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sexta-feira, 18 de março de 2022

The Batman (2022)


Depois de uma longa espera, muitas críticas voltadas ao ator que protagonizaria o Homem-Morcego nas telas e tantos outros contratempos relacionados à pandemia pelo novo coronavírus, finalmente The Batman viu a luz do dia. Ir ao cinema assistir um filme do Batman é sempre um misto de ansiedade, excitação e cautela. Para mim, já vou dizer logo, a experiência superou positivamente em muito minhas expectativas iniciais. Em geral, uma obra conversa muito conosco quando ela consegue dialogar com o mundo ao nosso redor, com o "Espírito do Tempo" (Zeitgeist). Foi assim com Coringa de 2019 com Joaquin Phoenix, e agora novamente com essa nova versão do Cavaleiro das Trevas e Matt Reeves. Vejamos um pouco porque The Batman conseguiu ir fundo na difícil tarefa de espelhar nossos medos e inconsistências.



Minha primeira análise vai para a personalidade, ainda que em construção, do personagem principal (Batman/Bruce Wayne). Um homem que entende sua missão mais como uma trajetória de vingança do que como uma busca legítima por justiça e defesa do mais fraco. E nesse processo, o único ponto de mutação capaz de retira-lo da espiral de violência e auto-mutilação emocional foi se ver confrontado com alguém muito parecido com ele, no caso, O Charada, interpretado de forma muito crível e excelente pelo ator Paul Dano. É nessa confrontação que Bruce consegue se ver como que através de um espelho, passando a estabelecer um diálogo interior consigo mesmo, uma clara referência à HQ Batman - Ego. O ator Robert Pattinson entendeu muito bem o personagem, embora tenha se distanciado do Bruce Wayne tradicional (playboy). Mas há uma explicação para isso em minha opinião. Para o Bruce Wayne de Pattinson, enquanto ele não se encontrasse consigo mesmo (algo que ocorre ao longo filme), jamais ele conseguiria interpretar um papel como o de um playboy perante a sociedade.



É nessa perspectiva de viagem interior e enfrentamento de si mesmo que Bruce Wayne se vê orbitado  por pessoas que são reflexos de sua própria orfandade, caso de Selina Kyle (Zoë Kravitz, a Mulher-Gato) e o Charada. Toda essa consistência dramática individual em cada personagem faz com que a violência seja muito bem contextualizada como reflexo dos ambientes interiores de cada personagem. Enquanto as motivações do Charada se relacionam em 100% com sua história pessoal, sem nenhuma motivação financeira aparente, outros vilões aparecem representando a corrupção e ganância que permeiam a cidade de Gotham City, caso do Pinguim (interpretado de forma irreconhecível pelo ator Colin Farrell) e Carmine Falcone (John Turturro). Mas para além das interpretações e narrativas pessoais, há outros 2 grandes elementos que fizeram, em minha opinião, o filme ascender à um status cult. A ambientação de Gotham City e a trilha sonora.



Gotham aparece de forma extremamente bem representada ao manter um clima cinzento, chuvoso e sujo quase que em sua totalidade. Foi impossível não associa-la em alguns momentos à metrópole do filme Blade Runner (1982) de Ridley Scott. Sem deixar de ser tecnológica e condizente com nosso tempo, as características da Gotham de The Batman, permitiram que ela se aproximasse de forma muito crível com o clima Noir tão característico dos filmes detetivescos dos anos 30 e 40. Esse clima é acompanhado de forma muito intensa por uma associação muito peculiar, a música clássica representada por Ave Maria e a música "quase" fúnebre do NiorvanaSomething In The Way. A amarração destes conceitos musicais foi feita com maestria por Michael Giacchino, veterano de outras trabalhos famosos. Eu diria que o núcleo musical principal do filme, formado pelos acordes iniciais de Something In The Way batem fundo e amplificam a dor sentida por Bruce Wayne.



Por fim, algo que me trouxe uma genuína e profunda inquietação ao analisar o filme, foi a excelente exposição que ele faz do "caldo" social que vem sendo cozinhado por décadas. Um caldo de exclusão, exaustão social e pessoal. Quando temos esse "caldo" cozinhado por tempo suficiente é fácil algumas pessoas se identificarem com a barbárie, com a ruptura social plena e total. No filme essa ruptura é vista a partir das inúmeras pessoas que se identificam com a missão de dor e vingança implementada pelo Charada. Nessa missão as pessoa identificam a possibilidade de se revoltarem contra tudo e contra todos frente a dor a que sempre foram submetidas. Para mim esse é o aspecto mais "ASSUSTADOR" do filme, ou seja, revelar um possível caminho de barbárie e auto aniquilação caso não optemos pelo coletivo, caso não entendamos que meu espaço de existência deve considerar constantemente a existência do outro.



Um filme que constrói um Batman contemporâneo e sintonizado com nosso tempo.

Um comentário:

  1. Olá, Marcelo.

    Os dois cinemas de minha cidade fecharam devido às ações dos pandeminions e nunca mais abriram. Os prejuízos foram insuperáveis, para cinemas de cidade pequena. Então estou aguardando para ver na estreia da HBO, este mês.

    Belo post.

    Abraços

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