Recentemente a Editora Panini lançou em um único volume uma coletânea de três histórias do gênio Alan Moore envolvendo o Superman. Pegando carona no lançamento do Novo Filme do Homem de Aço, esse encadernado não poderia ter chegado em melhor hora. O destaque vai sobretudo para a história que dá nome ao volume: "O Que Aconteceu ao Homem de Aço?". Sem dúvida nenhuma uma obra prima em minha opinião. Nessa matéria comento a alegria nostálgica e, até certo ponto melancólica, que me invadiu ao ler essa que seria a última aventura do Superman!
Superman 423 (1986) e Action Comics 583 (1986) - Publicação Original de O Que Aconteceu ao Homem de Aço? |
No meio da década de 80, um novo jeito de se fazer quadrinhos chegava às editoras. Uma geração de novos roteiristas invadiam as redações e deixavam para traz o que se conhecia como a Era de Bronze dos Quadrinhos. Nesse mesmo período a DC Comics preparava a remodelação de seu universo com a Maxi-Série que seria conhecida como "Crise nas Infinitas Terras". A forma com que centenas, senão milhares, de personagens pensavam e agiam sofreria grandes mudanças. O clima era de finalização e início de uma nova Era. Reconhecendo essa mudança, o lendário Julius Schwartz (editor havia décadas das histórias do Superman) e que também iria se aposentar, vislumbrou a possibilidade de se contar "A Última História do Homem de Aço". Apesar de Julius ter chegado a convidar o próprio Jerry Siegel (criador do Superman) para escrever a história, foi Alan Moore (que na época já acumulava certa fama) que teve essa honra.
A história O Que Aconteceu ao Homem de Aço? sem dúvida nenhuma é um brilhante epitáfio para o herói e ganha sentido maior quando observada através dos olhos de quem já leu ou entrou em contato, em certa medida, com a forma com que os Super-Heróis dos anos 70 (e quem sabe 60) eram retratados. Moore coloca boa parte dos elementos presentes nas aventuras do Superman da Era de Prata e Bronze. Invenções mirabolantes, vilões bizarros e até ridículos, o non-sense de certos encontros... tudo está presenta na história, porém filtrado por uma "lente" melancólica e por uma fria sensação de que tudo está prestes a acabar. Ler cada quadrinho me passou a sensação de um "NADA" engolindo tudo. Todas as brincadeiras, toda inocência, todos os ensolarados finais felizes que o personagem viveu estão em seu final. É impossível não fazer uma analogia com a vida e com o ocaso da existência. Sensação semelhante eu tive ao assistir os últimos momentos do Androide interpretado por Rutger Hauer em Blade Runner - O Caçador de Androides.
A história estabelece seu fio condutor por meio de uma Lois Lane mais velha que conta à um jovem repórter do Planeta Diário os eventos que se constituíram na última aventura do Homem de Aço. À semelhança do que Alan Moore fez em "Supremo - A Era de Ouro", aqui ele também coloca diversas pistas interessantes, construindo uma narrativa que resgata os principais elementos que fizeram o mito do Superman. Em
uma Fortaleza da Solidão sitiada, um Superman em companhia das pessoas
que lhe são mais caras, repassa parte de sua vida, seus propósitos e
objetivos. Porém, mesmo ao lado de pessoas tão queridas ele se sente só e
antevê o fim da estrada.
A capa da história traz um Superman levantando voo com um semblante de
tristeza e nostalgia, tendo ao fundo diversos heróis se despedindo e, em
primeiro plano, o próprio Julius Schwartz acenando um adeus.
O final não decepciona, aliás vai além e não merece ser contado aqui para não se perder sua força. Curt Swan, desenhista que imortalizou a face mais tradicional do Superman é quem cumpre, acertadamente, novamente o papel aqui. Sem dúvida nenhuma uma obra-prima dos quadrinhos.
A 2ª e 3ª histórias do encadernado não decepcionam também. A Linha da Selva traz o encontro entre O Monstro do Pântano e o Homem de Aço. Na história Superman se encontra numa posição raramente vivida por ele, a de precisar de ajuda!
DC Comics Presents - 1985. Publicação Original de "A Linha da Selva". |
Para o Homem que Tem Tudo encerra o encadernado e traz o Homem de Aço comemorando seu aniversário. Tendo como convidados Mulher-Maravilha, Batman e um jovem Robin (Jason Todd), essa 3ª história não deixa de ter um caráter nostálgico, pois mostra Kal-El em uma onírica situação.
Superman Annual 11 - 1985. Publicação Original de "Para o Homem que tem Tudo". |
Recomendo muito esse encadernado da PANINI e deixo uma dica antes: leia-o sob a ótica do momento no qual as histórias foram lançadas, ou seja o fim de uma Era, isso garantirá um brilho maior à narrativa.
Um grande abraço à todos!