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terça-feira, 24 de julho de 2018

O Planeta dos Macacos Original de Pierre Boulle


Conhecida ao redor do mundo em função da popularidade das versões cinematográficas dos anos 60, 2000 e, mais recentemente 2010, a franquia O Planeta dos Macacos possui na verdade raízes mais profundas e interessantes. Muitos talvez não saibam que a obra original foi um livro escrito pelo francês Pierre Boulle (1912 - 1994). Aliás, quando a versão cinematográfica definitiva e canônica de 1968 com Charlton Heston estreou, o livro já era considerado um clássico da literatura de ficção científica. Originalmente lançado em 1963, La Planète des Singes (título original do livro) guarda importantes diferenças com o filme de 1968 (que é o que vale em minha opinião). Apesar das diferenças, ambos, livro e filme, são obras-primas e trazem conceitos e inquietudes semelhantes. Em 2015, a Editora Aleph nos presentou com uma nova edição brasileira da obra original. A edição traz diferenciais que valem a pena serem citados.

Edição da Editora Aleph - 2015

A começar pelo acabamento, a edição traz um corte diferente, com as bordas à direita arredondadas. Parece algo simples, mas que dá uma interessante sensação durante a experiência de leitura. Além disso, há outros 3 diferenciais literários importantes: 1) Uma entrevista com o autor publicada em uma edição especial da Revista Cinefantastique em 1972; 2) Um ensaio jornalístico (interessantíssimo) sobre o passado de Boulle como espião do Exército Francês na 2ª Guerra Mundial publicado pela BBC em agosto de 2014; 3) Um texto escrito pelo autor, compositor, estudioso de cinema e pesquisador de literatura fantástica Braulio Tavares sobre a história da ficção científica francesa e do romance de Boulle em si. A presença desta material extra emoldura muito bem a experiência de ler a obra. Sugiro ler estes extras após a conclusão do livro.

Pierre Boulle

Há muito eu queria ler a obra original O Planeta dos Macacos e, ao completa-la posso mencionar interessantes diferenças (que não são spoilers) com sua contraparte cinematográfica. Dentre elas há uma considerável mudança de tom. No filme de 1968 a tragédia apocalíptica é completa, ainda que o espectador não entenda ainda muito bem onde o Piloto sobrevivente, o Coronel George Taylor (Charlton Heston) está. O livro alivia este tom, deixando o leitor menos angustiado. Mas isso é um truque do autor, já que o final, apesar de diferente, é tão assustador quanto o final do filme. O Planeta no qual os macacos se desenvolveram ganha um nome no livro, Soror, e além disso a sociedade símia é mais avançada do que aparece no filme. Apesar deste avanço a barbárie imposta à espécie humana é tão violenta quanto no filme. Preciso ressaltar que a experiência de ler o livro fornece ao leitor uma chance muito maior de pensar de forma mais profunda na história. Há metáforas profundas escondidas no fato de encontrarmos uma raça tão evoluída quanto nós, porém com a qual temos uma relação de domínio em nosso planeta, no caso os Macacos. Estas metáforas sociais, antropológicas e até psíquicas acumulam-se ao longo do livro.

Tripulação da Nave Estelar que ruma ao seu trágico destino - Charlton Heston em 1º Plano como Taylor

O protagonista do livro é um pouco diferente também em relação ao filme. Boulle colocou como personagem principal um jornalista chamado Ulysse Mérou, diferentemente da origem militar de Taylor no filme. Os escritores do roteiro do filme, Michael Wilson (Lawrence da Arábia, A Ponte do Rio Kwai) e Rod Serling (do seriado de TV Além da Imaginação) provavelmente decidiram (acertadamente) conferir uma identidade militar ao protagonista para refletir as angústias da época na qual o filme foi lançado (1968), a saber, a sombra do Holocausto Nuclear que pairava de forma mais enfática sobre a humanidade com a Guerra Fria. Caso você não conheça a versão de 1968, devo dizer que você tem uma mancha imensa em seu currículo Nerd. A versão, como já disse, é uma obra-prima, sobretudo se analisada no contexto da época. As novas adaptações tentaram com certo sucesso canalizar nossos medos atuais (terrorismo, epidemias...), mas ainda não conseguiram destilar o "medo" puro e primal da versão original de ´68. Um dos motivos deste medo e angústia tão sólidos do filme ocorre em função da total falta de escape do protagonista frente à realidade horrenda que se lhe apresenta. Uma realidade que pode ficar pior, como a última, e antológica, cena final mostra.

O tratamento animal dispensado ao humanos - Charlton Heston com uma mordaça

Não posso deixar de comentar acerca da escolha de Charlton Heston para o papel principal. À época Heston já acumulava uma sólida carreira no cinema com papéis como Moisés nos Dez Mandamentos de Cecil B. DeMille de 1956 e como Judá Ben-Hur no clássico Ben-Hur de William Wyler (1959), ou seja, papéis de cunho moral absoluto. Seu personagem no filme O Planeta dos Macacos é muito diferente dos anteriores acima. Taylor é extremamente interessante de ser analisado porque tem traços claros de uma moralidade dúbia, certo desprezo pelas pessoas e certa falta de caráter. Isso coloca o espectador em xeque, porque ao mesmo que nos sentimos humilhados como espécie ao vermos o tratamento animal que lhe é dispensado, também temos dificuldade de nos identificarmos com ele. Este impasse moral faz com que nos coloquemos em suspenso e com dificuldades de escolhermos um lado.


Voltando ao livro saliento uma perturbadora ideia que Boulle inseriu (não sei se de forma consciente ou inconsciente) em sua obra. O fato de sermos "mordomos" de nosso Planeta. E que podemos ser obliterados pela evolução caso não a exerçamos adequadamente. Desta forma a natureza e suas ferramentas dariam um jeito de nos substituir facilmente por alguma outra espécie que julgue melhor ou mais digna de tal função. Outro ponto forte do livro é a ideia da supremacia símia. O leitor verá ao ler o livro a inexorável direção da evolução em favor desta nova espécie dominante... Mais que isso eu estaria dando spoilers. Você terá que ler.


Ia concluir esta matéria inserindo a foto da última cena do filme. Mas decidi não fazê-lo, e sugiro que se você decidir assisti-lo também não procure saber qual é, pois a angústia da cena só é totalmente sentida se você a vir no contexto da obra, ou seja, tendo passado por todas as etapas do filme. Acredite. Concluo escolhendo outra imagem do filme: a constatação logo nas primeiras cenas de que a única mulher que viajava com os militares astronautas morre ao longo da hibernação. Deixando todas as esperanças de nossa espécie para trás. É a morte da vida representada pela obliteração da MULHER.

segunda-feira, 23 de julho de 2018

Homem de Ferro - A Guerra das Armaduras


Recentemente, visitando algumas HQs já esquecidas em minha pilha de leitura, resolvi ler Homem de Ferro - A Guerra das Armaduras. Algo que venho percebendo já há algum tempo, é que visitar materiais dos anos 70 e 80 é quase uma garantia de satisfação. O leitor perceberá um roteiro muito menos complexo e, talvez por isso mesmo, com soluções mais criativas e interessantes. Sem dizer que o DNA do personagem está totalmente ali representado. Foi exatamente isso que encontrei neste encadernado da Panini lançado em 2010 (possivelmente ainda passível de ser encontrado com certa facilidade em Comic Shops). Escrito pelo pouco comentado David Michelinie, a história é um excelente representante de quem é o Homem de Ferro e traz características clássicas do personagem: sua vida de empresário ocupado, sua relação com os funcionários, seu gênio mecatrônico, sua relação com o chão da oficina e, acima de tudo, sua capacidade de superação e redenção pessoal.


A HQ foi escrita e publicada originalmente entre 1987 e 1988, entre os números 225 e 232 da Revista Iron Man, época em que Tony Stark vestia um interessante modelo de armadura, seu modelo Nº 08. O traje trazia consigo um aspecto centurião à indumentária. Eu não era muito fã deste modelo, mas ao vê-lo em ação tornei-me fã. Outro aspecto que a HQ revela, e que por si só já é uma atração à parte, é a caracterização dos personagens ao estilo anos 80 já em transição para os anos 90. O eixo narrativo principal da Saga foi concebido pelo então Editor-Chefe da Marvel à época, o controverso Jim Shooter, conforme o próprio Michelinie revela no interessante prefácio do encadernado. Apesar disso, o desenvolvimento do roteiro é muito bem orquestrado pelo roteirista. A Saga gira em torno de um fato principal: o roubo, pelo Espião-Mestre, de tecnologia secreta das empresas Stark. À mando de Justin Hammer (rival empresarial de Stark), o Espião-Mestre consegue a tecnologia que permite a criação de diversos outros trajes que é então repassado à vários criminosos, dentre eles: Besouro, Metalóide, Onda de Choque, Doutor Destino, Controlador, Dínamo Escarlate, Homem de Titânio, Professor Poder, Aeropiratas e Mauler.


Tony Stark percebe então o quanto sua tecnologia levou dor e tragédia à uma grande quantidade de pessoas sob às mãos dos vilões acima. Isso o leva à uma cruzada incansável com objetivo de reaver as armaduras que, possivelmente se utilizam de sua tecnologia. No caminho, o Homem de Ferro desce à mais obscura jornada na qual torna-se um proscrito da justiça, uma vez que passa a atacar até agentes do governo que (talvez se utilizem de sua tecnologia), se envolvendo, inclusive, em incidentes internacionais com sua caçada ao Homem de Titânio e ao Dínamo Escarlate. Estes dois últimos, aliás são responsáveis por um dos melhores momentos do arco, já que é impossível não se lembrar de clássicas HQs sessentistas nas quais o Homem de Titânio era protagonista. Destaque especial também é a relação de Stark com os Vingadores da Costa Oeste (grupo ao qual era filiado à época), já que ele excede vários parâmetros legais e os Vingadores precisam lidar com o comportamento de seu afiliado. O grupo trazia em sua formação Gavião Arqueiro, Harpia, Magnum e Cavaleiro da Lua.


E se você achava que conflitos entre Tony Stark e Steve Rogers tiveram início com a Guerra Civil I de 2006, está muito enganado. Outro ponto alto é justamente o confronto entre o Homem de Ferro e o Capitão (nome que o Capitão América usava à época, uma vez que o Governo Americano havia confiscado seu título e uniforme. Detalhe: ele usava um escudo totalmente branco (foto acima) construído pelo próprio Stark). A cena acima e abaixo ilustram bem o confronto.



Toda Saga, à exceção do último capítulo em Iron Man #232, é desenhada pelo artista Mark D. Bright e arte-finalizada por Bob Layton. Gostei demais da arte de D. Bright. Não dá para não notar elementos da escola John Byrne! Vocês podem ter um aperitivo nos quadros acima. Não conhecia nada do artista, portanto foi uma bela surpresa para mim. Confiram mais uma amostra abaixo.


Terminei a história sentindo um cheiro de óleo queimado e o calor de ferro retorcido recém destruído... Elementos que em minha opinião faltam um pouco ao Homem de Ferro de hoje que se pauta muito em nanotecnologia, o que o aproximou mais de um ciborg do que de um Homem que veste Ferro. O final de A Guerra das Armaduras marca o fim do uso da armadura modelo 08. Sendo apresentado um novo modelo ao final. Para os virtuoses de plantão, acho que não será difícil reconhecer o modelo (abaixo). Eu particularmente não saberia dizer seu modelo ou série. Modelo 09 talvez?! Bem... se você sabe por gentileza favor esclarecer nos comentários abaixo. Segue a imagem:


Bom amigos... É isso aí! Fica a dica para esta grande história que apresenta o Homem de Ferro como deve ser. Um grande abraço à todos!
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