O livro Doutor Sono (prestes a ganhar sua versão cinematográfica) e continuação direta do livro O Iluminado, é um caça-níquel de Stephen King? A resposta é não. E porque não? Bem... por 4 motivos. 1) primeiro porque acredito (sinceramente) que Stephen King não precisaria manchar um dos seus mais conhecidos livros com uma sequência apenas para lhe render dinheiro já que o autor, com mais de 50 livros publicados e inúmeras adaptações para o cinema e TV, não precisaria de dinheiro ganho desta forma (comprometendo um trabalho tão emblemático com uma sequência a toque de caixa); 2) segundo porque a narrativa de King continua para mim vigorosa, visceral e talvez até melhor, pois está mais apurada e o autor consegue se expressar por meio de metáforas fortes e mais profundas ao longo do livro; 3) terceiro porque a história é realmente crível e faz jus aos personagens que habitam o imaginário de tantas pessoas nas 3 últimas décadas, dentre eles Jack e Wendy Torrance, Dick Halloran e o pequeno Danny Torrance (O Iluminado do título do livro de 1977); e 4) King comenta em uma nota ao final do livro que gestou a história ao longo de um bom tempo e só decidiu escreve-la após o ano de 2009 a partir de uma pergunta que o assolava: O que teria acontecido ao pequeno Iluminado Danny Torrance?
É muito importante que o leitor que decidir ler Doutor Sono entenda que o livro é continuação direta do livro de 1977, e não do filme O Iluminado de Stanley Kubrick de 1980. Isso deve ficar claro porque o final do filme tem diferenças importantes em relação ao livro, este último sim a história original de King. Isto não faz o filme de Kubrick ruim, na verdade é uma grande obra cinematográfica, na verdade é apenas a leitura que o cineasta fez da história. Isto quer dizer que se você assistiu ao filme e for ler Doutor Sono, estranhará algumas coisas, já que a continuação literária segue diretamente a história original de King. Quando fiquei sabendo do lançamento da continuação de O Iluminado achei incrível. Porém, meu estranhamento começou pelo título. Doutor Sono me pareceu o título mais improvável e estranho para a continuação de uma obra que eu achava perfeita até no título, já que O Iluminado trazia consigo um ar perturbador logo de cara. Mas tive que deixar o estranhamento de lado para mergulhar na leitura.
Doutor Sono resolve logo nas suas primeiras páginas o futuro imediato dos sobreviventes do Hotel Overlook, Dany, Wendy e Dick, contando os acontecimentos imediatos logo após o encerramento do 1º livro. Após esta retomada veremos Daniel Torrance cerca de 30 anos depois, vivendo em uma situação difícil, ou seja, como alcoólatra, "pavil curto" e flertando com drogas. Um destino que deixa o leitor triste e incomodado, mas entendemos que é a forma que Daniel encontrou para lidar com a iluminação que o faz ver coisas de um mundo que o assombra. Stephen King além de estabelecer logo de cara o destino de Danny, precisou elaborar um novo desafio que fosse a altura daquele enfrentado no livro de ´77. Esse desafio vem na forma de um grupo de pessoas sobre as quais não darei nenhuma informação para evitar spoilers. Só posso dizer que é assustador por se tratar de algo plausível vivendo em nosso mundo real.
Algo que deixa o leitor muito satisfeito ao longo do livro é a sensação de conhecer os personagens de longa data, isso se você leu (é claro) O Iluminado. Essa sensação de conhecer os personagens há muito tempo produz uma profunda identificação entre o leitor e a vida de Daniel Torrance, sobretudo quando ele retoma lembranças de seu passado no famigerado Overlook Hotel, palco dos assustadores acontecimentos de sua infância. Stephen King faz questão de manter o Overlook e seus acontecimentos em evidência em Doutor Sono, muito provavelmente porque sabia que o leitor mais veterano se identificaria com isso. Embora o Hotel tenha sido destruído no final de O Iluminado, o leitor fica se perguntando o que teria acontecido com o local onde um dia o hotel estivera. E por incrível que pareça King satisfaz a curiosidade do leitor, voltando a colocar o local, onde outrora o Overlook esteve, em evidência.
Há questões também acerca de Jack Torrance (pai de Danny interpretado no filme de Kubrick por Jack Nicholson) que sempre tivemos curiosidade de saber. Em certa medida, temos algumas respostas para algumas questões superficiais acerca da vida de Jack. Isso também situa o leitor novamente no clima do livro anterior. Stephen King reconhecidamente já disse que o resultado final do filme de Kubrick não o agradou tanto. De minha parte posso dizer que o filme de 1980, embora não siga à risca o livro, é uma obra prima. Apesar disso, eu fico com o final do livro. Se você compartilha de minha opinião eu recomendo uma minissérie da década de 90 que adapta para a TV a história. Assisti esta adaptação e gostei muito. Não apenas por ser mais fiel ao livro, mas porque reproduz muito bem a atmosfera pretendida por King, que inclusive faz uma rápida aparição (uma "ponta") na minissérie. Esta minissérie foi lançada em DVD não faz muito tempo no Brasil pela Vinyx Multimídia.
Se você já leu Doutor Sono e quer compartilhar sua impressão do livro, não deixe de comentar abaixo. Um grande abraço à todos!!
Li Doutor Sono no lançamento em nosso país e gostei. Não é uma grande obra de King. Contudo, expande o universo dos "iluminados" de maneira decente, sem denegrir a obra anterior.
ResponderExcluirQuanto à adaptação cinematográfica, nunca me espanto com isso. Afinal, trata-se de uma "adaptação", só isso. Mídias distintas, exigências de produtores, visão de diretor e roteirista acerca do que caberia melhor na tela. Enfim... Sem neuras.
Abraços!
Verdade Kleiton...
ExcluirAdaptações são adaptações como o próprio nome diz. Muitos, no entanto acabam assistindo apenas aos filmes, infelizmente, achando que o filme conversa com a obra literária, o que muitas vezes pode não acontecer. Um exemplo deste distanciamento entre livro e filme eu acredito que aconteceu entre o filme Warrriors de Walter Hill e a obra literária original de Sol Yurick. Hill tomou muitas licenças no filme.
Já uma adaptação extremamente interessante para as telas foi o filme Into The Wild de Sean Pen baseado no livro homônimo de Jon Krakauer. Toda essência e mensagem do livro está lá nas telas.
Valeu pela presença amigo!!!
Marcelo
Boa tarde Marcelo,
ResponderExcluirEu li o livro e gostei demais da trama, não gostei do Danny, achei ele pouco cativante eu esperava mais dele, enfim ter que crescer sabendo das coisas que ele sabia e que é um iluminado ao invés de ajudar parece que só atrapalhou, mas o que falta de simpatia nele sobra na garotinha e achei a mulher da cartola uma das vilãs mais interessantes que já vi. difícil comentar sem dar spoilers, mas gostei muito do livro após a introdução cansativa . Abraços.
Olá amigo Wwellington!
ExcluirTudo bem?
Realmente o dom do Danny era percebido de forma muito negativa por ele. Já a jovem Abra nunca o viu de forma negativa. Não sei porque para Abra, as eventuais visões não a deixavam tão angustiada quanto o Danny. Talvez seja porque ela não passou pela experiência que ele passou no Overlook. Isso talvez tenha marcado o Danny para toda vida.
A Rose Cartola é mesmo uma vilã e tanto. Dá medo da personagem e do que ela pode fazer. Com certeza!
Vamos esperar para ver o filme! Estou ansioso para ver como ficou a adaptação.
Forte abraço!
Marcelo