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sábado, 28 de outubro de 2017

Butcher´s Crossing


Butcher´s Crossing ou Travessia do Carniceiro é um livro que foi escrito pelo escritor, editor e professor John Edward Williams (1922 - 1994) e publicado pela primeira vez em 1960. O livro narra a história do jovem Will Adrews, estudante em Harvard, de família tradicional e que, na década de 1870, desiste de tudo para atender um chamado interior que o impulsiona em busca de algo profundo e que, acredita, estar escondido de alguma forma na natureza. Semelhante à outras grandes histórias, (Caninos Brancos de Jack London, Na Natureza Selvagem de John Krakauer, Walden de Henry Thoreau...) verídicas ou não, de homens que se se sentiram impulsionados à encontrarem o significado da existência no reencontro com algo que perdemos enquanto espécie, e que se encontra nos silêncios, barulhos e crueza da natureza, a história de Will Andrews o segue para o interior do Kansas - EUA, para uma pequena vila chamada Butcher´s Crossing nos limites da civilização.


A grande procura do protagonista terá como palco uma viagem em busca dos gigantes paquidermes das pradarias Norte-Americanas, os Búfalos. Aquecido pela grande demanda pela pele destes grandes e lindos animais, a caça comercial exterminou milhares e milhares de Búfalos ao longo da 2ª metade do Século 19 nos EUA. O livro narra a expedição de Will acompanhado do experiente caçador Miller, seu ajudante Charley Hoge e do escalpelador Fred Schneider. A escrita é fácil e o autor consegue promover a imersão do leitor no rico cenário do Oeste Selvagem. Gostaria, no entanto de descrever algumas impressões muito positivas a respeito da obra, bem como algumas reflexões pessoais sobre seu conteúdo. Uma das primeiras coisas que me trouxe grande surpresa em relação ao autor John Williams, foi sua capacidade de traduzir em palavras determinados sentimentos ou buscas pessoais que carregamos mas que não conseguimos expressa-los de maneira a manter sua integridade sagrada. Prefiro explicar transcrevendo trechos do livro:

- Reflexão pessoal de Andrews diante das Montanhas -
"Quando chegaram mais perto, ele teve outra vez a sensação de que estava sendo absorvido, incluído em alguma coisa com a qual nunca se relacionara antes; mas, ao contrário da sensação de absorção que experimentara na pradaria anônima, essa sensação prometia , ainda que vagamente, uma riqueza e uma satisfação plena para as quais ele não tinha nenhum nome".

"Ele se deu conta de que seu frenesi de alcançar as montanhas era parecido com a sede que havia acabado de sentir. Sabia que as montanhas estavam lá, podia vê-las, mas não entendia exatamente que tipo de fome ou de sede as montanhas aliviariam dentro dele."


Se por um lado a viagem interior de Andrews nos leva a identificar a própria voz que clama dentro de nós em busca da plenitude primal existente na natureza, por outro lado temos o mundo real ao redor do personagem que o faz mergulhar no universo dos caçadores de Búfalos. Com uma brutalidade absurda, Miller (o caçador) abate sem piedade manadas inteiras ao longo do livro. E este aspecto é o segundo ponto que eu gostaria de salientar em relação à obra: o autor descreve a selvageria humana que cresce dentro de Miller e, à semelhança de um Capitão Ahab (de Moby Dick) das planícies, Miller mergulha com uma raiva irracional e insana sobre o dóceis e sábios Búfalos. E neste sentido o livro foi difícil para mim ao escancarar o abismo da alma humana.

Típico Caçador de Búfalo

Para os puristas literários, comparar Butcher´s Crossing com o clássico da literatura Moby Dick seria um sacrilégio, no entanto o paralelo existe sim, fazendo com que Butcher´s Crossing seja um  primo distante da obra prima de Herman Melville. Em vários pontos do livro o leitor não quer acreditar em nossa insistência em chafurdarmos o lamaçal da agressão contra a própria Criação (Natureza). Miller se torna co-protagonista da história ao lado de Andrews ao se apresentar como alguém que parece ter raiva do Búfalos como que se desejasse despejar sobre eles sua frustração pelo nosso paraíso celestial perdido. Pelo menos para mim fica esta interpretação. A raiva por termos perdido um vínculo com algo muito precioso. De outro lado, no entanto Andrews parece buscar a restauração deste vínculo.

Caçadores de Búfalo

O livro mostrará também a futilidade dos desejos humanos e o quanto arriscamos perder, apenas para saciar estes desejos. Fazemos isso, infelizmente até hoje. Buscamos certas coisas que no fim não são tão importantes assim. E nesse caminho nos embrutecemos e percebemos que o que vale a pena foi sacrificado por este "ouro de tolo".

Montanhas de Peles de Búfalo

Podemos classificar o livro como um Western, mas uma espécie de Western mais profundo, que mostra a realidade das pessoas que viveram aquele período que foi centenas de vezes encenado no cinema. Meu conselho é ler a obra destituído de uma expectativa contaminada pelas aventuras relativamente cartunescas e panfletárias do cinema. Isso lhe dará a perspectiva correta para aproveitar Butcher´s Crossing

Típico Saloon da Fronteira Americana - 2ª Metade do Século 19

Concluindo... É impossível não pensar que do passado, pessoas nos observam talvez tentando nos dizer para vivermos de forma diferente deles, pessoas que, incapazes de nos alertar diretamente parecem pedir que olhemos suas histórias e, assim, repensemos nossa jornada e construamos vidas diferentes.

John Williams

Um grande abraço amigos...

Um comentário:

  1. Grande Marcelo! Muito bom o post!
    Pertinente a comparação com Moby Dick.
    Abraço.

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