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sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Experiência em "Longínqua"

Por que os pólos? Penso ter a resposta. Pelo menos a minha resposta. Talvez porque nos falem sobre fronteiras inexploradas, de infinitude e do insondável. Celebrados pelos exploradores, os confins do mundo despertam o desejo descivilitório que toda alma humana, cansada da falsa sensação de segurança que a sociedade provê, busca. Esse seria o desejo inato e escondido em todo coração, o de voltar para seu estado original, simples e selvagem.

Ushuaia - Patagonia Argentina
Ushuaia situa-se no extremo sul de nosso continente sul-americano, distante 1000 km do continente polar e próximo ao cabo Horn (estreito no qual os oceanos atlântico e pacífico se encontram). Por ter que se espremer entre a antártica e o continente o mar se agita ali. Dessa forma o cabo Horn expressa toda ferocidade do oceano em função da brutal corrente marítima existente ao redor do pólo sul e que ali é espremida. Assim o cabo Horn sempre foi o temor de muitos marinheiros, conforme descrito por Herman Melville em “Moby Dick”. Ushuaia é uma cidade pequena, mas que abala os sentidos. No verão ficamos desejosos pela noite, no inverno, pelo dia. Situa-se em uma baía banhada pelo mar, em frente ao Canal “Beagle”, em homenagem ao navio que transportou Charles Darwin em sua conhecida viagem e que passou por ali com esse ilustre tripulante.

Castorera - Construida e Habitada por Castores

Florestas imensas de Lengas (árvore nativa e adaptada ao frio) rodeiam Ushuaia. Nenhum animal de médio ou grande porte se desenvolveu nelas. Atualmente, no entanto, em função de um mal fadado negócio de peles, castores, levados para lá do Canadá nos anos 1940, se desenvolveram desenfreadamente ajudados pelo clima e pela ausência de inimigos naturais. Assim reinam soberanos nessas florestas atualmente.

Glaciares
Os grandes guardiões de Ushuaia são os glaciares (espessas massas de gelo formadas em camadas sucessivas de neve compactada e recristalizada de várias épocas). É por meio dele que a pequena cidade recebe seu suprimento de água potável. As imensas montanhas sobre as quais tais glaciares se assentam observam continuamente Ushuaia, não se importando muito com ela. Como se soubessem que sua estada ali é por um pequeno lapso de tempo. Isso sob a perspectiva da lenta e silenciosa vida das montanhas é claro.

Yámanas
Havia um povo milenar que vivia ali. Isso antes do homem branco dizimá-los com suas doenças: Os Yámanas. Esse povo tinha sua cultura e religião e por incrível que pareça não usavam roupa alguma, mesmo diante das temperaturas negativas de Ushuaia. Na verdade os Yámanas cobriam seus corpos com gordura de leão-marinho (sua principal fonte de alimento). Um caridoso missionário britânico, Thomas Bridge, após contemplar o inevitável fim dos Yamanas, desistiu de sua missão e criou um refúgio para protegê-los (Estância Haberton), não sendo, no entanto, suficiente para salvá-los.

Presídio de Ushuaia - Ala Original
Seus primeiros habitantes "brancos" foram presidiários. Usados para construir as primeiras casas e seu próprio presídio. Conservado e convertido em museu, o presídio de Ushuaia conta com suas selas, memórias e uma de suas alas mantida exatamente igual à época de seu funcionamento (1920 a 1947).

Glacial Martial
Experiências são sentidas, não descritas. Daí a insuficiência das palavras.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Há um Silêncio...

Estranho é perceber que a natureza encerra um grande silêncio. Não pensemos nós, nem por um minuto que esse silêncio significada "vazio". Não! Pelo contrário, é um silêncio cheio de significados. Mas o estranho é que por mais que nos enforcemos, em nossa condição humana não conseguimos apreender esse signifcado. Parece vetado à nós. Embora existam imagens e sons (vento nas árvores; pássaros que cantam; quietas, imóveis e milenares pedras no caminho; folhas roçando umas nas outras; animais que correm para lá e para cá), todos esses sons e imagens nos são insondáveis. Significam alguma coisa... tenho certeza disso! Mas me escapa. Não conseguimos penetrá-los e integrá-los por completo. É desse silêncio que falo. Um silêncio mais profundo, antigo, milenar, e ouso dizer, com uma mistura de acolhimento, mistério e profundidade. Algo que se sente, mas não se consegue capturar, nem em sua parcialidade quanto menos em sua totalidade.
Cruzamos uma fronteira em um passado longínquo que nos separou dessa profundidade. Desde então o que fazemos é sempre nos afastar mais e mais desse precioso, enigmático e amoroso silêncio. Com nossos barulhos constantes, TVs, rádios e ruídos contínuos, nos esquecemos de olhar, contemplar e ficarmos quietos. Não conseguimos mais ouvir nossa prórpia voz. O que temos em nosso interior é na verdade o somatório de vozes externas que foram com o tempo substituindo o nosso próprio som interior. A "Criação" parece, em seu profundo e indecifrável silêncio, nos lembrar disso...
Por fim percebo que existem fronteiras novamente a serem conquistadas, limites interiores a serem atravessados de volta à simplicidade. Partilhar do simples e humilde silêncio das coisas é mais que nada um caminho interior. Depois de muito tempo entendo que essa dádiva é dada àqueles que a buscam, mas não no nosso tempo. Aqui já tenho minha primeira lição, a paciência de apenas ficar imóvel, quieto, observando o silêncio... nesse processo, um dia talvez consiga entender uma pequena parte do colossal significado desse silêncio. Um silêncio que tem falado muito, mas muito alto dentro de mim...

Talvez assim conseguisse saber o que essas pequenas estão me dizendo.


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