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sábado, 14 de junho de 2014

Batman - O Filho do Demônio


Em janeiro de 1989 chegava às minhas mãos o Nº 07 da Coleção Graphic Novels da Editora Abril. Uma coleção que marcou época ao trazer para o Brasil pela primeira vez uma série de títulos até então inéditos e de qualidade superior às revistas de linha. Uma coleção que oscilava por diversos estilos e nesse número 07 abordava uma das histórias mais importantes da mitologia recente do Homem-Morcego: Batman - O Filho do Demônio. Recentemente a Editora Panini relançou essa história em um bonito encadernado de capa-dura que, ao relê-lo após 25 anos, percebo que a história ainda se mantêm vigorosa e clássica, porém alguns aspectos da narrativa me causaram grande estranheza.


Por ocasião do lançamento da animação "Batman e Filho", prometida para esse ano de 2014, resolvi revisitar esse material. Com vigorosa arte de Jerry Bingham e roteiro de Mike W. Barr, Batman - O Filho do Demônio narra a estranha aventura na qual o Cruzado Encapuzado se vê novamente em contato com seu complexo inimigo Ra´s Al Ghul. A história, lançada originalmente em 1987 no EUA, traz o Batman classicamente caracterizado, ou seja, com um uniforme que por muitos anos foi usado em grandes e importantes aventuras dos anos 70 e 80.


O foco principal é a relação entre a linda Talia (filha de Al Ghul) e Batman. Porém, há espaço para intriga internacional, lutas violentas e romance. O envolvimento de Batman com Ra´s Al Ghul é explorado de forma bem diferente, dando a entender que no final os dois homens são feitos do mesmo material e possuem ideais e objetivos mais convergentes do que divergentes. Durante a história Bruce Wayne chega realmente a acreditar que seria possível levar uma vida comum ao lado de alguém que ele realmente ama.


A história, para quem não sabe, mostra a concepção de Damian, o filho de Batman que, depois de muitos anos, entraria já adolescente na vida de um Homem-Morcego que desconhece sua existência por acreditar que a gravidez de Talia não havia progredido. A interação entre Bruce e Talia é bem interessante pois, embora ela o ame, sua índole é mortífera e perigosa. Fica muito patente, no entanto a sinceridade da moça no que diz respeito aos seus sentimentos por Wayne.


A estranheza a qual fiz menção no início da matéria diz respeito ao comportamento de Batman. Após 25 anos percebe-se claramente que os tempos mudaram. O Batman nessa história é irritadiço e agressivo com as pessoas ao seu redor. À todo instante parece querer provar e autoafirmar sua postura de "macho-alfa". Analisando a obra com o distanciamento temporal que tenho agora, percebo que seu comportamento é totalmente fruto dos anos 80. Uma época em que o ícone e galã masculino se respaldava quase que 100% em homens fortes e valentões. Quem viveu a época deve se lembrar que atores como Arnold Schwarzenegger, Silvester Stalone, Jean-Claude Van Dame, Steven Segal, Dolf Lundgren protagonizavam os grande filmes. Em Batman - O Filho do Demônio essa postura fica bem patente ao observarmos a dinâmica masculina da história, tendo espaço inclusive para o aparecimento de um agressivo Mikhail Gorbachev trocando um telefonema com Ronald Reagan.


Acompanhei um pouco a trajetória recente do Homem-Morcego nos quadrinhos e é possível ver essa diferença a que chamo atenção acima. Percebe-se atualmente um Batman mais sombrio, mais silencioso e sobretudo mais maduro ao não encontrar necessidade de provar suas capacidades às pessoas à sua volta. Essa mudança é, sem dúvida nenhuma, fruto de mudanças na sociedade como um todo.


Batman - O Filho do Demônio merece ser lido não apenas sob esse olhar sociológico a que me refiro acima, mas também por ser uma ótima aventura que marca um evento de grandes consequências na vida de Bruce Wayne.

Ok amigos! Grande Abraço à todos!

8 comentários:

  1. Marcelo, concordo plenamente com você. Esta é uma das histórias mais importantes do Batman em todos os tempos. Infelizmente, no Brasil, ficamos órfãos das continuações "Bride of the Demon" e "Birth of the Demon". Somente consegui ler as duas muitos anos depois, em inglês. Uma pena, pois são também duas obras muito legais. Sou muito fã do Batman, e tenho saudade da época em que foi publicada essa Graphic. Realmente, o Batman dos anos oitenta era mais "machão", pois estavam tentando desmistificar a excessiva "proximidade" com Robin na época, o que levou inclusive à morte do parceiro mirim do Morcego e a alguns anos de aventuras solo do personagem. Um abraço!

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    1. Olá Marcelo! Tudo bem?

      Pois é... Quando a PANINI anunciou o relançamento dessa obra tinha esperanças de que os demais títulos dessa trilogia viriam à reboque. Porém, pelo jeito isso não aconteceu.

      A época em que saiu essa Coleção (Graphic Novels) no Brasil pela Editora Abril realmente foi um momento mágico, pois vimos chegar às Terras Brasileiras histórias Europeias e clássicos que até então nem sabíamos que existiam (eu pelo menos). Eu tinha vários números dessa série, porém durante uma mudança que fiz deixei esses exemplares com meu avô que acabou consumindo com eles.

      Quanto à questão de comportamento do Batman nessa fase acho que foi um pouco de tudo mesmo. Uma visão mais machista e durona que se tinha naquela época e isso fez com que, mais do que nunca, o personagem fosse afastado de seu parceiro mirim. O que culminou com a aterradora morte de Robin nas mãos do Coringa. Uma cena aliás que me chocou na época.

      Valeu amigo! Grande Abraço!

      Marcelo.

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  2. Adorei o post Marcelão! Parabéns!
    Principalmente por que se trata do meu personagem favorito!!
    Infelizmente eles não vão lançar a triologia. E também não entendi que formato de livro foi esse que eles publicaram, muito maior do que o tamanho regular, o que me atrapalhou na organização hehehe
    Abraços companheiro

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    1. Opa! Valeu Denis!!

      Você gosta muito do Cruzado Encapuzado, não é mesmo!? Sabe que durante muito tempo ele foi meu personagem favorito também. Hoje ele está entre os favoritos. Por exemplo, eu tinha restrições quanto ao Superman e Capitão América por acha-los muito certinhos. Mas sabe que de uns anos para cá eu os dimensionei dentro de outra ótica e aprendi a vê-los de forma bem diferente e positiva. Eu diria que os dois estão entre meus favoritos hoje.

      Puxa... É uma pena ler essa sua notícia de que eles não lançarão os demais encadernados da trilogia. Eu tinha esperança de que o fariam! : (

      Achei mesmo um acabamento muito bom para esse encadernado, porém é grandão mesmo! rs rs

      Valeu Denis!!

      Marcelo.

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  3. Oi Fabiano...

    Tudo bem, amigo!?

    Essas histórias que você recentemente teve contato mostram mesmo um Batman diferente desse que aparece nessa história da década de 80. Isso mostra o quanto os quadrinhos espelham as mudanças de nossa sociedade. Acho isso muito interessante.

    E então!? Gostou do filme!!??

    Abcs!!

    Marcelo.

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  4. Legal Fabiano...

    Tenho visto muitos comentarem sobre esse filme. Vi que você já postou uma matéria sobre ele no Blog. Depois vou conferir lá!!

    Grande Abraço!!

    Marcelo.

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  5. Gostei de sua observação quanto à influência de alguns conceitos dos anos '80 na concepção "deste" Batman. Tenho a edição da Abril. Li criança. Depois, reli adolescente. Comprei a versão da Panini. E vi algo: não gosto "muito" dessa HQ. Reconheço seus méritos. Uma "boa" HQ alternativa, dentro de um gênero às vezes tão cansativo, pela repetição. É um gibi mediano, ao menos para mim! Abraços e parabéns pela ótima análise!

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    1. Olá Kleiton...

      Tudo bem?

      A história tem sua importância. Mas na verdade eu não quis colocar abertamente minha opinião sobre essa encarnação do Batman na matéria. Mas vou coloca-la aqui nessa área de comentários. Eu particularmente não gosto muito dessa caracterização. Acredito que o homem que consiga chegar ao grau de disciplina, introspecção e motivações que Bruce Wayne chegou, jamais precisaria se autoafirmar perante os outros. Como que para estabelecer sua primazia de "macho-alfa". Acredito que ele estaria muito acima disso.

      Nisso a concepção de "Batman" da Trilogia de Christopher Nolan muito contribuiu para reverter esse tipo de caracterização, além é claro da própria mudança na sociedade como um todo nas últimas décadas.

      Valeu Kleiton!

      Abraço.

      Marcelo.

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