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segunda-feira, 26 de julho de 2010

Impasse Existencial

Desde há muito tenho um conflito que talvez esteja presente no coração de muitos também. Creio existir dentro de nós uma busca incessante por redenção e por expiação. Descobrir a forma e a maneira com que Deus nos ama, por meio da pessoa de Jesus, nos faz entender que não precisamos desenvolver atividades (ajudar os outros, nos engajar em campanhas voluntárias de auxílio àqueles mais desfavorecidos emocional e financeiramente) para sermos amados e redimidos. Na verdade gastei muito tempo de minha vida para entender que se fazemos tais coisas, não é para alcançarmos redenção ou perdão, mas sim porque já fomos redimidos e perdoados. Essa inversão de conceitos “ajudar os outros para ser perdoado” para “ajudar os outros porque fomos perdoados” é preciosa e foi uma dessas “invertidas” que tomei na vida, que me ajudou a entender, pelo menos um pouquinho, o que é “graça”, ou seja, favor imerecido da parte do Criador. No entanto, acho que assim como muitos, não consigo me livrar tão facilmente da sensação de estar devendo algo a Deus e aos outros. Essa sensação poderia ser vista por muitos como saudável e benigna, na medida em que nos move na direção do altruísmo e solidariedade. Porém, às vezes se torna sufocante e nos impede de viver plenamente, pois nos sentimos sempre “devedores”. Já experimentei a agradável sensação de ajudar os outros por amor, no entanto, isso não diminuiu essa sensação, ou seja, não foi suficiente, preciso fazer mais, mais, mais... Como se buscasse novamente a redenção pela minha alma e expiação para minhas faltas. Na verdade é como se houvesse um alto (muito alto mesmo) senso de justiça interno que não se satisfizesse com meros atos de amor e auxílio solidário, seja no ambiente eclesiástico seja fora dele. A partir desse impasse tentei ver minha profissão como forma de satisfazer esse meu senso interno de redenção. “Vou trabalhar, vou me esforçar ao máximo em meu ambiente de trabalho para assim trazer o reino de Deus para as pessoas”. Porém isso não adiantou muito porque percebi que envolvia dinheiro, ou seja, eu ganho para fazer aquilo, eu já ganho para dar o meu melhor. Pensamos (eu pelo menos pensava) que na medida em que o dinheiro entra na história parece-nos que, novamente, não pode ser satisfeita aquela vontade de gastar nossa vida com algo verdadeiro, algo que não seja simplesmente inútil (trabalhar-comer-dormir-divertir, trabalhar-comer-dormir-divertir...). Dessa forma permaneço em um xeque-mate espiritual e existencial. Um xeque-mate que dificulta até mesmo minha relação com Deus.
Recentemente, no entanto surgiu algo novo!! Disseram-me “Trabalhar, (qualquer tipo de trabalho, mesmo aquele visto como menos nobre) é ajudar Deus a trazer ordem ao caos!!”. Vivemos em um mundo de caos, primeiramente um caos interno, de emoções e feridas, às vezes caos familiar, profissional... Porém um dia Deus deu uma ordem para que tudo fosse benignamente ordenado. Essa ordem, subvertida pelo homem, deixou inacessível pra gente o mitológico JARDIM. Essa frase “Trabalhar é ajudar Deus a trazer ordem ao caos!!” começa a germinar em mim (lentamente é claro, como as duradouras mudanças exigem) uma nova forma de ver meu papel no mundo. De repente começa tomar forma a ideia de que tudo talvez seja sagrado, de que até mesmo o menor ato é sagrado. Pensei na criança que corre em direção ao pai com um desenho que acabou de fazer, um desenho cheio de imperfeições e rasuras, ou seja, um desenho feio mesmo para nossos padrões estéticos. Mas foi o melhor que aquela criança fez... Posso ver o orgulhoso olhar do pai e da mãe diante daquele desenho (vejo isso sempre nas minhas irmãs que já possuem filhos). Para elas é lindo! Talvez nossos atos imperfeitos, feitos em qualquer lugar, em qualquer ambiente (de trabalho ou não) sejam vistos dessa forma por Deus, em sua misericórdia. Talvez não consigamos mesmo satisfazer esse senso de justiça e de culpa que carregamos. Talvez não devêssemos querê-lo... Talvez devêssemos simplesmente tentar fazer o melhor, ainda que no final das contas não seja tão bom quanto pensamos ou quisemos que fosse. Talvez devêssemos nos concentrar em tentar transformar o caos a nossa volta novamente num jardim. Não ficará igual ao primeiro lá no Éden, mas talvez Deus saiba disso... (aí acho que é questão de acreditar Nele). No fim acho que Ele quer ser apenas um Pai mesmo... Esse pai que exemplifiquei acima.
 Para ser duradouro, aquilo que cai dentro da gente precisa de tempo. Precisa ser gestado, às vezes meses e meses, talvez anos, para dar algum fruto. Como a semente que cai na terra precisa do escuro e da umidade. Acho que tudo isso que entendi vai demorar um tempo para me libertar da necessidade contínua de redenção por meio de meus atos, mas quero muito que essa semente germine. Quero muito rega-la e deixa-la ali bem nutrida para que possa dar fruto, e que um dia, me traga a liberdade de simplesmente viver.

3 comentários:

  1. Meu Querido!
    Mude esse cenário de sua vida.
    Deus não quer que vivamos no caos, no conflito não nos criou para isso. Ele nos quer como os pássaros , as flores do campo... livres e sem pré-ocupações pois é o Cuidador de nossas vidas com o nosso auxilio.
    O que nos pede é que O siga olhando sempre para frente (sonhando!) pois o sonho engravida o desejo p/realizar nossa missão e vivermos felizes; com nosso tempo,nossa rotina,nossa convivência, nosso trabalho, nosso lazer... sempre dando o nosso melhor e recebendo o justo pelo nosso trabalho, sabendo usa-lo bem. Pois tudo isso é vida!!! ...e nos leva a uma linda rotina, uma Dádiva de DEUS para vivermos felizes.
    Deixe a vida mais leve com a Paz,a Liberdade e o Amor de Cristo. Abraços.

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  2. Ma, já cansei de dizer que vc é uma pessoa muito querida e especial! Ouvi-lo, ler o que vc escreve sempre nos faz refletir e pensar no sentido das coisas e em nossas vidas. Para tudo há um propósito divino e, no tempo certo, tempo de Deus acredito que as coisas vão sendo descortinadas e fazendo sentido. Acredito que esteja na hora de você realmente plantar, plantar para frutificar, cuidar, cultivar e ver crescer algo seu, algo da Licia, um presente, uma dádiva de Deus. Quando somos abençõados com essa graça, com anjos que Deus nos permite cuidar nossas vidas criam outro sentido, entendemos os propósitos de Deus para ela. Quem sabe Deus não esteja já preparando esse presente para vcs hem??!! Quem sabe??!! Ai vc vai entender muitas coisas e achar respostas para muitas dúvidas. Amo vc!! Mi Pense nisso!!!

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