Translate

quarta-feira, 8 de abril de 2020

Brad Barron - Mais um Excelente Lançamento Bonelliano no Brasil


Mesmo que você não tenha crescido entre os anos 70 e 80 como eu, e não tenha ficado exposto à intensa criatividade artística dos anos 50 em suas mais variadas formas, ainda sim você deve reconhecer a explosão de histórias desta época do pós-Guerra, na qual seriados, quadrinhos, filmes e livros encontraram meio fértil para tornarem-se clássicos. Séries como Twlight Zone,  do lendário Rod Serling, são provas incontestes de um movimento que reverberou ao longo das décadas seguintes e ainda continua a reverberar. Construir, portanto, uma narrativa tendo por base os medos, sonhos e delírios desta época é um deleite para qualquer leitor. Brad Barron é exatamente isto. Um quadrinho que, por meio de financiamento coletivo na Plataforma Catarse, aportou em Terras Brazucas por iniciativa da Editora Graphite tendo o Editor Wagner Macedo à frente. Fui apoiador do projeto e quando o recebi fiquei surpreso com o carinho e dedicação que os colegas da Editora o trataram. Além da história, este primeiro volume traz várias Chaves-de-Ouro que emolduram de forma perfeita a obra. As duas principais seriam o texto de abertura e fechamento da Obra. O 1º de autoria do Doutor em Literatura Inglesa com ênfase no Romance Gótico, o amigo Fernando Brito, curador da Versátil Home Vídeo, e o último pelo Filósofo e Doutor em Ciências Sociais Edgar Smaniotto.


Fernando Brito abre a obra com um texto que descortina algumas referências incríveis que estão presentes dentro de Brad Barron, deixando tantas outras a serem descobertas. O fato é que, quando se percebe o Universo ficcional dentro do qual a obra está inserida, e em que nichos culturais e arquétipos ela se ancora, tudo ganha nova e maior dimensão. E são esses caminhos que o Fernando auxilia o leitor a descobrir. Mesmo que você não seja familiarizado com clássicos dos anos 50 e 60, sua curiosidade será estimulada a descobrir as obras citadas no texto. Tomo até a liberdade de citar algumas das referências que o texto do Fernando levanta e que são bem aparentes para o fã veterano, mas que vale a pena citar para conhecimento do leitor um pouco mais desatento: O Planeta dos Macacos (tanto do livro de Pierre Boulle quanto o filme de 1968 estrelado por Charlton Heston); o filme Spartacus de Stanley Kubrick e o livro Eu Sou a Lenda de Richard Matheson). O texto de Fernando Brito é seguido por uma lista imperdível de indicações de filmes e livros que expressam muito bem a temática.


O texto final de Smaniotto situa a ficção (mais especificamente a "científica") a partir do seu nascedouro, ainda no século XIX. A partir dali ele nos conduz à uma viagem passando por obras seminais como as de Júlio Verne e H.G. Wells. Sendo este último apresentado em uma das suas obras mais importantes para a ficção científica (FC), A Guerra dos Mundos (outra grande influência em Brad Barron). Smaniotto consegue dimensionar o Espírito do Tempo que reinava nas primeiras décadas do Século XX e viria influenciar filmes, livros e toda uma gama de seres que iriam, a partir dali, habitar nosso imaginário em relação à alienígenas, de E.T. O Extraterrestre aos Xenoformos da Série Alien de Ridley Scott. Smaniotto introduz o leitor à paranoia que existia nos anos 50 acerca de Invasões do Espaço e cita um dos acontecimentos mais marcantes que contribuiu sobremaneira para a consolidação desta histeria latente: a transmissão radiofônica feita por Orson Welles de A Guerra dos Mundos em 1938. Uma transmissão que levou boa parte de uma nação ao desespero por não conseguir discernir se o que ouviam era ou não verdade.


Mas e a obra em si? O que podemos dizer dela? Brad Barron contempla diversos gêneros do cinema: FC, faroeste, drama, terror, horror, romance, roddtrip... Dessa amálgama emerge uma obra que traz em seu eixo central uma invasão alienígena à Terra em plenos anos 50. Brad Barron é um professor de Biologia e ex-veterano da 2ª Guerra Mundial que participou do desembarque dos Aliados na Normandia (evento decisivo para virar a maré da Guerra em favor das nações livres representadas pelos Aliados). Brad é uma mistura de personagens, durão, às vezes violento, sensível, marido, pai e com uma boa dose de traumas vividos em suas experiências na Guerra. De qualquer forma Brad surge como um terráqueo que chama a atenção dos invasores ao conseguir contaminar com sua coragem outros à sua volta. Os alienígenas possuem forma insetóide e trouxeram consigo uma fauna e flora para modificar a superfície de nosso Planeta de forma a atender seus objetivos futuros de colonização. Isso implica que monstruosidades inimagináveis pululam e espreitam à cada esquina. Brad Barron é uma obra que procura resgatar a essência dos quadrinhos, sem deixar de dialogar com o público mais jovem e com temas mais profundos, tais como "solidão", "justiça", "amizade", "humanismo" entre outros.


Este 1º volume de Brad Barron traz os 3 primeiros capítulos da Saga: Não Humano, Fuga de Manhattan e Terra Perdida. A Editora Graphite pretende lançar todos os 18 capítulos em 6 volumes. Dentro em breve acredito que começará a campanha para o 2º no Catarse. Além dos dois textos que abre e fecha esta edição de Brad Barron, não posso deixar de mencionar as pequenas introduções que antecedem cada um dos 3 capítulos do encadernado. São preâmbulos originais de quando a série foi lançada em 2005 lá fora. São textos pequenos mas incrivelmente bem escritos que situam o capítulo que se inicia, dimensionando-o dentro de um contexto maior. Algo que faz toda diferença na leitura.


Só posso parabenizar os idealizadores do Projeto na pessoa do Wagner Macedo e desejar vida longa à Brad Barron e à Editora Graphite, que já sinaliza para a Campanha no Catarse de outro expoente Bonelliano, Nathan Never. Abcs!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
Posts Relacionados