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Ilustração de Marc Simonetti - Editora Aleph |
Star Trek e
Star Wars talvez sejam os dois exemplos de
Space Opera mais famosos e que mais fizeram parte do imaginário coletivo. As duas franquias, merecidamente, foram a porta de entrada para muitos no Universo da Ficção Científica por trazerem em seu "DNA" os elementos marcantes do gênero e, sobretudo do subgênero
Space Opera. Mas se
Star Trek e
Star Wars conquistaram até mesmo aqueles com possuem pouca aderência com o universo nerd,
A Saga Duna ousou se aprofundar neste subgênero à níveis nunca vistos em minha opinião, transformando a história do Clã Atreides em um tratado de política, misticismo, religiosidade, sociologia e messianismo. O nível de profundidade literária atingido pelo autor
Frank Herbert é tal que acabou por tornar a Saga menos palatável para muitos, sobretudo se você conhece apenas adaptações mais superficiais de grandes clássicos da ficção científica. Mas a profundidade da Saga rivaliza com sua qualidade. Escrita entre os anos de 1965 à 1985, a chamada Saga original (já que posteriormente novos livros foram escritos pelo filho de Herbert) possui 06 livros:
Duna (1965); O Messias de Duna (1969); Os Filhos de Duna (1976); O Imperador-Deus de Duna (1981); Os Hereges de Duna (1984); As Herdeiras de Duna (1985). Comentei sobre o livro 1 (Duna)
aqui no Blog em matéria há não muito tempo. Concluída a leitura do Livro 2, trago agora (sempre sem
Spoilers) alguns comentários sobre Messias de Duna.
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A Torre de Paul Atreides - Imperador do Universo (Ilustração Marc Simonetti) |
Passados os acontecimentos de Duna (Livro 1), Paul Atreides consegue sua vingança sobre todos aqueles que planejaram a morte de seu pai,o Duque Leto Atreides. Muito além do maldito Clã Harkonen, Paul estende sua visão para todo o Universo conhecido tornando-se Imperador no lugar do até então Imperador Shaddam IV, da Casa Corrino. E não só isso, Paul assegura sua legitimidade ao trono casando-se com a filha de Shaddam IV, a Princesa Irulan. Um casamento apenas de fachada, já que seu grande amor é a nativa do Planeta Duna, Chani. É neste cenário que Messias de Duna se inicia 12 anos após o fim do 1º livro (Duna). Arrakis, ou simplesmente Planeta Duna, virou o centro do Universo, de onde Paul governa as 04 principais forças políticas de então: 1) As Grandes e Pequenas Casas (feudos familiares); 2) A Irmandade das Bene Gesserit (mulheres treinadas em rígidos preceitos psicanalíticos e mentais); 3) A Guilda Espacial (um fechado monopólio que domina as viagens pelo espaço e dá coesão ao Império); 4) A CHOAM (empresa que detém o comércio da principal e mais rica commoditie da Galáxia, o Mélange, ou a "Especiaria" que só existe em Duna). Em Messias de Duna, Frank Herbert trabalhará como eixo principal o fato de Paul ser aquele que carrega sobre os ombros o peso de ser O Messias (o Kiwatz Haderach) para Duna.
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Paul recebe um dos Membros da Guilda Espacial - Ilustração Marc Simonetti |
Paul conseguiu sua aura de santidade messiânica a partir de dois grandes acontecimentos anteriores descritos no primeiro livro. O 1º destes eventos é a herança genética de Paul. Ele é o clímax de um intrincado plano de cruzamentos genéticos perpetrado por gerações pelas Reverendas Madres da Ordem Bene-Gesserit. Seu patrimônio genético permitiu que sua mente alcançasse determinados níveis que o colocam como alguém com estranhos poderes sensitivos e precognitivos latentes. O 2º evento foi a dieta rica em Mélange a que Paul foi exposto desde pequeno por sua mãe (uma Bene-Gesserit também). Esses dois eventos combinados deu à Paul o dom da Presciência (conhecimento do Futuro). Tal dom, no entanto é mais como uma maldição que uma benção. O futuro é algo mais mutável e sujeito à desvios do que pensamos. Ações cotidianas banais produzem desvios que, como ondas, podem tornar-se grandes e mudar todo o curso de uma história. Desde as primeiras vezes em que Paul teve sua mente expandida pela presciência, ficou claro que todos os caminhos futuros, independentes de quais atalhos tomassem, levariam à uma Guerra Santa (Jihad) em seu nome que se espalharia pelo Universo.
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Templo de Alia (irmã de Paul) - Ilustração Marc Simonetti |
Paul sofre com esse futuro que, de tão inevitável, torna-se o algoz de sua pacífica alma. Messias de Duna tratará dos intrincados acontecimentos e difíceis decisões que Paul terá que tomar para tentar evitar o inevitável. Suas tentativas de mover o curso de um rio (que é o futuro) para uma outra direção que não a da Jihad. O jovem Imperador é levado ao limite de sua sanidade por um dom que o assola constantemente e por uma corte dentro da qual ele só pode confiar em pouquíssimas pessoas: sua irmã Alia e seu amigo da época em que ele era fugitivo no deserto no 1º livro, o fremem Stilgar. Messias de Duna também expõe um ponto muito importante da natureza humana, a incapacidade do ser humano lidar com a autoridade, mesmo quando esta autoridade se esforça para ser justa. Sempre haverá conspirações, sempre haverá inveja e pensamentos mesquinhos. É por isso que a rede contra a vida de Paul vai se fechando até a última página do livro. O leitor perceberá que, assim como na vida, heróis vem e vão.
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Paul disfarçado nas ruas de Arrakina (Capital de Arrakis - O Planeta Duna) - Ilustração Marc Simonetti |
Ler a Saga Duna é mergulhar em um Mundo Ficcional crível, mas sobretudo profundo. Profundo ao tocar em temas estranhos e insondáveis pelo ser humano: o tempo, a finitude, os limites da mente humana, a profundidade de nossa almas... É justamente em função da presença destes temas que digo que Frank Herbert avançou em relação às clássicas aventuras Científico-Ficcionais. Star Trek e Star Wars sempre continuarão sendo para mim os melhores exemplos da beleza da Ficção Científica, mas Duna é o avanço em profundidade da especulação acerca dos dons e potenciais latentes de nossa espécie. Caso você queira pular em um mar profundo e infinito, ou caso queira se lançar na direção do espaço profundo e desconhecido da alma humana, então recomendo fortemente esta leitura.
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Chani carregando o futuro do Clã Atreides em seu ventre - Ilustração Marc Simonetti |
Bem amigos... Um forte abraço à todos!!
Excelente texto! O Diretor David Lynch lançou uma adaptação do primeiro livro para cinema em 1984, muito rica, com um visual incrível, atores fantásticos e uma trilha sonora envolvente. O filme em si é muito bom, mas fica ainda mais precioso quando se lê o livro. Algumas passagens ficam até mais encantadoras. E encantadora é uma palavra que podemos aplicar à segunda versão do mesmo livro produzida numa mini-série da HBO. Também com elenco fantástico e com um aspecto visual acima do nível das séries da época. Uma segunda mini-série chamada Filhos de DUna adapta os dois livros seguintes da saga e tem no elenco JAmes McAvoy ,o Professor Xavier do reboot de X-men, como Leto Atreides II. Uma curiosidade é que Sir Patrick Stewart (Cap Jean Luc Picard, que também interpretou o Prof Xavier dos X-Men) também trabalhou em DUNA — no filme de DAvid Lynch Patrick Stewart interpreta Gurney Hallek, um dos maiores guerreiros da casa Atreides, conselheiro militar (e amigo pesoal) do Duque Leto e professor de armas de Paul Atreides. Enquanto não chega a nova versão vale a pena ver (ou rever) estes clássicos.
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