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domingo, 17 de janeiro de 2016

Buracos Negros... Quasares... A Bomba de Sódio-Potássio e a inspiração para "Os Próprios Deuses" de Isaac Asimov


Os Próprios Deuses é um livro do Mestre Isaac Asimov publicado em 1972. Os recentes lançamentos de várias obras do famoso escritor de ficção científica pela Editora Aleph no Brasil, mostram a força da narrativa científica de Asimov. Dono de um estilo fluido e envolvente, Asimov consegue captar a atenção mesmo daquele que não se interessa tanto pelos aspectos científicos da história. Proveniente de uma geração de escritores que davam muito valor em ancorar suas histórias em bases científicas sólidas (Arthur C. Clarke e Ursula K. Le Guin são outros expoentes desta geração), Asimov conseguia ter um ingrediente diferencial, sua capacidade especulativa! Uma capacidade levada à outro nível em Os Próprios Deuses. É difícil dizer de onde Asimov retirou sua inspiração para a história, mas não consigo deixar de pensar que foi de dois grandes fenômenos cósmicos do Universo: Os Buracos Negros e os Quasares...


Buracos Negros são descritos como verdadeiros "ralos" cósmicos. Um local capaz de drenar para dentro de sí tudo à sua volta, até mesmo a luz, que não consegue escapar da força de atração gravitacional que a tudo traga para seu interior. Mas como eles se formam? Eles passam a existir a partir do colapso de um corpo celeste (ex. uma estrela) que não aguenta o peso de sua própria massa e, literalmente, acaba por desabar para dentro de si. A partir daí aquele ponto do universo passa a puxar tudo à sua volta. Para onde vai toda essa matéria/energia drenada é uma outra pergunta que sempre me fiz. Já os Quasares fazem o oposto. São colossais "gêiseres" cósmicos expelindo energia para dentro do nosso Universo. Mas de onde vem toda essa energia? Está aí uma coisa que sempre me perguntei também. Você (caro leitor) percebeu que estes dois eventos cósmicos fazem o contrário um do outro!?!? Percebeu que enquanto um drena (Buraco Negro) para algum lugar a matéria/energia de nosso Universo, o outro (Quasar) a devolve!? Mas o que isso tem a ver com Os Próprios Deuses de Asimov!? Tudo eu diria!


Ao analisarmos a grosso modo estas duas grandes entidades cósmicas percebemos que elas se parecem muito com as tradicionais "bombas" orgânicas tão comuns no nosso corpo. O exemplo mais comum que aprendemos na escola é a "bomba de sódio-potássio". Uma estratégia que nossa célula lança mão para transportar íons contra seus respectivos gradientes de concentração, ou seja, o sódio é bombeado para fora da célula enquanto o potássio para dentro. Isso ajuda a célula a se manter balanceada e em equilíbrio. A semelhança do binômio Buraco Negro-Quasar com a Bomba de Sódio-Potássio é incrível aos olhos mais leigos. Fica então a pergunta: Buracos Negros e Quasares seriam versões colossais da Bomba de Sódio-Potássio para manter nosso Universo em equilíbrio com outros Universos? Trocando a matéria/energia necessária para o equilíbrio Universal? Muito especulativo para você? Bem... Não para Isaac Asimov que (em minha opinião) trouxe daí alguma inspiração para dentro de Os Próprios Deuses.

A Bomba de Sódio-Potássio - Analogia perfeita entre Buracos Negros e Quasares

A história narra a transmutação proposital de matéria de nosso Universo para um outro, onde possivelmente vivem seres que precisam de elementos químicos daqui como fonte de energia lá. Isso aconteceria porque as leis físicas de lá fariam com que estas substâncias (relativamente inócuas aqui) se tornem radioativas lá e, portanto passíveis de emissão de energia. O contrário também nos serve. Assim, o livro se estrutura sobre um intercâmbio de matéria entre o nosso Universo e um outro, desconhecido. Proporcionando fontes de energia inesgotáveis para ambos. Mas seria isso saudável? Poderíamos nós, manipularmos leis tão acima de nossa concepção? Bem... Para isso você deverá ler o livro, pois não seria justo eu fornecer "spoilers". O fato é que Asimov ousa descrever esse outro Universo, ou melhor este "para-universo".


E aqui está outro ponto a favor da genialidade de Asimov, uma vez que ele não cede à sedução de retratar este outro Universo de forma convencional e, portanto de forma mais simples e rápida. Não!! Ele consegue conceber um outro Universo totalmente diferente do nosso, e de forma extremamente crível!! O leitor se admirará com os seres tri-unos que habitam este para-universo. Um local que, ao final da narrativa, deixa o leitor com vontade de saber mais a respeito destes outros seres.


Para o leitor já iniciado no universo literário de Asimov, Os Próprios Desuses também é uma incrível fonte de tesouros escondidos. As raízes da Segunda Fundação podem ser ali percebidas, o início da colonização da galáxia (algo bem estabelecido na Saga Fundação) pode também ser discretamente percebido, a devastação da Terra e sua passagem para o esquecimento também podem ser intuídas pelo leitor. 


Por tudo isso Os Próprios Deuses constitui-se em um livro cheio de ciência, questões existenciais, narrativa intrigante e especulação. Mas não seria da mistura disto tudo que o caminho da humanidade é feito?

Abraço à todos!!

4 comentários:

  1. Respostas
    1. É verdade...

      E ninguém me tira da cabeça que ele tirou a ideia para "Os Próprios Deuses" desta analogia entre Buracos Negros e Quasares.

      Um grande abraço!

      Marcelo.

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  2. Não conheço nada de Ursula K. Le Guin. Mas ainda há tempo, claro.
    Cara, ótima abordagem sobre este livro. Saiu do lugar comum das meras resenhas. Gosto disso.
    Como te falei antes, quero ler toda Fundação, ao menos.
    Abraços!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá Kleiton!

      Que bom que gostou. Então... Tenho certeza que quando você ler a Saga Fundação você será contaminado pela riqueza deste universo colossal e interligado de Asimov e terá vontade de se aventurar por estes outros livros nos quais sempre haverão pistas sobre eventos futuros ou passados.

      De minha parte eu sugiro exatamente a sua ideia. Começar pela Saga Fundação pois, apesar dela se passar num futuro muito distante, há ecos sobre o que aconteceu no passado e os demais livros destrincham esses ecos.

      Gde. Abc.

      Marcelo.

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