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quinta-feira, 27 de julho de 2017

Miniatura Marvel Série Especial Nº 11 - Hulk Cinza

Miniatura Marvel Especial Nº 11 - Hulk Cinza

O Hulk teve uma 2ª peça lançada dentro do Segmento Especial da Coleção Eaglemoss. Diferentemente de outras peças que não teriam sentido em sair duplicadas (caso do Anjo por exemplo), o Hulk Cinza até possui este direito, embora em minha opinião teria que ter saído evocando o aspecto característico do Hulk Cinza dos quadrinhos, que é bem diferente de sua versão bestial verde. Para novos leitores vale a pena explicar que esta versão cinza é a mesma do Hulk Verde, mas que se apresenta com uma coloração cinza por conta de uma história de bastidores muito interessante dentro da Marvel à época de sua criação em Maio de 1962 na Revista The Incredible Hulk 01.

Miniatura Marvel Especial Nº 11 - Hulk Cinza

O Hulk foi criado como todos sabem por Stan Lee e Jack Kirby e ocupa um lugar de honra na galeria Marvel, já que foi o 2º personagem a ser concebido após o Quarteto Fantástico (grupo que inaugurou a Era Marvel nos 60). Lee pensou em um monstro que evocasse medo nas pessoas, mas ao mesmo tempo compreensão e compaixão. A cor escolhida pelos criadores foi o cinza, uma cor que sem explicação nenhuma não ficava adequada na revista impressa. Stan Lee comentaria o seguinte a respeito disto: "A pele dele era cinza claro em alguns pontos e quase preto em outros. Havia alguns painéis em que ela parecia vermelha e, por algum motivo que ninguém foi capaz de explicar, num close já próximo do final da história, ele ficou verde esmeralda. Como você já deve ter suposto, ficou dolorosamente claro para mim que cinza não fora a melhor das escolhas de cor que eu já tinha feito".

Miniatura Marvel Especial Nº 11 - Hulk Cinza

O Hulk abandonaria a cor cinza já no Nº 02 de sua revista mensal de Julho de 1962. Este Hulk de cor cinza poderia ter ficado no limbo editorial se não fosse pela ideia do escritor Al Migrom na segunda metade dos anos 80. Na história, após uma tentativa mal sucedida de se eliminar o Hulk (Verde), a criatura torna-se cinza. A cor traz consigo outras estranhezas, por exemplo o fato do Gigante tornar-se inteligente, "sacana" e com uma obsessão de eliminar por completo os resquícios interiores de Banner. Este Hulk Cinza voltaria a aparecer alguns anos depois na Era do escritor Peter David sob a alcunha de Joe Tira-Teima. Esta fase seria caracterizada por um Hulk que vivia escondido em Las Vegas como guarda-costas.

Miniatura Marvel Especial Nº 11 - Hulk Cinza

Mas como explicar de forma coerente estas mudanças de coloração? A explicação veio de forma elegante por meio de uma trama com tons psicológicos do roteirista Paul Jenkins. A verdade é que Robert Bruce Banner havia sido vítima de abuso infantil e isto explicaria, por exemplo sua grande dificuldade de se socializar desde o começo de sua existência e apresentada nos quadrinhos desde o início. Outros danos deste abuso seria a internalização de uma raiva imensa por parte de Bruce, além é claro de uma dificuldade de cometer pequenos e inofensivos delitos, o que expressava a grande repressão existente dentro de Banner. Isto então explicaria a existência de Hulks distintos com aspectos predominantes em cada um deles. Por exemplo, um Hulk Verde, incomensuravelmente forte e bestial e um Hulk Cinza mais contido e cheio de artimanhas.

Miniatura Marvel Especial Nº 11 - Hulk Cinza

Stan Lee nunca escondeu que foi grandemente influenciado pela obra O Médico e o Monstro (Dr. Jekyll & Mr. Hyde ) publicada em 1886 dRobert Louis Stevenson. Na história o bom Dr. Jekyll cria uma fórmula que conseguiria acessar o âmago do ser humano, tornando-o bom e livre de sua consciência pecaminosa. O efeito é desastroso e, ao cair da noite, Jekyll transforma-se em um homem hediondo, horripilante em sua aparência, que condensa todas as piores facetas da alma humana. O livro é um clássico e serve de alegoria para o fato de que nossa alma está fadada a se digladiar dia e noite em um palco onde luz e trevas, virtudes e tendências malignas estão presentes sempre em conflito. Aliás, deve ter sido deste livro que Lee também extraiu a ideia de que a transformação de Banner no Hulk aconteceria sempre à noite, algo que foi posteriormente alterado para uma transformação deflagrada pela raiva e estresse. Recomendo muito que assistam às duas adaptações cinematográficas de O Médico e o Monstro, ambas fenomenais, embora eu prefira a primeira de 1931 com Frederic March no papel de Dr. Jekyll. A segunda data de 1941 com o grande Spencer Tracy no papel principal.

Miniatura Marvel Especial Nº 11 - Hulk Cinza

Outra inspiração de Stan Lee para criação do Hulk dispensa apresentações, Frankenstein de Mary Shelley. Publicado em 1818 o livro trouxe pavor às pessoas da época, sobretudo pelo fato de que não se conhecia ainda muito bem o efeito da corrente elétrica sobre o corpo humano. A possibilidade de que a eletricidade poderia realmente reviver algum cadáver não era totalmente descartada no início do século 19. Vale à penas ressaltar aqui uma "lenda literária" envolvendo o nome de Mary Shelley. Reza a lenda que escritores daquela época, em busca de boas histórias de terror, alimentavam-se copiosamente à noite e iam dormir logo em seguida para terem pesadelos e assim trazê-los à luz do dia em forma de histórias. Teria sido em condições assim que Mary Shelley concebeu Frankenstein

Miniatura Marvel Especial Nº 11 - Hulk Cinza

De Frankenstein acredito que Lee extraiu a solidão da criatura que vive incompreendida em busca de paz, sozinha sem poder contar com quase ninguém, a não ser improváveis amigos, como foi o caso de Rick Jones (rapaz responsável por Banner ter recebido a massiva carga de radiação gama). Em minha opinião, embora Hulk tenha sido bem trabalhado no passado, nunca ninguém conseguiu construir uma história que explorasse este lado dramático e aterrorizador da criatura em sua solidão, como já foi feito por exemplo com Frankenstein e o próprio Dr. Jekyll na literatura. Seria uma história em que a "pancadaria" estaria minimizada para se tentar maximizar o drama do monstro, tal qual aconteceu, por exemplo em outro clássico da literatura muito parecido com o narrativa trágica de Hulk, O Corcunda de Notre Dame de Vitor Hugo.

Miniatura Marvel Especial Nº 11 - Hulk Cinza

Bom amigos esta é mais uma matéria em que abordamos o conceito por trás do personagem. Um grande abraço à todos!

sábado, 15 de julho de 2017

Colecionadores x Leitores de HQs: Há diferença!!??


Respondendo: Sim, há. Recentemente presenciei uma cena (que ocorreu dentro de uma Comic Shop) e que me deixou muito insatisfeito e triste. No passado, nós Nerds sofríamos Bullying de valentões e de supostos fanfarrões bem-sucedidos socialmente. Atualmetne, infelizmente, o Bullying ocorre a partir de Nerds (valentões) sobre outros Nerds. Um cenário incrivelmente surreal e deprimente. A cena a que me refiro ocorreu quando dois Nerds-Valentões estavam numa Comic Shop gabando-se de seus conhecimentos de cultura pop e começaram dizer, com ar superior, que eles pelo menos liam as HQs que compravam, diferentemente da maioria dos outros Nerds que as compravam e não liam. A cena me motivou a tecer algumas reflexões acerca do que envolve colecionar e ler HQs.


Em primeiro lugar gostaria de diferenciar o Leitor de HQs do Colecionador de HQs. Ambos não são excludentes, claro. Mas o fato é que você pode ser apenas um leitor de quadrinhos, não dando muita importância para o quadrinho em si, ou seja, para aquilo que ele representa enquanto material colecionável. Este é o Leitor de HQ. Tal pessoa é extremamente bem vinda para o mercado de quadrinhos e não há qualquer problema em ser assim. Compram, leem e, depois de ler, o material perde sua importância. Volto a dizer que não há problema algum nisso. Aliás, possivelmente os Nerds-Valentões descrito na cena inicial acima, possivelmente eram apenas leitores de quadrinhos (embora com um conceito péssimo da vida em sociedade). Os Leitores de Quadrinhos até querem possuir esta ou aquela HQ, mas não possuem aquela vontade de completar esta ou aquela sequencia de histórias ou arcos para depois expo-las na estante para si.


O segundo tipo de amante dos quadrinhos é o Colecionador de Quadrinhos. Este tipo em geral se importa com a sequencia de arcos e enxerga o quadrinho não apenas como histórias, mas como um objeto colecionável, tal qual o colecionador de "moedas", "selos" ou quaisquer outros tipos de coleções. Este tipo, aliás, vem se beneficiando com a grande onda de lançamentos de HQs dentro de coleções (Ex. Coleção Histórica Marvel, Coleção Capa Preta, Vermelha e Definitiva do Homem-Aranha da Salvat, além da Coleção da DC da Eaglemoss). Nesta perspetiva fica claro porque algumas pessoas compram quadrinhos e demoram muito tempo para lerem a história. Isto acontece porque a compra não está atrelada diretamente à leitura, mas sim à continuidade ou conclusão de determinado título (seu objeto de coleção). Vamos fazer um pequeno exercício ilustrativo: Pense um pouco... Caso você compre Action Figures de uma determinada linha, e tenha o espírito de colecionador, provavelmente você buscará com afinco seu término. Enquanto outra pessoa que é apenas um aficionado talvez queira comprar apenas esta ou aquela peça, sem se importar com a coleção toda. Nada mais comum e nada mais legítimo. O problema começa quando o Não-Colecionador, ou seja, aquele que quer apenas ler uma HQ ou comprar apenas esta ou aquela peça inicia uma intimidação sobre aquele que tem "alma" de colecionador. Na verdade há lugar para todo mundo viver em paz.


Há também um 3º tipo de pessoa é claro, o Acumulador. Mas este é quase um nômade, pois trafega entre os diversos tipos de assuntos acumulando de forma sazonal aquilo que lhe apraz naquele momento. Em geral este tipo não possui tanto conhecimento acerca do assunto e após algum tempo se desinteressa completamente por ele. Embora eu tenha definido teoricamente estes 3 tipos  de pessoas (Colecionador, Leitor de HQs e Acumulador), na prática há uma inter-relação entre eles, ou seja, é possível que se tenha um pouco dos 3 ou então predominância de um tipo. Por isso fiz o diagrama abaixo para tentar elucidar esta inter-relação no dia a dia.


O indivíduo que existe estritamente dentro do universo "1" seria aquele que definimos na matéria com o perfil 100% Colecionador de HQ. No universo "2" o que definimos como Leitor de Quadrinhos e no de número "3" o Acumulador. É possível que se tenha características associadas, ou seja, aquele na intersecção "1 e 3" seria o colecionador que já começa a apresentar características acumulativas, perdendo um pouco o senso do que é factível em sua vida. Aquele na intersecção "2 e 3" seria o leitor que começa a apresentar características de acumulador. Não se interessa exatamente pelo assunto, quer apenas '"ter". Na intersecção "1 e 2" temos uma mistura entre colecionador e leitor e, por fim na intersecção "1, 2 e 3", o indivíduo com todas as características que vão se manifestando ao longo do tempo.


Bom amigos... Esta matéria objetivou tentar lançar um pouco de luz sobre esta relação entre tais tipos de pessoas que se relacionam com os quadrinhos. Lembrando que, à exceção do Acumulador (que pode ter conotações patológicas), os demais tipos são legítimos, não excludentes e que podem sim conviver em harmonia.

Em grande abraço à todos!
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