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sábado, 17 de março de 2018

Pantera Negra


Infelizmente não sou antropólogo, sociólogo ou historiador como a maioria dos usuários do Facebook, por isso gostaria de fazer alguns comentários sobre o filme Pantera Negra (EUA 2018) sob a perspectiva de um simples fã que procura não perder aquela velha "chama" que brilhou a 1ª vez que viu este fantástico mundo ficcional dos quadrinhos. Muitas vezes as teorias, academicismos e análises dentro de análises acabam por enterrar aquele brilho que todos nós "nerds" temos dentro de nós, acabando por restar apenas pessoas que não são mais capazes de enxergar o simples, o encantador e o catártico nestas histórias. São "nerds" que se perdem no caminho e se transformam em peças ocas nas quais um dia habitou o brilho que mencionei acima. Pantera Negra atendeu todas as expectativas que eu tinha e as superou, entendendo que minhas expectativas estavam ancoradas na perspectiva que mencionei acima, ou seja, de alguém que não quer se perder no mundo virulento das agressividades tão vigentes hoje em dia nas redes sociais, mas quer apenas ver seus personagens amados representados na tela.


Dito isto, eu gostaria de citar características que, para mim, fizeram do filme um manifesto da rica, milenar, sofrida e poderosa cultura negra. Uma das coisas que mais gostei foi o fato do Diretor ter conseguido construir Wakandanos realmente livres e que nunca sequer se sentiram marginalizados. Eles apenas eram o que eram, ou seja, pessoas como qualquer outra. Tanto que para muitos deles a ideia de existir um mundo onde o quesito "raça" promova certas divergências soa até patética. Com isso o Diretor Ryan Coogler transcendeu a discussão racial (muitas vezes superficial) que toma conta de incontáveis páginas do Facebook. Um ser humano é um ser humano, e ponto. Por outro lado, Coogler não cai na fantasia utópica também, uma vez que traz para o palco alguém que viveu a segregação e a dor, o "vilão" Killmonger. A pergunta aliás, que me ocorreu ao ver as motivações de Killmonger foi: É possível que depois de tanta dor, humilhação e frustração uma raça possa simplesmente mudar uma "chave" mágica e se torne um povo como os Wakandanos, com todos os predicados mencionados acima? Esta é uma das muitas questões que se apresentam diante do espectador ao longo da obra, um verdadeiro choque de irmãos com destinos diferentes.


Outro ponto maravilhoso no filme foi o orgulho com que foi interpretado e apresentado a cultura africana. Poderosa, colorida, profunda e antiga. Muitos já passaram pela experiência de assistir um filme e querer se parecer com os personagens apresentados na tela. Pois foi assim que me senti, quis ser negro, ser detentor daquela força, poder, ginga e alegria. Em meu post no Facebook mencionei que o filme transcendia seu gênero ao apresentar esse elemento, e acredito que ao proporcionar tais sensações, é isso mesmo que ocorra, ou seja, o gênero de "super-heróis" tem um incrível potencial de fortalecer culturas, inspira-las e produzir padrões elevados a serem seguidos. Tudo isso sem perder de vista o Universo ficcional e canônico no qual os personagens estão inseridos. Cabe dizer, aliás que o gênero "super-herói" sempre será relevante se ele fizer o que algumas importantes obras de fantasia fizeram no passado (Star Trek, Star Wars...), ou seja, mantiveram-se fiéis ao humano e não deixaram o "efeito especial", as explosões, violência e a pancadaria serem o prato principal. O principal sempre terá que ser o homem, suas incoerências, discrepâncias, idiossincrasias e dores.


Todas as mulheres do filme estavam excelentes em minha opinião. Todas mostraram-se à altura do papel que tinham, sem perder a feminilidade e charme. Cito também um aspecto que me deixou extremamente interessado, que foi o sotaque dos Wakandanos. Percebe-se uma entonação própria que os diferencia. Talvez isto tenha contribuído para serem vistos com o distanciamento necessário para serem considerados uma nação distinta. Não pareciam Norte-Americanos, mas sim homens e mulheres vindos de um outro lugar. Este detalhe trouxe credibilidade e identidade distinta ao povo, diferenciando-os do norte americano. Acredito que isso foi proposital para gerar este efeito.


Gostei muito do fato de Martin Freeman (o personagem que representava o ocidental típico no filme) ter tido um papel relevante mas ao mesmo tempo secundário, ou seja, os protagonistas eram os Wakandanos. Digo isso porque sempre foi "lugar comum" nos filmes a trama ser resolvida por um herói tipicamente americano ou europeu. Nada contra isso, mas poucas vezes se viu o contrário no cinema, ou seja, quem chega para salvar o dia em Pantera Negra, ou que tem a força para mudar as coisas não são os típicos ocidentais, mas os próprios africanos habitantes de sua terra. A Marvel teve a sensibilidade de empoderar quem deveria efetivamente ser empoderado no filme. Lembro, por exemplo, da crítica de Muhammad Ali quando, em uma entrevista, ele mostrou sua estranheza frente ao fato do Homem das Selvas (no caso Tarzan) ser um homem branco que trazia a habilidade de se comunicar com os animais e liderar as tribos africanas. Seria muito mais plausível imaginar que o detentor de tais habilidades fosse um homem negro africano, uma vez que seu povo habita aquele continente há centenas de milhares de anos. Este tipo de inconsistência não existe em Pantera Negra.


Um dos momentos mais importantes para mim foi a cena de morte de Killmonger ao lado do Pantera Negra ao por do sol Wakandano. Estranhamente durante a cena foi possível perceber a formação de um vínculo entre os dois personagens. Algo que só se forma quando há um grande respeito entre dois oponentes. A frase de Killmonger resume muito a epopeia do seu povo quando ele diz que preferia "pular do navio" e morrer no mar (referência aos negros que preferiam pular dos navios negreiros a serem conduzidos para uma morte lenta como escravos) do que ser preso novamente. O comentário do Killmonger dá a dimensão da tragédia de todo um povo.


Por fim, não posso deixar de mencionar as várias "alfinetadas" que o filme dá em alguns líderes mundiais, dentre elas a citação sobre a necessidade da "construção de pontes" e não de "muros" entre nações. Em um mundo em que seus líderes apelam cada vez mais para expedientes separatistas, protecionistas e algumas vezes xenófobos é muito importante termos filmes e obras que se coloquem contra isso.

Bom amigos... É isso aí... Deixo meu grande abraço à todos vocês e Wakanda Forever!!

10 comentários:

  1. blz marcelo?

    puta filme maneiro pra caralho em todos os sentidos, uma boa história com personagens marcantes, forte politicamente, sem aquelas gracinhas "padronizadas" de uma boa quantidade de filmes da marvel.
    respeito é extremamente importante e acho que este filme é um bom exemplo disto.

    abraço

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    1. Olá Gustavo!!

      Tudo bem sim!! Obrigado pela presença e comentário amigo!! Concordo... A parte cômica é bem sutil, inteligente e bem colocada. Se Dr. Estranho tivesse tido essa pegada teria sido bem melhor.

      Tem toda razão... O filme ganha em respeito ao abordar assuntos tão difíceis de uma forma que no final aproxima e não afasta as pessoas.

      Forte abraço amigo!

      Marcelo

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  2. Olá Marcelo, tudo bem? Parabéns pelo texto. Gostei da forma como você coloca seus argumentos sobre o filme e os desenvolve ao longo do texto. Torna mais simples ainda o entendimento do porque Pantera Negra ter feito tanto sucesso. Concordo com que fala sobre Killmonger e essa cena final. Realmente tem um peso muito grande além de aproximar os personagens.

    Abraço.

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    1. Oi Marcus!

      Tudo bem amigo!? Eu estou bem sim. Obrigado pela mensagem e presença aqui no Blog!

      Agradeço a gentileza no comentário. O filme realmente me marcou muito e esta cena ao final é linda e dramática. Não deixa de ser o choque de dois mundos e acabamos por ter empatia pelo Killmonger, ao percebermos que ele também foi vítima.

      Forte abraço amigo!!

      Marcelo

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  3. Olá Marcelo,

    Já é chover no molhado elogiar suas matérias, mas para coisas boas todo elogio é pouco. Confesso que ainda não fui ver o filme por pura preguiça assim não poderei falar do mesmo, mas que tenho estranhado tantos elogios de toda a imprensa e de quem nem sabe nada de quadrinhos, só posso entender isto com embalo, pessoas que se agarram em opiniões completamente válidas como as suas Marcelo (pois você tem propriedade para falar sendo um apaixonado pelos quadrinhos), e ficam repetindo como verdadeiros papagaios de pirata, Enfim espero que seja isto tudo mesmo, pois desejo uma vida longa aos quadrinhos no cinema e que venham outros personagens do segundo escalão sempre.

    Ps.: Deixei uma resposta para você na matéria das guerras Secretas.

    Você por acaso fez uma postagem desta magnitude sobre Thor Ragnarock?

    Abraços

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    1. Olá amigo Wellington!!

      Valeu mesmo... Fico sempre muito contente e feliz em saber que as matérias aqui do Blog são lidas e, acima de tudo, que servem para aproximar amigos e fazer amizades.

      Ficarei contente em saber sua opinião quando fores assistir ao filme. Para mim foi um grande filme ao falar de coisas doloridas sem ofender ninguém e sem deixar de ir a fundo em questões tão atuais e relevantes.

      Valeu também pelo comentário em Guerras Secretas! Vou lá ver!

      Puxa... Não fiz matéria sobre Thor Ragnarok. Mas gostei muito Wellington. Achei um filme que não teve medo de ser leve, despretensioso e ao mesmo tempo valorizar os personagens.

      Valeu mesmo!

      Abcs.

      Marcelo

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  4. excelente post!
    vi o filme ontem.
    realmente ficou muito legal.
    não esperava tanto do personagem e me surpreendeu.

    abs!

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    1. Que bom que gostou!

      O filme transcende vários pontos dos demais filmes. Acredito que está ocorrendo uma depuração das narrativas. Tornando-as mais próximas dos problemas de nosso tempo.

      O diretor de Pantera Negra conseguiu tratar de pontos polêmicos com precisão cirúrgica. rs rs rs

      Valeu amigo!

      Marcelo

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  5. Killmonger era um excelente vilão e personagem que conseguiu um papel de liderança. Na verdade, eles falharam em dar a final, mas, em geral, Michael B. Jordan fez um ótimo trabalho. Ele fará um ótimo trabalho em seu novo projeto. Na minha opinião, Fahrenheit 451 será um dos mehores filmes drama de este ano. O ritmo do livro é é bom e consegue nos prender desde o princípio. O filme vai superar minhas expectativas. Além, acho que a sua participação neste filme realmente vai ajudar ao desenvolvimento da história.

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    Respostas
    1. Olá Mariana...

      Michael B. Jordan tem me surpreendido também. Li o livro Fahrenheit 451 do Ray Bradburry também e assisti ao clássico filme do François Truffaut. Quando fiquei sabendo deste remake eu sinceramente torci o nariz. Mas o Michael Shanon é excelente também. Por isso vamos ver.

      Estou na expectativa como você.

      Forte abraço Mariana!!

      Marcelo

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