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sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Pílula Fílmica #12: Tepepa (1969)


Como um cineasta poderia refletir a desilusão e ao mesmo tempo paixão de se lutar por um  ideal revolucionário? Talvez mostrando de forma clara as inconsistências de ambos os lados de uma revolução. O diretor Giulio Petroni conseguiu construir em Tepepa (1969) uma pérola que transcende o gênero Western tradicional e o Western Spaguetti. Ao escalar o ator cubano Thomas Milian para interpretar o revolucionário mexicano Tepepa, Petroni ofertou um papel à um ator que, no auge de sua carreira, entendeu como ninguém a complexa personalidade de um revolucionário típico. Inteligente, porém simplório e violento, Tepepa se levanta contra a dura mão dos latifundiários e luta uma revolução que é vencida pelo povo, porém esse mesmo povo vê tudo voltar rapidamente ao que era, ou seja, mudou-se muito para que tudo continuasse a mesma coisa. Um filme com um ritmo próprio e que mantém o espectador preso justamente em função do que não é dito, mas sentido e transferido pelos olhares dos personagens. Ninguém menos que Orson Welles aparece como o vilão Coronel Cascorro, um oficial que vem reestabelecer o domínio dos latifúndios. Mas é um erro tratarmos aqui, de forma maniqueísta, a respeito de quem é vilão e quem é herói. Petroni faz questão de desmistificar o mito do revolucionário bondoso que nunca faz escolhas erradas. Pelo contrário, por vezes ficamos a favor e até contra Tepepa. Um filme incrível em seu universo contido, com uma fotografia que destaca e abraça a poeira e aridez dos cenários tornando os ambientes uma complementação poética às importantes questões presentes ao longo de todo filme: Terra, Liberdade, Dignidade Humana, Hipocrisia, Violência... Não consigo deixar de lembrar as palavras de Martin Luther King que temia que, no processo de luta contra seus algozes, ele se transformasse em alguém igual àqueles contra os quais lutava. Tepepa precisa ser redescoberto e assistido na perspectiva de nosso tempo, que não entende bem o significado do que é uma luta armada e o quanto ela pode destroçar o ser humano.







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