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domingo, 31 de dezembro de 2017

Viagem Literária - 2017


2017 me levou à uma viagem por contos do Mestre Neil Gaiman em Alerta de Risco, o que facilitou a minha entrada ao universo de Shadow, o personagem de Deuses Americanos, também de Gaiman. Após uma pequena parada fui catapultado para a segunda metade do Século IX, mais especificamente para as pradarias norte americanas e me vi imerso dentro de uma comitiva de caça à Búfalos ao lado de um jovem em busca do significado da existência no livro Butcher´s Crossing. Avancei por uma fantasia distópica na qual homens comuns receberam poderes quase divinos, porém com um detalhe, todos eles eram vilões em Coração de Aço. Aventurei-me também em uma ficção científica melancólica e maravilhosa na qual um inocente alienígena (interpretado por David Bowie no cinema) buscava algo entre os seres-humanos no livro O Homem que Caiu na Terra. Por fim resolvi encerrar o ano dentro de outra ficção científica dos irmãos Russos Arkádi e Boris Strugátski em que alienígenas passam rapidamente pela Terra deixando para trás objetos maravilhosos e perigosos que são cobiçados pela ciência e por contrabandistas (Stalkers), Piquenique na Estrada. Um livro com muitas camadas.


Alerta de Risco (2016) é um livro de contos intimistas que busca apresentar os riscos escondidos nas coisas mais simples de nossos dia a dia. Posso dizer que alguns contos são excepcionais. Um deles que me atingiu como um bólido trata de Jerusalém, não a cidade política dos noticiários, mas a cidade misteriosa e cheia de segredos, cujas paredes se tornaram finas sob o peso do tempo e por isso permitem que ouçamos a voz de Deus a nos sussurrar coisas acima do tempo e do espaço. Aliás, caso você vá até lá, cuidado... Outros contos são muito bons também, como aquele que fala de um profissional que nos protege e nem percebemos: O Desinventor. Há também contos de terror e ficção fantástica.


Por ocasião do lançamento da série live-action pelo canal de streaming da Amazon, resolvi ler Deuses Americanos (2001). Sempre que possível prefiro ler primeiro a obra escrita original para que eu possa ter uma opinião destituída da visão de terceiros, o que sempre acontece quando assistimos primeiro à uma adaptação da obra para só depois lermos o livro. Deuses Americanos foi o trabalho mais celebrado de Neil Gaiman depois de Sandman, e talvez marque a difícil transição de Gaiman de um escritor do mundo dos quadrinhos para o da literatura. O livro é inovador em seus conceitos ao trabalhar a essência dos mitos e nos revelar do que os deuses são feitos, revelando-os como pontos catalisadores de credulidade. Apesar disso eu diria que esperava um pouco mais da obra. Não que não tenha gostado, no entanto talvez minha grande expectativa alimentada por outras obras do autor como Sandman e O Oceano no Fim do Caminho, tenha me feito esperar demais do livro.


Butcher´s Crossing (1960), ou Travessia do Carniceiro, em português é um livro que trata da busca por algo que está além de nosso cotidiano, ou talvez escondido dentro dele, e que poderia explicar o significado de nossa existência. Com esta promessa de leitura eu me enveredei por este livro de John Williams. A obra narra a jornada do jovem Will Andrews, aluno egresso de Harvard que se lança no interior norte americano no ano de 1870 em busca de respostas para um chamado que se faz ouvir em seu interior. Um chamado que o move para a Natureza Selvagem, um sentimento que o conecta com uma realidade acima da nossa. A aventura de Andrews ao lado de peleiros em busca de Búfalos é árdua e transforma-se em um calvário interminável. Butcher´s Crossing é um livro muito bom, que não divaga sobre as respostas para as perguntas de Andrews, mas limita-se a narrar a difícil busca do rapaz por respostas em meio à própria dificuldade da vida. Talvez justamente por isso, o livro transcenda outros que buscaram tema semelhante.


A ficção e a fantasia não precisam viver se provando para a Academia. Ela tem estofo suficiente para prescindir disso. Ela não precisa ficar se provando o tempo todo para ser reconhecida pelos Coronéis e Coronelas catedráticos das Universidades. Coração de Aço (2016) é um livro que busca entreter e o faz de uma forma muito interessante ao subverter o conceito de super-herói colocando a responsabilidade da justiça na mão do mais fraco, ou seja, dos seres humanos comuns. Trata-se de uma série que já possui sua continuação lançada no Brasil, Tormenta de Fogo. Gostei e recomendo.


Mas acho que foi com O Homem que Caiu na Terra (1963) de Walter Tevis que meu ano se concretizou literariamente. Acho que sempre buscamos uma obra que nos eleve e nos toque de maneira mais profunda. E isso é interessante porque a mesma obra pode não ter o mesmo efeito a depender da pessoa, de suas experiências, expectativas e história de vida. Para mim, no entanto O Homem que Caiu na Terra foi como uma pedra que caiu dentro do meu lago interior, provocando ondas e reverberações. O livro traz a história de um pacífico alienígena que viaja às duras penas até a Terra em busca de algo (não vou contar para não estragar...). Aqui ele escolhe o nome de Thomas Jerome Newton. Inocente, impúbere, melancólico, sensível, extremamente inteligente e perspicaz Newton experimentará o que a humanidade tem de melhor... e de pior... Foi impossível para mim não associa-lo à figura de um Messias, que (novamente) é incompreendido por aqueles aos quais se doa. O livro tornou-se filme em 1976 trazendo David Bowie no papel de Newton. Assista, mas leia o livro primeiro.


Piquenique na Estrada é um livro lançado no final dos anos 70 pelos irmãos russos Arkádi e Boris Strugátski. Embora muitos esperassem que fosse uma crítica ao capitalismo ou socialismo, Piquenique na Estrada não é nada disso. É uma legítima obra de ficção científica escrita simplesmente por homens livres em seus pensamentos. Justamente por isso não conseguimos encontrar na obra críticas ou elogios às ideologias acima. Aclamada no ocidente e posteriormente na própria Rússia, o livro virou filme nas habilidosas mãos do cineasta russo Andrei Tarkovsky sob o nome de Stalker. O filme é uma releitura do livro e uma verdadeira obra prima do Mestre Tarkovsky.

Bem amigos... Estes foram os lugares que visitei em 2017. E você? Quais foram os recônditos do Universo físico e abstrato que receberam a visita de vocês? Um forte abraço!

sábado, 30 de dezembro de 2017

Destaques 2017


Olá amigos... 2017 foi um ano que simplesmente voou para todos nós. Aproveitando os estertores deste ano que agora se despede, resolvi comentar alguns destaques que, ao meu ver, são dignos de serem relembrados e celebrados. Diferentemente de muitos sites e blogs que costumam destacar apenas obras e lançamentos do ano, decidi construir esta matéria focando não apenas em lançamentos específicos, mas também em acontecimentos do mercado editorial de quadrinhos no Brasil, mais especificamente do Universo dos Super-heróis. Lembrando é claro, que esta lista refere-se à minha análise pessoal.


Digo sem medo de errar que 2017 foi o ano que consolidou duas grandes linhas da Panini, A Coleção Histórica Marvel e A Coleção Lendas do Universo DC. A primeira vem numa trajetória de sucesso desde o ano de 2012, mas sem dúvida nenhuma em 2017 se fortaleceu com o lançamento da Coleção Histórica Marvel (CHM) - Wolverine (04 volumes), a CHM - Paladinos Marvel (04 volumes), o volume único Torneio de Campeões e 01 novo volume de uma nova série de CHM do Drácula. O grande diferencial desta coleção, além de ser material clássico, são o preço e o box personalizado que acompanha cada série para guardar os encadernados.


À semelhança da CHM, a DC possui uma proposta similar aqui no brasil, a Lendas do Universo DC, que  iniciou seus lançamentos em 2014 com material clássico do Batman. No entanto, com o sucesso do material a Panini expandiu este selo para outros personagens. Em 2017 vimos chegar às bancas e livrarias conteúdo excepcional dentro desta linha, a saber: Lendas do Universo DC - Mulher-Maravilha de George Pérez (Material Clássico que traz o Reboot da heroína Pós-Crise nas Infinitas Terras), Lendas do Universo DC - Darkseid, Lendas do Universo DC: Super Powers - Jack KirbyLendas do Universo DC - Coringa, e Lendas do Cavaleiro das Trevas - Don Newton. As edições mantém o diferencial do preço e importância do material, mas infelizmente não traz o box para guarda do material de cada coleção.

Tivemos também uma onda de relançamentos importantíssimos para os quadrinhos. Em relação à DC seguem alguns deles abaixo:


Os Maiores Super-Heróis do Mundo é um encadernado gigante que compila trabalhos autorais específicos de Paul Dini e Alex Ross. A dupla lançou Graphic Novels Gigantes tendo os principais medalhões da DC como protagonistas de cada um (Superman, Mulher-Maravilha, Batman, Shazam). Fechando esta sequencia de volumes independentes, a dupla terminou com um da Liga da Justiça. A obra Os Maiores Super-Heróis do Mundo nada mais é do que todos estes volumes encadernados em um só. O material é imprescindível não apenas pelo traço incrível de Alex Ross, mas porque Paul Dini conseguiu captar como ninguém o DNA de cada personagem, mostrando porque são comparados à lendas!


Por falar em Paul Dini (para quem não se lembra, ele foi um dos principais roteiristas da premiadíssima Série Animada do Batman dos anos 90) tivemos dois encadernados lançados com sua assinatura. O 1º (Batman - Louco Amor) é uma adaptação de um dos melhores episódios (se não o melhor) da Série Animada supracitada, e o 2º, Batman - Arlequina traz histórias clássicas da parceira do Palhaço do Crime. Aliás, para quem não sabe a Arlequina foi criação de Paul Dini e se houve alguém que entendeu a mística que rodeia os personagens da DC foi Paul Dini.


Outro relançamento que me deixou muito feliz foi ter visto novamente nas bancas (agora em capa dura) a história Superman - Batman: Os Melhores do Mundo. Em tom vintage, o arco é uma grande história que tem aquela "pegada" nostálgica que busca dissecar o âmago do herói e vilão, ou seja, traz os personagens do título em seu estado "bruto", original.

Do lado da Marvel tivemos também relançamentos memoráveis. Vejamos alguns deles:


A Morte do Capitão Marvel voltou às bancas brasileiras depois de décadas, agora em formato luxuoso e com acabamento digno. O arco marca o ocaso melancólico de um dos maiores guerreiros da Editora pelas mãos do mais improvável inimigo, o Câncer. Esta abordagem realista para a morte de um personagem ficcional ajudou a aproximar ainda mais o universo mítico dos super-heróis ao nosso. A história é épica e é obrigatória na estante de qualquer fã de quadrinhos. O Capitão Marvel viu a glória pelas mãos do roteirista Jim Stalin (criador de Thanos) e protagonizou este épico final de forma digna e soberba.


Embora também presente nas Coleções de Graphic Novels de Capa Preta e Vermelha da Editora Salvat, A Queda de Murdock e O Homem Sem Medo são dois arcos obrigatórios do Demolidor que voltaram às bancas. O 1º é a obra-prima de Frank Miller que chegou a ser vendida há alguns anos aqui no Brasil por valores impensáveis para um quadrinho. O 2º funciona como se fosse um Demolidor Ano Um do Frank Miller, ou seja, uma tentativa de reproduzir no personagem uma abordagem adulta vista anteriormente em Batman - Ano Um. Ambos são materiais excelentes, aliás eu diria que o 1º é mais ainda, é excepcional.


Marvels é a obra-prima dos anos 90 (ao lado é claro de Reino do Amanhã da DC) de Kurt Busiek e Alex Ross. Lançada várias vezes no Brasil, nem por isso perdeu sua relevância e permanece digna de ser mencionada sempre que ganha novo formato. Este ano a Panini trouxe uma edição (que eu diria definitiva) para a obra, com uma capa e quarta capa absolutamente lindas (acima). Caso você não conheça corra e adquira. Obrigatório! A gênese do Universo Marvel pelo sensível olhar de um homem comum.


Terra X era talvez o relançamento mais esperado por todos. O arco traz capas e artes conceituais de Alex Ross e arte interna de John Paul Leon. A história possui roteiro de Alex Ross e Jim Krueger e trata do fim do Universo Marvel. É uma obra-prima sob diversos aspectos, sobretudo na sensação de tristeza e melancolia que acompanha a narrativa ao mostrar um universo que, apesar das boas intenções dos heróis, se tornou um caos. Muitos leitores buscam encontrar nesta história o ritmo tradicional das HQs mensais e por isso frustram-se e acabam por dizer que a história não é tão boa. Mas a verdade é que os autores saem da fórmula tradicional das HQs e realmente constroem um épico entrecortado por profundas reflexões.

Da linha Vertigo pudemos comemorar a finalização da Saga de Promethea de Alan Moore com o lançamento do Volume 2.


Fora do eixo Marvel-DC editoras independentes como Pipoca e Nanquim se destacaram ao trazer material de grande qualidade. Confiram!


Espadas e Bruxas: Obra incrivelmente desenhada por um gênio das artes gráficas, o espanhol Esteban Maroto. A obra se divide em três partes, cada uma estrelada por um Bárbaro criado por Maroto. São pequenos contos que se encadeiam a partir de magia, barbarismo, feitiçaria, tempo e até romance. Uma obra que precisa ser apreciada também com uma mente diferente daquela que muitos estão acostumados nos quadrinhos mainstream


Cannon é uma obra que ainda não li, mas a trago aqui em função de seu autor, Wallace Wood. Um dos gigantes da indústria dos quadrinhos, tanto da Era de Ouro quanto da Era de Prata.



Moby Dick, o clássico de Herman Melville ilustrado pelo francês Chabouté. O livro de Mellville está aqui transcrito em todo seu vigor sob o traço claro/escuro de Chabouté.


Ganhadora do Prêmio Eisner (o Oscar dos Quadrinhos) em 1994, Um Pequeno Assassinato valeria menção apenas pelo seu autor, Alan Moore. Mas a história é realmente cheia de camadas e impressionante, sendo um marco na carreira de Moore, uma vez que é um dos seus primeiros trabalhos após o fim de seu envolvimento profundo com o Universo dos Super-heróis nas grandes editoras (Marvel/DC).


E surpreendendo à todos, a Editora Pipoca e Nanquim trouxe Conan - O Bárbaro em livro. O livro traz os textos originais do criador do Bárbaro Cimeriano (R. E. Howard) na ordem em que foram publicados. Serão 03 livros que trarão a obra completa de Conan pelas mãos de seu criador. O trabalho e o cuidado com a edição (marca já registrada da Editora) é incrível.

Eu não poderia deixar de mencionar aqui (como destaque) as coleções de Graphic Novels que definitivamente invadiram o Brasil, a começar pela Coleção Original de Graphic Novel da Salvat (Capa Preta) que, apesar de já ter sofrido uma primeira expansão passando de 60 volumes iniciais para 120, agora sofre a segunda expansão. Os volumes desta nova fase, ao que tudo indica, trarão material da Nova Marvel.




A Salvat realmente parece que engatou a marcha em resposta à boa aceitação do mercado para suas coleções, pois 2017 vimos chegar duas outras coleções robustas e neste formato: A Coleção Definitiva do Homem-Aranha e a Coleção Tex Gold.



O ano de 2017 também viu a Salvat expandir suas fronteiras para coleções capa-dura em outros formatos, caso da Coleção Os Vilões Mais Poderosos da Marvel que contará com apenas 06 volumes (cada um abordando um vilão diferente) e da Coleção Marvel Edição Especial Limitada dos Vingadores em 03 grandes volumes, trazendo a fase dos lendários George Perez e Kurt Busiek do início dos anos 2000. E como se não bastasse a Salvat iniciará uma poderosa coleção do Conan intitulada A Espada Selvagem de Conan em março de 2018, bem como uma coleção menor do Thor.

Embora muito criticada pelos fãs em função do preço, não posso deixar de destacar outra coleção capa-dura de 60 volumes, A Coleção de Graphic Novels DC Comics Eaglemoss. Uma portentosa coleção que, ao que tudo indica, também ganhará expansão para 2018.

Link para os Lançamentos

Bom amigos... Sei que muito mais coisa saiu no mercado, mas estas foram as que (à princípio) me chamaram atenção por abranger, sobretudo, material clássico, do qual sou fã. E você, o que acrescentaria nesta lista? Forte abraço à todos os amigos que acompanham o Blog e um excelente 2018!!!


domingo, 17 de dezembro de 2017

Miniatura Marvel Nº 57 - Mystério

Miniatura Marvel Nº 57 - Mystério

Mystério é um criminoso pertencente a vasta galeria de vilões do Homem-Aranha. Sua passagem pelos títulos do Cabeça de Teia começou cedo, estreando em junho de 1964 em Amazing Spider-Man 13. Para mim, Mystério sempre foi um vilão obscuro e, realmente, misterioso. Diferentemente de outros inimigos do Teioso, tais como Duende Verde, Venom, Dr. Octopus, Lagarto, Homem-Areia, entre outros, Mystério nunca alcançou um status que exigisse um maior aprofundamento sobre suas origens, motivações e características. Talvez justamente por isso sua figura tenha ganho (pelo menos para mim) esta aura enigmática. Tive que me debruçar um pouco mais sobre sua trajetória para escrever sobre o personagem, e o resultado você acompanhará aqui nesta matéria, na qual abordaremos sua peça dentro da Coleção de Miniaturas Marvel da Eaglemoss bem como sua obscura origem.

Miniatura Marvel Nº 57 - Mystério

Para muitos, o visual do vilão parece espalhafatoso e fora da realidade, mas eu não vejo assim. Primeiro precisamos contextualizar sua criação para o início da década de 60, uma época em que não se tinha a incômoda necessidade que se tem hoje de tornar tudo dentro dos quadrinhos crível e próximo de nosso mundo real (o que faz com que muitos fãs passem a rejeitar o visual original de muitos dos seus personagens preferidos). Segundo, se conseguirmos realmente nos desprender deste sentimento de tentar atrelar tudo à realidade à nossa volta, perceberemos que o visual de Mystério é sim amedrontador. O fato dele esconder sua cabeça dentro de um simulacro de "bola de cristal", é algo que sempre me fez cogitar se ele era um ser de carne e osso, ou simplesmente a materialização de algo espiritual que vivia dentro do globo (ou aquário como alguns fãs mais recentes querem chamar para denegri-lo).

Miniatura Marvel Nº 57 - Mystério

As origens de Mystério estão intimamente ligadas à teatralidade do ilusionismo, por isso a capa roxa, os braceletes imitando uma figura com poderes arcanos e mesmo o globo escondendo a cabeça. Esta indumentária nos arremete às antigas representações de mágicos, cartomantes ou necromantes existentes na literatura. Tudo isto, é claro, influenciado pela estética marcante e vibrante dos anos 60, daí a composição inusitada do visual. Caso o olhemos com os olhos corretos e contextualizados, veremos que sua figura evoca distantes imagens esquecidas em nossa mente sobre mágicos, símbolos arcanos e ilusões. Particularmente gostei muito desta peça. Primeiro por preservar todas as características originais da roupa de Mystério e, segundo porque me pareceu bem modelada e com pontos interessantes. A capa possui aquela consistência de um tecido pesado (algo semelhante à um manto real, e não simplesmente uma capa). Suas ondulações realmente passam a ideia de que se trata de um tecido de maior espessura.

Miniatura Marvel Nº 57 - Mystério

Os braceletes aparecem em tons dourados à semelhança das botas e presilhas que seguram o manto na altura das clavículas. A roupa principal é, no entanto um macacão "verde musgo" que cobre todo o corpo do vilão, escondendo qualquer traço de pele, o que reforçaria a ideia de um ser incorpóreo. Por fim, mas não menos importante, temos a postura do vilão, que aparece com uma discreta inclinação para o lado esquerdo (jogando seu peso corporal para a perna esquerda), a mão esquerda como que a convidar um desavisado espectador para o início de um espetáculo, enquanto a mão direita segura a capa à altura do ombro naquele tradicional gesto teatral do mágico ou vampiro que anuncia seu desaparecimento dentro da própria capa. Todos estes critérios credenciam a peça como "satisfatória" no âmbito da coleção.

Miniatura Marvel Nº 57 - Mystério

Mas Mystério não é um ser incorpóreo ou espiritual, ele é um homem de carne e osso, com passado, personalidade intransigente e relativamente doentia, seu nome é Quentin Beck. Quentin foi um ex-dublê e especialista em efeitos especiais para a indústria cinematográfica. Apesar de ter alcançado fama e reconhecimento profissional, Quentin possuía uma combinação interessante de "Ego" e "Insegurança" que o forçou a querer mais. Mais reconhecimento, mais fama... Até que um colega sugeriu que ele deveria usar seus conhecimentos em causa própria emulando artificialmente as habilidades do Homem-Aranha. A ideia de Quentin era se passar pelo Amigão da Vizinhança cometendo crimes. A partir disso ele criaria uma 2ª identidade heroica que levaria o falso Aranha à justiça. Assim, seu personagem heroico ganharia fama, pois na época o Editor J. Jonah Jameson fazia férrea campanha no jornal Clarim Diário dizendo que o Homem-Aranha era um criminoso. O complexo e doentio raciocínio de Quentin não tinha como resistir às habilidades e esperteza do Homem-Aranha verdadeiro.

Miniatura Marvel Nº 57 - Mystério

Após ser derrotado pelo Aranha e preso, Quentin passaria a gestar um ódio pelo Escalador de Paredes. Quentin fora exposto diante do mundo do cinema como o criminoso que era, o que inviabilizava seu retorno à uma carreira normal no mundo do showbiz. Isso fez com que restasse apenas uma opção, ou seja, o aprofundamento em uma vida de crimes. Ao sair da prisão foram vários os combates entre Mystério e o Homem-Aranha. Houve inclusive uma fase em que o vilão atuou ao lado do Sexteto Sinistro (um bando de vilões que se uniu com a finalidade de acabar com o Aranha) à convite do Dr. Octopus. Os planos de Mystério sempre envolveram teatralidade e manipulação das percepções sensoriais de seu oponente. Talvez por isso sua periculosidade nunca tenha chegado a ser um grande problema para o Aranha, o que explicaria a certa obscuridade do vilão dentro da galeria de inimigos do Teioso.

Miniatura Marvel Nº 57 - Mystério

Apesar da relativa baixa periculosidade em se tratando se superpoderes, Mystério poderia compensar isso a partir de seus talentos como ilusionista e estrategista. Isso pôde ser comprovado quando Mystério conseguiu sobrepujar e vencer ninguém menos que a Mulher-Hulk. Outro personagem a sofrer nas mãos do vilão foi o Demolidor. No arco Diabo da Guarda, lançado no final da década de 90, Matt Murdock (alter-ego do Demolidor) era o homem por trás do uniforme do Homem-Aranha na época. Quentin, sabendo que aquele Aranha era um impostor, arquitetou um plano com um enredo Cristão/Apocalíptico ao colocar em cheque as crenças cristãs do Demolidor. Na história, o Demônio de Hell´s Kitchen entra em uma espiral crescente de delírio ao proteger um bebê (que supostamente seria o Anti-Cristo) de bandidos. Em profundo questionamento entre o que é verdadeiro ou delírio, Matt Murdock sofre nas mãos do incrível plano de Mystério ao se dividir entre suas crenças católicas e a proteção de um inocente. Histórias como esta mostram o quanto um vilão como Mystério pode ser perigoso ao manipular crenças e traumas profundos de outras pessoas.

Miniatura Marvel Nº 57 - Mystério

Eu, que pouco acompanhei as histórias envolvendo o vilão, sempre achei que Mystério realmente era um ser poderoso e de origem espiritual. Isto porque sempre soube de seu potencial de enlouquecer mentalmente seus oponentes. Por isso sempre achei que Mystério era um ser constituído apenas de um éter incorpóreo, ou seja, eu mesmo fui enganado pelo danado do Quentin Beck... rs rs rs ...

Bem amigos... É isso aí! Um forte abraço à todos vocês!!
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