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domingo, 16 de agosto de 2020

Pílula Fílmica #10: Dois Papas (2019)


Dois Papas (Dir. Fernando Meireles - 2019) é uma obra com muitas camadas. Há a camada política, ao apresentar a grande intersecção da Santa Sé com aspectos políticos internos (em sua relação com a cúria romana) e externos com outros países. As demandas sociais são claramente escancaradas a partir do sútil retrato da desigualdade mundial. A camada econômica permeia muito as cenas, ao apresentar a perspectiva dos rumos do dinheiro no mundo através dos trechos dos discursos do jovem e velho Bergoglio. Há, no entanto duas outras camadas que são as que tornaram o filme muito relevante para mim. Uma delas é a humana, que nos deixa claro que, se formos sinceros e humildes o suficiente para percebermos nossos erros, a redenção passa a nos acenar. Agora, a última e extremamente interessante camada, é a espiritual. Dentro desta perspectiva há duas cenas que para mim são as centrais na obra. A primeira delas é a cena em que a fumaça da vela apagada por Bento XVI desce, ao invés de subir, em uma referência clara ao conceito espiritual que nossas orações e ações podem subir e serem recebidas (ou não) como um "cheiro" suave por Deus. E a segunda cena é aquela em que a fumaça da vela (ao final do filme) sobe, e não mais desce, em outra clara referência espiritual de que nossos atos internos e externos tem o poder de serem recebidos por um ser Ser Supremo à semelhança dos antigos sacrifícios do Velho Testamento. A sutileza e poder destas duas cenas emolduram a ideia da convivência pessoal genuína com Deus e afasta o filme das intermináveis discussões teológicas e denominacionais que, no fundo, não levaram e não levarão a lugar algum. Não posso deixar de citar a agradável atmosfera dramática criada a partir de um inteligente humor na medida certa, que captura o espectador fazendo-o submergir nos personagens e se identificar com eles. Em tempos em que as "pontes" sociais, econômicas e humanas estão ameaçadas, vejo o filme como uma obra que nos lembra a importância de preservar as pontes existentes, e nos chama à construção de novas.

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