Entre 1989 e 1990 saiu aqui no Brasil uma HQ que definitivamente explodiu minha cabeça. Lançada em Terras Brazucas pela Editora Abril,
Storm é uma obra que traz a junção de um ilustrador fantástico,
Don Lawrence, com dois editores Holandeses de talento,
Frits van der Heide e
Martin Lodewijk. Responsáveis pelo lançamento original da saga a partir da segunda metade dos anos 70, esse trio fez história. Infelizmente apenas os 10 primeiros capítulos da saga
Storm viram a luz do dia em território Brasileiro. Sonhei com o retorno da saga por esses longos 33 anos. Ano passado, no entanto, a
Editora Tundra anunciou o ousado projeto de trazer novamente a obra para o Brasil.
MAS PORQUE GOSTO TANTO DE STORM!!!????
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEj0PgNLVf-NnOFv0qOraRTvWLDu1KK2883OTO4N3j-KfFPetF1aohROWt651FUUaWMuLZaGUNzzQ2KYoyUtO9dCjSnuTZ1iMDK-FKqeRhsbd6fbBkr7UxsfVVrIhQ_MnxWKbdBZKK5kpjWuG_rxN7WReBUuirhmpHJWtqn7B5JwEforPCNvHYjbZ2lz6g=w655-h417)
Durante muito tempo me debrucei sobre essa questão e a resposta para ela é muito significativa para mim. E vou dizer porque. Diversas obras de ficção científica no passado conseguiram capturar o assombro e o temor pelo desconhecido. Temas como Cenários e civilizações ancestrais que existiram e deixaram de existir... Modelos culturais que cresceram e se apagaram... sempre foram estruturas narrativas corriqueiras no gênero da ficção científica. Porém, tais enredos são difíceis de serem adaptados ou escritos de maneira a despertar VERDADEIRAMENTE o assombro ancestral ou medo verdadeiro pelo desconhecido. Em geral, muitas obras constroem tramas que, embora "legais", acabam por nos levar a espaços interpretativos conhecidos da psiquê humana. São roteiros que acabam por "domar" o desconhecido ao explicar tudo dentro de concepções já existentes. E com isso, se esvai o assombro e a perplexidade perante o vazio, o profundo e o infinito. Já me deparei com obras, no entanto, que realmente me fizeram entrar em contato com a tenebrosa e impensável existência infinita do tempo.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiSkDHcbW0aiY9V4aJDZZEVbOH0FeWyjo7I7CB4PNTKiGBwn4onloz8fB3BhL46BMYAClb7pZgNt5oxv91W8CBTiY88QcZT8FQxJ_1R29tDkyvFn-ce_CGX0TjRNaxs2n9Y7Qewqcqr1Bm94JAAFobaKLEqW8oEfuNtXRNeif_A7SXVQqolZ3dag55G_Q=w502-h675)
Posso citar, por exemplo a maioria dos episódios da Série Clássica de Star Trek, que lidavam com espécies e lugares inconcebíveis. Infelizmente, para mim, com a estruturação do Universo de Star Trek dentro de concepções políticas e sociais humanas, algum brilho foi perdido, embora eu ainda seja fã. A estranheza foi domada pela Federação Unida de Planetas, e todo o Universo conhecido passou a funcionar como uma imensa estrutura sócio-política humana. Embora existam episódios memoráveis dentro das sequências posteriores da série clássica, o medo do insondável, da vastidão do espaço começou a ser domado. Assim também o é com excelentes séries como Star Wars. Apesar do seu rico universo dramático, a verdade é que a franquia funciona dentro de um cosmos de concepções e estruturas humanas. Não importa, por exemplo, a estranheza da espécie ou da criatura apresentada nos filmes, ela sempre agirá a partir de comportamentos relativamente humanos.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgTP27LX6OhAC4J37SYIfIK27cs2gP8vz-14hZHX5Y5cev8HWmwDRgLb7h6D328TpynVYbTE8bAD--i68iQW1K6EHihqcODFxYr2sohUJBNr9-NELo-Eh0nKikuu64B1SK8_ulL_aTNjvBg0tK3IoQxJCVUjPlRz7yj8o4-kq2m4LWxIQkEBXVlm39dGw=w510-h692)
Em oposição à isso há verdadeiras maravilhas da ficção científica que conseguem colocar a estrutura de pensamento humano apenas como parte de um todo, apenas como uma fração do desconhecido. Estão nessa lista
Fundação de
Isaac Asimov,
Duna de
Frank Herbert,
A Mão Esquerda de Escuridão de
Ursula K. LeGuin, O Planeta dos Macacos de
Pierre Boulle, tão maravilhosamente transposto para as telas em 1968. E essa sensação de contato com o que é estranho, desconhecido, perigoso e, ao mesmo tempo, maravilhoso e épico, está presente em STORM. O artista
Don Lawrence conseguiu captar com suas ilustrações (verdadeiras obras de arte) a ideia do que é fora dos padrões. Você encontrará na obra similaridades sociais, políticas e espirituais com a sociedade humana, mas é uma semelhanças estranha, "fora do lugar", decaída...
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEin31nC9D95UXBkm5d9OcLWFUpgKIoIhcy0DEs-UeCDK4iwFLs7bt5fNYcKBAkrja5bDTeskxrwGFsR4wGhhAQuzjLrWNJ5KJ91b0sGF-CxOMBVuwR6O1rM-nbThTHWvMnoDCaCr-WE7t2VhM45x5wzV3S_yytBgBufiBiDPjKW39egs4NfvevpL0-Dwg=w505-h428)
Fora isso, há uma profunda identificação com o personagem Storm, o astronauta que se vê lançado em um mundo que parece a Terra, mas ao mesmo tempo não parece. A linha narrativa é totalmente comprometida com a "aventura", mas que deixa "migalhas" acerca do comportamento humano. Um desfile de coisas estranhas são apresentadas ao leitor que, embora reconheça comportamentos humanos nas mais variadas criaturas, logo vê que o que é conhecido e palatável à nós é apenas uma fração do todo. A edição da Editora Tundra é excelente por diversos motivos, dentre eles pelo tamanho, que permite as ilustrações de Lawrence ganharem a dimensão e a força que merecem. Os extras trazem informações riquíssimas acerca dos bastidores da criação da obra. Informações sobre as quais eu nem tinha ideia. Se você está chegando agora e não conhece Storm eu o convido a conhecer. Mais que isso, eu o convido a ler a obra e admira-la a partir de uma desistência de concepções humanas. Tente parar de explicar tudo o que vê a partir de construtos mentais humanos. Caso consiga fazer isso, STORM crescerá ainda mais e poderá, inclusive, leva-lo a sentir a estranheza e o desconforto frente ao desconhecido.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEivKSJlHxH1hCGNnId7kqJcSJlKXVY1kzJ9wwqA76oIQFzzsGOhwYa2wwPyZ-bQkmcg_Lt6mxqt3_nDE5q28pAxH28dyfud064-FFASOyzjycH-Nk7ANcUo-y3uXbmZ0taNQxmXTEDThqXSGc7ObIJeTvauGnDvNv4tJ6fPggY6BCwV4f3adtTmyv3sZA=w564-h504)