Lone Sloane é um dos recentes lançamentos da Editora Pipoca e Nanquim (PN). Um lançamento que vem sendo comemorado por fãs brasileiros da Revista Norte Americana Heavy Metal, fãs do escritor e desenhista Moebius e fãs de Ficção Científica Europeia. Todo e qualquer lançamento do PN entra diretamente para o meu radar. Tenho praticamente todos os lançamentos deles. E com Lone Sloane não foi diferente. Este lindo encadernado traz praticamente toda a saga do viajante cósmico Lone Sloane, excetuando sua participação em uma história chamada Salammbô. O PN traz um lançamento que compreende uma saga que foi escrita e desenhada pelo francês Philippe Druillet (criador de Sloane) ao longo de décadas (décadas de 60, 70, 80, 90, 2000 até início da década de 2010). Diante de tamanho acabamento gráfico (a capa é simplesmente incrível) e indicações, passei Lone Sloane à frente de muitas outras obras que estavam em minha pilha de leitura. Mas vamos à minha opinião acerca deste lançamento...
A obra traz realmente uma narrativa muito próxima do estilo presente em HQs de Moebius e em HQs ficcionais europeias. As primeiras histórias do encadernado (O Trono do Deus Negro, A Ilha dos Ventos Selvagens, Rose, A Ponte sobre as Estrelas e Terra) me chamaram muito a atenção pelo seu tom psicodélico e onírico. Isso pode ser conferido em artes como esta acima que faz parte do início da obra. Confesso que essas pequenas histórias iniciais criaram em mim a expectativa que a obra traria histórias desta ordem, ou seja, oníricas, de cunho existencial e líricas. Cheguei a esperar que a obra iria pelos caminhos de títulos como "2001 Uma Odisseia no Espaço" de Arthur C. Clarke, "Eram os Deuses Astronautas?" de Erick von Däniken com sua narrativa arqueológica e milenar, e até mesmo iria para a veia onírica de Esteban Maroto em seu Espadas e Bruxas (também lançado pelo PN no Brasil). No entanto, a partir da história Delirius (arco que se estenderá até o fim do encadernado, se desdobrando em outros segmentos) há uma mudança muito grande (em minha opinião) na temática e até no traço de Druillet. O aspecto onírico, filosófico, fantástico e milenar dá lugar à uma narrativa mais política, beligerante, social e por vezes desconexa, mudando também o traço do autor para um tipo bem menos psicodélico.
Talvez deste ponto em diante é que a história fique mais próxima da narrativa da Heavy Metal. O texto subjacente desta parte em diante é outro. Fica bem claro uma acidez, pessimismo e desdém nas palavras e atitudes de Sloane. Se antes ele era reflexivo, distante de sua humanidade e até bem parecido com o personagem cósmico da Marvel chamado Warlock, do arco Delirius em diante Sloane torna-se algo semelhante à um pirata renegado lutando contra um Império maligno personificado pelo Imperador Shann. Esta mudança na caracterização de Sloane deve refletir (acredito eu) a frustração, desdém e acidez do próprio autor Druillet, que após a morte de sua esposa na década de 70 possivelmente passa a se relacionar com o mundo de forma diferente. Particularmente preferia que o Sloane inicial tivesse sido aquele a ser desenvolvido por Druillet. Identifico-me muito mais com ele. Independente destas minhas impressões é necessário reconhecer a importância desta grande obra e de seu autor. Esta grandeza fica muito clara nas ilustrações de Druillet e em como ele quebrou paradigmas ao descortinar verdadeiras obras de arte gráficas representando cenários cósmicos totalmente fora dos padrões vigentes.
Bem amigos... é isso aí. Agradeceria muito se deixassem comentários abaixo sobre a obra. Um grande abraço!
Gostaria de deixar um comentário útil acerca da obra, mas não posso porque não a li, apenas folheei. Mas adorei ler todo o seu texto e perceber que minhas impressões superficiais podem/poderiam estar corretas.
ResponderExcluirAchei o álbum magnífico. Como negar a beleza da arte e o refino do acabamento editorial? Contudo, fiquei com a sensação que estaria diante de algo bonito mas pobre. Sim, posso estar escrevendo merda, sei disso. Mas é que muitas vezes essas tramas excessivamente mirabolantes, oníricas ao extremo e que se perdem em novos rumos são apenas artifícios para mascarar a ausência de bons argumentos.
Se e quando algum dia eu ler esta HQ, retornarei a esta postagem.
Abraços!
Olá!
ResponderExcluirSuas impressões sobre esta obra são certeiras, e achava que só eu a via desse jeito.
As primeiras histórias já citadas, realmente, destoam e muito do restante do material; tanto que já tinha esse álbum importado e me dou por satisfeito. Não comprarei a versão nacional. “As 6 Viagens de Lone Sloane”, para mim, é a obra-prima máxima de Druillet; é algo como se Lovecraft escrevesse e desenhasse uma HQ sci-fi. As imagens são poderosas, exóticas, delirantes e misteriosas; e por vezes, causam uma certa estranheza pelo surrealismo. O texto contém uma filosofia única, carregada de certo obscurantismo. Druillet está em sua melhor forma, com arte hiperdetalhada e deslumbrante, e as histórias curtas dão a impressão de fragmentos de pesadelos fantásticos. Quem comprar o álbum nacional, deixando-se levar apenas pelas seis primeiras histórias, pode se decepcionar com as demais. E além disso, não é um álbum barato. Se eu não conhecesse o material, eu me decepcionaria e muito.
A partir de “Delirius”, para mim, tornou-se um sci-fi comum, com o Sloane perdendo, e muito, aquela aura de mistério que o envolvia e o tornava quase sobrenatural, e as histórias se tornaram mais mundanas, sem o toque de exotismo que acentua e destaca as anteriores. A arte de Druillet se torna mais caricata, muito próxima de esboços, e não possui o brilho de antes, ainda que contenha sua grandiosidade em alguns quadros. E também é só comparar o Sloane das primeiras histórias com o restante, que dá para sentir uma diferença gritante.
Então, ao passo que “As 6 Viagens” é um sci-fi bizarro, lisérgico e mais cerebral, com uma arte psicodélica como poucos artistas conseguem transmitir (Jim Steranko, por exemplo), a partir de “Delirius”, tudo se torna um pouco mais banal e vulgar, ainda que esteja longe de ser um material ruim. É só comum, sem um grande diferencial. Toscamente comparando uma fase com a outra, é como colocar “2001” e “Riddick” lado a lado: a grandiosidade de um engole o arroz-com-feijão do outro. Bom, essa é minha opinião, e talvez, eu esteja sendo chato demais...
Até!