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quarta-feira, 5 de março de 2014

Quarteto Fantástico 1234

Quarteto Fantástico - Nº 01 - Capa

Há algum tempo gostaria de comentar algumas coisas dentro da coluna "Boa Leitura". Um espaço onde costumo comentar histórias que, embora não sejam expoentes dentro da 9ª Arte, sem dúvida nenhuma estão acima da média e valem a pena serem lidas, em minha opinião. Recentemente li Quarteto Fantástico 1234 de Grant Morrison e, para mim, foi uma grata surpresa. Grant Morrison, como todos sabemos, é um dos expoentes dos quadrinhos das últimas 3 décadas e, embora muitas vezes sua genialidade apresente altos e baixos, algumas de suas obras são exemplos incontestes de que ele é um ótimo escritor. Em Quarteto Fantástico 1234, Morrison consegue retratar de forma intimista e genial o universo interno da família mais conhecida da Casa das Ideias. Nessa matéria veremos alguns aspectos desta obra.

Quarteto Fantástico - Nº 02 - Capa

Existem alguns personagens e grupos que trazem em si o DNA da Marvel. Podemos dizer que o Quarteto Fantástico é um desses exemplos. Com o passar dos anos, no entanto venho percebendo uma certa dificuldade de se escrever histórias relevantes usando o grupo. Talvez os roteiristas encontrem dificuldade em construir uma narrativa envolvendo uma "família de super-heróis", algo muito mais inocente e condizente com o clima dos anos 60. Lançada como minissérie em 2001 pelo selo Marvel Knights, Quarteto Fantástico 1234 foi relançado no Brasil pela Panini como encadernado em março de 2013. Morrison de forma brilhante não cai no velho clichê de usar a família fantástica da Marvel para repetir fórmulas que, embora interessantes, já foram amplamente usadas. Na verdade, o autor disseca cada personagem em seus desejos secretos e tristezas. Apresenta um Ben Grimm massacrado pela solidão de monstro que lhe foi imposta; um Johnny Storm que em sua inconsequência, arbitrariedade e superficialidade humana torna-se alguém irrelevante para si e para os outros ao redor; uma Sue Storm isolada e solitária em um casamento frio e sem sentido; e um Reed Richards que pouco aparece na história ao permanecer perdido em seu mundo de ideias e intelecto.

Quarteto Fantástico - Nº 03 - Capa

Inimigos clássicos do Quarteto também aparecem na história, porém também são retratados de forma diferente, como se observados através de uma lupa. Dr. Destino, Toupeira e Namor convergem dentro de um plano para interferir nos desejos e inconsistências de cada membro da família. Um dos pontos altos da história é a arte de Jae Lee. O traço de Lee confere à história uma atmosfera extremamente onírica. Com isso o leitor se vê contemplando o universo interior de cada personagem. Ao ler a história, não pude deixar de ter a mesma sensação que tive ao entrar em contato com Sandman de Neil Gaiman. Uma sensação de se estar trafegando entre o mundo real e das sensações interiores.

Quarteto Fantástico - Nº 04 - Capa

Destaque também deve ser dado para sequencias muito interessantes, dentre elas a triste conversa que Sue Storm e Alicia Masters travam durante um jantar em que insistentes pingos de chuva caem de uma claraboia quebrada no apartamento de Alicia. Os silêncios e as imagens conferem toda carga dramática necessária, e sons, cheiros e outras sensações podem ser intuídas pelo leitor, culminando com a descrição que Alicia faz de Namor, cuja presença começa a ser sentida também por Sue.


A arte de Lee, se bem apreciada, re-significa a narrativa e aprofunda cada cena.


Sinto falta do antigo Namor, aquele que existia antes de sua influência mutante ter sido explorada. Para mim ele se encaixava muito melhor no Universo do Quarteto do que no Universo Mutante. O discurso dele era mais altivo, sua postura ambígua era muito mais explorada. Grant Morrison resgata um pouco desse antigo Namor, inclusive até no traje, pois é representado apenas com sua famosa sunga verde adornada por uma concha e escamas. Destino e o Toupeira também aparecem em ótima forma e se fazem relevantes mesmo em nosso Universo atual, bem diferente daquele dos anos 60.


A antiga paixão entre Namor e Sue também é retomada e reacendida durante as páginas, e o leitor quase que chega a torcer para que ela se descida à ir embora com ele para as profundezas.


Quarteto Fantástico 1234 estava na fila de leitura aqui em casa há algum tempo e foi uma grande e agradável descoberta. Recomendo-o à todos os fãs.

Grande abraço à todos!

10 comentários:

  1. Essa é uma excelente HQ mesmo, Marcelo.....

    e eu diria q foi a melhor coisa q li do 4F nos últimos 20 anos!!!

    seria tão fácil fazer um filme realmente bom da equipe.... bastava escolher um elenco fiel aos personagens e adaptarem o roteiro dessa HQ pro cinema (seria um filmaço)!!!

    Abs!

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    1. Olá Leo... Tudo bem?

      Como comentei na reportagem gostei muito desta HQ. Penso que essa linha de abordagem atualizaria a mais famosa família da Marvel para o novo milênio separando-a definitivamente das histórias mais simples do passado que, embora sejam ótimas refletiam aquela época e hoje já não guardam tanta afinidade com o pensamento de nosso tempo.

      Essa linha de abordagem tornaria o Quarteto novamente relevante em nossos dias. Vários personagens sofreram essa atualização e com isso ganharam fôlego para muitas outras décadas. A insistência de uma apresentação mais simples do Quarteto se refletiu até mesmo no cinema, deixando os filmes anteriores do grupo superficiais e para um público praticamente infantil.

      Aguardemos um dia assim chegar!

      Abcs!!

      Marcelo.

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  2. Olá Fabiano... Tudo bem amigo!?

    Infelizmente o filme que você menciona, e através do qual você conheceu o Quarteto, não atualiza o grupo para os nossos dias. Infelizmente foi mantida uma abordagem mais simplista da família. Essa HQ que menciono nessa matéria seria uma ótima oportunidade para eles atualizarem o grupo dentro dessa linha de pensamento. Como comentei com o Leo acima, muitos personagens foram atualizados para passarem a refletir os anseios e dramas da sociedade da época. Isso fez com que ganhassem relevância novamente e mais décadas em várias mídias. Isso falta acontecer com o Quarteto Fantástico, ou seja, precisam atualizar o grupo para nossos dias. Nessa HQ Grant Morrison fez exatamente isso!

    Quanto à "ação", a história tem boas cenas de ação sim, porém dentro de um contexto todo especial. Acho que a forma com que o autor abordou o universo interior dos personagens foi tão rica que as cenas de ação (que em geral é o que faz sucesso nos gibis) ficou em 2º plano. Porém, há interessantes cenas de luta motivadas por grandes sentimentos e acho que é por isso que as lutas ficaram emo 2º plano, já que a dimensão dramática ficou em grande foco.

    Recomendo mesmo Fabiano essa HQ. Ela pode ser encontrada facilmente nas Comic Shops e em sebos por preços bons. O preço de capa é de 18,90, porém acredito que pode ser encontrada por bem menos em sebos.

    Grande Abraço!!

    Marcelo.

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  3. Bom dia meu amigo,

    Muito bom o post! Muito bem escrito! Qualquer elogio a mais vai se tratar de um pleonasmo!
    Fiquei bem curioso para ler a história e vou começar a caça a esse encadernado. (afinal já faz 1 ano desde o lançamento)

    Não sou muito fã dos agrupamentos de heróis, pois numa história gosto quando existem mais vilões do que heróis, a Exemplo do Homem Aranha e o Sexteto Sinistro..
    Pelo pouco que conheço, os integrantes do quarteto tem poderes muito especiais, mas ao mesmo tempo são bem específicos. Quando estão juntos tornam-se imbatíveis. E por isso, na minha opinião, as melhores histórias que li trata da separação, do racha, dos conflitos que afastam um dos outros. Quando isto acontece, é que se é possível explorar os vilões com melhor sucesso face a fragilidade dos heróis como individuos.

    Abraços

    Denis

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    1. Oi Denis! Blz!?

      Valeu pela presença e comentário, amigo!

      Acho que você encontrará sim esse encadernado. Na Comix mesmo acho que ainda tem. Caso você o leia, me diga depois o que achou. Ok!?

      Até que gosto de histórias com o envolvimento de muitos heróis. Mas a verdade é que há histórias boas e ruins tanto quando estão em grupo ou separados. Mas confesso que gosto de ver a dinâmica entre eles!

      Realmente essa temática da separação da família já foi mesmo razoavelmente bem explorada como você coloca. Na verdade, pensando bem essa HQ (Quarteto Fantástico 1234) a usa também. Mas acho que a novidade é que Grant Morrison a usa de forma mais interessante, fugindo dos clichês.

      Muito interessantes seus apontamentos Denis. Valeu!

      Grande Abraço!

      Marcelo.

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  4. Cara, voltou tudo a mente ao ler sua resenha. Faz um bom tempo que tive contato com esse arco, o qual me coçou aqui pra reler ! Material de primeira mesmo, tanto a arte quanto argumento. Quanto ao Namor, tenho a mesma opinião. Eu sempre o preferi como personagem mais próximo ao Quarteto do que na fase atual, até mesmo pelo uniforme ( neste caso, a falta do mesmo ). Se eu pudesse optar, escolheria até o Principe Submarino com o visual antigo e clássico do que o atual, na coleção de Eaglemoss.

    Valeu Marcelo, abs
    Fernando

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    Respostas
    1. Olá Fernando... Blz!?

      Legal que você compartilha da opinião sobre o encadernado, amigo! Verdadeiramente uma obra em que arte e narrativa se completam!

      Concordo plenamente com sua posição quanto ao Namor. Não tinham nada que questionar sua origem colocando aspectos mutantes na história dele! Quando vi isso pela 1ª vez fiquei bem chateado. Putz! Que mania de trazer o Universo Mutante (que nem vai tão bem na minha opinião) à tudo!

      Sem dúvida nenhuma o visual que deveriam ter dado a ele na coleção de miniaturas da Marvel é, sem dúvida nenhuma o clássico! Fizeram essa mesma coisa ao Homem de Ferro. Queria muito que ele tivesse vindo com a armadura clássica amarela e vermelha!

      Grande Abraço Fernando!

      Marcelo.

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  5. Li essa história no ano passado, após uma crítica negativa do próprio editor da Revista Mundo dos Super-Heróis (que visam sempre ver os quadrinhos mais como diversão descompromissada do que como arte, como QF 1234 nos mostra, saudades da Wizard...). A HQ além de um tom de Sandman possui um tom maior de Malick, lembra bastante o filme Árvore da Vida as viagens das nossas mentes em relação as cicatrizes e rechaduras que podem haver numa família. Am breve escreverei sobre ela no meu blog. Não sei se aceita parceria, mas caso queira dar uma olhada nele, o link é: http://ozymandiasrealista.blogspot.com.br/, somos eu e alguns amigos, só estamos a dois meses, com o tempo a gente talvez melhore.

    Força e honra.

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    Respostas
    1. Olá amigo!! Fiquei muito contente com seu comentário por aqui.

      Obrigado pela visita!

      Fiquei contente de ver um aspecto no seu comentário com o qual me identifico muito, ou seja, enxergar além dos significados mais óbvios das histórias em quadrinhos. Em geral muitos veem essa mídia como sendo entretenimento descompromissado, porém eu realmente não vejo assim, tal qual você. Percebo significados profundos e dramáticos nas histórias. Fico muito contente de ver que há outros assim.

      Essa HQ do QF tem esse DNA mais profundo e cheio de significados escondidos. Interessante sua comparação com "A Árvore da Vida". Um filme que gostei muito, tal qual "Além da Linha Vermelha" com James Caviezel.

      A "Árvores da Vida" mostra a existência humana do ponto de vista da Eternidade em minha opinião. Um olhar "cósmico" e perene sobre o ser humano. Um filme que abrange o início e o fim de todas as coisas. Em geral filmes assim, que nos coloca diante da solidão e vazios da existência cósmica nos deixam desconfortáveis pois nos fazem sair de nossas frágeis vidas. Realmente QF 1234 tem arranha essas sensações. Você tem razão.

      Dei uma olhada no seu Blog e é bem interessante. Vamos fazer a parceria sim.

      Espero sua visita mais vezes.

      Abc!!

      Marcelo.

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