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sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Futuros Distópicos - Parte II: Reino do Amanhã


Prezados amigos... Tudo que poderia ser sido dito a respeito de Reino do Amanhã de Mark Waid e Alex Ross já foi falado? A resposta é sim! Mas podemos deixar de falar dela? A resposta é NÃO!! E por que? A verdade é que há obras que são verdadeiros "divisores de águas", obras que sintetizam a essência da 9ª Arte Super-heroica. Reino do Amanhã é uma destas, e escrever continuamente sobre ela é mantermos acesa a chama da essência do ideais que este personagens super-humanos encarnam. Ou seja, há mais do que simples aventuras... há mais do que simples entretenimento... há mais do que simples traços artísticos... Há princípios, modelos e reflexões sobre nosso mundo... Há verdadeiros ícones que expressam o sonho da humanidade de ser mais do que aparenta...


Se você não sabe quem é Alex Ross (desenhista de Reino do Amanhã) está na hora de conhecer. Ele é simplesmente um dos desenhistas que melhor captaram a humanidade do universo super-heroico. Seu trabalho estourou nos anos 90 e desde então tem sido referência à todo desenhista que se aventura pelo mundo artístico dos super-heróis. Mark Waid (roteirista) é para mim hoje um dos escritores de quadrinhos que sintetiza tudo aquilo que eu acho importante em um artista. Em primeiro lugar sua humildade... em segundo lugar suas ideias simples, palpáveis, seus roteiros livres de excessos (que tantos escritores se valeram para ficarem famosos). e talvez sua maior qualidade: a capacidade de escrever uma HQ obedecendo parâmetros clássicos e ao mesmo tempo ressignificando-os à luz de nosso tempo.


Reino do Amanhã, republicado em Edição Definitiva pela Panini no Brasil no ano passado traz o futuro do Universo DC. Um mundo em que os grandes heróis do passado foram aos poucos se tornando obsoletos frente a uma sociedade que desejava ser mais rápida, mais intensa, mais midiática, mais violenta e mais imediatista (qualquer semelhança com nosso tempo é talvez apenas uma grande "sacada" do escritores ainda nos anos 90 - época em que a obra foi escrita (1996)). Numa Era pré internet, pré Facebook, pré whatsapp, pré Youtube e pré NetFlix, Mark Waid foi capaz de escrever algo profético, uma vez que vemos atualmente nossos grande ídolos reais do passado serem substituídos por ídolos midiáticos pobres e sem densidade humana. Fantasmas televisivos, homens e mulheres com embalagem mas sem conteúdo.


Em um cenário semelhante a este os grandes super-heróis do passado foram gradativamente passando para as sombras e sendo substituídos por uma nova geração. Novos heróis muito mais preocupados com sua aparência, desempenho midiático e promoção pessoal do que com os seres humanos. Seres sobre-humanos que se desconectaram do homem comum, do homem que sofre e labuta em um Mundo cheio de injustiças. É desta tensão que visões apocalípticas começam a brotar na mente do Pastor Evangélico Norman McCay. Em sua jornada espiritual ao lado do ser etéreo Espectro (o Espírito da Vingança), McCay conhecerá uma batalha colossal entre a inconsequente nova geração e os heróis do passado que resolvem confrontar esta nova ordem.


Com um traço realista Alex Ross constrói cenas de batalhas monumentais. Detalhe especial deve ser ressaltado à toda uma história que se desenrola no pano de fundo de cada imagem. O leitor mais observador perceberá rostos expressivos e imagens cheias de significado ao fundo de cada imagem desenhada. Assim, Reino do Amanhã se constrói como um épico que discute um mundo globalizado mesmo antes dele te-lo se tornado isso, afinal falamos de 1996. Norman McCay em toda sua fragilidade e fé é a âncora da história, mostrando o caminho e o significado da existência humana. É o homem comum que reconhece sua pequenez diante do Criador e chama a atenção à todos a respeito disto.


Quando tudo parece terminado, Waid e Ross nos presenteiam com um epílogo que, na minha opinião, constitui-se numa das mais belas sequencias dos quadrinhos. Uma sequencia que nasce clássica ao apresentar os pilares do Universo DC em um momento único, cheio de referências ao passado, com a nostalgia que cabe aos grandes ícones que habitaram nossa infância. Se você for um leitor mais sensível é possível que lágrimas escorram de seu rosto ao ler o epílogo de Waid, emoldurado pela arte humana e realista de Ross.


Apesar de tudo que já foi dito desta obra máxima, precisamos continuar falando dela para que sirva de referência ao futuro dos quadrinhos. E para que não aconteça com as HQs o que aconteceu dentro da história de Reino do Amanhã. Que as editoras não permitam e não sucumbam ao apelo mercadológico que faz com que heróis sejam pervertidos e, por razões midiáticas, sejam desfigurados para as próximas gerações. Por isso que  falar de Reino do Amanhã é mandatório e dever de todo aquele que ama os quadrinhos em sua essência.

Abraço à todos!!

12 comentários:

  1. E aí Marcelo, tudo bem?

    Por uma incrível coincidência, terminei de ler o "Reino do Amanhã" faz uma semana, aproximadamente.

    Esta história é realmente interessante, e mesmo se o roteiro do Waid não fosse bom, só a arte do Ross já paga a diversão. É realmente uma obra de arte!

    Apenas uma dúvida. No meu encadernado eu não vi esta última ilustração que você colocou, que é a do Superman, Mulher Maravilha e Batman com os filhos do Super e da Mulher Maravilha. Você retirou essa imagem do livro ou de outra fonte?

    Um abraço!

    Att,
    Gabriel

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    1. Olá Gabriel!!

      Blz, amigo!?!?

      Tal como você terminei de ler há pouco tempo. É um divisor de águas mesmo.

      Cara... Sobre a última imagem eu a retirei da internet de um site de fora. No meu encadernado ela também não consta. Eu preciso investigar de onde ela saiu ou se foi apenas uma arte promocional do Alex Ross em comemoração ao aniversário da HQ (de repente). Eu não sei exatamente de onde ela vem. Apenas eu a achei tão significativa, mas tão significativa que não poderia deixar de coloca-la.

      Vou investigar melhor e se você também tiver alguma informação me avise. Ok?

      Grande abraço e valeu!

      Marcelo.

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  2. uma das melhores estórias de todos os tempos.
    e com uma arte de tirar o fôlego!

    Abç

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    1. Verdade amigo!! A mais pura verdade...

      Uma história relevante sem se servir do expediente dos excessos tão populares hoje em dia em que se busca expressar a realidade sempre de forma excessiva nas histórias, sempre buscando chocar o leitor. Não que isso não exista na realidade, ou seja, há muita violência no mundo sim. Mas penso que há muitas histórias incríveis que acontecem em nosso dia a dia e que são tão dignas de nota quanto, e nem por isso são excessivas.

      Reino do Amanhã traz essa marca sutil de Waid: boa história sem o excesso midiático.

      Valeu amigo!!

      Marcelo.

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  3. blz marcelo?

    ótimo texto, HQ sensacional mesmo, leio marvel desde sempre(tenho 40 anos), quando marvels apareceu nas bancas em 94/95???? pirei, HQ foda, diferente de tudo que existia.
    reino do amanhã consegue ser muito, mas muito mesmo melhor que marvels, é quadrinhos de super heróis pra quem curte o gênero mesmo, sem contar que ainda é uma obra de arte!!!!

    abraço

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    1. Olá Gustavo!!

      Somos contemporâneos então! Tenho 44 anos. Vivemos períodos semelhantes nos quadrinhos então! Legal!!

      Reino do Amanhã é tudo isso que vc diz. Fora que se pensarmos que ela é da década de 90 (1996) surpreende-nos o fato dela tratar de coisas muito atuais!! Isso porque naquela época em que foi escrita ainda não tinham ocorrido coisas marcantes como: o 11 de setembro; o advento da internet em massa; o Facebook; o Youtube; o Whatsapp; o NetFlix... E toda essa tecnologia que veio depois não contradiz em nada a história! Ela se encaixa bem em tudo que veio depois.

      Toda mídia excessiva, todo consumismo, ostentação que acaba por contaminar os heróis na história. Ou seja, é uma verdadeira profecia.

      Além disso, e o que vc comenta, a obra capta muito bem a essência do ideal super-heroico.

      Valeu Gustavo!!

      Marcelo.

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  4. Alex Ross é incrível. Vi uma foto do seu pai (que é o narrador do Reino do Amanhã) e pensei que fosse um quadrinho, só depois vi que era uma foto. Dá uma sensação muito estranha de percepção. Ele só tem um defeito...não sabe conceber uniformes. Todos parecem fantasias de escola de samba. São muito feios, exagerados, espalhafatosos. Ninguém é perfeito, mas chegou em 99,99999999999%

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    1. Pois é Maurício...

      Realmente uma obra de arte mesmo. Depois que vim saber que Norman McCay havia sido inspirado na figura paterna do Ross. Sensacional. Acho interessante ele colocar a figura do sacerdotes cristão sem mostra-lo de forma apelativa ou mesmo denegrindo-a (um expediente comum entre artistas, mostrar essa figura sempre meio louca, intransigente e moralista). Não foi o caso aqui. Norman McCay é o sacerdote sério e sincero. Muito bom mesmo essa abordagem que Waid dá.

      Quanto aos uniformes creio que o Ross quis se ater aos conceitos originais de cada um deles. Mas realmente para hoje são conceitos que nos soam um pouco estranhos. Aliás, nesse quesito (uniformes) eu achei muito parecido o uniforme da Mulher-Maravilha a partir de um determinado ponto da história, com o uniforme da "Vitória Alada" (heroína da série de ASTRO CITY de Kurt Busiek).

      Grande abraço Mauricio!

      Marcelo.

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  5. Reino do Amanhã é sem dúvidas uma das histórias de maior expressividade no Universo DC e uma grande crítica - bem colocada e merecida, em minha opinião - à onda de anti-heróis e vigilantes violentos e espalhafatosos que estouraram nos anos 90, bem representados nessa nova geração de heróis retratados na obra. E nem preciso comentar a beleza que é a arte do Ross...

    Tive o imenso prazer de conhecer pessoalmente o Mark Waid na CCXP 2015 e como não podia deixar de ser, levei justamente o Reino do Amanhã para ele autografar: http://guiadosquadrinhos.com/usuario/fotos_meusgibis.aspx?cod_arquivo=8618&cod_album=315 (sim, eu estava de cosplay de Estelar por lá, hehe). Muito simpático e prestativo com todos, mesmo após horas na mesa de autógrafos. Fico na torcida para que consigam convidar Alex Ross para outra edição do evento!

    Abraços!

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    1. Olá Laís...

      Sempre muito legal ver seu comentário e participação aqui no Blog!!

      Você faz a análise mais importante e pertinente que é o cerne desta obra: "A crítica à um Mundo dos Quadrinhos e também Real que valoriza o superficial, o imediatista, o midiático, a valorização do "eu" em detrimento do outro". Ou seja, tudo aquilo que os heróis verdadeiros foram criados para ir contra.

      A obra espelha não apenas um lado ruim dos quadrinhos, mas o descreve como o lado que pensa mais no mercado e nas vendas. Além disso, também critica nosso tempo.

      A arte do Alex Ross dispensa comentários sem dúvida nenhuma. Que legal vc ter conhecido o Mark Waid!!! Para mim ele é hoje o representante vivo de uma forma de se fazer quadrinhos de uma forma mais simples, criativa e nem por isso menos interessante, relevante e extremamente pertinente. Ele não se utiliza de expedientes violentos ou mesmo polêmicos para chocar as pessoas e assim alavancar as vendas. Ele simplesmente "faz quadrinhos"!! Um cara que eu admiro muito não apenas pelo seu trabalho, mas também pela sua postura humilde, coerente e leal com a origem dos quadrinhos.

      Que legal sua foto Laís!!! Muito legal mesmo!! Achei sensacional. Puxa... Apareça mais vezes e nos conte sobre essa sua experiência de Cosplay que alias está muito bem feito e legal!!

      Valeu mesmo!

      Um grande abraço pra você!!

      Marcelo.

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    2. Oi Marcelo! Concordo plenamente com suas colocações, são raros (infelizmente) os escritores que continuam demonstrando tanta qualidade em seus trabalhos e que não utilizam desses recursos puramente 'mercadológicos' e em detrimento de uma boa história, conforme você citou.

      Muito obrigada pelos elogios! Gosto bastante de cosplay e faria mais se tivesse mais tempo (e dinheiro), haha! Já fiz, além da Estelar, de Morte, Duas-Caras, Caçadora e Coringa. Estou ainda decidindo qual farei este ano. É uma experiência realmente bem bacana e recompensadora :)

      Abraços!!

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    3. Pois é Laís...

      Isso que estamos discutindo torna uma HQ importante. Ou seja, ela ser voltada para a essência dos personagens e para a criatividade do roteirista. Como comentamos acima muitos usam recursos para simplesmente vender mais. Mas acho que tanto a DC quanto a Marvel estão voltando um pouco às origens ao permitirem o retorno do MULTIVERSO em suas revistas e permitirem também uma maior liberdade aos seus roteiristas deixando-os menos presos à cronologia de cada personagem.

      Puxa que legal esse Hobby de Cosplay!! Você sabe fazer isso muito bem!! Depois se não for incomodar compartilhe mais fotos. Tentei achar você no facebook para pedir sua amizade, mas não a encontrei. Se puder entre no meu face no link na barra da direita aqui do Blog para ficarmos amigos. Um dia farei um Cosplay de Capitão América. Certa vez fiz um do Zorro.

      Gde. Abc. Laís!

      Marcelo

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