No prefácio de sua obra-prima A Mão Esquerda da escuridão, nossa querida Ursula K. Le Guin escreveu o seguinte: "A ficção científica deve servir como metáfora para nossa realidade". Concordo totalmente com ela. No entanto, muitas obras deste gênero são construídas apenas como cenário para ação sem sentido, ou mesmo para batalhas apocalípticas que servirão apenas como base para Blockbusters cinematográficos. A ficção científica (Sci-fi) sólida e que se tornará perene é aquela que, além de cumprir a premissa de Ursula, possui sua âncora na ciência, e cria corpo ao redor de premissas científicas conhecidas. Pelo menos esta é minha opinião. Em função disto, fiquei muito apegado aos autores clássicos de Sci-fi que usavam este expediente. Arthur C. Clarke, Isaac Asimov, Ursula K. Le Guin, Philip K. Dick passaram a ser minhas escolhas de leitura porque obedeciam à estas duas diretrizes que informei acima. Infelizmente, muitos autores mais novos se afastaram destas regras de ouro e começaram a produzir obras que apenas atendiam à apelos mercadológicos passageiros. Por isso, foi com muita relutância que decidi ler a Guerra do Velho. No entanto, John Scalzi me mostrou que existe sim autores bons e que respeitam a herança dos grande escritores de Sci-fi do passado!!
A proposta de Scalzi é ousada ao tentar unir temas aparentemente distantes, no entanto igualmente importantes: militarismo, amor, política e envelhecimento. Para minha grande surpresa isso é feito de maneira brilhante ao longo do livro. Qualquer pessoa que já tenha pensado minimamente na finitude da vida se identificará logo no início com a chocante frase: "No meu aniversário de 75 anos fiz duas coisas: visitei o túmulo da minha esposa e entrei para o exército". Toda incongruência desta frase nos atinge de forma desconcertante e curiosamente instigante logo nas primeiras páginas. O livro acompanha a trajetória (narrada em 1ª pessoa) de John Perry, viúvo de 75 anos que vê na sua entrada para o exército uma forma de fazer algo que faça diferença em seus últimos anos de vida. A história se passa na Terra, mas em um tempo em que as viagens espaciais já foram conquistadas pelo homem e, para manter a Terra em paz e livre da conquista de povos alienígenas, a humanidade trava uma feroz batalha no espaço. Quem luta esta Guerra são, no entanto pessoas com mais de 75 anos de idade. Claro que isto parece impossível, não é mesmo!?!?
Pois é... Esta é uma das grandes sacadas do livro que, obviamente, não vou revelar aqui. No entanto, Scalzi conseguiu escrever uma obra que faz exatamente o que Ursula K. Le Guin escreveu, ou seja, usa toda a estrutura da Sci-fi para discorrer sobre temas profundos e importantes para cada ser humano individualmente. Percebe-se uma sensibilidade especial para estes temas na narrativa de Scalzi, e isso re-significa toda a história. Como se não bastasse tudo isso, o autor consegue imprimir um humor muito inteligente, o que deixa a leitura leve e muito prazerosa.
Foi com muita felicidade que li esta obra, pois percebi que ainda existem autores que conseguem aproveitar a oportunidade que o gênero Sci-fi oferece de se discutir importantes questões existenciais. E que é possível discuti-las mesmo dentro de um cenário de aventura e ação. Scalzi não trata o leitor como um ignorante científico, pelo contrário, ele consegue inserir conceitos de física quântica, astrofísica, genética e evolução de maneira elegante e à serviço de sua história. Ao lermos as teorias envolvidas nos processos científicos do livro a credibilidade entra na narrativa e emoldura todos os acontecimentos da obra.
Para mim, no entanto o que mais gostei foram os debates acerca do envelhecimento. Esse debate somente é possível porque tudo é narrado sob a perspectiva de Soldados que são idosos. Enxergar a vida sob esta perspectiva é, no mínimo, uma grande lição para todos nós. Este talvez seja o grande trunfo de Scalzi!! Recomendo muito!!
Eu que não entendia nada coisas interestelares, fiquei maravilhada com seu post.
ResponderExcluirBom eu ganhei esse livro Guerra do Velho (Old Man’s War) do meu sogrinho, ele é dividido em três, estou adorando.
Olá Maria Fernanda!
ExcluirQue legal que está lendo? Está com a versão em inglês dele? Seri que é uma série, mas no Brasil a Editora Aleph lançou apenas a 1ª história ou livro.
Gde. Abc.
Marcelo.
Não sei se já há no Brasil Marcelo, ele voltou dos EUA com esse belo presente. Estou na primeira parte ainda tudo muito no começo, mas estou gostando bastante como a história é contada.O John Perry seduz com sentimento.
ResponderExcluirOi Maria Fernanda
ExcluirNo Brasil existe apenas (por enquanto) este livro mesmo. Estamos ansiosos que a Editora Aleph lance os demais livros da série.
Quando terminar me avise se gostou!
Gde. Abc.
Marcelo
Essa obra é um sucesso enorme lá fora Marcelo.
ResponderExcluirAliás os trabalhos dele sempre contém uma mistura, de questões sociais, Censura, arte um pouco de humor e por aí vai rsrs
Então quanto mais você ler mais fica envolvida.
Essa é minha primeira impressão.
Sabe quando você está lendo e precisa fazer algo, e vai com o livro na mão? Não se consegue desgrudar fácil dele rsrs
Acho que já leste também Lock In.
Com certeza!
Mas pode deixar que deixar que te aviso.
Abraço!
Pois é Maria Fernanda...
ExcluirTenho ouvido falar mesmo que as obras do John Scalzi tem feito muito sucesso mesmo. Achei muito envolvente sim, tal qual vc também achou.
Este Lock In eu não li. É do John Scalzi também??
Gde. Abc.
Marcelo