Translate

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Pílula Gráfica #11: Ken Parker #1 - (2021)

2021 tem sido um ano de anúncios extraordinários para o leitor de quadrinhos brasileiro. Além da volta de Storm ao Brasil pela Editora Tundra, do recente anúncio do retorno de Corto Maltese de Hugo Pratt pela Editora Trem Fantasma e das diversas obras publicadas de mestres como Alberto Breccia (Ninguém, Viajante de Cinza, Um Tal Daneri, Perramus...) e Sérgio Toppi (O Colecionador, Fábulas do Velho Mundo, Tanka), tivemos também a volta de Ken Parker pela Editoria Mythos. Infelizmente para mim, conheci tardiamente a riqueza do Universo Bonelliano, mas mesmo apesar do meu desconhecimento, Ken Parker sempre esteve em meu radar em função das excelentes análises que sempre li sobre o personagem. Com tantos elogios uma obra sempre corre o risco de estar superestimada. Mas definitivamente não é o caso de Ken Parker. Criado em 1977 pelo roteirista e desenhista Giancarlo Berardi e Ivo Milazzo, respectivamente, a obra que narra a história de Keneth Parker atinge graus de realismo, dramaticidade e poder narrativo impressionantes. O leitor se deparará com uma realidade na qual Berardi não faz concessões ao expressar a dureza da violência e a complexidade das relações humanas norteadas por questões políticas, étnicas e territoriais no ainda fragmentado Estados Unidos do pós Guerra da Secessão (1861-1865). Conflito no qual o Norte (progressista) confronta os Estados Confederados do Sul (ainda resistentes ao progresso e, sobretudo, libertação dos escravos). Ken se difere dos diversos outros personagens dos Westerns ao ser confrontado com questões que o colocam constantemente em cheque, e dentro das quais ele tenta tomar a melhor decisão possível (muitas vezes equivocadas), mas sempre com a humildade de revê-las. O assassinato do seu irmão mais novo nas primeiras páginas da 1ª História da série passa a influenciar profundamente a decisão de Parker a ficar ao lado de pessoas mais fracas. Mas nada é tão simples, pois a ambiguidade das ações do homem branco é sempre um desafio para qualquer homem de bem. As cenas e os desfechos são poderosos e causam forte comoção no leitor. Não pude deixar de ficar sem saber para quem "torcer" nas duas primeiras histórias deste número 01 da Editora Mythos (que se propõe a publica-las em ordem cronológica). Isso porque as ações de índios e homens-brancos são difusas se analisarmos o complexo pano de fundo. Se adotarmos uma base moral simplista, será muito difícil entender na sua totalidade a profundidade de Ken Parker. A ambientação é excelente ao apresentar locais conhecidos dos amantes dos filmes de faroeste. Também não pude deixar de ver o personagem Ken Parker como uma mistura de Daniel Boone (1734-1820 - explorador estadunidense), Henry Thoreau (1817-1862 - naturalista, filósofo e autor da maravilhosa obra WALDEN) e John Muir (1838-1914 - explorador e escritor escocês-americano). Outro ponto que diferencia muito a obra é o fato de que Ken Parker experimentará a passagem do tempo ao longo das edições, mudando seu físico e posições acerca das coisas que o cercam. Berardi/Milazzo inovam ao decidir pela finitude ficcional do personagem. Isso aproxima o personagem do leitor, no entanto, acaba por impor um fim à trama no futuro. Mas assim é a vida real também. Se você quer conhecer uma série de extrema qualidade, adulta e totalmente fora do lugar comum, você precisa conhecer Ken Parker.




5 comentários:

  1. Bacana teu texto sobre a série. Guardo há 05 anos scans da coleção antiga publicada no Brasil, se não me engano, 58 números pela editora Vecchi. Dois amigos de bom gosto me recomendaram fortemente a leitura da mesma, li apenas a primeira história, gostei bastante mas tenho postergado no meio de infinitas leituras na pilha virtual.. Não sabia que rolava um envelhecimento natural do personagem ao longo da série, isso me causou mais interesse ainda, remetendo o motivo que mais me atraiu na leitura de Conan nos bons tempos da revista grande e p&b!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Você assistiu o Filme Mais forte que a vingança. Que inspirou a criação do personagem?

      Excluir
    2. Prezados Luís e Veloso... Tudo bem amigos? Em primeiro lugar muito obrigado pela presença aqui no Blog!

      Então Luís... Essa publicação do Ken Parker era esperada já muito tempo mesmo. Pelo que pude levantar a publicação aqui no Brasil não chegou ao final da saga que agora, espero eu, chegue. Tive uma experiência igual à sua. Muitas pessoas que considero muito recomendavam esse material, por isso sempre entendi que, quando ele fosse publicado eu compraria com certeza. E a obra faz jus à fama.

      Sobre o comentário do Veloso, eu fiquei sabendo há não muito tempo que Ken Parker foi diretamente inspirado no personagem de Robert Redford no filme "Mais Forte que Vingança". Ao que parece Ken Parker está todo ali. Está na minha lista de filmes para assistir, Veloso! Com certeza!

      Valeu amigos! Desculpe a demora em responder! Vida longa à publicação de Ken Parker no Brasil!

      Abcs.

      Marcelo

      Excluir
  2. Você assistiu o Filme Mais forte que a vingança. Que inspirou a criação do personagem?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Veloso!!

      Respondi seu comentário acima. Mas vou responder aqui também! Pois é.... eu fiquei sabendo há não muito tempo que Ken Parker foi diretamente inspirado no personagem de Robert Redford no filme "Mais Forte que a Vingança". Ao que parece Ken Parker está todo ali. Está na minha lista de filmes para assistir! Com certeza! Você assistiu?

      Forte abraço!

      Marcelo

      Excluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
Posts Relacionados