Quando criança o Editor da DC Marv Wolffman ficava fantasiando uma história que pudesse incluir o máximo de heróis e vilões possível. Nela, existia um super vilão a quem Marv deu o nome de O Bibliotecário. Um ser que vivia em um satélite invisível coletando informações a respeito de nosso universo para usar quando e contra quem ele bem entendesse. Embora Marv tivesse crescido, ele jamais abandonou esse sonho. Em 1982, o já adulto Marv tornara-se roteirista e editor da DC, e ao se deparar com uma carta de um leitor sobre uma determinada incoerência na infindável e complexa cronologia DC (que na época possuía 50 anos de história), ele simplesmente travou, ou seja, não sabia a resposta. E isso passou a incomoda-lo muito. Durante uma viagem de trem à uma Convenção de Quadrinhos ao lado de dois amigos, o também editor Len Wein e o desenhista Joe Staton, Marv explicou sua angústia... Nascia ali o embrião do que viria a ser CRISE NAS INFINITAS TERRAS, a super saga que redefiniu o Universo DC de Abril à Dezembro de 1985 no EUA. Mas por que tudo se tornara tão complexo para a DC a ponto de ser necessário um remodelamento colossal como foi CRISE NAS INFINITAS TERRAS? A resposta para isso está no passado distante.
Showcase #123 - Outubro de 1956 - Pistas de Múltiplos Universos |
Como parte da iniciativa de resgatar os super heróis para uma nova Era, a DC procurava em 1956 repaginar diversos heróis dos anos 40 para que fossem atualizados para uma nova e ávida geração de adolescente e jovens do pós-guerra que vivia sob os auspícios de avanços científicos incríveis. Assim, Julius Schwartz (editor da DC na época) decidiu trazer de volta heróis que embora compartilhassem o mesmo nome de suas contrapartes dos anos 40, eram na verdade outras pessoas. Na história publicada em Showcase Nº 123 de outubro de 1956 o cientista forense Barry Allen estava lendo uma história em quadrinhos com um herói cujo poder era a super velocidade, o velocista Flash (Jay Garrick). Ao deixar o gibi sobre a mesa, Barry volta aos seus afazeres em seu laboratório e é atingido por um raio que destrói a estante com produtos químicos ao seu lado. Barry é banhado por uma mistura química eletrificada e então desenvolve poderes semelhantes àqueles do herói da revista que acabara de ler. Esta pequena passagem na história pode parecer sem importância, no entanto ela abriu um grandioso precedente ao informar aos leitores que os super heróis da Era de Ouro dos Quadrinhos (1938 à 1856) existiam em um universo ficcional.
Flash #123 - 1961 - Setembro de 1961 - A Grande Descoberta de um Multiverso |
Mas o grande acontecimento que viria a delinear as próximas décadas dentro da DC e a consolidação de um Multiverso, ocorreu mesmo em Setembro de 1961 nas páginas de Flash Nº 123. Há nesta história uma das mais geniais sacadas dos quadrinhos. Com roteiro de Gardner Fox e participação direta do Editor Julius Schwartz, a história mostra o Flash Barry Allen se exibindo para um grupo de crianças ao vibrar seu corpo em uma determinada velocidade. Ao fazer isso, Barry sintoniza as moléculas de seu corpo com as vibrações de um Universo paralelo ao dele, acessando a cidade de Keystone onde vive o Flash da Era de Ouro Jay Garrick. Muito fantasioso para você? Pois não é, você verá mais abaixo que a Teoria das Cordas (altamente aceita como possível atualmente pela física moderna postula exatamente isso). O fato é que ao encontrar Jay, Barry Allen diz: "Você era famoso em meu mundo como um personagem de ficção em uma revista chamada Flash Comics! Quando eu era mais jovem, você era meu herói favorito! Um roteirista chamado GARDNER FOX escrevia sobre suas aventuras, que ele dizia surgirem para ele nos sonhos! Isso explica como ele sonhou o FLASH!". Essa história é genial para mim!!
Você já imaginou a implicação disto? De repente tudo era válido dentro da editora, já que ocorria em universos diferentes. Julius Schwartz e Gardner Fox encontraram uma elegante e científica forma de explicar elementos válidos que se existissem na mesma TERRA seriam irreconciliáveis. Além disso, esta proposta é altamente plausível. Você já não teve um sonho sobre si mesmo vivendo de uma outra forma? Eu por exemplo já tive sonhos nos quais minha vida foi muito diferente. Ao acordar me perguntava intrigado: "Nossa... De onde eu tirei tanta imaginação?". Bem... é possível que isso seja apenas resultado da "feijoada" que comi na noite anterior? Acho que sim. Mas o fato é que esses meus sonhos realmente me intrigam!! E onde a existência de múltiplos Universos levou a DC? Onde foi que as coisas deram errado? A Terra de Barry Allen passou a ser conhecida como Terra 1, enquanto a de Jay Garrick a Terra 2, onde os heróis da década de 40 haviam vivido. Aqui vão alguns problemas que derivaram disso:
Os Flashes Barry Allen (esquerda) e Jay Garrick (direita) |
Você já imaginou a implicação disto? De repente tudo era válido dentro da editora, já que ocorria em universos diferentes. Julius Schwartz e Gardner Fox encontraram uma elegante e científica forma de explicar elementos válidos que se existissem na mesma TERRA seriam irreconciliáveis. Além disso, esta proposta é altamente plausível. Você já não teve um sonho sobre si mesmo vivendo de uma outra forma? Eu por exemplo já tive sonhos nos quais minha vida foi muito diferente. Ao acordar me perguntava intrigado: "Nossa... De onde eu tirei tanta imaginação?". Bem... é possível que isso seja apenas resultado da "feijoada" que comi na noite anterior? Acho que sim. Mas o fato é que esses meus sonhos realmente me intrigam!! E onde a existência de múltiplos Universos levou a DC? Onde foi que as coisas deram errado? A Terra de Barry Allen passou a ser conhecida como Terra 1, enquanto a de Jay Garrick a Terra 2, onde os heróis da década de 40 haviam vivido. Aqui vão alguns problemas que derivaram disso:
O Superman também havia vivido aventuras nos anos 40. Isso implica que na Terra 1 todos deveriam conhecer sua identidade secreta, já que ele era um personagem de gibi publicado na Terra 1. Onde também existia um Superman! Como explicar que a identidade secreta de Jay Garrick era conhecida na Terra 1 e a do Superman não, já que os dois eram personagens de gibis? Outros problemas com o passar das décadas foram: o editor/roteirista "A" poderia criar uma Atlântida que nada tivesse a ver com a Atlântida do Aquaman; personagens passaram a mudar de "Terra" ao bel prazer de roteiristas, passando a fazer parte de aventuras com outros heróis em outras Terras... e por aí vai. Com o passar do tempo nasceu a Terra 3, um local onde o único herói era Lex Luthor e os demais eram todos super vilões. Já a Terra "S" passou a abrigar os personagens da Editora Fawcet que a DC havia comprado, dentre eles o Capitão Marvel (hoje SHAZAM!) e sua família Marvel. A Terra "S" abrigou os heróis da Editora Quality Comics (também adquirida pela DC), uma Terra onde a 2ª Guerra nunca acabou. Por fim veio a TERRA PRIMORDIAL, ou seja, a Terra onde nós (eu e você) existimos.
Diante do exposto acima, e em função dos roteiristas não estarem muito preocupados que suas histórias apresentassem fatos inconsistentes com outras anteriormente publicadas, tudo foi ficando muito complicado e de difícil entendimento. A solução proposta e apresentada à diretoria de DC por Marv Wolffman e Len Wein em 1982, buscava a unificação de todos os Universos (Terras) em uma só. E para fazer isso seria criada uma grande saga que seria publicada ao longo de 1985, ano do aniversário de 50 anos da DC. Assim, e por causa de tudo isso, nasceu a Saga Crise Nas Infinitas Terras. Mas esta saga era realmente necessária? Ela realmente merece a alcunha que angariou ao longo das últimas décadas, como a mais importante Saga já publicada e parâmetro para diversas outras que vieram depois? Bom amigos... Isso responderei com minha opinião na próxima e última parte desta matéria. Não perca!!
Abcs à todos!
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