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segunda-feira, 15 de novembro de 2010

O Teatro de Sombras de Ofélia


Aproveitando a alusão à Michael Ende gostaria de falar de outro de seus livros. Esse direcionado para crianças: O Teatro de Sombras de Ofélia escrito em 1988. Ilustrado por Friedrich Hechelmann essa fábula vale a pena ser contada.



"Ofélia nasceu e cresceu querendo se tornar uma grande atriz de teatro. Seus pais queriam muito isso, por isso colocaram-lhe o nome de uma grande personagem de teatro. Ofélia possuia, no entanto, uma voz muito fraquinha e por isso não conseguia dizer as falas na intensidade adequada. Ofélia envelheceu e o único emprego que conseguiu foi o de auxiliar. Ela ficava em um biraquinho perto do palco soprando com sua vozinha baixa as falas que os atores esqueciam. Ofélia era feliz com seu singelo e discreto emprego. 


Um dia, por falta de público, o teatro em que Ofélia trabalhava foi fechado. Em seu último dia de trabalho ela ficou até mais tarde se despedindo do lugar quando de repente percebeu uma sombra na parede e perguntou: "O que é você?". A sombra respondeu: "Sou uma sombra, fico sempre aqui. Posso ficar grande e também bem pequenininha. Porém sou sozinha nesse mundo". A partir daí Ofélia começou a guardar essa sombra em sua bolsa. Várias outras sombras que eram sozinhas no mundo vieram e começaram à morar com Ofélia.


À noite as sombras se acumulavam em seu quarto, até que um dia o dono do lugar em que Ofélia morava resolveu aumentar o aluguel e a pobre velhinha teve que ir embora, pois não tinha dinheiro para pagá-lo. Ofélia saiu pelo mundo afora apenas com suas amigas sombras em sua bolsa e uma pequena mala na qual guardava seus pertences. As sombras ficaram muito tristes por Ofélia e quiseram ajudar. Elas pediram-lhe que estendesse em uma árvore um lençol branco e pularam para o lençol. Ali elas começaram a ensenar as peças de teatro que Ofélia as havia ensinado.


Muitas crianças começaram à vir, pois queriam ver o belo Teatro de Sombras de Ofélia. 


Todos que vinham sempre achavam que atrás do lençol haviam pessoas representando a peça e nem imaginavam que eram as sombras que antes perambulavam por aí sozinhas e tristes. Todos gostavam muito e Ofélia se sentia muito feliz por continuar ajudando as sombras e também por trazer alegria para muitas crianças e adultos. Um dia, no entanto, Ofélia estava caminhando com sua malinha e com sua pequena bolsa cheia de sombras e aconteceu algo diferente. Uma grande sombra a parou no caminho.


Ofélia logo perguntou à sombra: "Você também é mais uma daquelas que ninguém quer?". E a sombra respondeu: "Sim... Creio que posso dizer isso". "Você quer que eu seja sua dona também?", perguntou Ofélia. "Você gostaria de ficar comigo?", perguntou a sombra. "Claro", disse Ofélia. "Você não gostaria de saber meu nome?" a grande sombra perguntou. "Como você se chama?", indagou Ofélia. "Me chamam de Morte". Houve um grande silêncio e a sombra perguntou "Ainda assim quer ficar comigo?" e Ofélia respondeu "Sim, pode vir". Nisso a grande sombra a envolveu.


Subitamente Ofélia se achou com olhos novos, olhos que eram jovens, claros e não mais velhos e míopes. Ela se sentia jovem novamente. Parecia-lhe que tinha um novo corpo. Ofélia olhou em volta e viu um grande e imenso portão: O Portão do Céu. O enorme portão se abriu e Ofélia entrou em um suntuoso palácio, que na verdade era um gigantesco teatro. Haviam muitas figuras felizes e alegres ao seu redor.


Caminhando pelo lugar Ofélia se deparou com uma placa que informava, em grandes letras douradas: TEATRO DE LUZ DE OFÉLIA. Assim Ofélia e aquelas figuras representavam grandes e eternas peças de teatro segundo as grandes palavras dos poetas, que os anjos conseguem entender. Dizem, também, que de vez em quando o bom Deus vem assistir ao espetáculo. Mas isso a gente não pode afirmar com certeza".

O Espelho no Espelho - Um Labirinto

Um dos livros mais estranhos que já li chegou às minhas mãos quando tinha uns 13 anos. O Espelho no Espelho - Um Labirinto (Der Spiegel im Spiegel - ein Labyrinth - em seu título original em alemão) foi escrito por Michael Ende, escritor alemão da nova geração. Filho de Edgar Ende (um dos mais importantes pintores surrealistas alemães), Michael nasceu na Bavária em 1929 e herdou do pai seu gosto pelas artes. O trabalho mais conhecido de M. Ende foi "A História Sem Fim" livro sobre um mundo mágico para o qual um garoto é transportado. A História Sem Fim virou filme na década de 80, trazendo luz à sua obra. Dono de uma narrativa cheia de simbologia, Michael Ende escreveu sobretudo para o público infantil: "Jim Knopf e Lucas o Maquinista", "Manu, a menina que sabia ouvir", "Dagoberto Dobradura", "Momo e o Senhor do Tempo", "O Teatro de Sombras de Ofélia" (esse último com um significado especial para mim).

Edição em Português
O Espelho no Espelho é na verdade um livro cheio dos mais estranhos e surreais contos que já passaram por meus olhos. Por meio de diversos mundos Ende trabalha um verdadeiro universo de alegorias. O primeiro conto do livro é talvez um dos meus preferidos. "A História de Hor": Hor é um rapaz que vive no interior de um castelo ou mansão (não se sabe ao certo). Ele tampouco entende o que faz ali uma vez que já nem se lembra à quanto tempo está vagando por seus intermináveis quartos e salas. O motivo real de sua estada ali já se perdeu em sua memória. As janelas e portas dos cômodos sempre desembocam em outros cômodos. O estranho é que toda vez que ele deixa um local, os móveis, a decoração, um sofá, uma esrivaninha se rearranjam um pouco, mudando assim sua aparência (como se o lugar tivesse vida própria). Dessa forma os locais sempre parecem diferentes. Hor se alimenta das paredes do lugar, de maneira que ele só percebe que passou por um cômodo algum dia no passado porque nota um pedaço de parede carcomido, ou um montinho de excrementos já seco no cantinho do lugar. Só assim ele fica sabendo que um dia já passou por ali. Hor já se perguntou várias vezes quem ele é... Às vezes ele imagina estar sonhando, e logo acordará e entenderá tudo... Às vezes ele simplesmente imagina que a verdade é que ele está sendo sonhado por alguém que vive além daquele lugar. Sua vida é um eterno vagar por salas, salões e quartos...

Edição Alemã
Em outro conto M. Ende descreve dois homens caminhando em um deserto. Um altivo, impecável, trajando um terno sempre limpo, seu rosto sem qualquer expressão. Tal homem nunca se cansava ou transpirava, apesar de caminhar em um sol escaldante. Atrás desse homem caminha outro, menor, cansado, suado, escaldado pelo sol, lábios rachados, trajando uma roupa de noivo já carcomida pelo tampo. Sapatos furados, camisa para fora da calça. À cada três passos esse pequeno homem precisa puxar as calças para cima, pois já estão grandes demais para seu pequeno e mirrado corpo. Os dois caminham na direção de uma porta que se encontra no horizonte árido, mas que nunca chega. O pequeno e envelhecido noivo sempre pergunta quanto tempo falta e o impassível e impecável homem lhe diz que falta pouco. Após anos caminhando o primeiro homem tem até de carregar o velho noivo, pois ele já não podia caminhar. Certo dia ambos chegam à porta. Sozinha e sem nada ao redor a porta se abre e uma linda e esvoaçante noiva sai dali. O envelhecido noiva havia sido colocado à beira da porta pelo impecável primeiro homem. A noiva em seu afã de sair correndo nem percebeu aquele homem nanico e velho olhando para ela à beira da porta. A única coisa que ela fez foi perguntar ao impávido primeiro homem: "Onde... Onde por favor está meu querido noivo?". Ao que o homem sem expressão lhe respondeu: "Fique tranquila, ele está esperando você atrás daquela porta no horizonte oposto". Assim os dois seguiram seu caminho. O homem impecável caminhando sempre ao seu próprio ritmo e a alegre noiva saltitando à sua frente. Diante da cena o envelhecido noivo consegue se lembrar de algo semelhante que lhe aconteceu, quando ele mesmo saiu correndo há muito tempo para encontrar sua noiva, porém ele parece se lembrar de uma pequena velhinha à beira da porta quando ele mesmo mal podia esperar para encontrar sua querida noiva...

Somam-se à esses, outros diversos contos... Onde o tempo, o espaço e tudo o que ele contém gira ao nosso redor como um labirinto. De todos os livros de M. Ende "O Espelho no Espelho" talvez seja o mais inquietante. Sua obra, voltada sobretudo para crianças, são cheias de lugares mágicos, símbolos e significados. É assim que escrevia e é assim que Ende provavelmente queria ser lembrado. (Michael Ende - 1929 - 1995).

sábado, 6 de novembro de 2010

Cantigas

Escola Rural Mista Municipal Osvaldo Cruz
Minha infância foi feita de jograis, poesia, comemorações e cantigas. A responsável por isso foi minha querida mãe e professora que me alfabetizou e me deu aulas da 1a a 4a série do primário. Na isolada, antiga, mágica e cheia de histórias escola rural.

Dificil dizer se alguém ainda lembra das cantigas que cantávamos. Várias ainda estão comigo. Duas delas por vezes me vem ao coração, vindas do fundo de minhas memórias. Sempre tento cantá-las inteiras, mas não consigo, pois algumas partes se perderam em minha mente. De todas as pessoas, a única que talvez se lembre delas seja minha mãe!

O MAR

 
"Eu gosto do mar e das praias tranquilas... 
Eu gosto dos barcos que saem à pescar...
Na praia levanto uma tenda e o mar feito renda me vem abraçar... 
É lindo sentar para ver e correr para ver cada onda quebrar..."


AS FLORES


"Era uma vez um vento suave e constante, trazendo lembranças distantes de lindas manhãs...
Passou pelas flores em mil carícias dizendo, que vinha cantigas trazendo das flores irmãs...

As flores se uniram então, e todas se deram as mãos, e o vento suave passando viu todas as flores se amando, num leve sussuro falou: 
´As flores são como as crinaças guardando esperanças no seu coração... As flores são como as crianças guardando esperanças no seu coração....`

Todos os dias quando era bem de tardinha, e as flores estavam sozinhas, à espera do vento voltar.
E com saudades daquele vento calmo e constante que trazia lembranças distantes das flores irmãs...

As flores se uniram então, e todas se deram as mãos, e o vento suave passando viu todas as flores se amando, num leve sussuro falou:
´As flores são como as crinaças guardando esperanças no seu coração... As flores são como as crianças guardando esperanças no seu coração....`"
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