é o primeiro de uma série de quatro lançados pela DarkSide Books sobre o inusitado casal. Em Ed & Lorraine - Demonologistas, Brittle se debruça sobre a dinâmica e dia a dia do demonologista. Com muito material de entrevistas, o autor transcreve respostas dadas pelo casal em palestras e em particular acerca de diversos casos vivenciados e acerca da natureza dos fenômenos, fazendo desde o início do livro uma distinção entre ocorrências fruto de "fantasmas" (espíritos humanos) e espíritos preternaturais (espíritos não-humanos, ou seja, demoníacos). O livro traz também o resumo de casos que foram, nos demais livros, abordados com mais detalhes. Mas neste volume, os resumos servem para ilustrar a dinâmica e modus operandi dos fenômenos. Alguns relatos são extremamente críveis, outros, desafiam nossa capacidade de aceitação em função da natureza quase que holywoodiana. Mas talvez o impacto maior não seja em função da excêntrica natureza das ocorrências, mas sim em função do desespero, agonia, angustia e total fragilidade que causam em pessoas comuns vítimas destes atos sobrenaturais. Ao ponto do próprio leitor do livro, desejar profundamente que os Warren sejam rapidamente acionados pelas vítimas para que consigam ter o mínimo de alívio. Ao imergirmos na angustia das pessoas, os Warren ganham uma dimensão quase que heroica aos nossos olhos uma vez que passam a ser os únicos, entre médicos, cientistas, psicólogos, homens da ciência em geral, a terem algo a oferecer de concreto para reduzir ou eliminar por completo aquilo que busca destroçar o núcleo familiar. Ed & Lorraine Warren - Demonologistas é um livro lançado pela primeira vez em 1980, época em que o casal, já maduro, possuía ampla e ativa participação nos fenômenos. Para aqueles que gostariam de um certo aprofundamento no tema, leitura obrigatória.

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