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domingo, 14 de agosto de 2016

Miniatura Marvel Nº 52 - Lagarto

Miniatura Marvel Nº 52 - Lagarto

Vamos falar sobre o Lagarto... ou melhor, sobre o Lagarto e sobre o médico-cirurgião do exército norte-americano Curt Connors, o homem por trás deste que é o mais famoso vilão reptiliano da galeria de vilões do Homem-Aranha. Nesta matéria também analisaremos sua peça dentro da Coleção de Miniaturas Marvel da Eaglemoss. Criado por Stan Lee e Steve Ditko em 1963 durante uma fase de grande criatividade na Marvel no alvorecer da Era de Prata, o Lagarto diferenciava-se dos demais vilões do Aranha ao trazer consigo o componente da tragédia que marcava a vida do bom doutor Connors. Com isto se estabelecia uma certa "zona cinza" sobre a relação entre herói e vilão, o que não era comum até aquele momento. Até ali a ordem comum era uma relação maniqueísta entre estas duas figuras, ou seja, uma concepção de realidade vista de pontos de vistas opostos. O herói Bom e o vilão Mal, o herói Certo e o vilão Errado.

Miniatura Marvel Nº 52 - Lagarto

A peça mostra o Lagarto em sua forma mais clássica, a estranha figura de um homem reptiliano trajando um avental médico. Não há grandes acessórios ou mesmo pontos chamativos na peça, por outro lado também não há erros ou mesmo inadequações na figura. A modelagem obedeceu pontos cruciais no conceito do personagem, tais como, sua pele craquelada, mãos e pés semelhantes à patas de um lagarto, língua bifurcada, cabeça claramente de um réptil e olhos amarelados e estreitos no eixo vertical. Soma-se a isso a robusta e escamosa calda, apresentada adequadamente em um movimento serpenteante. A língua projetada para fora da boca chama atenção na composição final da figura pela cor vibrante e tamanho, emprestando um ar de ferocidade e demência.

Miniatura Marvel Nº 52 - Lagarto

Achei interessante o detalhe do jaleco corroído e destruído nas extremidades dos braços e ao longo de toda sua barra. Este detalhe evidencia os lugares lúgubres e sujos pelos quais o personagem sempre se esgueira. Caso você preste mais atenção poderá, inclusive detectar pequenos furos simulando rasgos no tecido do avental. A calça ainda traz o detalhe do cinto, resquício de humanidade da aterradora figura e, além disso sua barra também encontra-se no mesmo estado das extremidades do avental, rasgada e puída. 

Miniatura Marvel Nº 52 - Lagarto

Mas de onde veio este feroz e estranho personagem? Durante sua juventude o Dr. Curt Connors fora um habilidoso cirurgião que servia o exército salvando as vidas de soldados feridos em combates. No entanto, a Guerra feriria o próprio Connors ao ser vítima de uma explosão que forçaram os médicos a amputarem seu braço direito. Retornando para casa com este déficit funcional estava claro para Connors que sua vida de cirurgião havia acabado. Apesar disto ele manteve-se firme ao iniciar carreira em outra área da ciência na qual possuía extremo interesse: a bioquímica. Casado com Martha e pai de um lindo bebê chamado Billy, Connors poderia ter vivido sua vida sem mais percalços não fosse por sua obsessão pela ausência de seu braço direito. 

Miniatura Marvel Nº 52 - Lagarto

Esta obsessão fez com que ele aprofundasse suas pesquisas sobre a habilidade de certos insetos e répteis em fazer crescer novamente membros arrancados ou perdidos. A partir destas pesquisas Connors desenvolveu um soro e o usou em si próprio (como cobaia), regenerando assim seu braço, no entanto transformando-se em um ser irracional, feroz e com apenas um pálida lembrança de sua humanidade. Ao confrontar o Lagarto pela 1ª vez o Homem-Aranha descobriu, por meio da esposa de Connors, sua trágica história. Por conta disto, ele sempre se conteve diante do bestial Lagarto, temendo ferir Connors

Miniatura Marvel Nº 52 - Lagarto

A vida de aberração de Curt Connors poderia ter sido esta para sempre não fosse o intelecto de Peter Parker que, baseado nas anotações do próprio Connors, conseguiu sintetizar um soro que garantiu a reversão do estado reptiliano de Connors para o de um ser humano normal, porém ainda sem seu braço. Obviamente ele ficou extremamente grato ao Aranha, sobretudo por amar sua esposa e filho e não querer vê-los envolvidos com uma fera como o Lagarto. Posteriormente Connors chegou a ser parceiro do próprio Aranha ao ajuda-lo a combater alguns vilões colocando suas habilidades como bioquímico à disposição, sintetizando substâncias que ajudariam o Cabeça de Teia nos combates. O Exemplo mais emblemático aconteceu durante o primeiro enfrentamento entre o Aranha e Rino.

Miniatura Marvel Nº 52 - Lagarto

A saga do Lagarto não acabaria desta forma. Em inúmeras outras ocasiões, Connors voltaria a ser o Lagarto. Ao que tudo indica o soro ingerido por ele foi assimilado em seu DNA, fazendo com que diversas outras transformações voltassem a ocorrer, hora controladas, hora espontâneas. Maiores tragédias estariam no caminho do personagem, dentre elas a morte de sua esposa em função de um câncer e o sofrimento de seu filho Billy, que cresceu em um ambiente de medo e constante instabilidade em função do histórico volátil do pai. Inclusive o próprio Billy chegou a ser alvo de transformação semelhante à do pai em certa ocasião.

Miniatura Marvel Nº 52 - Lagarto

A história do Lagarto traz consigo muitos elementos da literatura clássica, sua dualidade, sua alma como palco de um constante embate entre criador e criatura, a ideia antiga de que dentro de nós há resquícios de uma irracionalidade que pode vir à tona desde que sejamos expostos à perigos ou situações extremas de sobrevivência... Enfim, um personagem que sabemos que possui grande potencial dramático. Um grande representante do caldeirão criativo que foi a mente de autores e desenhistas da Marvel na Era de Prata.

É isso amigos... Grande abraço!!

2 comentários:

  1. Fala Marcelo tudo tranquilo,

    E aí temos mais um personagem inspirado no Médico e o Monstro, parece que todos bebem nesta fonte que se mostra inesgotável.

    Gostei muito desta miniatura, cada detalhe citado por você e meu destaque é para a calda e lingua que ficaram muito bacanas a história do lagarto é uma Tragédia Grega. Grande parte dos vilões do Aranha tem esta ambiguidade entre mal e bem e acabam se destacando.

    Quando fizeram o filme do Aranha com o lagarto senti falta do focinho alongado.

    Abraços.

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    Respostas
    1. Olá Wellington!! Blz!?!?

      Verdade cara! Isso mesmo... Mais um bebendo da água do Robert Louis Stevenson.

      Acho essa alegoria tão rica porque no fundo ela exemplifica o que todos nós temos dentro de nós. Um eterno conflito entre o bem e o mal.

      Vc tem razão. a calda e a língua tão um tom de bestialidade mesmo. Essa ambiguidade dá um nó na cabeça do leitor que acaba por se sentir sem parâmetros para julga-lo em função de sua tragédia. Com certeza!

      Acho que no filme do Aranha se tivesse tido apenas o Lagarto já teria ficado bom. Só esse personagem tem muita dramaticidade para ser explorada.

      Valeu amigo!!

      Marcelo

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