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segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Supremo - A Era de Bronze


Do que são feitos os quadrinhos de Super-heróis? Em minha opinião de ideias e de ideais. No entanto, com o passar do tempo, das décadas, das inúmeras abordagens, das inúmeras influências externas, observou-se padrões diferentes na narrativa envolvendo os Super-heróis. Com isso buscou-se dividir essas diferenças em Eras, ou seja, em períodos de tempo que apresentaram diferenças nas abordagens, caracterizações e motivações destes gigantes ficcionais. São poucos os autores que conseguiram traduzir de forma precisa para o público em geral os elementos de cada uma destas Eras, convencionalmente chamadas de Eras de Ouro, Prata, Bronze e Moderna. Alan Moore foi um destes autores. Supremo foi um personagem genérico criado por Rob Liefeld e Brian Murray em 1992 dentro da avalanche de personagens que nasceram dentro do ambiente mercantilista que marcou os anos 90 dentro da indústria dos quadrinhos, sobretudo a indústria de Super-heróis. A Revista Supreme teve 56 edições e Alan Moore assumiu no Nº 41, provando que não existem personagens ruins, mas sim escritores ruins. No tempo em que Moore passou escrevendo Supremo, ele simplesmente dividiu sua passagem em segmentos que puderam ser agrupados de maneira a representar cada Era dos Quadrinhos, nascendo assim as publicações Supremo a Era de Ouro, Prata, Bronze e Moderna (as duas primeiras alvos de matérias aqui no Blog), que aqui no Brasil foram publicadas pela Editora Devir.


O que me surpreendeu nas duas primeiras abordagens (Era de Ouro e Era de Prata) de Alan Moore foi sua capacidade de destilar a essência destas duas Eras usando como epicentro a figura do Supremo. No caso da Era de Ouro a simplicidade das histórias são travestidas de objetivos secundários profundos, expostos por uma trama cheia de reviravoltas. No caso da Era de Prata, Moore traduz todo o Non-sense característico desta Era (fruto direto das restrições criativas impostas pelo Código de Ética dos Quadrinhos do governo americano) em aventuras profundas e originais entremeadas de recordações. Mas e a Era de Bronze? Recentemente concluí a leitura do 3º volume desta série abordando agora a Era de Bronze que teve seu início em 1973 (controvérsias à parte) com a história "A Noite em que Gwen Stacy Morreu" escrita por Gerry Conway e ilustrada por Gil Kane e John Romita. Embora a introdução de conteúdo mais profundo e atual já estivesse sendo introduzido nas HQs desde 1970, como por exemplo o arco de histórias produzidas por Denny O´Neil (roteiro) e Neil Adams (arte) envolvendo o Arqueiro Verde e o Lanterna Verde e a história de Stan Lee e Gil Kane de 1971 em que o Homem-Aranha precisa lidar com um amigo envolvido com o vício em drogas, foi mesmo com a morte de Gwen Stacy que a maturidade chegava aos quadrinhos de Super-heróis.


Em Supremo - A Era de Bronze, Moore faz a passagem da Era de maior inocência para uma Era em que os atos dos Super-heróis possuem consequências. O encadernado compila as edições de Supreme 53 à 56 e Supreme - The Return 1 de setembro de 1997 à maio de 1999. No volume encontramos histórias envolvendo dimensões paralelas, viagem no tempo, uma aventura em 3 partes envolvendo a amada de Supremo, Juddy Jordan (nossa Lois Lane) e sua morte, e uma sequencia eletrizante de uma batalha entre o Supremo e seus inimigos que fugiram da sua prisão permanente no Inferno de Espelhos (algo como a Dimensão Fantasma do Superman). O interessante é notar as profundas e filosóficas questões que Alan Moore coloca atrás do texto, ou seja, um subtexto em que temas como o sentido da vida, dimensões paralelas, amor, crítica social entre outros são inseridos. A sequencia aliás em que o Presidente Americano à época, Bill Clinton, participa da história, ao lado de sua esposa Hilary Clinton, é absolutamente genial. Moore expõe sua crítica sem deixar espaço para qualquer retaliação.


Obviamente o leitor de Supremo perceberá que no fundo ele é o nosso Superman, porém com a liberdade de participar de aventuras que a DC dificilmente deixaria. Por isso o fã deve entender que o personagem é uma grande homenagem ao Superman e à toda mitologia de quadrinhos de Super-heróis. Um outro ponto extremamente interessante, e que gostaria de ressaltar, é a existência de "ganchos" ao longo de toda história. Moore constrói uma colcha de retalhos que, tal qual um quebra-cabeças, as peças vão se encaixando. Sinais muito discretos acerca de determinados aspectos da histórias vão sendo espalhados e, mesmo o leitor mais experiente, se surpreende que determinado acontecimento esteja ligado ao que ele leu há várias edições atrás. Genial! Vi Alan Moore usar de expediente semelhante em outra série dele, Distrito Top 10, outra obra que você precisa conhecer e que foi lançada aqui no Brasil já há algum tempo pela Editora Devir.


Quando li os volume anteriores (Supremo - A Era de Ouro e Supremo - A Era de Prata) foi interessante notar as coisas nas quais Alan Moore acredita. Sim... para o leitor atento é possível depreender as crenças do escritor a partir do enredo. Vida após a morte, concepções acerca da humanidade, sentido da vida... Tudo isso está implícito nas aventuras do Supremo e é tudo muito profundo. Caso você leia de forma desatenta tudo passará a funcionar apenas como uma interessante aventura qualquer. Nada muito diferente do que já foi feito, mas no substrato das falas e roteiro há muitas mensagens que eu, particularmente, compartilho. A despeito de todo misticismo envolvendo Alan Moore, eu vejo a vida, o tempo, a mortalidade e a eternidade de uma forma bem parecida como a que ele vê. Por isso, minha sugestão é que caso você queira conhecer este material, é importante que você o leia a partir de Supremo - A Era de Ouro (1º volume), pois há questões neste 1º volume que se estendem ao longo dos demais como ondas em um lago após uma pedra ser ali atirada.


E antes que você pergunte se a arte interna é do Alex Ross eu já que respondo que não. Alex Ross fez diversas artes conceituais do personagem Supremo, como a que abre esta matéria e os esboços logo abaixo. No entanto, a arte interna é de diversos desenhistas (muito bons aliás) tais como, Chris Sprouse, J. Morrigan, Rick Veitch e Gil Kane. Para encerrar deixo abaixo uma arte representando A CIDADELA, a cidade voadora e morada do Supremo. Um local semelhante à Fortaleza da Solidão do Superman, porém que permanece suspensa nos céus. Ao longo de toda a participação de Moore junto ao personagem, A CIDADELA será muito importante e tão, ou mais, fascinante que a Fortaleza da Solidão do Homem de Aço da DC.


Bem amigos, espero que conheçam O SUPREMO de Alan Moore e percebam a grande homenagem ali presente aos Quadrinhos de Super-heróis. Grande abraço!

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