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domingo, 14 de outubro de 2012

DC: A Nova Fronteira


Escrever... E escrever com sinceridade é uma dádiva. Como grande admirador do visual retrô que eu sou, há muito vinha pensando em adquirir uma HQ encadernada em duas partes chamada: DC - A Nova Fronteira. Embora eu houvesse escutado comentários a favor e contra essa história, eu resolvi checar por mim mesmo. Ao começar a ler percebí que estava diante de uma obra prima da 9ª Arte. Apesar do gosto pessoal ser algo passível de críticas, nada se compara ao prazer de se ter em mãos um texto justo, sincero e acima de tudo que transmite o respeito que a mídia merece. Darwin Cooke é o roteirista desta grande obra sobre os primórdios da Era de Prata do heróis da DC (final da década de 50 e início da década de 60). Cooke olha para os eventos políticos e sociais que ocorreram nessa época em nosso mundo real e os mescla aos quadrinhos de uma forma única. Ele consegue escrever uma história que seria impossível de ser escrita à época em que se passa. Com a possibilidade de enxergar tudo com 50 anos de distância, Cooke amarra tudo com maestria, coisa que seria impossível ao roteirista que vivesse naquela época, que conseguia enxergar apenas os fatos isolados de uma época de efervecência cultural, política e social ao redor do mundo.


A começar pelo traço retrô de Darwin Cooke, tudo em "A Nova Fronteira" funciona bem. Com o término da 2ª Guerra Mundial os super-heróis passaram a não mais fazer sentido, motivo pelo qual as vendas de gibis caíram muito na década de 50 em nosso mundo real. Cooke conta essa história, mas no mundo dos heróis. Em plena caça às bruxas empreendida pelo Macartismo nos Estados Unidos, no qual todos poderiam ser inimigos e comunistas, os Super-Heróis também são obrigados à revelar suas identidades secretas e passar a trabalhar para o governo. Em represália, e frente à tamanha ingratidão das autoridades norte-americanas, os antigos heróis da Era de Ouro abandonam suas vidas de heroismos e se aposentam, recolhendo-se silenciosamente às suas identidades civis. Esse é o pano de fundo e premissa central que norteia "A Nova Fronteira", ou seja, um mundo mais complexo e, à exemplo de nosso mundo atual, mais desconfiado de que o inimigo pode morar ao lado. Darwin Cooke, baseado na mitologia clássica de cada personagem, vai arquitetando o aparecimento desses heróis em vários lugares dos Estados Unidos. Clandestinos, tímidos em suas ações, mas preparados para combater uma grande ameaça que se agigantava no horizonte: A Entidade conhecida como "O Centro".


Na história, os detalhes mais básicos de cada super-herói é captado, lapidado e apresentado ao leitor que só é capaz de dizer: "Putz... É isso que sempre me encantou!!". Cooke destila o que cada um tem de melhor em sua essência e apresenta os grande ícones de nossas infâncias como diamantes burilados ao extremo. Embora alguns possam dizer que falte sangue e violência nessa história, por outro lado sobra roteiro inteligente e diálogos certeiros na boca de cada herói. Mesmo o Superman é retratado inicialmente como o bom menino do Tio Sam (conforme sua premissa de criação), mas vai sendo confrontado pelas situações. Há um momento emblemático em que, em plena Guerra da Coréia, a Mulher-Maravilha ajuda um bando de mulheres, que haviam sido estupradas, dar cabo dos soldados responsáveis pelo estupro coletivo, exterminando-os. Superman cobra explicações da Amazona que apenas responde:

Mulher-Maravilha: "Olhe ao redor!! Não há regras aqui. Apenas insanidade e sofrimento. Eu quero que você volte e diga isso ao seu sub-secretário!! Você sabe onde fica a porta, Homem do Espaço."

Em outro momento emblemático, esse mesmo Superman carrega a Amazona ferida e inconsciente.


Uma das sequencias mais interessantes que já lí em quadrinhos pertence à "Nova Fronteira". Em uma converssa que Batman trava com John Jones (futuro Ajax), Bruce Wayne mostra o quanto é frio, perspicaz e perigoso. Usando poucas frases ele literalmente congela de medo o marciano ao mencionar o "fogo", pavor de Jones recém descoberto por Batman.

Batman: "Foi preciso uma lasca de meteoro de setenta mil dólares para deter o de Metrópolis. Para você basta um centavo para comprar uma caixa de fósforos".


Também há a beleza da 1ª infância. Algo que todos nós carregamos dentro de sí, e que a gente (amante dos quadrinhos) não tem medo de esconder, e por isso mesmo às vezes fomos ridicularizados em nossos gostos. Darwin Cooke discute isso em um pósfácio maravilhoso em que fala das coisas (programas de televisão, gibis, livros) de sua infância. Muitas dessas coisas ele percebeu, quando cresceu, que eram de "mentira" (naves espaciais em programas de TV, cenários que eram construídos para parecerem castelos e que na verdade eram a parte dos fundos de um galpão...) mas que isso não importa, a magia estava lá. Muitas pessoas ao nosso redor passam a vida rejeitando essa "imaginação" e "magia". Acreditam que são coisas de criança para, ao perceber que a morte se aproxima com a velhice, entender que são sentimentos essenciais à nossa frágil existência.


"A Nova Fronteira" é tudo isso e me fez entender um pouco minha paixão por tão tímida, singela e proscrita arte. Nela podemos encontrar esse sentimento da 1ª infância que deveria nortear a vida dos adultos. Não é a toa que alguém já disse: "Quem não receber o Reino como uma criança, jamais entrará nele".


Bom amigos... essa eu coloco no verbete "HQs Favoritas"... Pelo menos na minha humilde avaliação. Sei que muitos que a leram não acharam tudo isso... Mas é como sempre digo, parte do valor da arte está nela te tocar no fundo da alma, e isso é extremamente particular. Abraço a todos!!

10 comentários:

  1. Boa tarde Marcelo!
    Passei para ler sua postagem...muito boa!
    Quero dar-lhe: Parabéns pelo Dia do Fisioterapeuta e pelo Dia dos Professores!
    Sou sua fã número um! O admiro muito pelo profissional exemplar e competente que és.
    Abraços! Que Deus esteja à frente de todos seus projetos.

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    1. Obrigado mesmo!!

      Valeu! Às vezes a correria é grande e nem lembramos. Obrigado mesmo pelo estímulo e carinho!

      Gde. Abc. e saudades!

      Marcelo.

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  2. Puxa, lendo esta postagem me arrependi de ter perdido essas 2 ed. qdo saíram....

    não sabia q eram tão interessantes e com roteiro + adulto/realista!!!

    sei q saiu um desenho animado baseado nesse gibi... mas tbm não assisti!!!

    Abs!!!

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    1. Oi Léo... Blz?

      Embora o visual retrô da HQ me chamasse muita atenção, me deixei levar por alguns comentários que diziam que era uma historia não tão legal. Mas ainda bem que decidi seguir meu instinto. Para mim foi uma grande surpresa.

      Realmente você não encontrará aquela ultra violência característica de algumas HQs mais recentes. Nessa historia o ótimo roteiro não abre espaço para excessos, alias nem precisa deles porque não há pontas soltas.

      Algo que não coloquei no corpo da matéria mas que vale a pena ressaltar é que há inclusive um personagem negro que entra em confronto direto com a Klu klux klan. Ou seja, Darwin Cooke discute ainda o racismo entranhado na historia Americana.

      Quanto ao desenho ele existe sim e eu o comprei em DVD. Vale muito a pena. Embora algumas partes da HQ original sejam suprimidas ou contadas muito rapidamente no DVD, a essência está lá e vale o investimento. O traço retrô de Cooke é mantido no desenho também.

      Bom Léo... Se tiver oportunidade de ler não deixe passar. Depois me conte.

      Gde. Abc.

      Marcelo

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  3. Tb perdi essa. Agora, pareceu interessar. Acho que procurarei em sebos on line.
    -
    "Mesmo o Superman é retratado inicialmente como o bom menino do Tio Sam". Nada como o Superman de Frank Miller, em DK, sendo chamado de "meu garoto" pelo Presidente do EUA. É assim que o vejo...
    -
    O diálogo de Batman com o marciano é realmente interessante e faz jus à natureza fria e objetivo desse herói que, além de tudo, nasceu em berço de ouro e é uma grande empresário. E isso parece antagônico, quando pensamos em Batman como alguém que troca noitadas de festas ao lado de modelos para bater e apanhar nas rua. Não é à toa que ele é meu personagem preferido.
    -
    Ler essa postagem me deu vontade em comprar as HQs!

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    1. Oi Kleiton...

      Gostei muito mesmo dessa HQ. Deu pra perceber, não é? Como disse ela sintetiza aquela paixão que todos temos pelas
      HQs.

      Ela prova que um bom roteiro sustenta qualquer historia. Os diálogos são certeiros. Haja vista os que reproduzi acima. Se tiver oportunidade não deixe de ler não Kleiton.

      Gde. Abc.

      Marcelo.

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  4. Oi Marcelo, não conhecia esses gibis mas sua narrativa foi tão interessante que agora vou ficar de olho neles. O modo como sentimos ao ler uma publicação é muito importante. E passar isso para as pessoas é fundamental. Parabéns pela matéria. Abraço.

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    1. Obrigado Paulo!

      Valeu. Espero que consiga lê-la. É claro que é como falei... Arte é algo particular, ou seja, há pessoas que não são tocadas por certas músicas ou poesias, já outros recebem essas mesmas formas de arte como algo impar. Isso quer dizer que alguns até podem ler essa história e não encontrar o que encontrei nela... Mas acho que vcs irão gostar sim.

      Abc.

      Marcelo.

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  5. Marcelo, bom dia! Só agora tive tempo de ler com atenção sua postagem que além de muito bonita, soube valorizar o produto como assim é que as editoras responsáveis deveriam fazer.

    Quanto ao trecho onde você menciona sobre a ausência de sangue, mas bons desenvolvimentos na trama por meio de diálogos e situações, eu sempre sou daqueles que não gosta de ver derramamento de sangue e pancadaria à toa. Se a história tem um bom roteiro e diálogos legais para avançar, já é o que basta.

    Hoje em dia as produções de Tv, cinema e HQ vivem mostrando coisas impactantes. Se você tirar esses momentos e analisar a história em si, nem sempre elas são mesmo tão boas assim.

    Ache essa frase da Mulher Maravilha algo muito bacana e que, diante de tal cenário, desperta alguma coisa dentro de nós.

    Parabéns! Muito boa postagem e parece que o material é realmente muito interessante também! Tens sorte em escolher tuas compras!

    Abraços. Fabiano Caldeira.

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    1. Valeu Fabiano!

      Realmente concordo com vc sobre essa coisa da violência gratuita. Um exemplo que sempre cito é o do Poderoso Chefão, um filme extremamente violento, porém com uma violência totalmente contextualizada. Não adianta um roteirista se esconder atras desses subterfúgios. Um roteiro fraco aparece na primeira investida.

      Essa HQ me chamou atenção a principio em função do traço do Darwin Cooke, e quando vi me encantei com seu conteúdo. Ainda dá pra acha-lá pra comprar. Esses dias mesmo vi vendendo em sebos aqui de Sampa.

      Valeu Fabiano! Gde. Abc pra vc.

      Marcelo.

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