Quando eu era garoto (por volta dos 10 anos de idade) eu assistia muito à "Sessão da Tarde". Era o final da década de 70, início dos anos 80. Grandes sucessos dos anos 50 e 60 eram frequentemente exibidos e faziam parte de minhas tardes. Em uma destas longínquas e já perdidas tardes estava eu em frente à TV quando me deparei com um filme de fantasia que iria me marcar para o resto da vida! O estranho filme trazia paisagens estranhas (como que saidas de um sonho) e contava a história de um garoto de minha idade que se perdia em um mundo no qual todos os instrumentos musicais haviam sido trancafiados em um calabouço por ordem de um tirano professor de piano que reconhecia apenas o "piano" como intrumento verdadeiro. O filme me marcou pelas estranhas imagens que literalmente me dominaram. Lembro-me de tentar saber o nome do filme, porém na época era difícil que o mesmo aparecesse na tela. Sendo assim crescí tentando saber seu nome. O tempo passou e eu sabia que um dia eu descobriria que filme era aquele.
Há uns dois anos estava eu entrando em uma Livraria Cultura aqui de São Paulo quando olhei para um painel de TV e ví!!! Lá estava o pequeno menino do filme em uma cena colorida e cheia de vida, correndo de uns estranhos capangas gordões! Era o filme! Minhas pernas bambearam e eu corrí até um guichê mais próximo. Eu mal podia me conter ao perguntar para o atendente que, olhando-me de uma forma estranha deve ter pensado: "Que cara maluco esse!". Quando perguntei pelo nome do filme o rapaz disse: "Esse fime foi lançado recentemente em DVD. Ele se chama... (meu coração pulava)... Os 5.000 Dedos do Dr. Terwilliker". Corrí até a bancada indicada e lá estava o filme em DVD lançado pela "
Magnus Opus".
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A Cena que ví em uma das TVs da Livraria Cultura e que me deixou sem fala
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Chegando em casa preparei tudo para que eu pudesse, depois de 30 anos, assistir na íntegra essa obra maravilhosa. O filme, de 1952, é baseado na obra do famoso escritor de literatura infanto juvenil Dr. Seuss. Na história, Bart Collins, o garotinho, é aluno do tirânico professor de piano Dr. Terwilliker (Hans Conried). A mãe de Bart, Sra. Heloise Collins (Mary Healy), além de adorável é também viúva e, embora bondosa, acaba endossando os métodos do terrível professor. A única esperança de Bart é fazer com que sua jovem mãe se interesse pelo encanador: o Sr. August Zabladowski (Peter Lind Hayes). Bart é também muito dorminhoco, e durante uma sessão de estudo no piano ele adormece e acorda então em um misterioso, fantástico e onírico mundo governado por ninguém menos que o Dr. Terwilliker!!
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Algumas das fantásticas cenas (avançadas para a época) misturando pessoas em cenários verdadeiros, porém totalmente em perspeciva. |
Bart encontra nesse estranho mundo sua mãe em transe hipnótico provocado pelo vilão Dr. Terwilliker. O Sr. Zabladowski também está lá, porém infelizmente não dá ouvidos às tentativas de Bart de convencê-lo da maldade no coração do professor. O grande objetivo do Dr. Terwilliker é trazer para sua escola 500 meninos que, com seus 5000 dedinhos, tocarão uma grande sinfonia composta pelo vilão!!
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Dr. Terwilliker imerso em seus maquiavélicos pensamentos sendo observado pelo garoto Bart Collins. |
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Dr. Terwilliiker mantendo a mãe de Bart em hipnose e aqui tentando ludibriar o Sr. Zabladowski |
Na verdade o Dr. Terwilliker é, em minha opinião, brilhantemente interpretado por Hans Conried. Ele é a caricatura do ditador que frequentemente vemos no mundo real. Alguém que, em sua ânsia de poder, torna-se patético, engraçado e ridículo! rs rs
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Uma das inúmeras cenas de fuga de Bart |
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Essa foi uma das imagens que ficou gravada em meu inconsciente aos dez anos de idade |
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Cenas como essa, uma mistura de realidade e cenários em perspectiva, são fascinantes |
Bart vive inúmeras reviravoltas no filme sendo, inclusive, trancafiado no calabouço onde estão todos os instrumentos (lá representados por pessoas) que existem. O filme, dirigido por Roy Rowland consegue ir além da obra de Seuss ao conseguir colocar prédios, estátuas, gárgulas e sacadas em perspectiva, trazendo ao espectador uma experiência fantástica de estruturas enormes e atterradoras para uma história infantil.
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Uma das cenas no calabouço do Dr. Terwilliker |
Abaixo vemos o incrível ascensorista que conduz os frequentes prisioneiros para as masmorras.
O filme traz também belas canções interpretadas por Bart, Sr. Zabladowski, Heloise Collins e pelo próprio Dr. Terwilliker.
O climax se aproxima na medida em que os vilanescos planos do Dr. Terwilliker parecem inevitáveis. Crianças e mais crianças chegam para a execução da terrível sinfonia.
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Meninos chegam ao Instituto Terwilliker. Todos os binquedos são confiscados pelos capangas do professor. |
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Aqui todos os meninos devidamente posicionados para implementar o plano do Dr. |
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Aqui vemos o Dr. Terwilliker em suas magnânimas vestes de gala |
O final apoteótico do filme é bem interessante e hilário, porém é impossível não associa-lo ao video-clipe da música "The Wall" do Pink Floyd.
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Algumas das incríveis cenas... |
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Labirintos que não levam a lugar algum... |
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Os gêmeos siameses patinadores... |
Os 5.000 Dedos do Dr. T. é sem dúvida nenhuma uma obra-prima esquecida. É importante que ao assisti-lo tenhamos o cuidado de situa-lo em uma época diferente da nossa, além disso precisamos soltar nossa imaginação para mundos fantásticos e diferentes do nosso. Um dos grandes representantes dos filmes fantásticos.
Hoje, depois de mais de 30 anos, tenho em minha casa a história que tanto me maravilhou, estranhou e aguçou minha imaginação quando eu tinha 10 anos.
"Ele é a caricatura do ditador que frequentemente vemos no mundo real."
ResponderExcluirAo menos esse só quer executar uma sinfonia com centenas de mãos. E os nossos governantes (que diga a Dil-má) querem mesmo é nos f&%$#!
Boa postagem. Achei o enredo interessante e dá para entender porque esse filme ficou em sua cabeça todos esses anos. Esteticamente - ainda mais para a época - é muito sedutor!
As fotografia em P&B tb estão bonitas. Se filme fosse em P&B, tb teria seu charme.
Eu não compraria, pois estou evitando comprar DVDs há um tempo. Mas é um filme que acho valer a pena assistir. Acho que vou dar uma procurada.
Abç!
E aí Kleiton... Tudo bem?
ExcluirA estética do filme é uma das coisas que ele tem de melhor. Daí eu percebo que para se construir um bom filme não é preciso ter milhões de dólares (claro que isso ajuda), antes de mais nada é preciso se ter uma grande imaginação, boas ideias e uma boa narrativa. Caso vc assista a esse filme e esqueça um pouco da tecnologia que dispomos hoje, você verá que ele não ficará devendo nada. A grande força mesmo está em nossa mente.
Também gosto muito de P&B. Sou fã da estética "Noir"!!
Em locadoras com um acervo de filmes que saiam um pouco do comercial e que possuam uma sessão de filmes antigos, possivelmente você encontrará para alugar.
Eu comprei porque, como disse acima, para mim tem um significado especial, e até por isso a matéria que fiz ficou com esse "viés" nostálgico e cheio de elogios para o filme
Caso você assista depois me fale.
Abcs!!
Marcelo.
"Caso vc assista a esse filme e esqueça um pouco da tecnologia que dispomos hoje"...
ExcluirNa verdade, adoro o resulto dos esforços desses cineastas. Sou um grande fã de fábulas de '70 e '80, justamente pelo esforço técnico.
Há pouco tempo vi Labirinto, por recomendação (salvo engano) do seu blog, e gostei bastante, em especial do visual. Era tudo o que eu esperava!
Abç
Sou como vc Kleiton... Esses efeitos e recursos áudio visuais antigos me fascinam também porque você reconhece neles a projeção do que havia na mente do diretor, e isso usando poucos recursos em relação ao que temos hoje.
ExcluirEu ainda quero fazer uma relação de filmes de "fantasia" dos anos 40, 50, 60, 70 e 80. Há coisas de muita qualidade. Você mesmo deve conhecer vários. Quando puder me passe umas dicas!
Labirinto é bem legal. É de uma safra interessante de filmes de fantasia dos anos 80, como por exemplo: A Historia Sem Fim e A Lenda, esse ultimo com Tom Cruise inclusive. David Bowie está muito bem em O Labirinto!
Gde. Abc.
Marcelo.
Nem sei por onde começar...
ExcluirAs sete caras do Dr. Lao,
As aventuras do barão de munchausen,
Jasão e o velo de ouro...
São muito...!!!
Curioso: peguei A Lenda para rever há umas semanas...
Abç!
Oi Kleiton...
ExcluirTodos esses que vc cita são ótimos. Lembrei também dos filmes do cineasta Ray Harryhausen, dentre os quais destaco a trilogia "Simbad". Nessa trilogia há monstros fantásticos para época. Senão me engano eram filmados por meio de uma técnica chamada "Stop Motion". Havia Ciclops, Medusas e um Homem das Carvernas que carregava uma clava e que ajudava o Simbad.
Não sei se é porque éramos crianças na época, mas lembro-me desses filmes como verdadeiros clássicos. Aliás, as Sete Caras do Dr. Lao é um filme extremamente interessante e porque não dizer filosófico!
Valeu Kleiton!
Marcelo.
Meu Deus!
ResponderExcluirNunca me falou sobre isso!!!
Como conseguiu grardar (um segredo)de timesmo?
Estou imaginando como ficastes ao encontrar esse filme.
Que legal! Há mesmo um tempo pra tudo.
Não esqueça de trazê-lo para assistirmos juntos.
Abraços! Uma semana abençoada e feliz pra ti.
Amei sua postagem lá no Semeando nos Campos da Infância.
Obrigada pelo carinho!
Oi! Tudo bem?
ExcluirPois é... Nem era um segredo por assim dizer! rs rs... Eu tinha um grande desejo de re-encontrar esse filme. Já tinha feito varias buscas no Google cruzando palavras que eu achava que poderiam ter a ver com as cenas, mas nunca saia nada. Realmente foi bem legal encontra-lo. Já o assisti 04 vezes nesses últimos dois anos! rs rs
É aquela coisa... Às vezes é algo que toca muito a gente e acaba sendo algo bem particular.
Quem sabe a gente assiste junto um dia. Legal que vc gostou da postagem no "Semeando nos Campos da Infancia". Achei legal também.
Abcs.
Marcelo.
Olá, Marcelo, tudo bem? Espero que sim!
ResponderExcluirPelo que você conta, parece que o menino tinha uma grande aversão ao cara a tal ponto que acabou colocando-o como uma grande vilão em seu mundo imaginário. Esse tipo de filme não é mais tão comum de se ver em emissoras como a Rede Globo, o que é uma pena.
Sobre a sua sensação, ao ver o filme de repente, é sempre engraçado a gente de repente ver algo tão mágico ali, de volta. É como se uma outra dimensão estivesse presente apenas porque deseja nos ver feliz. E você logo respondeu bem a esses estímulo, procurando saber mais a respeito e adquirindo a obra. Muitas pessoas não fazem isso - elas apenas deixam passar aquele instante mágico sentindo um certo arrepio surpreeendente e depois permitem que vá embora, como se nunca tivesse feito parte de sua existência. Que bom que com você foi diferente!
Agora você tem o fabuloso mundo do darotinho dorminhoco e o DR. T à sua espera, sempre que bater uma saudade. Quem sabe, você não é uma daquelas 500 crianças que ele esperava para compor sua majestosa canção?
Abraços, meu amigo! Linda postagem! Linda!
Tenha um bom final de semana!
Fabiano Calderia.
Pois é Fabiano... Mas o Dr. Terwilliker era mesmo um canastrão com complexo de grandeza. Realmente percebo hoje que as emissoras estão pouco se lixando para verdadeiras pérolas do cinema. Como comentei acima era comum quando eu era garoto nos depararmos com ótimos filmes na Sessão da Tarde, na Primeira Exibição (que depois virou Super-Cine), na Sessão de Gala (que passava depois da Primeira Exibição), na Sessão Coruja... Enfim, tempos muito bons aqueles.
ExcluirEntão Fabiano... Você descreve muito bem mesmo a sensação de se deparar com aquilo que te faz sonhar no passado. E o problema é esse mesmo. As pessoas crescem e renegam quase que completamente seu lado sonhador. Depois quando ficam velhas ficam todas choramingas. Eu quero estar sempre aberto para essa magia que vc descreve.
Pois é... Eu tinha assistido ao filme há um ano atrás. Daí fiquei com muita vontade de escrever sobre ele e não pensei duas vezes, peguei o DVD e assisti de novo! Agora... Sabe que assistindo eu pensei um pouco nisso que vc coloca, talvez nos sonhos eu viage de vez em quando ao mundo do Dr. Terwilliker...
Obrigado mesmo Fabiano... Fico feliz que tenha gostado!
Gde. Abc.
Marcelo.
escrevi "darotinho", mas é "Garotinho". desculpe...
ResponderExcluirEu sei como é Fabiano...
ExcluirA mão da gente às vezes não dá conta do fluxo de pensamentos. Comigo é a mesma coisa! rs rs
Abc.
Marcelo.
Agradeço 5000 vezes! Procuro esse filme há anos. Muito obrigada.
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