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domingo, 23 de setembro de 2018

Livro 2: Messias de Duna - de Frank Herbert

Ilustração de Marc Simonetti - Editora Aleph

Star Trek e Star Wars talvez sejam os dois exemplos de Space Opera mais famosos e que mais fizeram parte do imaginário coletivo. As duas franquias, merecidamente, foram a porta de entrada para muitos no Universo da Ficção Científica por trazerem em seu "DNA" os elementos marcantes do gênero e, sobretudo do subgênero Space Opera. Mas se Star Trek e Star Wars conquistaram até mesmo aqueles com possuem pouca aderência com o universo nerd, A Saga Duna ousou se aprofundar neste subgênero à níveis nunca vistos em minha opinião, transformando a história do Clã Atreides em um tratado de política, misticismo, religiosidade, sociologia e messianismo. O nível de profundidade literária atingido pelo autor Frank Herbert é tal que acabou por tornar a Saga menos palatável para muitos, sobretudo se você conhece apenas adaptações mais superficiais de grandes clássicos da ficção científica. Mas a profundidade da Saga rivaliza com sua qualidade. Escrita entre os anos de 1965 à 1985, a chamada Saga original (já que posteriormente novos livros foram escritos pelo filho de Herbert) possui 06 livros: Duna (1965); O Messias de Duna (1969); Os Filhos de Duna (1976); O Imperador-Deus de Duna (1981); Os Hereges de Duna (1984); As Herdeiras de Duna (1985). Comentei sobre o livro 1 (Duna) aqui no Blog em matéria há não muito tempo. Concluída a leitura do Livro 2, trago agora (sempre sem Spoilers) alguns comentários sobre Messias de Duna.

A Torre de Paul Atreides - Imperador do Universo (Ilustração Marc Simonetti)

Passados os acontecimentos de Duna (Livro 1), Paul Atreides consegue sua vingança sobre todos aqueles que planejaram a morte de seu pai,o Duque Leto Atreides. Muito além do maldito Clã Harkonen, Paul estende sua visão para todo o Universo conhecido tornando-se Imperador no lugar do até então Imperador Shaddam IV, da Casa Corrino. E não só isso, Paul assegura sua legitimidade ao trono casando-se com a filha de Shaddam IV, a Princesa Irulan. Um casamento apenas de fachada, já que seu grande amor é a nativa do Planeta Duna, Chani. É neste cenário que Messias de Duna se inicia 12 anos após o fim do 1º livro (Duna). Arrakis, ou simplesmente Planeta Duna, virou o centro do Universo, de onde Paul governa as 04 principais forças políticas de então: 1) As Grandes e Pequenas Casas (feudos familiares); 2) A Irmandade das Bene Gesserit (mulheres treinadas em rígidos preceitos psicanalíticos e mentais); 3) A Guilda Espacial (um fechado monopólio que domina as viagens pelo espaço e dá coesão ao Império); 4) A CHOAM (empresa que detém o comércio da principal e mais rica commoditie da Galáxia, o Mélange, ou a "Especiaria" que só existe em Duna). Em Messias de Duna, Frank Herbert trabalhará como eixo principal o fato de Paul ser aquele que carrega sobre os ombros o peso de ser O Messias (o Kiwatz Haderach) para Duna.

Paul recebe um dos Membros da Guilda Espacial -  Ilustração Marc Simonetti

Paul conseguiu sua aura de santidade messiânica a partir de dois grandes acontecimentos anteriores descritos no primeiro livro. O 1º destes eventos é a herança genética de Paul. Ele é o clímax de um intrincado plano de cruzamentos genéticos perpetrado por gerações pelas Reverendas Madres da Ordem Bene-Gesserit. Seu patrimônio genético permitiu que sua mente alcançasse determinados níveis que o colocam como alguém com estranhos poderes sensitivos e precognitivos latentes. O 2º evento foi a dieta rica em Mélange a que Paul foi exposto desde pequeno por sua mãe (uma Bene-Gesserit também). Esses dois eventos combinados deu à Paul o dom da Presciência (conhecimento do Futuro). Tal dom, no entanto é mais como uma maldição que uma benção. O futuro é algo mais mutável e sujeito à desvios do que pensamos. Ações cotidianas banais produzem desvios que, como ondas, podem tornar-se grandes e mudar todo o curso de uma história. Desde as primeiras vezes em que Paul teve sua mente expandida pela presciência, ficou claro que todos os caminhos futuros, independentes de quais atalhos tomassem, levariam à uma Guerra Santa (Jihad) em seu nome que se espalharia pelo Universo.

Templo de Alia (irmã de Paul) - Ilustração Marc Simonetti

Paul sofre com esse futuro que, de tão inevitável, torna-se o algoz de sua pacífica alma. Messias de Duna tratará dos intrincados acontecimentos e difíceis decisões que Paul terá que tomar para tentar evitar o inevitável. Suas tentativas de mover o curso de um rio (que é o futuro) para uma outra direção que não a da Jihad. O jovem Imperador é levado ao limite de sua sanidade por um dom que o assola constantemente e por uma corte dentro da qual ele só pode confiar em pouquíssimas pessoas: sua irmã Alia e seu amigo da época em que ele era fugitivo no deserto no 1º livro, o fremem Stilgar. Messias de Duna também expõe um ponto muito importante da natureza humana, a incapacidade do ser humano lidar com a autoridade, mesmo quando esta autoridade se esforça para ser justa. Sempre haverá conspirações, sempre haverá inveja e pensamentos mesquinhos. É por isso que a rede contra a vida de Paul vai se fechando até a última página do livro. O leitor perceberá que, assim como na vida, heróis vem e vão.

Paul disfarçado nas ruas de Arrakina (Capital de Arrakis - O Planeta Duna) - Ilustração Marc Simonetti

Ler a Saga Duna é mergulhar em um Mundo Ficcional crível, mas sobretudo profundo. Profundo ao tocar em temas estranhos e insondáveis pelo ser humano: o tempo, a finitude, os limites da mente humana, a profundidade de nossa almas... É justamente em função da presença destes temas que digo que Frank Herbert avançou em relação às clássicas aventuras Científico-Ficcionais. Star Trek e Star Wars sempre continuarão sendo para mim os melhores exemplos da beleza da Ficção Científica, mas Duna é o avanço em profundidade da especulação acerca dos dons e potenciais latentes de nossa espécie. Caso você queira pular em um mar profundo e infinito, ou caso queira se lançar na direção do espaço profundo e desconhecido da alma humana, então recomendo fortemente esta leitura.

Chani carregando o futuro do Clã Atreides em seu ventre - Ilustração Marc Simonetti

Bem amigos... Um forte abraço à todos!!

domingo, 16 de setembro de 2018

Sentinela - Uma Inesperada e grata SURPRESA! - Salvat Capa Vermelha Nº 74


Dentre as diversas diferenças entre a Marvel e a DC posso citar uma que me parece bem relevante: diferentemente da DC, a Marvel nunca teve uma "Bússola Moral" da envergadura do Superman. Isto não é ruim, é apenas um fato. Heróis como o Capitão América (por exemplo) fazem este papel de epicentro ético dos Heróis Marvel de forma mais tímida. Porém, devido a suas habilidades serem muito menores que as do Superman, podemos dizer que a figura de Steve Rogers não possui a mesma dimensão no imaginário coletivo dos heróis da Marvel que o Superman possui dentro da DC. Isto se dá, provavelmente, pela aura quase divina de seus poderes e origem. O fato da Marvel não possuir um herói construído ao longo de décadas com este perfil, fez (por exemplo) que a Marvel tivesse outras características, no entanto o fato é que não há um herói dentro da Casa das Ideias que possua a dimensão do Superman no que se refere à referencial absoluto de conduta. Mas o que aconteceria se a Marvel tivesse esse herói? Um herói que não é apenas O Mais Poderoso que todos, mas que é também o que Surgiu Primeiro! Pois bem amigos... Este herói existe, ou melhor, talvez tenha existido. Bem vindos a esta grata e ótima surpresa que é a Minissérie SENTINELA, publicada na íntegra no volume 74 da Coleção Capa Vermelha da Salvat.


A minissérie Sentry foi publicada entre 2000 e 2001 nos EUA e teve Paul Jenkins à frente do roteiro e uma arte excepcional de vários artistas. A minissérie propriamente dita possui 05 partes (capas na parte superior da figura acima) e é desenhada por Jae Lee. Os outros 05 materiais de apoio da minissérie principal (apresentados na parte inferior da figura acima, mas também presentes na edição da Salvat) teve seus desenhos divididos por um time de peso, dentre eles: Bill Sienkiewicz, Mark Texeira, Terry Austin e Rick Leonardi. Minha referência acerca do herói Sentinela sempre fora, até ler este encadernado, o Arco O CERCO. No qual um herói superpoderoso (o Sentinela) simplesmente enlouquece e torna-se em um dos eixos principais da história assassinando de maneira horrível o deus Ares. Na época, sinceramente não vi necessidade de procurar saber mais a respeito do desconhecido Sentinela. Eu o considerei, por assim dizer, um herói de ocasião, ou seja, não muito digno de nota. Tudo mudou para mim ao ler o encadernado acima.


Mas quem é o Sentinela e por que ele me cativou tanto? Paul Jenkins conseguiu construir ao redor do personagem uma mitologia crível e muito interessante semelhante à do Superman, além de conseguir causar sobre os demais heróis da Marvel um efeito e uma influência parecida com aquela que Kal-Ell exerce sobre os heróis da DC. Mas como Jenkins fez isso? Não contarei o artifício que ele usou para introduzir um personagem assim, porque parte desta resposta é o eixo central da história e seria um spoiler de minha parte. O fato é que foi uma experiência extremamente interessante ver a relação e influência de um herói desta envergadura sobre os demais heróis da Marvel. Heróis como Hulk, Homem-Aranha, Quarteto Fantástico, dentre outros relembram, durante o arco, sua relação e admiração pelo Sentinela. Jenkins teve um domínio e uma criatividade fantástica ao desenrolar uma ideia assim. Ver a admiração nos olhos de Reed Richards, Tony Stark, Peter Parker e dos X-Men diante do Sentinela, além da profundidade de sua amizade com o Hulk não teve preço para mim, sobretudo pela forma com que os diálogos foram escritos, ou seja, trabalhando os tradicionais personagens da Marvel com as reações exatas que tais heróis teriam ao se deparar com um Semideus de bondade e poder.

Arte de Jae Lee

O Sentinela surgiu a partir de uma brincadeira de Marketing que o Editor-Chefe da Marvel em 2000 (Joe Quesada) quis fazer. O editor teve a participação do próprio Stan Lee nesta brincadeira. Foi dito que o Sentinela era uma criação perdida de Stan Lee ainda no início da Era de Prata (meados de 1960). O fãs ficaram em polvorosa pela possibilidade de lerem a respeito de um herói criado na efervescência do que foi a Era de Prata dos quadrinhos. Para que a brincadeira não saísse do controle e os fãs não se sentissem enganados a minissérie tinha que ser realmente de excelente qualidade, e foi o que aconteceu. Os fãs se sentiram na verdade recompensados ao lerem um material que resgatava e valorizava o antigo sob a perspectiva do novo. Paul Jenkins elabora uma origem do Sentinela que o coloca como o primeiro herói do Universo Marvel, e que até mesmo por isso, se tornaria referência e modelo para todos os outros.  Mas algo deu terrivelmente errado. O que aconteceu para que este Mega-Herói fosse esquecido por todo o Universo 616?

Arte de Jae Lee

Se você for um leitor regular de quadrinhos, provavelmente você já tem a resposta para a pergunta acima. Se não tem, será um prazer ler esta minissérie. Mas mesmo que você já saiba o motivo do esquecimento do Sentinela na memória dos heróis Marvel, mesmo assim será um prazer ler o arco porque a grande surpresa não está no desfecho, mas no caminho, no desenrolar da história. Ou seja, o que causa surpresa são as reações críveis dos heróis e a inserção de uma Bússola Moral desta magnitude, que causa um distúrbio em um Universo Ficcional conhecido pela fraqueza e humanidade de seus heróis. Assim temos a subversão da identidade primordial da Marvel. O choque de cada herói Marvel (que sabem que são falhos em certas áreas) diante de alguém que é... tecnicamente PERFEITO mental e fisicamente. Um papel, aliás que o Superman desempenha muito bem na DC.

Acima arte fantástica de Mark Texeira

Gostaria de chamar atenção para alguns desenhistas da obra, em primeiro lugar o traço triste e melancólico de Jae Lee. Conheci o traço de Lee quando li aquela que é para mim uma das melhores histórias modernas do Quarteto Fantástico, o arco Quarteto Fantástico 1234. Foi uma das primeiras experiência que tive como leitor ao chegar quase a ouvir sons e a sentir cheiros diante de um traço. Esta característica melancólica, intimista e triste de Jae Lee aparece muito bem na minissérie principal de 05 números. Já nos números de apoio quem brilha para mim são dois: Bill Sienkiewicz e Mark Texeira. Sienkiewicz desenha o número do Hulk e impregna seu traço com a angústia bestial presente na psique do Monstro Esmeralda de forma que a fúria e a loucura é quase palpável. De outro lado, Mark Texeira desenhou o número Sentinela e X-Men, no qual destaca o relacionamento do X-Man Anjo com o Sentinela. A arte de Texeira assemelha-se à arte pintada em aquarela e é dimensionada dentro do desespero e angústia que permeia a obra.


Bem amigos... Espero que usufruam da obra. Para mim foi uma leitura muito prazerosa. Mexer com as raízes dos personagens é algo muito interessante, no entanto precisa ser bem feito, caso contrário no sentimos traídos e enganados. Definitivamente não é isso que vemos nesta obra.

Forte abraço.

Obs.: A arte escolhida para a capa do encadernado da Salvat é do John Romita Jr., porém ele não tem nada a ver com a minissérie do encadernado. Romita Jr. viria a desenhar uma minissérie do Sentinela em 2005, mas não é essa do encadernado da Salvat.

sábado, 8 de setembro de 2018

Etrigan de Jack Kirby


Uma das publicações mais esperadas por mim desde sempre foi Etrigan de Jack Kirby. Meu interesse se justifica em função de uma história sobre ele que li quando era adolescente. Nesta HQ, Glenda (interesse romântico de Jason Blood, alter-ego de Etrigan) surpreende-se com vários quadros expostos no apartamento de Jason. Os quadros mostram antepassados de Jason, no entanto ela praticamente pode jurar que todos seriam o mesmo homem (!!), sugerindo que Jason talvez carregue consigo muito mais do que aparenta. Achei esta ideia tão genial e assustadora que fiquei petrificado e conectado à figura de Jason Blood. Na mesma época estava em cartaz o filme "Highlander I - O Guerreiro Imortal". A história trazia conceito semelhante em relação ao personagem de Christopher Lambert. Só que tem um detalhe aí, Jack Kirby pensou nesta ideia em 1973 (!!), e o filme era de 1986, ou seja, é inquestionável a genialidade e pioneirismo das ideias de Kirby. A matéria de hoje vem para comemorar o lançamento do encadernado Lendas do Universo DC - Etrigan - Jack Kirby Vol. 01 pela Panini. Um resgate incrível de um personagem em seu nascedouro pelas mãos do Rei Kirby.

Cena que menciono acima e que me conectou para sempre à Jason Blood

Lendas do Universo DC - Etrigan - Jack Vol. 01 insere-se no selo "Lendas do Universo DC". Um selo que deu certo e já conta com inúmeros lançamentos no Brasil até o momento. Para vê-los clique aqui. A publicação traz neste primeiro volume as 08 primeiras edições de Etrigan - The Demon originais lançadas de set/1972 à abril/1973. Além disso, traz um excelente texto inicial no qual Marc Evanier conta detalhes inspiradores da criação de Etrigan por Kirby. Dentre eles o fato de que o terror não era um gênero no qual Kirby se sentia a vontade. Mas devido uma série de questões conjunturais da época, quadrinhos de terror vendiam bem, o que fez a DC (editora em que Kirby estava na época produzindo sua Epopeia Cósmica do Quarto Mundo) solicitar um título deste tipo ao autor. Kirby não apenas cria Etrigan, mas lhe confere uma mitologia sólida e cheia de mistérios. O leitor deste texto se assustará ao reconhecer ideias que foram posteriormente aproveitadas por outras pessoas. São inúmeras as ideias geniais de Kirby, uma delas é a criação dos Reencarnadores. A ideia por trás dos Reencarnadores é a mesma presente em filmes recentes como Assassins Creed. Ou seja, a possibilidade de genes ancestrais serem acessados em nossa memória celular e assim resgatarmos habilidades de nossos antepassados. Era Kirby estando à frente de seu tempo em 1972 (!!).

Outra criação incrível de Kirby - Klarion - O Menino Bruxo

Neil Gaiman na década de 80/90 redefiniu de forma irrevogável o mundo da magia nos quadrinhos ao construir histórias que traziam "histórias dentro de histórias". Um artifício no qual o leitor ficava com a estranha impressão de que nada que estava ali era por ocaso, tudo poderia ser uma pista de algo fatal, maligno ou até mesmo o contrário. Kirby criou personagens sólidos para época seguindo de forma pioneira esta fórmula, como por exemplo a introdução de Klarion - O Menino Bruxo, O Monge de Ferro, a Bruxa Meg - A Feia (muito semelhante à mitológica imagem de Baba-Yaga), o Fantasma (inspiração direta no Fantasma da Ópera) e a letal Morgana Le-Fey. Le-Fey é a nêmese de Etrigan, e nestas primeiras histórias temos a dimensão de seu papel na vida do personagem. A História de Etrigan está totalmente amalgamada à do Mago Merlin. Kirby dá a entender que Etrigan é o cão de guarda do Mago Supremo de Camelot. Tudo se inicia com a queda de Camelot  frente à investida das hostes de Morgana Le-Fey. Preferindo imortalizar Camelot no reino da imaginação, à vê-la cair diante de Le-Fey, Merlin convoca seu Demônio que rapidamente encerra o conflito passando então a habitar o corpo de um homem desde então, Jason Blood, enquanto Camelot se retira para o imaginário coletivo e Le-Fey se afasta derrotada.


A relação entre Merlin e Etrigan é muito obscura e intrigante. Não fica claro quais são as algemas que mantém o selvagem Etrigan tão fiel a Merlin. Obscura também é a relação entre Etrigan e seu hospedeiro, Jason Blood. Um homem enigmático que Kirby soube trabalhar com um personalidade profunda e cheia de mistérios. À princípio o leitor entende que Etrigan apenas troca de lugar com Jason, no entanto esta troca (ou possessão) não é explicada. Tudo isso deixa a história cheia de aspectos a serem desvendados. O que Kirby vai fazendo aos poucos, por exemplo quando Etrigan se admira com a coleção de itens mágicos de Jason e se intriga com a personalidade culta de seu alter-ego. O ódio de Etrigan por Le-Fey também não tem sua origem explicada. Sei que muitos autores abordaram essas lacunas ocultas deixadas por Kirby ao longo das últimas décadas nas histórias de Etrigan. Mas recomendo a você ler o material original de Kirby sem conceitos ou imagens pré-concebidas em função do que você já tenha lido. Isso fará você experimentar todo mistério deixado por Kirby ao longo das HQs.

O enigmático Jason Blood

Qualquer conhecedor de Jack Kirby sabe que eu não posso falar dele sem deixar de mencionar sua arte. Sim, pois Kirby escreveu e ilustrou Etrigan. Evanier em seu texto inicial no encadernado da Panini conta, aliás onde e como Kirby criou Etrigan. Foi durante um jantar em uma lanchonete em que Evanier acompanhava a família Kirby. Durante a degustação de um lanche, Jack ficou em silêncio, absorto, como que em um mundo paralelo ou então em contato com um local no além. Ao final do sanduíche Kirby já possuía todas as linhas gerais da mitologia de Etrigan pronta. A imaginação de Kirby é tal que algumas criações da mitologia de Jason Blood precisam ser nomeadas: 1) o apartamento de Jason que se assemelha muito ao Santo Sanctorum do Dr. Estranho da Marvel, porém a arte de Kirby confere características ímpares à habitação de Jason, com sua extensa coleção de artefatos mágicos e livros, além da percepção do apartamento possuir passagens secretas como se fosse infinito; 2) o amigo Rondu, um alto funcionário da ONU de origem indiana e com forte poderes mediúnicos; 3) o amigo Henry Mathews, o típico norte-americano boa vida que não possui absolutamente nenhuma relação com o mundo dos demônios. Isto confere à Mathews o que seria conhecido muitos anos depois como o "alívio" da história; 4) a sedutora, linda, ingênua e frágil Glenda. Alguém que se interessa pelo enigmático Jason e que possui todas os adjetivos acima juntos.

O enigmático apartamento de Jason Blood

Espero que a Panini lance toda a fase de Kirby à frente de Etrigan. Isso será um registro único do Rei em terras Brazucas. Para os curiosos inseri abaixo as capas das edições originais de Etrigan - The Demon.


Bem amigos... É isso aí. Forte abraço! Abaixo a edição da Panini.

domingo, 2 de setembro de 2018

Supercards - Revista Mundo dos Super-heróis


Por que costumo divulgar com tanta frequência iniciativas e novidades da Revista Mundo dos Super-heróis (MSH)? Bem... São dois os motivos: 1º porque é uma excelente publicação dirigida ao fã de quadrinhos. E só isso já responderei à pergunta. Mas há um 2º motivo, e ele tem a ver com meu histórico pessoal. Venho de uma Era (os anos 80) em que vivíamos garimpando fiapos de informações a respeito do Mundo dos Quadrinhos. Comprar os quadrinhos já era algo não muito fácil, sobretudo porque dependíamos do suado dinheiro de nossos pais, mas obter informações então era quase impossível. Nossa única fonte era as sessões de cartas dos gibis. Na época seria impossível pensar que uma Revista do porte da MSH existiria, e mais, que sobreviveria ao longo de 100 (!!) edições. Marca que alcançou em junho de 2018. Assim, torna-se para mim mandatório assina-la e divulgar sua excelente qualidade. A MSH, como que para sinalizar esta marca centenária, decidiu lançar a partir do Nº 101 uma coleção de Supercards contendo imagens emblemáticas do Mundo dos Quadrinhos, e isso inlcui imagens do cinema, TV e dos próprios quadrinhos. Assim nasceu a coleção MSH de Supercards.

Nº 01 - Homem de Ferro - 2008 / Nº 02 - Batman: O Cavaleiro das Trevas - 2008

E porque Cards? Bom... Para saber a resposta exata só perguntando para o Editor Manoel de Sousa. Mas eu posso imaginar o "porque". Não há nada mais emblemático na infância de qualquer "Nerd" verdadeiro do que uma coleção de "gibis" ou de "cards". Figurinhas é o tipo de artefato lendário na mente coletiva inconsciente da fandom. Ter uma coleção e "cards" de momentos emblemáticos então é algo que beira a necessidade! rs rs... Brincadeiras a parte, entendo que este tipo de coleção fala diretamente ao recôndito de nosso coração "Nerd", ou seja, nos remete à uma infância longínqua e cheia de significados. Como será esta coleção?

Nº 03 - Episódio 2 da 2ª Temporada de Supergirl - 2016 / Nº 04 - Logan - 2017

A partir do Nº 101 da revista o leitor terá 08 cards por edição. Cada card possui metade do tamanho de uma página da revista. O papel do card possui gramatura bem maior que a das páginas regulares e em seu verso traz as seguintes informações: 1) - Direção no caso de filme/série e Roteiro/Desenho/Arte-final no caso de um card de gibi; 2) - Sinopse; 3) - Bastidores; 4) - Referências (algo como "curiosidades"). Os cards vem grampeados como se fossem páginas da própria revista. Por isso, recomendo fortemente que você adquira em uma papelaria aquele "removedor de clipe" para retirar os cards de maneira cirúrgica. Caso não queira retira-los, a própria revista serve como um bom local para guarda-los.

Nº 05 - Demolidor - 1ª Temporada - 2015 / Nº 06 - As Aventuras do Capitão Marvel - 1941

Provavelmente os leitores debaterão que gostariam de ver este ou aquele card representativo de uma série, filme ou quadrinho de sua preferência. Eu por exemplo, sou apaixonado pela Era dos Pulps e pela Era de Ouro dos Quadrinhos, portanto fiquei extremamente feliz de ver este card do Capitão Marvel acima. É claro que para alguns este seria um card que deveria ter sido substituído por outro que, em sua opinião, representaria mais seu gosto. Por isso entendo a diversidade que os editores buscaram ao escolherem épocas e personagens tão distintos, ou seja, permitir que cada leitor se veja representado. Confesso que são escolhas difíceis para qualquer editor, mas se a coleção for longa o suficiente, conseguirá representar Eras, Estilos, Gêneros e gostos diferentes.

Nº 07 - Superman II - A Aventura Continua - 1981 / Nº 08 - Homem-Aranha Nunca Mais - 1967

Nesta 1ª leva de cards acredito que temos períodos e obras representativas para qualquer "Nerd". O Nº 01 (Homem de Ferro de 2008) marcou o início da Era das produções cinematográficas Marvel. Não dá para não referendar este filme. Se Homem de Ferro de 2008 abriu as portas para as grandes produções cinematográficas de super-heróis, o Nº 02 Batman - O Cavaleiro das Trevas de 2008, com seu Coringa de Heath Ledger, mostrou que tais filmes poderiam carregar discursos políticos e sociais em sintonia com nosso tempo. O Nº 06 (As Aventuras do Capitão Marvel) é um registro histórico que nos informa o fato de que, antes de nós, existiam gigantes da cultura "Nerd" que batalharam e construíram o que chegou até nós. Se Batman - O Cavaleiro das Trevas inaugurou o filme de Super-heróis para maiores de idade no cinema, foi a 1ª Temporada do Demolidor que fez o mesmo na TV com a série do NetFlix. Por fim, não podemos deixar de lembrar que se filmes e séries de Super-heróis existem é porque existiram obras primas nas HQs primeiro, portanto mais que honrosa a menção à HQ do Homem-Aranha - Nunca Mais. Já Superman II de 1980 dispensa comentários. Se você não sabe a importância de Superman I (1978) e de Superman II (1980) acho melhor você ler urgente a MSH!!

Bom amigos... Espero inserir aqui, daqui para frente, os próximos cards da coleção. Pelo menos para servir de controle para todos nós. É isso aí. Que mais uma Era de 100 edições seja inaugurada para a MSH. Forte abraço!
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