A pílula gráfica especial de hoje será voltada para três obras bem diversas entre si. Monolith publicada no Brasil em fevereiro de 2020 pela Panini, Sonhonauta e Vida nas Sombras, ambas publicadas pela Editora Conrad no ano de 2022. Meu comentários, entretanto, seguirão a minha ordem de leitura.
Sonhonauta é um quadrinho autoral do artista Shun Izumi. A obra traz Mendel, um cara comum que começa a sofrer da difícil situação de misturar seus sonhos com a realidade à sua volta. Em seu delírio, Mendel se lembra de um grande amor de um possível passado que foi assassinada brutalmente. Alternando realidade e fantasia, o protagonista tenta separar o que é ou não real e vai juntando as peças ao seu redor para tentar compor um cenário minimamente razoável. A arte é do próprio Izumi, que produz um traço diferente à cada capítulo, buscando com isso trazer estranhamento e dissociação ao leitor. Esta estratégia custou grande trabalho à Izumi, como ele mesmo descreve ao final da obra. A arte cumpre este papel, embora particularmente eu pouco aprecie a estilização extrema que por vezes ocorre ao longo da narrativa. O desfecho final traz a trama para realidade, ancorando-a à eventos do mundo real, embora eu buscasse algo mais transcendente. De qualquer forma Sonhonauta atende à uma ampla gama de leitores, tendo sido uma obra que chamou atenção à época de seu lançamento em 2020, época em que a pandemia pelo novo coronavírus estava em ascensão, algo que exerce influência de certa forma na narrativa do autor.
"Se a morte chegar mais cedo, jogue sujo!". Com esta frase Vida nas Sombras busca um retrato da finitude da vida tendo como epicentro a idosa e viúva Kumiko de 76 anos. Colocada no asilo pelas filhas que querem maior proteção, segurança e cuidados para a mãe, Kumiko não se adapta à vida do local. Esta pequena sinopse já ocorre na primeira e segunda páginas da história. A protagonista foge e invade um apartamento (essa parte não é bem explicada) e passa a morar ali sem avisar para ninguém, o que causa pânico nas filhas. A autora, Hiromi Goto, traz muito da sua experiência pessoal nesta obra que se concentra na luta de Kumiko contra sombras que começam a acua-la no dia a dia, uma metáfora para a aproximação da morte. A protagonista empreende então uma luta doméstica contra esta aproximação e, nesse interim, encontra novas pessoas do bairro e ao mesmo tempo acaba por recorrer à um antigo amor do passado. Torna-se muito claro na obra que o grande trunfo de Kumiko é permanecer fiel ao seu modo de ver e viver o mundo, mantendo sua rebeldia ativa até o fim. A construção narrativa busca levar o leitor à uma leitura suave e sem grande percalços. Vida nas Sombras, tal qual Sonhonauta, é uma menção honrosa dentro de minhas leituras de 2023, mas não as colocaria como melhores de 2023. Porém alerta: esta interpretação é minha e se associa ao meu histórico e expectativas como leitor.
Com desenhos esplendidos de Lorenzo LRNZ Ceccotti e Mauro Uzzeo, Monolith saiu originalmente pelo selo Sergio Bonelli Edittore na Itália. Originalmente concebida simultaneamente como HQ e roteiro para cinema, Monolith é um quadrinho que narra as decisões da inconsequente e jovem mãe Sandra, que em busca de espaço dentro do casamento com o marido Carl, se lança em uma viagem junto com seu filhinho David, dentro da última maravilha da tecnologia automobilística, o carro Monolith. Uma fortaleza inexpugnável sobre 4 rodas. Sandra, entretanto matem seu comportamento inconsequente, o que leva o carro a trancar-se com o pequeno David em seu interior sob o sol causticante em uma estrada deserta. O que se segue então é a desesperada tentativa da mãe em abrir o carro, tendo que enfrentar sua culpa, os perigos do deserto ao seu redor e a tecnologia do Monolith. O leitor é levado à extremos de ansiedade frente à luta de Sandra. O destaque vai para a arte e para os momentos nos quais Sandra alucina e delira frente aos eventos que lhe sucedem. O roteiro é do também italiano Roberto Recchione que concebe uma história já pronta e desenvolvida de uma vez só, como ele mesmo narra no prefácio. Uma história que lhe chegou como um bólido e logo se desenvolveu simultaneamente como HQ e filme, este último lançado em 2017 como uma produção italiana, dirigida por Ivan Silvestrini e estrelada por Katrina Bowden como Sandra. Com finais diferentes (não assisti ao filme, apenas li a HQ) o filme e o quadrinho parecem ser complementares. Monolith merece ser conhecido e apreciado na perspectiva do thriller que é.
blz irmão?
ResponderExcluirli sonhonauta e gostei, Shun Izumi muda a todo tempo o estilo da arte e da um show, vale a conferida, já monolith curti pra caralho, puta gibi manero, não conseguia parar de ler, fui completamente fisgado pela HQ, até o momento é a melhor HQ que li no ano, texto e arte em sintonia.
abraço
Fala amigo Gustavo!! Que legal ver seu comentário aqui. Pois é, são obras muito interessantes sim. Monolith é de tirar o fôlego. Há toda uma inconsequência nas ações de Sandra, e suas alucinações são reflexo, ao meu ver, de sua consciência, uma vez que ela saber o quão inconsequente é. Fiquei com muita vontade de ver o filme. Mas não achei em nenhuma plataforma de Streaming ainda. Valeu amigo!
ExcluirAbcs.
Marcelo