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segunda-feira, 4 de março de 2019

Crise Nas Infinitas Terras - Remodelando Universos - Parte II


Na primeira parte desta matéria (Remodelando Universos - Parte I), apresentei os eventos que culminaram com a decisão da DC em reiniciar seu Universo Ficcional em 1985. Reverenciada por uma legião de fãs, a Saga Crise Nas Infinitas Terras ficou conhecida como a saga que influenciou todas as sagas envolvendo super-heróis que vieram depois. Sua validade e importância não tem precedentes para o Universo dos Quadrinhos. Embora sua qualidade seja uma unanimidade entre os fãs nas últimas décadas, haveria espaço para alguma voz contraditória em meio à avalanche de elogios? Bem... Vamos falar um pouco disso abaixo. Qual a premissa básica da Saga?


A história usada para reiniciar o Universo DC em 1985 saiu da mente do roteirista Marv Wolfman, e envolvia sua ideia ainda criança (conforme comentado na primeira parte desta matéria) sobre o Bibliotecário. A ideia central de Marv é que no princípio de todas as coisas havia apenas um Universo que, caso nada desse errado, se desenvolveria normalmente. No entanto, graças à intervenção de Krona (um habitante do planeta Oa), que alterou por meio de suas pesquisas o princípio de tudo, houve um distúrbio que conduziu ao aparecimento de diversos Universos paralelos. Todos eles com os mesmos planetas e desenvolvimento semelhante, exceto por pequenas mudanças que ao longo do tempo levou à variações importantes em cada um deles. Esse conceito explicaria a intrincada mitologia DC. Porém, nasceu ali também um Universo chamado de Universo de Anti-Matéria, cujo ser mais poderoso e governante foi chamado de Anti-Monitor. O Anti-Monitor possuía sua contraparte benigna em nosso Universo, o Monitor. Angariando progressivamente um poder incalculável, o Anti-Monitor conseguiu produzir uma gigantesca onda de anti-matéria que passou a tragar e aniquilar todas as coisas nos universos de matéria positiva.


Diante deste drama, o Monitor e sua ajudante, a Precursora, passaram a recrutar super-heróis de diversas Terras com intuito de formar uma coalisão capaz de deter a aniquilação dos Universos. Uma das primeiras estratégias do grupo é a instalação de Diapasões Cósmicos nos Universos ainda restantes com objetivo de conter a onda de anti-matéria e assim retardar seu avanço. Neste processo diversas Terras são extintas, sobrando apenas 5 delas, a Terra 1 (lar dos Heróis que tiveram sua ascensão na Era de Prata dos Quadrinhos), a Terra 2 (lar dos Heróis da Era de Ouro), Terra 4 (lar dos heróis da antiga Editora Charlton, dentre eles Besouro Azul, Capitão Átomo, Questão e Pacificador), Terra S (local de existência dos Heróis da Fawcet Comics, Capitão Marvel/Shazam e Família Marvel) e Terra X (local onde viviam os heróis adquiridos pela DC da Editora Quality Comics). Por volta do meio da Saga temos as maiores e mais conhecidas baixas da história da DC, a morte da Supergirl e do velocista Barry Allen, o Flash. Duas mortes que foram anunciadas como definitivas mas com o passar das décadas vimos que os dois personagens retornaram.


Sem dar spoiler (até porque a HQ tem mais de 30 anos), a Saga termina com apenas uma Terra restante. Não que as outras 3 foram necessariamente destruídas, mas sim amalgamadas em apenas 01. Desta forma eventos cronológicos foram fundidos, enquanto tantos outros foram literalmente esquecidos. O final da Saga me deixou com diversas dúvidas. Por exemplo: ao final diversos heróis continuavam se lembrando de suas origens pré-Crise. Diante disso, não entendo muito bem como a DC amarrou as novas origens de personagens que sabiam de suas origens antigas. Superman por exemplo ganhou uma nova origem sob a batuta de John Byrne, Mulher-Maravilha pelas mãos de George Pérez... Ou seja, tais heróis tiveram suas histórias recontadas, no entanto ao final da Saga eles sabiam de suas origens antigas. Mas dúvidas pessoais à parte vamos à pergunta-chave: Havia a necessidade deste reinício? Vamos lá... Antes de mais nada quero deixar claro que para mim o formato ideal de abarcar toda a cronologia de uma editora como a Marvel e a DC seria termos mesmo multiversos. Ou seja, multiversos nos quais cada época ou abordagem seria retratada. Por exemplo: vamos supor que eu seja apaixonado por personagens e quadrinhos da Era de Ouro dos Super-heróis, portanto nada mais interessante do que ter um universo só dedicado a esta temática. Por outro lado talvez eu goste também da abordagem adulta e violenta que se instaurou nos quadrinhos a partir dos anos 80. Então tenhamos um Universo onde esta temática é totalmente explorada. Para mim este seria o sonho de consumo. Sendo assim, ter um Multiverso é a melhor coisa para uma editora de grande porte como a DC. Validando as diversas realidades e fatos de cada versão de um herói ou vilão.


Então porque a DC não optou por isso? A resposta está em algo que Marv Wolfman aponta em suas reflexões nos Extras do encadernado Crise Nas Infinitas da Terras - Edição Definitiva (Panini 206 e 2018). Lá Marv nos conta que os roteiristas da DC foram escrevendo suas histórias ao longo das décadas sem se preocupar que tais histórias tivessem consistência com outras anteriormente publicadas, ou seja, escreviam o que achavam interessante para vender. Caso eles tivessem respeitado as fronteiras entre os Multiversos, nada disso teria sido necessário. Vou dar um exemplo, se eu sou um roteirista que escrevo dentro do Universo da Era de Ouro dos Quadrinhos, não posso simplesmente deixar que meu personagem interaja com outro que, sabidamente, vive no violento universo da Era Moderna dos anos 80. Este foi o problema! Havia muitas inconsistências. Isso teria motivado a DC a reiniciar seu Universo na época. Quando a DC anunciou recentemente que faria o chamado Rebirth, eu pensei que eles finalmente iriam assumir seus Multiversos de maneira séria. Mas pelo que já li a respeito não tem sido o caso.




Roy Thomas,  um dos Gigantes da Era de Bronze dos Quadrinhos (1970 - 1985), com passagens tanto na Marvel como na DC era um dos que eram contra o Reboot feito em Crise Nas Infinitas Terras. É possível checar esta sua oposição nos memorandos que eles escreveu endereçados à Marv Wolfman e Dick Giordano, também presentes nos Extras da Edição Definitiva da Panini. Roy admite sua oposição e, por saber que não seria atendido, simplesmente escreveu diversos memorandos pedindo que Marv não fizesse isso ou aquilo na tentativa de preservar o máximo possível da cronologia DC. Acho Crise nas Infinitas Terras uma Saga um pouco confusa, mas longe de mim diminuir sua importância dentro da 9ª Arte, ou mesmo sua influência no que aconteceu depois. Só acho que a solução emprega para sanear a complicada cronologia da DC poderia ter sido outra. E nesse caso concordo com Roy Thomas. Deveríamos ter separado os Universos definitivamente, mantendo um fronteira intransponível entre eles (ou pelo menos muito difícil de ser transposta), preservando assim personagens e enredos do passado. Esta seria uma solução que teria colocado fronteiras e saneado a cronologia da mesma forma.



É isso aí amigos... E você? O que pensa acerca da existência de múltiplos universos? Na vida real ou na ficção? Um grande abraço à todos!!

6 comentários:

  1. Quem foi responsável pelo multiverso e pelo universo de antimatéria foi Krona, não o deus grego Kronos.
    Havia 5 Terras restantes, você esqueceu da 4 (com supers da Chalrton Comics).
    O que destruia o multiverso era as nuvens de antimatéria que consumiam tudo e aumentavam o poder do Anti-Monitor. Você confundiu com o enredo da Marvel para sua nova Guerras Secretas, com universos ocupando o mesmo espaço e se destruindo.

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    1. Olá Adriano...

      Agradeço a colaboração! Tudo acertado!

      Att.

      Marcelo

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  2. As histórias de Crise - a série - foram interessantes. Hoje, acho o roteiro fraco. Mas acho que...ter aberto mão do conceito de multiverso empobreceu a DC. Apesar de ótimas histórias como o Reboot do Byrne no Homem de Aço, o Batman ano 01 do Miller, a Mulher Maravilha do Pérez....a nova Liga da Justiça...a sensação que ficou, para o leitor brasileiro, foi que perdemos muita coisa. Ao ler Crise, a curiosidade de conhecer vários personagens que jamais chegaram até nós deu uma noção do quanto a DC era monstruosa, rica, tinha densidade. Após Crise....acho que esse verniz do tempo, das tentativas e erros e acertos....se perdeu. Acho...que abrir mão do conceito de Multiverso foi um grande equívoco (tanto que o Grant Morrison buscou reativar a idéia, anos depois)...apesar da saga Crise em si...ter sido interessante. Vale a leitura.

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    1. Olá amigo... Muitas HQs realmente envelhecem. Algumas envelhecem melhores do que outras. Concordo plenamente com você.

      Abrir mão do multiverso teve como saldo final um empobrecimento. Acredito que HQs como o Homem de Aço do Byrne, Batman Ano 01 do Miller e a da Mulher-Maravilha do Perez poderiam ter sido feitas sem necessariamente a eliminação de centenas personagens.

      Lendo Crise Nas Infinitas Terras temos esta sensação que você descreve. A de que havia centenas de personagens interessantes que nos escaparam.

      Ressalto que para Editoras Gigantescas como Marvel e DC o conceito de Multiverso é quase uma necessidade. Desde que respeitado os limites de cada um deles, seria possível desenvolver personagens com mitologias e cronologias sólidas sem que qualquer fato gerasse inconsistência na cronologia ou mitologia em sua contraparte de outra Terra.

      Agradeço os comentários!!

      Marcelo

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  3. Anônimo, quem reativou a ideia de multiverso foi Geoff Johns em Crise Infinita. Grant Morrison, juntamente com mais alguns outros que me falha a memória, criaram o conceito de hipertempo na continuação de Reino do Amanhã e, que só agora com Batman e Flash: o botton, foi resgatado.

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    1. Acredito, Adriano, que há tentativas da DC realinhar suas histórias, com certeza.

      Mas não veria problema de desenvolver vários Batmen de maneira sólida, criativa e independente. A DC poderia articular selos de diferentes Universos, dentro dos quais desenvolveria HQs que agradecem vertentes de públicos diferentes. Eu mesmo seria um que consumiria HQs dos Heróis do Universo da ERA DE OURO. Aliás, sempre compro o que sai pela DYNAMITE por aqui (Fantasma, Aranha, Sombra...).

      Não sei se eles tem medo de pulverizar seu público e por isso não abarcam esta ideia. Mas em minha opinião seria uma possibilidade de resgatar inúmeros personagens e fases distintas do Universo das HQs.

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